31/12/12

Crónica Feminina 13

Maria

Bom Ano de 2013!

2012

Os que falaram demais: Mário Soares, António Borges, Marinho Pinho, Miguel Relvas, Isabel Jonet, Baptista da Silva,

Os que falando demais continuam, hoje como ontem, a nada dizer: António José Seguro, Jorge Sampaio,

Os que falam sem nunca se lembrar do que disseram ontem: Pedro Passos Coelho, Victor Gaspar, François Hollande,

Os que falam sem fazer ideia do que estão a dizer, apesar das leituras juvenis: Pedro Passos Coelho,

Os que falam sem saber bem o que hão-de dizer, nem o que estão a dizer: Carlos Zorrinho,

Os que falam convencidos da importância do que dizem: José Manuel Durão Barroso,

Os que sabem falar bem no matter what, mesmo que não saibam o que fazer: Barak Obama,

Os que, tendo-nos habituado a que os ouçamos falar muito, falam agora bem menos: Paulo Portas, Luís Filipe Menezes,

Os que continuam a gostar de se ouvir falar, falar, falar, e que têm quem os ouça, ouça, ouça: Marcelo Rebelo de Sousa,

Os que falam pouco – verdade que também não se sabe o que poderiam dizer, pelo menos em público: Cavaco Silva,

Os que falam pouco – e ainda bem pois ninguém os quer ouvir nem deixaram saudades do que diziam quando falavam: José Sócrates,

Os que continuam a gostar de se ouvir falar, encrespados com o que dizem: Mário Crespo,

Os que falam e de quem se fala, sem que perceba porquê: Walter Hugo Mãe,

23/12/12

Feliz Natal

Um presépio cá de casa

Um Santo Natal para todos.
Pior do que “só há prenda para a mais nova. As outras já não são crianças” (via), é o discursozinho moralista, a mentalidade mesquinha e pequenina. Senhor Primeiro-ministro, apesar do descalabro socialista de Sócrates e dos rigores a que agora o seu governo nos obriga, devo conseguir arranjar uns euritos e vou consigo num instante à H&M, (por exemplo, mas que fique registado que não sou accionista, nem recebo comissão, nem nenhum interesse me liga a esta cadeia de lojas) comprar umas lembranças para as outras filhas e enteada. Coisas simples, giras e baratas, pode ser? Afinal é Natal, e elas vão gostar.

Um Retrato da UE

"Il n'y a eu aucune mesure prise en Belgique pour attirer un quelconque citoyen français", a déclaré le chef de la diplomatie belge sur RTL, perante a reacção do Primeiro-ministro francês à decisão de Gérard Depardieu de se mudar para a Bélgica e de obter um passaporte Belga. Toda uma polémica que se estalou em França, um país que se recusa a acreditar que, em primeiro lugar, haja franceses que possam querer sair de França (coisa que está a originar uma crise existencial francesa de dimensão exagerada e que parece ridícula), e em segundo lugar que haja alguém a romper uma mentalidade esquerdista dominante em que é normal aceitar que o equilíbrio das contas do estado se faça sempre através do aumento da carga fiscal. Basta, diz Depardieu para desespero do governo, e basta' dizem cada vez mais personalidades que simpatizam com Depardieu. 

Se algo começa a funcionar na UE é a concorrência a nivel fiscal e a nivel de emprego; as pessoas começam a mexer, virar costas e sair. Mercenários? Claro que não, limitam-se simplesmente a procurar o que é melhor para elas. 

Nós cá não temos disso; as nossas crises existenciais são prosaicas e simples - pouco dinheiro, maus políticos, falências, desemprego, corrupção. Nem nos lembramos que temos um umbigo quanto mais perdermos tempo a olhar para ele. Mas lembramos sim, com algum sabor amargo o nosso Primeiro-ministro e a sua ‘sugestão’ de emigração. E se não temos exactamente Depardieu, ou melhor, se os nossos actores não têm o salário de Depardieu, não ficamos atrás em talento e qualificação: temos cientistas, engenheiros, financeiros, gestores, enfermeiros, arquitectos, designers, informáticos, economistas, cantores, empresários, e até actores e tantos outros, todos os dias a emigrar. Emigração de luxo, emigração de sobrevivência, asilo fiscal, as várias faces de uma penosa realidade.

18/12/12

Pronúncia do Norte 14


16/12/12

Paternalismos

Quando disse aqui que achava que se perdia demasiado tempo a discutir Isabel Jonet, não fazia a mínima ideia do tempo que se iria ainda ‘perder’. Et pour cause; Isabel Jonet em período que requeria alguma descrição e ponderação nas palavras, por causa do turbilhão gerado pela sua entrevista televisiva, reincidiu, não soube ser discreta nem tão pouco estar calada. Sobre a polémica do que ela disse a propósito da caridade e do estado social faço minhas as palavras de JPP aqui. Não são, no entanto as suas palavras e polémica por elas gerada que me levam a escrever este post, mas sim a reacção de comentadores, colunistas, bloggers conotados com a direita, normalmente críticos, lúcidos, inteligentes, contundentes e pouco dados a reacções ‘grupais’. 

Nada como um debate mais acesso, para trazer ao de cima uma das características que mais abomino na direita, e que tem raízes fortes no catolicismo tal como vivido durante tantos séculos e que, infelizmente, ainda o é nalguns sectores: o paternalismo. Num debate que pode ser sobre o aborto, ou sobre a pobreza, ou outro tema de ordem moral, mais cedo ou mais tarde a “direita” acaba por ceder ao paternalismo. Senão vejamos o que diz hoje no Público Vasco Pulido Valente, um colunista crítico, mordaz, cínico, pouco dado a pensar pela cabeça de um ‘grupo’ ou da ‘direita’, a quem dificilmente colamos a etiqueta de paternalista: 

(…) Isabel Jonet, (…) é uma mulher estimável que, de repente, se viu metida no meio de um jornalismo espertalhão. Não sendo nem moralista, nem teóloga, nem política, falava com a maior inocência sobre si e o seu papel no Banco Alimentar, não lhe ocorrendo que se podia meter num sarilho ou suscitar uma polémica a cada palavra. Atravessou este pequeno tumulto com dignidade e boa fé. (No Público)

