29/09/10

Asas 5

Hoje, bem cedo.
No dia em que medidas duríssimas são anunciadas, a visão de José Sócrates sobre o nosso país e sobretudo sobre a sua governação e as suas opções políticas continua a mesma. Exemplos: “Somos um país muito afectado pela pressão dos mercados financeiros”. “A economia em Maio estava (e ainda está) em recuperação”. “Medidas para evitar mais ataques especulativos”. “Um dos países que mais pressão sofre dos mercados”. O problema está sempre no exterior, nunca cá dentro. Aumentam-se os impostos, cortam-se alguns custos, sobre reformas já ninguém fala: no fundo nada realmente muda, se não pensarmos só no amanhã. Continuamos todos a estar cada dia um pouco mais pobres.
Queen Mary 2. Hoje

28/09/10

A Velha

Diziam que era assim que os seus inimigos se referiam a Manuela Ferreira Leite, sobretudo os do PS, parece que os do PSD dobravam um pouco a língua, mas poucos do “establishment” gostavam dela.

Era “velha” porque não se deixava levar pelo optimismo plástico do nosso Primeiro-ministro, de CV invejável (*). Era “velha” porque dava mais relevo ao problema da dívida do que à promoção das energias renováveis. Era “velha” porque era lúcida e não vendia ilusões nem banhas de cobra. Era “velha” porque sabia olhar para os números, ver um sentido neles, tirar as devidas conclusões e comunicá-las com a secura e a clareza própria dos números, e sem sorrisos de quem anda permanentemente em campanha. Era “velha” porque nunca se deslumbrou com a sabedoria empacotada das agencias de comunicação, que fazem frases nas suas fábricas de especialista de comunicação e marketing político. Era “velha” porque era sólida e sabia (concordando-se sempre ou não) o rumo de que Portugal precisava.

Era “velha” porque pensava a política como um serviço e não como uma carreira (que já tinha tido). Era “velha” porque não se rodeava de “boys” e “girls”, assessores e inúmeros gabinetes de estudos; confiava em poucos e decidia muitas vezes sozinha. Era “velha” porque as frases nem sempre lhe saiam alinhadas, e a sintaxe nem sempre era perfeita. Era “velha” porque era genuína nessas falhas, e não andava à procura de popularidade. Era “velha” porque não ligava às sondagens, nem alimentava a comunicação social com gestos simbólicos ou anúncios diários ou semanais. Era “velha” porque desprezava a soberba medíocre com que os arrivistas políticos, intelectuais ou “artistas” se passeavam e se recusava a prestar-lhes vassalagem. Era “velha” porque – à moda antiga – pouco se preocupava com a sua imagem, insistindo, por exemplo, no colar de pérolas que sempre gostou do usar. Era “velha” porque nada fazia para ser “bonita”.

Era “velha” porque tinha coragem; a coragem da impopularidade e de não ceder ao mais popular e ao mais fácil. Era “velha” porque não usava demagogia. Hoje a “velha” “dá cartas”. Ao Primeiro-ministro que continua, como sempre esteve, alheado do país e do mundo e sem coragem, para falar verdade e olhos nos olhos aos portugueses - agora até arranjou alguém de fora para o fazer, e para nosso vexame e nossa tristeza, o Secretario-geral da OCDE, na sua relativa ignorância e com a usual leviandade da boa-vontade, prestou-se a esse teatrinho: fê-lo mal e despropositadamente. Manuela Ferreira Leite dá cartas ao líder da oposição que, apesar de "novo" e bem penteado ainda não percebeu que rumo quer, e que anda, qual barco à deriva, ao sabor de umas opiniões e ultimatos alinhavados no momento para benefício da comunicação social, (pondo em causa até as eventuais boas opções e trabalho sério), de umas frases ditas em comícios e das sondagens.

Com o país a afundar-se e os portugueses a assistirem tranquilos, só posso concluir que, apesar de todos os defeitos, falhas e limites, o país não merecia Manuela Ferreira Leite.

Adenda: Após releitura percebo como este CV é um excelente exemplo das maravilhas que a engenharia semântica pode fazer. Aprendam todos.

