E é-o também por todos aqueles que se apressam a colocar um microfone ao pé da sua boca que já devia, há muito, ter sido amordaçada. O padrão é comum e de muita tolerância para com os intelectuais, sobretudo 'de esquerda'. Muita compreensão para com os Polanskys e os Strauss-Khans da vida. Muita diligência para sistematicamente tentar desacreditar as queixosas.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
30/10/13
24/10/13
22/10/13
Dois Filmes
Blue Jasmin não é um bom filme. Cate Blanchett que se excede, faz o filme, e quase que é o filme, não fossem alguns bons actores em papeis secundários, nomeadamente Sally Hawkins e Bobby Cannavale (este último ganhou recentemente um Emmy pelo seu papel em Boardwalk Empire). Fora os actores pouco mais há a dizer: o downfall de uma senhora da sociedade endinheirada de Nova Iorque que luta em S. Francisco - para onde se viu atirada pelo destino - para se evadir da 'vida real' que tanto detesta. O modelo de filme e a sua realização não trazem nada de novo, é uma receita estafada desta vez sem alma nem ironia, sobretudo para quem já viu dezenas de filmes de Woody Allen, deixando a inevitável impressão de um filme preguiçoso feito por alguém que cumpre uma rotina com eficiência. Não fossem os actores o filme era inexistente.
Late Quartet, um filme complexo sobre as relações entre as pessoas próximas onde convivem - em fundo musical com especial destaque para este quarteto de Beethoven - poder, tensão, frustração, dever, ambição, procura da perfeição... Late Quartet é um filme que me deixou confusa; estavam lá todos os ingredientes para um óptimo filme, mas não foi. Uma boa história, boas personagens, não chegaram. Creio que a realização poderia ter sido mais exigente, feita com mais sensibilidade, e poderia ter pedido maior profundidade aos actores. Saí de lá frustrada pela impressão de que faltou pouco para ter visto um bom filme, mas não vi. Vi apenas um filme razoável. Philipe Seymour-Hoffman, foi a boa excepção, lembrando mais uma vez o excelente actor que é.
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21/10/13
Ainda mal refeita do facto de esta semana ter sido representada no palco internacional por Cavaco Silva, Passos Coelho e Rui Machete (a caricatura, o verbo de encher e o emplastro), ouço hoje bem cedo, e para iniciar uma nova semana, Paulo Portas: “Os mais pobres não se manifestam”. Esta gente não nos dá descanso. Já agora, não há mesmo ninguém que consiga calar este homem, irrevogavelmente?
17/10/13
The New Normal
Nada como Outubro para o regresso ao cinema de filmes que apetece ver e assistir na televisão ao regresso das séries que gostamos. A grelha (ou posição) dos canais do meo mudou, e há dias vi-me a navegar por todos eles para perceber onde estava o quê, não fosse eu perder um só segundo de Boardwalk Empire ou gravar no canal errado Homeland. Estava eu neste exercício de surfar entre canais quando me deparei com uma mulher (Long Island Medium no canal TLC) que parecia saída de uma linha de montagem em que tudo é feito em fábrica de plástico: o cabelo (cor e brushing), a silhueta (silicone)e as unhas; meu Deus, as unhas! Eram daquelas unhas grandes e grossas de gel que fazem curva, bem quadradas e numa versão muito má de french manicure. Até a voz, e os gestos da senhora eram maus. Parei e fiquei uns minutos, poucos que a curiosidade é inferior ao ajuste que teria de fazer aos meus critérios de qualidade e estética televisiva, a ver: tudo na senhora é mau, e pior ainda o direito que ela sente ter – por causa do seu dom – de interpelar pessoas que por acaso (é o que o programa quer que acreditemos) se cruzem com ela, para lhes falar dos seus (deles) mortos.