Para além de uns radicais de esquerda que questionam a boa fé de IJ ou o mérito social do seu trabalho no Banco Alimentar, vi apenas e exclusivamente ela ser criticado pelo que disse e pela oportunidade do que disse no contexto actual, dando às suas palavras a importância que elas merecem. Sim, IJ é uma mulher relevante no contexto da nossa sociedade, ainda mais em tempos austeros e difíceis. O que ela diz é relevante, e ela sabe-o certamente. Ter vindo a público novamente com explicações e declarações (entrevista ao jornal "i"), foi uma opção sua, certamente tomada de forma responsável como mulher responsável que parece ser. Declará-la vítima de “um jornalismo espertalhão”, e declará-la “inocente” ao falar sobre si e o seu papel no Banco Alimentar, é passar um atestado de imbecilidade a Isabel Jonet e menorizá-la enquanto pessoa e enquanto figura pública e de relevo na nossa sociedade. Ser condescendente e paternalista (machista também?) para com IJ e para com o que diz, é sobretudo desrespeitar o significado do que ela diz, desrespeitando-a também, ou desprezar o que diz ("não sendo moralista, nem teólogo, nem política", como se isso fosse condição para emitir opiniões), não lhe atribuindo importância ou relevo especial. Ser condescendente e paternalista é também interpretar livremente as intenções das suas entrevistas e das suas palavras (“não lhe ocorreu que se poderia meter num sarilho”, etc). 

Falar ou não, ceder ou não à tentação de se (re)explicar em entrevistas, é um direito que assiste a IJ, e tal direito deve ser olhado com respeito, nomeadamente dando às suas palavras todo o significado que as palavras têm. Sem mais. Argumentos do género ‘ela não tem jeito para dizer as coisas’, ou ‘ela não sabia no que se ia meter’, só a diminuem. Criticá-la pelo que ela diz não é menorizá-la, justificá-la com paternalismo, é. E é o que a ‘direita’ não se cansa de fazer: justificá-la...

Como se Isabel Jonet precisasse.

12/12/12

Amanhecer 37 (a 12/12/12)

12/12/12

11/12/12

Dois Filmes

Ted, um filme em que se perde o olhar inocente que ainda conseguimos ir mantendo perante um urso de peluche. Mas a coisa poderia ter corrido melhor – dessacralizar ursos de peluche, não é necessariamente uma má ideia, mas persistir naquela comédia de costumes (predominantemente ‘masculina’, mas que também já atinge o universo ‘feminino’) em que a adolescência se prolonga, quais pilhas Duracell, teimosamente para lá do normal e desejável, já cansa. Pelo menos cansa-me a mim, que deixei a adolescência faz muito. Também me cansa a constante que são as piadas escatológicas: é xixicócó (estou a ser branda, como saberá quem viu o filme) em variantes e tonalidades diversas a mais. Abram a janela, deixem entrar ar! Lamentavelmente, uma boa ideia que poderia ter dado um bom filme, mas não deu. 



Trouble With The Curve (Voltas da Vida, é uma tradução redutora), filme não realizado por Clint Eastwood, começa com um diálogo inesquecível que imediatamente nos reconcilia com o melhor (de) “Clint Eastwood”, essa personagem temperamental, de mal com a vida, zangado, teimoso que não gosta de envelhecer. Pensamos Grand Torino, e está-se bem... O filme prossegue, as personagens desenham-se, as situações desenrolam-se; os actores cumprem a sua missão, (Amy Adams é uma actriz  muito sólida), a narrativa flui com interesse, o filme é bom... mas nunca nos leva onde gostaríamos de ter ido, sentimos que ficam ainda locais por explorar nos recantos das personagens. Fica um sentimento de frustração por se ter visto um filme bom, quando pensamos que se poderia ter visto um filme muito bom.

06/12/12

Passado à História


O core do século XX a passar inexoravelmente à História e a deixar de vez de ser nosso.

Os Rolling Stones, daquela parte do séc XX que melhor conhecemos mas que não será necessariamente aquela que daqui a muitas gerações será lembrada como a mais emblemática, podem continuar a dar concertos que a realidade não deixa de ser o que é. A teimosia humana não consegue prender o que já foi. E o passado que ainda temos como presente, já não é. É mesmo passado; passado à História.

02/12/12

Coisas Que se Podem Fazer ao Domingo 72

Séc. 1 A.C.


O que é que sobra?

Disseram Reorganização Administrativa do Território?

Leio os jornais online sobre a reforma administrativa do território e fico sem perceber nada. 'Não perceber nada' começa a ser uma constante no contexto político dos anos recentes. Não percebia nada com José Sócrates, e o que percebia não gostava, e continuo ainda mais baralhada e confusa com este governo. No entanto José Sócrates tinha a “virtude”, do ponto de vista de quem quer perceber, e só, da sua determinação e teimosia. Não tinha uma ideia política consistente e sólida do que queria para o país, sobrava-lhe ambição e a dita determinação que se concretizava no anúncio de medidas, avulsas e díspares dia sim dia não. Percebíamos as medidas, percebíamos a intenção (explícita ou implícita), mesmo quando discordávamos – eu discordava, zangada e indignadamente, quase sempre, como qualquer passar de olhos pelos arquivos deste blogue confirma. 

Este governo consegue ser ainda mais confuso: tem um discurso redondo e parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, muito explicativo. Também não tem uma ideia política nem tão pouco uma visão com um mínimo de solidez para um país que cada vez mais se percebe que não conhece. As intenções do poder político, essas, continuam a perceber-se com demasiada facilidade, e as medidas não podiam ser mais confusas. Como referi: não percebo nada. Vejamos: 


Que é isso de “reorganização administrativa do território das freguesias”? Pode-se fazer isso sem ter as autarquias em consideração? Que reorganização administrativa começa a ser feita ‘por baixo’ em vez de ser feita ‘por cima’? Porque é que não há um projecto concreto (e não umas ideias confusas atiradas para a comunicação social) de reorganização administrativa global do território em vez de um projecto para freguesias e outro para autarquias. Porque é que se lêem títulos díspares e incoerentes nos jornais?


Ou: 


E já agora a propósito destas ‘agregações’ de autarquias, porque é que, de repente, se fala de agrupar a autarquia do Porto e de Vila Nova de Gaia na comunicação social? Anda a Comunicação Social, ou outros políticos com aspirações e ambições a fazer o frete a Luís Filipe Menezes? Quem nasceu e conhece o Porto sabe que o Porto é a margem norte do Douro e Gaia a margem sul do Douro, duas realidades tão díspares que espelham géneses e tradições que pouco se tocaram e que só a ignorância (ou outras agendas) que não as do Porto e de Gaia, pode pensá-las semelhantes. O Porto é urbano e burguês. Em Gaia há ainda redutos de agricultura, há um feeling de província, há freguesias pesqueiras, há praia e há zonas residenciais de qualidade. Se o turismo recente tem contribuído para uma maior aproximação das freguesias na parte em que quase se tocam – o Douro – esse tocar é só isso mesmo, nada mais. 

