30/01/13

Amanhecer 37

18/01/13 (tirada com telemóvel)

Da Matéria

Pode ser que haja quem se comova com frases deste calibre, 


sobretudo porque foi dita por António Costa, cujo brilho no olhar não escondia estes últimos dias o deleite que o reforçado protagonismo (sebastianismo) lhe dava – uma gentileza criada pelo sempre diligente Pedro Silva Pereira, o símbolo do socratismo (o “passado”, como lhe chamou um Seguro sem pressa que ficou logo apressado) que, para nosso mal, não foi estudar filosofia para lado nenhum. Assim, entre as genuínas hesitações de avançar ou não, e a decisão afinal de nem avançar nem recuar, o PS saiu uns dias do marasmo em que, aparentemente, vivia. 

Para quem ainda tem dúvidas, ou comoções, nada como observar em tempo real essa matéria viva e única que é feito um partido político português do centrão. 

Por outro lado olhando o PSD, e já nem precisa de ser com atenção como até há pouco – o poder tende a esconder fissuras, vemos também essa mesma matéria a efervescer com o epicentro no Porto. Miguel Veiga, Rui Rio, Rui Moreira, e claro Luís Filipe Menezes com a sua proposta (talhada no tamanho da sua ambição) de fundir os concelhos do Porto e de Gaia. Ora repare-se na presença do Primeiro –ministro nessa cerimónia de alto relevo para a nação que é a 


e percebemos que o importante é ter ido ‘lá’, e deixar-se fotografar – assim como não quer a coisa - com Luís Filipe Menezes, a figura central da crise no PSD. Pedro Passos Coelho está na fotografia, uma questão de tranquilizar as estruturas partidárias e mostrar de que lado se está. Aguardemos os próximos capítulos, vai ser interessante esta ‘guerra’ pelas duas câmaras principais do país. Seguro e o PS de um lado, Passos Coelho e o PSD de outro: os partidos que temos. E nós com cada vez menos vontade de votar neles e de os alimentar.

25/01/13

Tardes de Inverno 22


Luiz Paret y Alcázar
Baile en Máscaras

Pior do que a recente, apressada e excitada “canonização” de Victor Gaspar (sim, sim, claro que é bom ter-se encontrado o Santo Graal, agora denominado “regresso aos mercados” mesmo com pára-quedas, airbags e almofadas) é a figurinha patética desta gente sem um pingo de vergonha, que não se enxerga, nem tem nenhum tipo de memória. Quanto será que lhe pagam para escrevinhar estas banalidades saídas da má-fé? Silva Pereira fala de encenação, quem sabe com uma pontinha de inveja, pois foi noutros tempos um ‘encenador’ de mérito. Melhor encenador do que hoje é colunista. Serão saudades? Aliás olhar para o PS hoje é exercício difícil. Só com alguma boa vontade se consegue ver alguma coisa (ao longe).

16/01/13

Dois Filmes


Passam os primeiros quinze vinte minutos e pergunto o que faço ali sentada a ver um filme frio, de gestos calculados quase de imobilidade. Não há acção, intriga, suspense (os primeiros minutos do filme dizem-nos o fim), diálogos inteligentes, gente gira, paisagens ou casas deslumbrantes. Só dois velhos, uma vida passada que desconhecemos, e um presente que lhes escapa tão depressa se converte em futuro. Amour é um casal em fim de linha, no fim de uma história que começa com um “casaram e foram felizes para sempre”. Há coragem nessa procura do fim, dos casais que chegam ao fim, mas...

Passam mais uns minutos e já nem percebemos que estamos a ver um filme. Haneke consegue transformar essa frieza, esse imobilismo em emoção pura (longe de sentimentalismos e afectos de vária ordem) que comove e prende a cada instante. Deciframos cada palavra e cada gesto das personagens, adivinhamos-lhe as intenções e os desejos; somos voyeurs dessa intimidade do casal que nos é oferecida, enquanto a filha do casal é mantida à uma distância que a incomoda. Se Haneke é muito bom, Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant excedem-se na absoluta entrega e abandono às suas personagens, e na cumplicidade e emoção que nos oferecem.

O fim, isto é, a doença, a crescente falta de autonomia e finalmente a morte são pouco glamorosos, mas o que falta em ‘glamour’ é ampla e magnificamente compensado em dignidade. Um dos melhores filmes que vi ultimamente.



