As ‘entrevistas de rua’ são uma das pragas
dos nossos noticiários televisivos. A ideia de ir para a rua perguntar a quem
passa se concorda com isto ou aquilo, o que pensa desta ou daquela proposto
de lei, data, pessoa, acontecimento, ou o que acha que vai acontecer depois
disto ou daquilo, é de uma falta de interesse ou relevância ímpar, por mais
interessantes ou relevantes as questões em causa. Confunde-me o tempo (e
recursos) que se desbaratam a perguntar às pessoas ou que elas não sabem responder,
ou que já tem uma resposta previsível, ou o óbvio, normalmente o óbvio, sempre
muito óbvio. Mais uma vez confirmei o que acabo de escrever neste fim-de-semana
passado quando, por exemplo, vejo a Rosa Veloso (correspondente da RTP em Espanha) a perguntar aos madrilenos adeptos do Real Madrid se querem que Cristiano Ronaldo marque
golos no jogo da próxima quarta-feira entre Portugal e Espanha. Ela
profissional esforçada, consegue ir a ‘outro nível’: não pergunta ao madrileno
comum se quer que a Espanha ganhe a Portugal no jogo, nada disso. Indo ‘mais
além’ no que ela pensa poder ser alguma hesitação entre lealdades, faz a
rebuscada pergunta introduzindo os obstáculos Real Madrid, Cristiano Ronaldo,
Pepe. Uf! Que esforço fez... Mas em vão, cara Rosa Veloso, porque por muitas
distracções que imagine e verbalize na sua pergunta, por muito que se esforce a
tentar uma hesitação, por muitas pessoas diferentes que entreviste, o essencial
não muda. Os espanhóis continuam a querer que a Espanha ganhe, os Portugueses
que Portugal ganhe, os Alemães que a Alemanha ganhe e os Italianos que Itália
ganhe. Quem diria!