Talvez não fosse má ideia lembrar os fazedores destas ideias sem sentido que Porto e Gaia não são propriamente Paris com a sua Rive Droite e Rive Gauche, nem Londres atravessada pelo Tamisa ou Buda e Peste poeticamente separadas pelo Danúbio. Enxerguem-se, por favor!

28/11/12

Pronúncia do Norte 13


27/11/12

Com mais ou menos folclore: as declarações de voto, as incertezas de Victor Gaspar, o facto é que os dados estão lançados. Agora é só esperar. 

Numa das suas habituais prelecções, neste caso até foi uma prelecção dominical, Passos Coelho, assumindo o já conhecido ar de superior entendimento, lança as suas habituais banalidades: numa delas até começa com esse exemplo de fino estilo e pensamento “posso bem com...” – um pré-adolescente não diria melhor - enquanto que na outra, e num acto de suprema condescendência, diz "confio muito na inteligência dos portugueses". Sorte a sua, digo eu incapaz de retribuir o cumprimento.

23/11/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 66

Anónimo
The Battle of Lepanto

22/11/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar (Edição Especial)

As Idades do Mar, a exposição temporária da Gulbenkian é para ver e rever. Só é preciso gostar de pintura, mas se se gosta de pintura e de mar, o feitiço funciona e ficamos ali quedos e mudos a olhar. A estrutura e organização da exposição é muito bem conseguida e, desde o momento em que se entra, percebemos que não faltarão quadros marcantes para ver e prolongar o nosso prazer. 

A contrastar com a qualidade da exposição (dos quadros) estão os textos que introduzem os diferentes temas, ou seja, as diferentes “Idades do Mar” e que deveriam guiar o espectador e funcionar como um prelúdio ao momento que se segue, isto é, aos quadros que se vão ver e que cabem nesse tema. Quem escreve os textos deveria fazê-lo a pensar no esclarecimento do público, que será sem dúvida um público heterogéneo; idades diferentes e níveis quer de escolaridade quer culturais diferentes. Isso seria tão simples que a tentação de complicar tudo foi irresistível, e os excertos dos textos que aqui deixo (há mais exemplos, é só darem-se ao trabalho de seguir o link e ler tudo), deixam-me siderada: 






Quem escreveu os textos fez uma opção clara: os textos, não serão funcionais, não cumprirão a sua missão de esclarecimento, de iluminação, não serão um prelúdio convidativo ao que se vai ver. Quem escreveu os textos (e quem os divulga), decidiu não ser compreendido pelo público em geral. Talvez tenham tentado produzir objectos de arte que competissem com os quadros... mas finalmente o resultado não foi além de uns textos que são exemplos de soberba e de arrogância intelectual dignas de figurar num manual de ilustração de como não se deve escrever para um público que apenas procura nesses textos, um esclarecimento, um motivo. Nestas ocasiões lembro os anglo-saxões e o quanto prezam a clareza, e lembro também esta máxima da arte de bem escrever do Economist


A frase é tão boa que não preciso dizer mais nada. 

Entretanto vou ali num instante "procurar com melancolia as matrizes dos tempos primeiros e perfeitos". Espero sinceramente não me "convulsionar em visões turbulentas, feitas de emoção, sentimento e vertigem". Desejem-me boa sorte.

21/11/12

Argo


Queria ir ao cinema, mas não me apetecia ver nada, o receio de sair desiludida sobrepõe-se tantas vezes a essa vontade e, lamentavelmente condiciona a minha escolha. Tenho medo das comédias, receio a violência gratuita, cansam-me as explosões e fugas, fujo dos excessos depressivos ou doentios, evito os filmes infantis e as lamechices dão-me pele de galinha. Por vezes chego a este impasse e fico sem saber o que escolher, mas o gosto que tenho pelo cinema acaba, e bem, por vencer as esquisitices. Há uns dias nesta situação escolhi “Argo” de Ben Affleck, pois se pouco me convence como actor, surpreendeu-me positivamente como realizador em “A Cidade”. 

Argo conta uma história que nos remete para factos históricos de que nos lembramos ou ouvimos falar, mas centra-se num episódio cujos contornos desconhecíamos, e é esse o segredo do filme. Por causa desse conhecimento prévio, no minuto zero o suspense está instalado, para nosso (espectador) benefício e desassossego, e é esse o jogo inteligente de que o realizador que se serve; nós lembramos e sabemos ‘o contexto’, mas desconhecermos exactamente ‘como foi’. Essa cumplicidade resulta, e o filme cumpre a sua missão. No entanto é impossível não dar nota negativa ao facto de o realizador não ter sabido resistir à tentação fácil e hollywoodesca de nos últimos 15/20 minutos ter deixado o filme resvalar para uma banalíssima linguagem de filme de acção e suspense de segunda categoria: o suspense deixa de ser contido e ultrapassa os limites em que a credibilidade do filme - construída com solidez apesar de algumas notas mais caricatas e de duas divertidas personagens - assenta.

09/11/12

Velas 44

20/10/12

Reféns

Só hoje me apercebi da dimensão que o caso “Isabel Jonet” tinha atingido, na comunicação social (jornais e televisão) bem como nos blogues. Eis a minha modesta contribuição: 

Cara Isabel Jonet, esteja tranquila porque, apesar do seu ataque agudo de parvoíce, continuarei a contribuir, tanto quanto posso e com a maior vontade e alegria, para o Banco Alimentar

Há no ar um cheiro a inveja que sempre detecto nestes momentos aos quais as agendas mediáticas têm dado amplo espaço e potenciado o eco. Ter sucesso (ou gerir projectos com sucesso) em Portugal tem sempre um custo elevado. Então se a Igreja Católica, de longe ou de perto está ligada a esse sucesso, as garras não se recolhem tão cedo. Lamentável o tempo que se perde com Isabel Jonet, até parece que nada de relevo acontece hoje no nosso país que mereça metade da atenção dos media, e até parece que  não há debate político a fazer. Se calhar não...

