Nanni Moretti faz um filme delicioso, cheio
de humor e com um olhar terno sobre as personagens e situações inesperadas. Podíamos
falar da solidão do poder, do medo, da insegurança face às responsabilidades, e
neste aspecto meramente humano a narrativa flui sem sobressaltos numa boa
realização, com boa fotografia e com a ajuda de Michel Piccoli. Mas (claro que
tinha que vir um ‘mas’) fiquei um pouco desiludida. A esta visão ‘humana’,
chamemos assim à dimensão psicológica explorada no filme, falta-lhe a visão
institucional, para não falar da dimensão da fé. Um Papa (seja ele qual for)
não é apenas um homem só, com inseguranças, medos, etc. Um Papa é um Papa: um
homem de fé, que no momento em que aceita a sua eleição pontífica, carrega
irremediavelmente consigo uma responsabilidade para com a Igreja (instituição e
fieis) à qual nenhum ‘estado de alma’ o faz afastar-se. Como o filme mostra,
num dos seus melhores momentos, hoje muitos dos eleitos nunca desejaram o
cargo, mas aceitam-no. (É, por exemplo, o que consta ser o caso de Bento XVI) A
Igreja, enquanto instituição e sendo o Papa a cabeça dessa instituição, não se
permite nem conhece os ‘estados de alma’ que servem de ponto de partida da
narrativa. Esta dimensão ‘institucional’ que falta ao filme impede-o de ser um
bom filme: assim não é mais do que um simpático mas muito superficial exercício
especulativo.