Se se procura Tolstoi, desiludimo-nos. Se se procura apenas um filme bonito, leve e exuberante, vê-se Anna Karenina. Temos Joe Wright e não Tolstoi. Temos claustrofobia, ambientes estanques e cheios de gente, ambientes que não fluem e personagens cuja maturação e desenvolvimento mal percebemos. Quem leu o romance lamenta os espaços e os tempos que fazem o romance e que estão ausentes do filme. Dos actores retive Matthey Macfayden e Jude Law. Do resto retive vestidos e jóias, para além de um forçado ritmo acelerado e demasiadas vezes festivo. É pouco.

15/01/13


Pedro Correia despede-se de um amigo que parte cedo demais. A ler aqui.

08/01/13

Dando Excessivamente Sobre o Mar 67

William Turner
Archway with Trees by the Sea

A Tv do Casal Obama

Numa das tantas entrevistas dadas durante a campanha eleitoral norte-americana, soubemos das preferências televisivas – em termos de séries – do casal Obama. Ele gosta de Homeland, ela de Downton Abbey. Eu vejo as duas e como em Portugal acabaram agora as temporadas destas séries aqui fica mais um ponto de vista a acrescentar ao do casal Obama. 

Gostei da temporada 1 de Homeland, era uma série diferente, ousada em termos políticos e psicológicos, bem pensada e construída e com um surpreendente leque de bons actores. No entanto sentia que faltava alguma coisa para que a série saltasse do bom para o óptimo. E isso aconteceu certamente na temporada 2 que achei excelente. As personagens ganharam em densidade, a história ganhou em complexidade e crueza sem que no entanto, por um segundo, deixássemos de a sentir como credível ou que achássemos uma aberração ou fantasia o que víamos. A série vive nesse limiar e foi esse o segredo: a capacidade de nos fazer acreditar no que vemos. É também essencial referir a excepcional qualidade dos actores principais; algumas das cenas que protagonizaram são de antologia (o interrogatório de Brody por Carrie, por exemplo) e colaram-nos ao sofá. No meio de tanta qualidade só lamento que o último episódio (que passou ontem) tenha sido um dos mais fracos; por uma vez a série pareceu-me ultrapassar os limites do que conseguimos acreditar, (um pouco ‘over the top’), os diálogos foram mais frouxos e de circunstância, e sobretudo notou-se que a preocupação de preparar a 3ª temporada se sobrepôs à vontade de fazer um bom e credível episódio. Homeland é uma prova da teoria que tenho lido de que a televisão (as séries televisivas) que se produz nos EU, consegue tantas vezes ir mais além em inovação e qualidade do que o cinema americano. Para o ano há mais Homeland e ainda bem. 

Li que Michelle Obama gostou tanto de Downton Abbey que mal conseguiu esperar pela 3ª temporada tendo pedido à produtora para a ver antes da transmissão na televisão, coisa que a produtora, acredito que agradecida e solícita, fez enviando-lhe uma cópia. A terceira temporada de Downton Abbey viu-se como quem cumpre um dever. Se a segunda já tinha perdido em frescura e se tinha enredado em rodriguinhos e mais rodriguinhos, a terceira levou isso ao exagero, e ficamos com a sensação que já não sabiam que mais inventar para manter a série com vida. Então o último episódio (à semelhança do último episódio da temporada anterior) foi quase penoso de ver: por um lado a tentar servir o imaginário Escocês numa bandeja ao público americano, por outro, a matar uma personagem central - a razão da série Dowton Abbey, se bem nos lembramos. Porque é que se mata uma personagem, só porque o actor não renova o contracto? Não haverá outros actores de igual ou superior talento e com cabelo igualmente pintado de louro, ansiosos por tomar esse lugar? Esta terceira temporada sobrevive quase só do folclore que lhe dá audiências e que ninguém se opõe a ver: as mansões, as roupas, os jantares, os mordomos, e Maggie Smith. Shirley MacLaine, a grande promessa desta temporada foi um flop, alguns dos actores continuam 'fraquinhos' e sem graça e o enredo desenvolveu-se aos solavancos e de forma inconsistente. Deviam arranjar argumentistas da HBO, ou de outra boa produtora americana para tirarem a série do coma em que se encontra, e depois deixavam que fossem os ingleses a escrever (traduzir) para o inglês dos anos 20, e a introduzir as peculiaridades necessárias para que seja ‘inglês’. Nem quero imaginar como será a 4ª temporada, que a Senhora Obama verá também antes de mim, certamente. E não, não vem mal nenhum ao mundo por isso...

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