02/11/12

Amanhecer 36

30/10/2012

A Arte de Estar Com Deus e Com o Diabo


No entanto, e depois de ver o vídeo, constato sem nenhum espando a mentira a jorrar entre sorrisinhos forçados e o ar de falsa integridade da senhora, que repete a cassette obrigatória: claro que não, “we don’t want to look attractive”. Pergunto: why the hell make and buy a fashion magazine for the chic female market? Qualquer túnica escura cortada a direito e comprada na souk local serviria o propósito que é levado tão a sério de não querer ficar/ser atraente, não?

31/10/12

Haverá melhor sinal de podridão do que este unanimismo? Ou melhor sinal dos tempos e das gentes que nos governam? Até arrepia.

26/10/12

Cores de Outono 15

Caspar David Friedrich
Auf dem Segler

Dois Pesos e Duas Medidas

Estava escrito, nesse script que é a vida que gosta e cultiva virtudes públicas, que Berlusconi acabaria por ser condenado em tribunal com uma sentença de prisão. O homem teve, sem esconder, sem remorso ou culpa, demasiado dinheiro, poder, influência e demasiadas mulheres demasiado vistosas. Nunca, num gesto de contrição que apaziguasse as aparências, esboçou uma apologia por isso, bem pelo contrário, exibiu em quantidades quase obscenas esses seus atributos. Dificilmente o deixariam em paz. Acredito que o homem esteja a ser justamente condenado e até acredito que seja culpado de tudo o que o acusam e de muito mais – o que eu não gosto é de saber que foi preciso ele ter saído do governo para ser condenado por crimes que remontam a 1994/98, e as desculpas do costume, nomeadamente a de que ele terá em 2009 um lei que lhe dava imunidade, não me tranquilizam. Há coisas que nunca mudam. Berlusconi, como uma personagem de tragi-comédia, demasiado vistoso e para azar seu, ‘larger than life’, estava desde sempre condenado a ‘acabar mal’. 

Outros há que têm sorte diferente. As coisas são como são, e certas personagens nunca são condenadas, passam por entre os pingos da chuva sem se molharem desde que pareçam tudo o que é suposto parecerem. Este senhor, Jimmy Saville (a quem a Rainha deu o título de ‘Sir’), que apresentava o programa com o seu nome “Jim’ll Fix It”, em que realizava os sonhos de tantas crianças, e que era tido como uma versão laica (claro) de santo, padroeiro, filantropo e amigo das criancinhas, afinal não era um modelo a seguir. Descobre-se agora que abusou das ditas criancinhas de quem, afinal, não era tão amigo, durante 40 anos. Aparentemente, os que o rodeavam e não só, assobiaram para o lado. Morreu há um ano, e surgem agora, um após outro, relatos de arrepiar. Ao contrário de Berlusconi, este senhor já não será condenado em tribunal nenhum. Exibicionismo versus hush-hush.

18/10/12

Pronúncia do Norte 12


17/10/12

OE 2013

O raio que os parta! 

Estive dois dias para escrever esta interjeição, uma questão de ter a certeza de que era mesmo isto que queria escrever, e não apenas um impulso de raiva depois de ter ouvido na segunda-feira o ministro Victor Gaspar. Ele que, com a sua voz estudadamente pausada, tenta dar a ilusão de que do seu discurso só saem decisões ponderadíssimas (nós bem sabemos), claríssimas (nós também bem sabemos) e pautadas pela sapiência e sabedoria. E se até dou o desconta para a sapiência, o mesmo não se aplica  à sabedoria: já só engana quem quer ser enganado. 

Porque continuam a usar, em tom paternalista de quem sabe tudo, de quem é moral e politicamente superior, e capaz de julgar os portugueses (vivem acima das possibilidades, são piegas, são ignorantes...), as chantagens do género “quem não está de acordo com este orçamento está contra o programa de ajustamento”. Errado! Tão errado. Nós não confundimos as medidas deste governo e o memorando de entendimento da troika, ou a necessidade de austeridade.

Porque estão a atentar contra a minha liberdade. A minha liberdade está também, e muito, ligada à forma como eu decido gastar o meu dinheiro. Ora se o estado unilateralmente decide tirar uma enorme fatia dele, para um programa em que só ele e meia dúzia de consultores seus acredita, que liberdade tenho eu de o gastar como o entendo? Poupando ou consumindo, a liberdade de escolha é minha. Ser liberal é sobretudo não atentar contra as liberdades individuais, é não subir impostos, não tirar dinheiro aos contribuintes, mais do que o estritamente necessário... é não tirar mais sobretudo quando já se tirou demais. Não gosto quando atentam contra a minha liberdade, e citando Pinheiro de Azevedo, digo "é uma coisa que me chateia (pá?)".

Porque persistem no erro. A carga fiscal vai aumentar de uma forma tal, que as pessoas reais, o tecido económico real do Portugal real, (diferente do Portugal imaginário visto a partir dos modelos económicos do mundo académico, ou visto através de uns óculos de oportunidade de meia dúzia de comentadores e/ou colaboradores e/ou consultores), não vai conseguir pagar. As execuções fiscais vão aumentar, as falências vão aumentar, os incumprimentos vão aumentar, o desemprego vai aumentar, a pobreza vai aumentar, a infelicidade vai aumentar. A colecta fiscal não. 

Porque, de acordo com o memorando da troika, a consolidação orçamental deveria ser feita sobretudo (2/3) do lado da despesa, e eles propõem-nos que se faça quase exclusivamente do lado da receita, com a agravante de que e a maior fatia do corte da despesa corresponde às prestações sociais. 

Porque vão, pelas boas e pelas más razões, pôr o país todo contra o governo, o que não fará assim tão mal; bem como contra o programa de consolidação orçamental da troika, o que será bem pior e poderá ter consequências mais nefastas à nossa já tão débil soberania, e à nossa economia que – olhando com atenção e não olhando apenas para os números governamentais - pouca saúde tem. 

Porque estão a levar o país a uma verdadeira revolução social (a palavra reajuste de que tanto gostam é um eufemismo de quem não percebe o que se está a passar) cujas consequências são difíceis de prever. Como ficará a sociedade portuguesa daqui a 10 anos? 

Porque política não é só subir impostos. O governo mascara a sua ausência de pensamento político sólido, por um discurso de pseudo-rigor económico (na boa escola de economês cheio de vocabulário alavancado), em que as nuances castigadoras não escapam. Os aumentos de impostos, como única arma de rigor orçamental são a face visível do vazio (de pensamento ideológico e político) em que este governo assenta. Desde o primeiro dia; não me iludiram.

