Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
18/08/08
Educação para a Morte - O Regresso a Casa
17/08/08
Primeiros Socorros
Não sem ironia, ofereceram-me recentemente este simpático livro que promete aos “amis lecteurs”, a custos mínimos, “de prendre en charge votre bien-être” de cada vez que nos defrontarmos com as várias questões que podem atormentar uma vida: existenciais, financeiras, sentimentais ou mesmo “petits riens”. Diz-nos a autora que
“(...) vous êtes peut-être tentés de courir chez votre psycanalyste (...) lequel, moyennant une somme exorbitante, va vous écouter en hochant la tête. Au mieux vous délivrera-t-il une petite dizaine de phrases qui vous auront couté la bagatelle de 80 euros (tarif parisien pour une demi-heure de thérapie). Autrement dit, chaque phrase vous aura coutê 8 euros). Savez-vous que pour ce même prix (8 euros), vous pouvez obtenir des centaines de phrases, voire des milliers? Il vous suffit (…) de trouver le roman (…) adapté à votre problème.»
A escolha dos romances é da autora e ao lado de tantos clássicos por vezes deparei-me com obras que não conhecia, ou cujos autores nunca tinha ouvido falar ou os dois casos.
13/08/08
As acrobacias que fazem com os números e com os pressupostos para nos convencerem de que este verão tem tido temperaturas superiores à média do “período de referência” e de que as suas previsões de médio/longo prazo estavam certas... E pelo caminho, mantém-se a inexorável convicção, mais a sua prima a culpa, do aquecimento global. Nós, os que vamos, ou não, à praia, que ligamos ou não o ar condicionado do carro que ficou ao sol, não percebemos nada de calor e frio. Como se cada um não pudesse olhar para os números e tirar a conclusão que bem lhe aprouver. Este nota do IM parece um pouco “silly”. Deve ser do calor.
11/08/08
Novas Geografias do Poder
Num período em que lemos coisas do género “geografia dos afectos” ou geografia disto e daquilo, um título deste género parece não destoar, apesar de ser algo óbvio e de não ter a subtileza estilística da primeira expressão. As imitações nunca têm a qualidade dos originais, mas mesmo assim apeteceu-me escrevê-lo.
É interessante ver que enquanto o ocidente veraneia à vela em Martha’s Vineyard ou em churrascos no Texas, em iates em Porto Cervo, à noite em Ibiza, ou no festival do Sudoeste (em países onde não há Salzburg), o que importa vai-se decidindo lá nessas novas (que de novas têm nada) geografias do poder. Geografias de sempre da arte, da subtileza, da poesia, da humanidade. Geografias de sempre de capacidade de decisão sem frou-frous nem concessões frouxas, de tantas tiranias, de frieza desapiedada. A Rússia mostra que sempre teve um exército digno desse nome, a China mostra que tem dinheiro a rodos exibindo uma cidade organizada e preparada para uns jogos olímpicos sem falhas em que todos os chineses participam, uma modernização urbana ímpar e num período de tempo record, bem como uma vitrine de arquitectura moderna no seu esplendor máximo e numa abundância de fazer corar a abastada Europa toda junta (uma pequena mostra aqui, por exemplo). Veraneemos pois nesta geografia da eterna esperança em contentamentos e finais felizes feita de Estado e de Prozac, enquanto a vida que importa para o futuro passa ao lado; noutras geografias.
08/08/08
Aos 8 minutos das 8 horas do dia 8 do 8 do ano 2008
Tinha a certeza de que iria gostar e tinha a certeza que seria muito conseguida em termos criativos e estéticos. Assim foi: imaginativa, poderosa, bonita, inteligente, organizada, eficiente, disciplinada, atenta a todos os detalhes.
Foi tudo tão perfeito que me lembrei das antigas paradas militares soviéticas na Praça Vermelha, em que se “exibe” poder. Esta cerimónia é uma versão show-biz, mas nem por isso menos light, de uma exibição de poder ainda mais amplo do que o mostrado nas paradas militares soviéticas, pois não é só o poder militar que está em jogo: é o poder económico, o poder criativo, inovador e tecnológico, o poder diplomático - estava lá quem tinha que estar: Bush com um discurso de há dois dias amplamente debatido pelos comentadores de serviço da RTP, Putin que calmamente apreciava o espectáculo como se tudo estivesse tranquilo na frente de combate, Lula da Silva de uma das grandes potências emergentes bem como representantes das monarquias democráticas europeias e japonesa, enfim a quase totalidade do “who’s who” político do momento que importa estva lá – e, last but not least, o poder político que uniu o país, isto é os chineses, neste esforço comum e neste desígnio nacional que é mostrar uma nova China moderna, inovadora e competitiva ao mundo. Os números impressionantes de chineses que participaram na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim e que de uma forma ou de outra se voluntariaram (ou não) para colaborar na organização, mostram sem margem de dúvida que “lá” se joga com uma escala bem diferente do que estamos habituados. Embora esta dimensão de poder político seja a menos visível no espectáculo, não deixa de ser importante e convém estar atento ao que fica ou não quando os convidados se forem, se limpar a casa, sacudir o pó, arrumar as cadeiras e regressar ao trabalho.
(mais fotografias aqui)
05/08/08
Educação Para a Morte (3)
... ou dando livre curso a algumas ideias a propósito e a despropósito da leitura de Educação Para a Morte de Filipe Nunes Vicente, tendo sempre em mente a máxima do autor: “o que pode acontecer é que através da conversa entre dois humanos um deles consiga organizar a colecção de banalidades que as redondezas da morte suscita.”
Nestas conversas entre dois humanos perante a morte, um luto ou sofrimento profundo, muitas vezes há uma banalidade bem intencionada, mas carregada de veneno, que é comum dizer: vai correr tudo bem. Todo o livro de FNV é um manual exaustivo de como raramente tudo vai correr bem, o livro é também um manual de vida sem a esperança sem luz ao fundo do túnel, sem esse consolo dos aflitos, é uma provocação na aceitação tantas vezes da vida sem esperança (pode-se viver sem esperança, pág.47) fazendo-nos crer que o que nos move é uma força indiscernível (pág. 66) cuja origem divide os psicólogos (pág 66) que, ironiza o autor, são uma exigência da cultura ocidental dos últimos cem anos no que ela tem de técnica da alma: somos perfectíveis, só é preciso saber mexer nos botões certos (pág.66). Afinal também eles (psicólogos) acreditam que tudo vai correr bem e também eles acreditam em finais felizes e passam tantas vezes ao lado da “alma”(poder-se-ia abrir um debate sobre o que é isso da alma: fica para um dia...). Ora a morte e o luto transformam (pág.86 citando Lavoisier). Tudo fica diferente. E é essa evidência que é tão difícil para os interlocutores quando se tenta organizar a colecção de banalidades nestes momentos de sofrimento. Fazer crer que tudo vai correr bem, tantas vezes não é mais do que a evidência da incapacidade de lidar com o sofrimento, de o aceitar como parte integrante da vida, e saber partilha-lo com quem sofre. É a distância, a prudência, o não querer demasiado envolvimento. Acreditar na "cura", nessa capacidade da alma em nos tornar perfeitos é uma forma de simpático afastamento do outro, de iludir, de evitar olhar para a “alma”, é mais um sinal deste modo de viver em que tudo tem que "estar bem". Para isso adopta-se o wishfull thinking, a esperança em versão light de que realmente um dia tudo ficará bem.
01/08/08
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