24/09/10

Pronúncia do Norte 8

22/09/10

Notícias do Vazio

No “Dia Europeu sem Carros”, José Sócrates vai de metro à Feira da Tecnologia e Inovação na FIL. Determinado, sabia o preço do bilhete respondendo prontamente aos jornalistas sobre essa questão. Já outras questões não quis comentar nem responder. Com o seu ar alheado (tanto alheamento, e recusa do real, não poderá começar a ser patológico?) e com o usual optimismo que veste todos os dias para “puxar sozinho pelas energias do país” (cito de cor a sua já célebre expressão), ligou a cassete naquela parte da tecnologia e energia, um “sector optimista”, como o ouvi dizer na televisão, e fundamental para a recuperação económica do país. Num dia como o de hoje ( e como se não tivéssemos dado mais um passo a caminho da bancarrota) passou lá a manhã. Nada mais importante do que saber se os meninos têm o Magalhães ou experimentar novos gadgets do “Portugal Tecnológico”.

Cada dia se torna mais evidente o vazio do governo, o vazio da política nacional, o vazio e a farsa que é a esperança que nos impingem à força: com discursos repetidos (quais lavagens ao cérebro), retórica indignada, vitimização, propaganda e constante campanha eleitoral como se amanhã tivéssemos eleições. E cada dia que passa o rei vai um pouco mais nu, ainda. Será que os livros que José Sócrates lê nas férias (de acordo com as fotografias publicadas) não servem para nada?
Não fazia ideia que os Palestinianos eram amigos do “Queer Lisboa”. Os Israelitas que, através da embaixada, contribuíram financeiramente para o festival, são uns malandros e uns malvados. O realizador John Greyson é que “topa” estas coisas todas.

21/09/10


Feridas de guerra, daquelas de dentro que não se vêem, e marido que se perde na guerra e que se acredita estar morto, são dois clichés das histórias de guerra que na aparência já nada trazem de novo. Resta a forma que tomam. Em “Brothers” (Entre Irmãos), um filme de Jim Sheridan, a forma é boa. Uma boa realização da qual resulta uma narrativa que nunca resvala na lamechice nem em excessos gráficos de violência ou de crueza. A narrativa é contida e escorreita, mas sempre com uma sensibilidade tocante ao mostrar que as feridas (de guerra ou não) são de todas as personagens. Bons actores dos mais velhos aos mais novos (Bailee Madison é óptima) a darem espessura ao filme.

19/09/10

Dias de Verão 20 (Fim de Verão)

Claude Monet
Stacks of Wheat

Were Is the Ethical Foundation For Political Choices To Be Found? 2

What are the requirements that governments may reasonably impose upon citizens, and how far do they extend? By appeal to what authority can moral dilemmas be resolved? These questions take us directly to the ethical foundations of civil discourse. If the moral principles underpinning the democratic process are themselves determined by nothing more solid than social consensus, then the fragility of the process becomes all too evident - herein lies the real challenge for democracy. (…) The central question at issue, then, is this: where is the ethical foundation for political choices to be found?
(…)
Religion, in other words, is not a problem for legislators to solve, but a vital contributor to the national conversation. In this light, I cannot but voice my concern at the increasing marginalization of religion, particularly of Christianity, that is taking place in some quarters, even in nations which place a great emphasis on tolerance. There are those who would advocate that the voice of religion be silenced, or at least relegated to the purely private sphere. There are those who argue that the public celebration of festivals such as Christmas should be discouraged, in the questionable belief that it might somehow offend those of other religions or none. And there are those who argue – paradoxically with the intention of eliminating discrimination – that Christians in public roles should be required at times to act against their conscience. These are worrying signs of a failure to appreciate not only the rights of believers to freedom of conscience and freedom of religion, but also the legitimate role of religion in the public square.

Bento XVI
Westminster Hall, 17 de Setembro de 2010.

Were Is the Ethical Foundation For Political Choices To Be Found?

Parece, para desgosto de tantos, que a visita de Bento XVI ao Reino Unido foi um sucesso. Os receios e os medos de que a visita do Papa fosse olhada com alguma indiferença, por uma população que apesar de, muito maioritariamente, se sentir cristã (segundo o que ouvi numa televisão britânica em que uma sondagem concluía que 70% da população se diz ser cristã) é cada vez mais “secular”, foram desmentidos não só pelos números dos que acorreram às celebrações e à rua, mas sobretudo pelo entusiasmo com que o Papa foi recebido pelos diferentes sectores da sociedade, nesta primeira visita oficial de um Papa ao Reino Unido desde a Reforma. A carga simbólica da visita foi também impressionante: a recepção pela Rainha, pelo Arcebispo de Cantuária e o encontro com a comunidade política em Westminster Hall, onde o Papa, no seu discurso, pode abordar os temas que lhe são caros e recorrentes: a fé e a razão, a política e a religião, e que se inserem na sua prioritária (re)evangelização da Europa.