11/10/12

Pronúncia do Norte 11


Amizades

Em Junho Helena Roseta denunciou o ‘alegado’ favorecimento de Miguel Relvas (então Secretario de Estado) a Passos Coelho. Por acaso – raramente tenho paciência para os frente-a-frente da SICN – ouvi o que disse Helena Roseta e, apesar de nem sempre apreciar e me deixar levar pelo tom enfático de HR, e apesar de o timing me parecer estranho e o gesto algo deselegante naquele contexto, acreditei piamente no que dizia. Como tantos outros pensei que ainda ouviríamos mais sobre essa história. Assim foi. 

Esta semana o Público noticiou o favorecimento de um fundo criado por Miguel Relvas, em 2004 e enquanto Secretário de Estado do governo de Durão Barroso, a uma empresa ligada a Pedro Passos Coelho, e hoje na edição impressa trás um dossier completo. Se há suspeita de ilegalidades, espero que se investigue, digo eu sem realmente acreditar na capacidade de em Portugal se investigar com seriedade e profundamente, e de se julgar (e condenar, se for o caso) com transparência. 

O que também não deixa de ser interessante é o rasto de situações menos claras e suspeitas que infalivelmente se descobrem levantando umas pedras (nada de muito complexo) sobre os nossos primeiros-ministros e ministros. Ainda bem que se levantam as ditas pedras, e só tenho pena que não se tenha começado essa prática há muito, mal a democracia se consolidou. Muito teria havido para descobrir, estou certa. Do que não estou certa, é de que isso pudesse ter sido determinante na hora do voto há uns tempos, mas gostaria de acreditar que agora – neste hoje deprimido pela contracção da actividade económica – os eleitores comecem a estar bem mais atentos à espécie de gente que querem a liderar um governo, a legislar no parlamento, a fazer oposição. Gostaria de acreditar que os eleitores, mais do que nunca conscientes e sofridos do peso dos impostos nas suas vidas e na sua liberdade, pensarão duas vezes no tipo de pessoas que querem a gerir o dinheiro que é de todos nós. Os eleitores se pretendem políticos melhores, talvez devessem começar a ser exigentes na hora da escolha. Sair para a rua um ano e meio depois de eleições a protestar (primeiro no caso de José Sócrates, e agora com Pedro Passos Coelho) é também revelador de alguma inconsciência ou leviandade na hora do voto. Ou vão todos dizer que ‘não sabiam’? 

No fundo no Público não li nada mais do que velhas e bem conhecidas histórias daquilo que passa por ‘amizade’ ou ‘lealdade política’ (gente que não deve saber nem o que quer dizer “amizade”, nem “lealdade”) mas são favorecimentos, tráfego de influências, teias de poder, etc. É deste material hiper-resistente, mas flexível que são feitas as amarras que unem e ligam os decisores em Portugal, sejam eles políticos, banqueiros, gestores de topo, empresários, advogados consultores, ou outros. É uma matéria opaca, escura mas omni-presente na vida pública portuguesa e que serve para explicar e justificar tantas situações e opções.

04/10/12

Cores de Outono 14

Gustave Caillebotte
Pêcheur au bord de l'Yerres

03/10/12

Wallander


Acabou no fim de semana passado a terceira série de episódios Wallander, uma série policial centrada num detective sueco que pertence à polícia duma cidade do sul da Suécia. Poderia ter escrito mais uma série TV policial, mas não o fiz de propósito pois Wallander é uma série diferente da maioria de séries que a televisão oferece e, no meio de tanta oferta, há algumas muito boas. Mas esta é diferente. 

É uma série para adultos e diria mesmo, só para alguns adultos. Não vejo os jovens (idade biológica, ou teimosamente em espírito) a interessarem-se e gostarem dos episódios desta série. Cada episódio funciona à volta de uma investigação policial, sendo o detective o centro da série. O ritmo é um andante com alguns momentos de maior tensão, longe do ritmo acelerado e de cenas curtas tão popular nas séries hoje. Não há grandes sub-intrigas, nem suspense, nem paixões sentimentais (amores, ódios, vinganças) a fazerem correr as personagens. Os diálogos não são ‘gripping’, nem abundantes. Wallander não é especialmente simpático nem antipático, não fala muito, não se explica, não proclama a felicidade, nem sequer parece procurá-la ou esforçar-se para mater uma ilusão de que é feliz. Também não há ‘gente gira’ na série, as personagens são banais e nunca parecem modelos: não têm os músculos esculpidos, têm rugas, dentes desalinhados e vestem roupa sem história. O ambiente físico e a paisagem não são tropicais, nem propícias ao uso de camisas abertas, calções ou bikinis e havaianas. Não há sol luminoso, mas sim uma ‘mood’ sombria entre os cinzas e verdes que convivem sempre com uma neblina. 

No entanto ver Wallander é sempre um desafio. Há um profundo reconhecimento do material que faz de nós seres humanos genuínos, e não saídos do estudo das estatísticas de audiências, algo raro nestes produtos televisivos. A personagem principal, introvertida e algo enigmática, bem como os crimes e criminosos que se atravessam no seu caminho, levam-nos e lembram-nos recantos dessa genuína humanidade que tantas vezes fingimos ignorar, e então reconhecemos os medos, a solidão, o desequilíbrio, as frustrações, o silêncio, a impotência, a dúvida, a violência, o vazio, um raio de luz de esperança que desaparece, uma ilusão que se desfaz, um sorriso breve que se crispa, uma alegria contida que dificilmente se abraça. Este reconhecimento de que falo, não reconforta, incomoda; não é exactamente aquele pathos mais frio e automatizado de Bergman mas, e mantendo-se Wallander (a série) também herdeira de um existencialismo protestante e nórdico, assume uma forma mais nostálgica e melancólica: a humanidade prisioneira de si própria, incapaz de se resolver. Essa mesma humanidade também prisioneira de uma sociedade tão politicamente correcta, tão aberta e livre que a própria liberdade é incómoda, a liberdade de questionar é quase uma subversão, e qualquer gesto fora do espectável é a origem de uma culpa que, de uma forma ou de outra todos expiam, (como ao longo dos séculos a expiaram), às vezes sem saberem nem que o fazem, nem porque o fazem. 

Kenneth Branagh é um Kurt Wallander excelente, e do seu trabalho resulta uma personagem complexa, tantas vezes em circunstâncias limite – um detective que procura culpados de crimes violentos convive com o limite – mas sempre totalmente credível nessa humanidade que partilha connosco espectadores,  e nesta terceira série foi especialmente convincente com momentos a que chamaria sublimes. 

