13/07/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 65

Edward Hopper
Lighthouse and Buildings

Let There Be No Noise Made, My Gentle Friends 3

Valse Triste by Jean Sibelius on Grooveshark

Jean Sibelius, Valse Triste. Também aqui

Permanente

Um dos problemas de Miguel Relvas é não saber estar calado, não sabia antes, e não soube agora. O que disse ontem soa mal e contraditório. Soa mal essa sua busca do saber (“procura do conhecimento permanente”) que norteia a sua vida; quem assim “norteia” a sua vida, quem procura incessantemente o conhecimento, não se interessa por um título (tão estafado e abusado) de “Dr” que se consegue em tempo recorde e que até confessa não precisar. Bem pelo contrário despreza-o e não procura consegui-lo sem um processo formal de estudo, sem avaliações de professores ou dos seus pares e sem exames. A mais que legítima e louvável “procura do conhecimento permanente” é trabalhosa, não dá tréguas, e no fim (da nossa vida, não do conhecimento), dizem os sábios, pouco ou nada sabemos. Tarefa ingrata, sobretudo para pessoas “mais de fazer do que de falar”, e que mesmo assim falam demais e sem pensar bem no que dizem. 

Há quem procure a felicidade, MR diz procurar o saber... e pergunto-me se ele tenta fazer de nós parvos, se saberá a diferença entre dizer que procura e procurar, e até se terá alguma ideia do que é isso de “procura do conhecimento permanente”. Talvez estejamos perante uma situação de ânsia de conhecimento contagiosa e perante um outro candidato, quando finalmente deixar (ou for corrido da) a vida política - algo que mais cedo ou mais tarde inevitavelmente acontecerá - ao estudo em Paris.

Começa a pesar o rasto de Relvas.

10/07/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 64

Gazette du Bon Ton
(Art- Modes et Frivolités)

Singular

Há uma praga linguística que se foi instalando devagarinho para hoje tomar proporções alarmantes. Eu sei que a língua é um organismo vivo e que vai evoluindo, etc, etc, mas que essa realidade indesmentível não sirva de justificação para que se maltrate a língua com vulgaridades de ferir o ouvido, e para que se permita que ignorância se instale sem que ninguém se aborreça, pois é de ignorância pura que falo, não de opções. Eu aborreço-me, e aborreço-me com umas coisas mais do que com outras e esta é uma que pertence ao ‘top’ da náusea. Experimentem ir comprar sapatos desportivos, isto é: ‘ténis’. Depois de escolherem o modelo e tamanho vejam lá se o(a), vendedor(a) não pergunta solicito(a): “quer experimentar o ‘téni’?” 

Mesmo sabendo que vai ser assim, o meu mundo pára uma fracção de segundo. ‘Téni’, diz ele(a). Volto a repetir: ‘téni’. Que palavra mais feia, mais ‘contranatura’. Se dantes sorria por dentro, hoje fico numa fúria apenas controlada pela boa educação. Há dias dei comigo a dizer ao vendedor, “não, não quero experimentar o ‘téni’, quero sim, experimentar o' ténis' do pé esquerdo se faz favor”. De cada vez que o homem dizia ‘téni’ eu repetia ténis com ainda mais energia, e sentia a fúria a aumentar. Sei que um dia não resisto, e ao falarem-me em ‘téni’, eu hei-de perguntar - já agora e por pura curiosidade - como é que dizem o singular de umas duas ou três outras palavras terminadas em 'is'.

06/07/12


Em relação ao ‘Caso Relvas’, a melhor frase que ouvi ontem foi na Quadratura do Círculo (que ontem foi um excelente programa), e veio da boca de Pacheco Pereira quando perguntou a António Costa porque é que, dos três ali presentes, era sempre ele quem mais defendia Relvas.

03/07/12

Em Flor 38


Não Pode Continuar

Depois de – há duas semanas – termos sido confrontados com a preocupação dos números da execução orçamental referentes ao primeiro trimestre deste ano, lemos hoje a tradução em termos de ‘vida real’ desses números abstractos em páginas de excel, que são as falências de empresas e famílias que atingem proporções que deviam fazer soar sinos e tambores em S. Bento, pois já ninguém deixa de ver que o nosso tecido social e económico se começa a esfarelar e a desfazer. Se pensarmos bem nada disto é surpresa quando vemos que o combate ao deficit do estado se faz, como sempre se fez é bom lembrar, através do aumento da carga fiscal. Mas, quando não há riqueza, não há impostos. E hoje, podem aumentar a carga fiscal que a receita não aumenta; e a pouca economia que consegue respirar, a custo, será mais e mais asfixiada. 

Estes números são dolorosos de ler pois são a ilustração de um país a empobrecer. Olhamos à nossa volta, ouvimos as pessoas e percebemos que eles não mentem. A revolta, desilusão, pobreza, dúvida estão instaladas e fazem parte de um quotidiano cada vez mais doloroso, também porque sem esperança. Hoje ninguém sabe como sair desta situação de profunda crise em que o país mergulhou e a Europa também. As certezas que as pessoas tinham de soluções eficazes e sempre prontas a debater à mesa do almoço em família ou com amigos, no café, nos escritórios, nos táxis, na praia, esvaiu-se. A opinião deu lugar ao desabafo. Até na comunicação social muitos dos comentadores sentem-se incapazes de desenhar uma ideia e impotentes para propor alternativas. Refugiam-se numa análise de erros passados que, não deixando por vezes, de ser pertinente, não apontam caminhos, e assim se adia mais uma vez e outra e mais outra, a esperança de que um dia vejamos luz. 

Eu que, apesar de muito crítica, acredito na boa-fé e boa intenção deste governo, acho que urge que ele pare e olhe para o país que hoje tem que governar, um país real; este das falências de que se fala hoje e não aquele que o governo imagina que existe ao fazer as folhas de excel. Olhar e ver atentamente a realidade que existe fora do eixo Lisboa S. Bento/Lisboa Belém, seria um primeiro passo positivo no repensar de estratégias para atingir as metas que se propõe, pois o que está e como está não pode continuar.

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