Ao deparar-me com programas deste calibre (ou semelhante, tipo Toddlers & Tiaras), e porque tinha vindo do cinema depois de ver um muito bom filme – Hannah Arendt, que recomendo vivamente - que elogia o pensamento e mais do que isso, elogia o pensamento como a mais sublime forma de liberdade, ocorreu-me que a nossa sociedade ocidental vive hoje não só sob o efeito dessa banalização do mal, mas sobretudo o elogio, aceitação e banalização da mediocridade. Pior, não só a mediocridade se tornou banal como já está instalada e aceite como sendo ela a nova normalidade. Ao contrário do mal que ainda provoca reacção, a mediocridade, como não é má, é aceite e não se desafia. Quando se questiona essa mediocridade, é-se intolerante, politicamente incorrecto, elitista, e outros qualificativos afins.
Acontece assim no mundo pensante, no ensino, no universo político nacional e internacional, no jornalismo, na internet, no entretenimento, no cinema, literatura e arte, etc. O padrão "normalidade" está cada vez mais próximo da mediocridade: não se exige muito, não se pede muito (a excepção em tempos 'economicistas' é sermos produtivos, eficientes e fazermos ou contribuirmos para fazer dinheiro) e sem darmos conta a nossa sociedade desliza suavemente para o pântano da mediocridade, e não, não precisamos das americanices, dos reality showns ou da médium de Long Island. Infelizmente não precisamos de olhar para o outro lado do Atlântico, basta-nos olhar à nossa volta.
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06/10/13
Dos Erros Factuais e da Deselegância
Já é Domingo e Rui Machete não pediu a demissão, nem o Primeiro-Ministro a tal o obrigou. A leve (já não consigo mais do que “leve”) esperança que tinha num gesto digno esvai-se. Rui Machete, por todos os ‘casos’ em que se viu envolvido no curto espaço de tempo em que é Ministro, é mais um rosto da falta de dignidade, e da impunidade que encontrou terreno propício nos tempos da abundância e na brandura de costumes dos portugueses e que hoje começa – para bem de todos - a ser muito menos tolerada.
Há dois aspectos nas declarações de RM que incomodam. O primeiro é a mentira; não é a sua primeira mentira, nada nos garante que seja a última. A semântica da mentira em terreno político, tem evoluído de forma interessante: encontram-se palavras e modos de a descrever que tentam menorizá-la. Desde as inverdades de Sócrates aos mais recentes erros factuais que têm caracterizado este governo, há toda uma panóplia de vocábulos a contextualizar, justificar ou até mesmo a embelezar a mentira que é dita.
O segundo aspecto é a forma leviana com que se invocam os nomes dos outros. Já o Segundo Mandamento (tal como eu aprendi diz: Não invocarás o Santo Nome de Deus em vão) alerta para os perigos de invocar o nome de Deus e, por extensão (liberdade teológica minha) o nome do outro de forma desrespeitosa e leviana. Em contexto privado é deselegante invocar o nome de outro, responsabilizando-o por palavras por si ditas em contexto de conversa, mas se não houve nem conversa nem palavras ditas, o gesto é, no mínimo, abusivo ou até difamatório. Crer que estas declarações que demonstram deselegância e abuso, se podem transpor para a política sem danos ainda maiores é mostrar o quanto um certo tipo de agentes políticos, entre eles alguns dos chamados barões continuam a crer serem impunes e a viverem num meio em que facilmente se escapa à irresponsabilidade.
Para além do grau zero de decência demonstrado por RM, da deselegância e da mentira, as declarações são um enorme erro político que o PM deveria penalizar. São também reveladoras desse mundo de mentira e impunidade que os portugueses começam a não querer perdoar, e o PM deveria ser o primeiro a não querer pactuar com essa impunidade. Por muito menos (uma anedota de mau goto, uns corninhos feitos no Parlamento...) outros ministros se demitiram. São casos assim, reveladores de falta de hombridade e decência de uns e de outros, que dão consistência e razão a todos os que se queixam da crescente degradação de quem exerce cargos políticos.
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