Espero pela quarta série.

23/09/12

Coisas Que Se Podem Fazer ao Domingo 71

János Andrássy Kurta


Chorar

Fomos Apenas Inteligentes


Antes e depois. Adiar, rodear, evitar, esconder, querer e deixar-se enganar, imaginar, desejar, interpretar à-medida, interromper uma conversa, cortar uma dedução, olhar para o lado, não fraquejar, levar o optimismo ao limite e ultrapassá-lo. Quanto mais inteligentes, pior. Quanto mais cultos, pior. 

Nunca fraquejar, é regra. Nem antes, nem durante, nem depois. Uns e outros. Nunca o sofrimento esteve tão fora de moda, tão renegado e desprezado (coisa de pobre e ignorante), tão travestido de patologia depressiva.

13/09/12

Pronúncia do Norte 10


O Que Era e o Que É

A Manuela Ferreira Leite, outrora “a Velha”, não são hoje poupados elogios dos sectores mais diversos e surpreendentes (mesmo?) uma vez que conta entre quem a elogia aqueles que outrora disseram dela o que Deus não dizia do diabo, à esquerda e à direita. Mas isso era em 2009 quando José Sócrates persistia no mundo irreal e na irresponsabilidade que tantos votos arranjou, contra o discurso realista e sem graça da “Velha” que poucos cativava, e a esperança à direita se chamava Pedro, o jovem e liberal Pedro, com uma máquina comunicativa exemplar cujo grande objectivo era desacreditar Manuela Ferreira Leite em cada gesto em cada palavra. Para mim o Pedro nunca foi engraçado nem teve graça, e muito menos estava (está) talhado para primeiro-ministro, bem pelo contrário, mas houve tantos a persistir no conforto da irrealidade e no sonho, que levam agora com doses massivas de ‘experimentalismo económico e social’ (de acordo com a gíria comunicacional). 

Ironias da vida política, esta unanimidade em torno de Ferreira Leite. Sempre me divertem as ironias, e os tempos estarão cada vez mais férteis em divertimento sem que precisemos de nos esforçar muito: ligar a televisão até meio distraído, ler umas manchetes, passar os olhos pelos blogues. Se ouvirmos com atenção, se lermos para além das manchetes, se olharmos bem para as caras de quem fala e se lembramos quem foram e quem são, corremos o risco de já não querer rir mais.

11/08/12


01/08/12

Velas 43


Tall-Ships 2012

Os Tempos e as Vontades

Nem os Tempos nem as Vontades têm abundado, com tanto treino para os saltos sincronizados para a água

Os tempos estão mortos. Há umas semanas que a política e os políticos - com a honrosa excepção de António Costa que teme que a dupla rotunda no Marquês não chegue para se fazer notar, praticamente desapareceram da agenda nacional. Em contrapartida os números não; da execução orçamental, do desemprego, das exportações e balança comercial, das previsões de crescimento. A análise dos números faz-se nas diferentes modulações entre os iludidamente optimistas e os teimosamente pessimistas. Os tempos acabam por se revelar pouco clementes para com os iludidos, por muito fortes que sejam as vontades. Aos lúcidos pessimistas os tempos costumam dar razão, contra as vontades de todos. Esperamos por Setembro, um mês que não é inócuo para mostrar o que os mercados ditam.

Entretanto a Europa mantém-se igual a si própria: um passo à frente e dois atrás, para na semana seguinte inverter a rotina dando dois passos à frente e um atrás. Uma maneira cara de ficar onde se sabe estar, dando a ideia que se ‘vai’. Aliás o Senhor Hollande é bom nessa coisa de dar a ideia que tem uma ideia e de que vai a algum lado. Os Tempos vão passando, mas as Vontades são poucas. Mais longe  o resultado das eleições no Egipto só ilude os aqueles que teimam em se deixar iludir, e a revolta na Síria cada vez mais augura um desfecho radical e pouco democrático. 

Os portugueses estão de férias enquanto o novo Código do Trabalho entra em vigor e mais serviços fecham no interior. Começaram por ser escolas, depois serviços de saúde e urgências, tribunais, e os fogos de verão ajudam também à versão economicista de terra queimada, o único critério que parece capaz de  (co)mover o governo. Rui Rio fez umas declarações (polémicas) que deveriam merecer mais atenção e debate, mas o país põe protector solar, diz mal 'disto tudo' e dos políticos que 'são todos uns malandros' enquanto grelha umas febras e lê as Cinquenta Sombras de Grey

Vou continuar os treinos de salto sincronizado para a água. Se não for antes, espero que regressem em Setembro, quer os Tempos, quer as Vontades.

13/07/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 65

Edward Hopper
Lighthouse and Buildings

Let There Be No Noise Made, My Gentle Friends 3

Valse Triste by Jean Sibelius on Grooveshark

Jean Sibelius, Valse Triste. Também aqui

Permanente

Um dos problemas de Miguel Relvas é não saber estar calado, não sabia antes, e não soube agora. O que disse ontem soa mal e contraditório. Soa mal essa sua busca do saber (“procura do conhecimento permanente”) que norteia a sua vida; quem assim “norteia” a sua vida, quem procura incessantemente o conhecimento, não se interessa por um título (tão estafado e abusado) de “Dr” que se consegue em tempo recorde e que até confessa não precisar. Bem pelo contrário despreza-o e não procura consegui-lo sem um processo formal de estudo, sem avaliações de professores ou dos seus pares e sem exames. A mais que legítima e louvável “procura do conhecimento permanente” é trabalhosa, não dá tréguas, e no fim (da nossa vida, não do conhecimento), dizem os sábios, pouco ou nada sabemos. Tarefa ingrata, sobretudo para pessoas “mais de fazer do que de falar”, e que mesmo assim falam demais e sem pensar bem no que dizem. 

Há quem procure a felicidade, MR diz procurar o saber... e pergunto-me se ele tenta fazer de nós parvos, se saberá a diferença entre dizer que procura e procurar, e até se terá alguma ideia do que é isso de “procura do conhecimento permanente”. Talvez estejamos perante uma situação de ânsia de conhecimento contagiosa e perante um outro candidato, quando finalmente deixar (ou for corrido da) a vida política - algo que mais cedo ou mais tarde inevitavelmente acontecerá - ao estudo em Paris.

Começa a pesar o rasto de Relvas.

10/07/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 64

Gazette du Bon Ton
(Art- Modes et Frivolités)

Singular

Há uma praga linguística que se foi instalando devagarinho para hoje tomar proporções alarmantes. Eu sei que a língua é um organismo vivo e que vai evoluindo, etc, etc, mas que essa realidade indesmentível não sirva de justificação para que se maltrate a língua com vulgaridades de ferir o ouvido, e para que se permita que ignorância se instale sem que ninguém se aborreça, pois é de ignorância pura que falo, não de opções. Eu aborreço-me, e aborreço-me com umas coisas mais do que com outras e esta é uma que pertence ao ‘top’ da náusea. Experimentem ir comprar sapatos desportivos, isto é: ‘ténis’. Depois de escolherem o modelo e tamanho vejam lá se o(a), vendedor(a) não pergunta solicito(a): “quer experimentar o ‘téni’?” 

Mesmo sabendo que vai ser assim, o meu mundo pára uma fracção de segundo. ‘Téni’, diz ele(a). Volto a repetir: ‘téni’. Que palavra mais feia, mais ‘contranatura’. Se dantes sorria por dentro, hoje fico numa fúria apenas controlada pela boa educação. Há dias dei comigo a dizer ao vendedor, “não, não quero experimentar o ‘téni’, quero sim, experimentar o' ténis' do pé esquerdo se faz favor”. De cada vez que o homem dizia ‘téni’ eu repetia ténis com ainda mais energia, e sentia a fúria a aumentar. Sei que um dia não resisto, e ao falarem-me em ‘téni’, eu hei-de perguntar - já agora e por pura curiosidade - como é que dizem o singular de umas duas ou três outras palavras terminadas em 'is'.

06/07/12


Em relação ao ‘Caso Relvas’, a melhor frase que ouvi ontem foi na Quadratura do Círculo (que ontem foi um excelente programa), e veio da boca de Pacheco Pereira quando perguntou a António Costa porque é que, dos três ali presentes, era sempre ele quem mais defendia Relvas.

03/07/12

Em Flor 38


Não Pode Continuar

Depois de – há duas semanas – termos sido confrontados com a preocupação dos números da execução orçamental referentes ao primeiro trimestre deste ano, lemos hoje a tradução em termos de ‘vida real’ desses números abstractos em páginas de excel, que são as falências de empresas e famílias que atingem proporções que deviam fazer soar sinos e tambores em S. Bento, pois já ninguém deixa de ver que o nosso tecido social e económico se começa a esfarelar e a desfazer. Se pensarmos bem nada disto é surpresa quando vemos que o combate ao deficit do estado se faz, como sempre se fez é bom lembrar, através do aumento da carga fiscal. Mas, quando não há riqueza, não há impostos. E hoje, podem aumentar a carga fiscal que a receita não aumenta; e a pouca economia que consegue respirar, a custo, será mais e mais asfixiada. 

Estes números são dolorosos de ler pois são a ilustração de um país a empobrecer. Olhamos à nossa volta, ouvimos as pessoas e percebemos que eles não mentem. A revolta, desilusão, pobreza, dúvida estão instaladas e fazem parte de um quotidiano cada vez mais doloroso, também porque sem esperança. Hoje ninguém sabe como sair desta situação de profunda crise em que o país mergulhou e a Europa também. As certezas que as pessoas tinham de soluções eficazes e sempre prontas a debater à mesa do almoço em família ou com amigos, no café, nos escritórios, nos táxis, na praia, esvaiu-se. A opinião deu lugar ao desabafo. Até na comunicação social muitos dos comentadores sentem-se incapazes de desenhar uma ideia e impotentes para propor alternativas. Refugiam-se numa análise de erros passados que, não deixando por vezes, de ser pertinente, não apontam caminhos, e assim se adia mais uma vez e outra e mais outra, a esperança de que um dia vejamos luz. 

Eu que, apesar de muito crítica, acredito na boa-fé e boa intenção deste governo, acho que urge que ele pare e olhe para o país que hoje tem que governar, um país real; este das falências de que se fala hoje e não aquele que o governo imagina que existe ao fazer as folhas de excel. Olhar e ver atentamente a realidade que existe fora do eixo Lisboa S. Bento/Lisboa Belém, seria um primeiro passo positivo no repensar de estratégias para atingir as metas que se propõe, pois o que está e como está não pode continuar.

26/06/12

Dias de Verão 24

Pierre Bonnard
The Terrace at Vernonnet

Euro 2012


As ‘entrevistas de rua’ são uma das pragas dos nossos noticiários televisivos. A ideia de ir para a rua perguntar a quem passa se concorda com isto ou aquilo, o que pensa desta ou daquela proposto de lei, data, pessoa, acontecimento, ou o que acha que vai acontecer depois disto ou daquilo, é de uma falta de interesse ou relevância ímpar, por mais interessantes ou relevantes as questões em causa. Confunde-me o tempo (e recursos) que se desbaratam a perguntar às pessoas ou que elas não sabem responder, ou que já tem uma resposta previsível, ou o óbvio, normalmente o óbvio, sempre muito óbvio. Mais uma vez confirmei o que acabo de escrever neste fim-de-semana passado quando, por exemplo, vejo a Rosa Veloso (correspondente da RTP em Espanha) a perguntar aos madrilenos adeptos do Real Madrid se querem que Cristiano Ronaldo marque golos no jogo da próxima quarta-feira entre Portugal e Espanha. Ela profissional esforçada, consegue ir a ‘outro nível’: não pergunta ao madrileno comum se quer que a Espanha ganhe a Portugal no jogo, nada disso. Indo ‘mais além’ no que ela pensa poder ser alguma hesitação entre lealdades, faz a rebuscada pergunta introduzindo os obstáculos Real Madrid, Cristiano Ronaldo, Pepe. Uf! Que esforço fez... Mas em vão, cara Rosa Veloso, porque por muitas distracções que imagine e verbalize na sua pergunta, por muito que se esforce a tentar uma hesitação, por muitas pessoas diferentes que entreviste, o essencial não muda. Os espanhóis continuam a querer que a Espanha ganhe, os Portugueses que Portugal ganhe, os Alemães que a Alemanha ganhe e os Italianos que Itália ganhe. Quem diria!

19/06/12

Crónica Feminina 12


Parole, Parole, Parole... 2

Impossível resistir a este pequeno tesouro europeu:

Parole, parole, parole, parole, soltanto parole, parole tra noi.
(Aqui)
(o melhor vem no fim. A paciência será recompensada)

Parole, Parole, Parole...

Admiro a coragem do Mr. Barroso (‘europeês’ para Durão Barroso), ao falar da forma frontal e assertiva com que falou em nome da União Europeia na Cimeira G20. Não por ter sido frontal e assertivo note-se, mas por, numa altura em que sentimos o ranger das fracturas que atravessam a UE, ousar um discurso a uma só voz (a da UE/Eurozona): um atrevimento. Sabe bem por uns minutos pensar que a União Europeia, e sobretudo a Eurozona, consegue ser hoje algo mais do que uma abstracção na cabeça dos seus líderes políticos e cidadãos. Mr Barroso, perante um ‘inimigo comum’ (os restantes G20s) que isolou bem, e a quem desferiu algumas farpas, saiu em defesa das democracias, das estratégias e dos timings europeus, aproveitando o que resta desse sentimento ‘europeísta’ ainda partilhado por muitos. Como ele bem sabe, foi bom enquanto durou; no entanto no fim do dia, ou da cimeira, pouco sobrará desse discurso.

15/06/12

Pescar Salmão



Depois de um filme pesado, (no sentido de indigesto, e não no sentido de profundo), monocromático, e em que os excessos de caracterização das personagens (porque não arranjam actores mais velhos?) se impõem a tudo o resto, soube-me bem ir pescar salmão no Iémen, um filme que se revelou melhor do que previa, em oposição ao J.Edgar, de Clint Eastwood que me aborreceu seriamente. Devem-se contar nos dedos das mãos os filmes de Clint Eastwood de que não gostei, e este é um deles. 

Salmon Fishing in the Yemen está longe de ser um grande filme, nem será sequer a comedia do ano, mas não me decepcionou e gostei da forma como todo ele está pontuado por várias camadas de ironia. Kristin Scott Thomas, uma actriz que nunca desilude, dá corpo a uma assessora de imprensa do primeiro-ministro, muito esforçada, muito eficiente, muito actual - uma verdadeira perita na manipulação dos media: cria os acontecimentos, fabrica imagens e só pensa em termos do que é que o primeiro-ministro precisa para as primeira páginas dos jornais: uns dias que falem dele, outros que não falem dele. Nada que não conheçamos, mas sempre divertido de ver. Deparamo-nos também com a nostalgia de um (o?) império e do colonizador, com o privilégio e a abundância dos recursos que cabe à personagem que, fosse a História um fluir simples, unidimensional e sem desvios e a Política uma ciência binomial, deveria sentir os males do (ex)colonizado. Ewan McGregor (com o seu irresistível sotaque escocês) é a personagem que, tendo bebido da cultura ‘do império’ e tendo uma formação académica superior, não é mais do que o retrato de hoje de uma classe-média desiludida e desinspirada em sem ‘graça’. Ele vive acomodado num presente feito de rotina e em que o cepticismo é refúgio. Ao longo do filme esta personagem desajeitada, nunca deixa de nos cativar. 

Mas há mais: personagens, situações, paisagens, nada muito complicado, nada que exija muito esforço, nada que traumatize. Trata-se de um filme simples, despretensioso e simpático, eficaz a fazer sorrir, e feito para se ver ‘em família’. Ainda bem que o fui ver por causa do título e sem ter tido vontade de procurar mais informação sobre ele; tivesse eu feito isso, e tivesse eu percebido quem era o realizador, (já vi pelo menos duas chachadas realizadas por ele) provavelmente não teria ido pescar salmão no Iemen.

14/06/12

Horae Subsicivae 5

Paul Gauguin
The Siesta

A Vida Real

Acorda-se na sala de recobro do que parece ser uma viagem ao fundo do fundo da anestesia, estranham-se as luzes (ai, se o ambiente médico fosse minimamente ‘user friendly’ as salas de recobro tinham luzes suaves), só depois se tenta perceber quem se é e não é; lembrar porque se está ali - a memória preguiçosa; mas a enfermeira solicita, eficiente, e doce diz contente: “ganhámos 3-2!” Num instante ‘ser ou não ser’ já não importa, e a vida faz-se real.

10/06/12

Velas 42

Fim de Festa


Velas 41

Partida









09/06/12



Tal como se previa, e enquanto a Europa vê futebol, e os que não vêem comem tapas ou jantam, a Espanha formaliza o seu (já anunciado) pedido de ajuda financeiro explicando que não se trata de um resgate. Trocadilhos semânticos…


Assim é que é: eu também acredito na fada-madrinha.

Próximo... !

Velas 40

A Celebração


Velas 39

A Regata



Velas 38

A Espera



Da Paciência

Não têm faltado na comunicação social tratados sobre a paciência (segundo Passos Coelho a vê) em debates, crónicas e opiniões. Aliás Passos Coelho e a sua já conhecida attitude complacente (pieguice, desemprego como oportunidade, emigrar, etc) traduzida em frases tão banais que nem os mais elementares manuais de auto-ajuda se atreveriam a inclui-las, parece insistir em proferi-las, coisa que começa a espantar e a interrogar-me sobre o papel de tantos assessores e especialistas. Será que não aprende nada com os erros? Aparentemente não consegue e o nível do discurso político em Portugal, por parte dos detentores de cargos de responsabilidade governativa ou partidária é cada vez mais confrangedor. Lembro outro o contributo do líder da oposição para este cenário uma vez que consegue a proeza de falar e nunca dizer nada – aliás continuo a interrogar-me sobre se ele pensa algo… 

Voltando à ‘paciência’: recomendo o artigo do Público de hoje de José Pacheco Pereira que insiste, e bem, em ler a dita paciência de uma forma política e não ‘psicológica’, e deixo aqui o parágrafo final: 

Respeitar os portugueses não consiste em falar-lhes com uma mistura de complacência e paternalismo, mas estar ao lado deles com simpatia activa nas suas tribulações. Há poucas coisas mais comunicáveis do que a empatia, seja simpatia seja antipatia. Para ser entendida por todos não precisa de assessores, nem de agências de comunicação. Precisa apenas de existir. E o problema maior de "comunicação" deste governo é que preso nas suas ideias gerais e vagas sobre o país, preso nas suas ilusões sobre meia dúzia de receitas económicas, preso num profetismo adolescente, entre a fraca convicção e os lugares-comuns, que soçobrará a qualquer momento na parede dos factos, não consegue mostrar um grama de empatia sobre o sofrimento que assim se torna "dos outros". 

É por isso que chamar "paciente" ao povo português parece mais um insulto do que um elogio.

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