Creio que haja, no calor da recepção ao Papa no Reino Unido, e até aqui em Portugal em Maio passado, uma falta de escândalo por essa noção de (re)evangelização, e até mesmo uma vontade de ser parte dessa (re)evangelização. Os europeus democratas e tolerantes, são hoje colocados perante múltiplas, complexas e perplexas questões que o relativismo, o multiculturalismo e a ciência lhes apresentam a cada dia que passa. Acredito que este Papa, com o seu discurso claro, firme e sólido lhes transmita alguma segurança e, pelo menos por um momento, lhes apresente um rumo para um futuro que não seja de insegurança e receio.

(As questões da moral sexual, nestes momentos, aparecem como absolutamente secundárias. Aliás, de uma maneira geral e como bem sabemos, os católicos já aprenderam há muito a divergir, em paz, com a doutrina da Igreja sobre estas matérias.)

No excessivo zelo das nossas estruturas sociais e políticas pelo respeito multicultural - um conceito amplo e vago que cada vez mais serve para tudo pois considera-se “cultura” qualquer manifestação de “estilo”, qualquer “prática” ou qualquer “opinião”, por mais bizarra e/ou minoritária que seja e por mais contra os valores de igualdade, dignidade e de respeito pelo ser humano que seja (a excisão feminina, por exemplo, que é praticada amplamente na Europa) - a sociedade Europeia corre o risco de esquecer a sua raiz cultural cristã que, num trabalho de séculos, permitiu a secularização, a tolerância pela diferença, o respeito pelo indivíduo e a democracia.

O Papa, no seu discurso em Westminster Hall, (excertos no próximo post) não escolheu um exemplo qualquer, tocou num ponto sensível a qualquer homem comum, que nem precisa de ser muito religioso: o Natal. Os Britânicos gostam desta festa e das tradições desta época do ano. Celebram o Natal ao longo de dias e de forma visível e hoje incomodam-se com o ressentimento que alguns sectores da sociedade demonstra face a essas celebrações. Por exemplo, repare-se na complicação que é para uma empresa organizar o seu tradicional jantar de Natal, que não só terá de se chamar “Festas do Solestício”, ou outra treta afim, como terá o menu de ter em consideração todas as restrições alimentares de todas as religiões existentes e de todas sensibilidades que se possam imaginar. Um pesadelo!

17/09/10

Nunca Deveria Sequer Pensar em Escrever sobre Futebol 3

Ainda bem para alguns que o ridículo não mata.

Pronúncia do Norte 7


Nós acreditamos que o iodo é fundamental para um bom crescimento e desenvolvimento das crianças, e fundamental para os mais velhos. Sabemos quais as praias com mais iodo, mesmo que a distância que as separa seja de 50 metros. As pessoas do norte conhecem-se pela fé inabalável no iodo. Há coisas bem piores .

15/09/10

Depois da apresentação da proposta de revisão constitucional, a grande aposta política do PSD para a rentrée, Pedro Passos Coelho não quer ficar atrás de José Sócrates. Apressou-se a arranjar, ele também, o seu tema “fracturante” que vai adornando com frases do tipo “Regionalização Gradualista” e “Experiência Piloto”. Hoje na RTPN Marco António explicou a ideia. Ainda não sei se percebi e nem sei se é suposto perceber. O que é certo é que o soundbite será aumentado, cumprindo assim o real e último objectivo deste PSD de Passos Coelho.


No Jornal 2 da RTP2, o jornalista (cujo nome não fixei) entrevistava o Padre Peter Stilwell sobre a visita oficial do Papa Bento XVI ao Reino Unido. Não falhou um chavão do recorrente e previsível discurso anti-papa: pedofilia, custo da viagem, protestos de alguns sectores da sociedade britânica, beatificação do cardeal Newman. Admirei a paciência e benevolência do Padre Stilwell. Às vezes pergunto-me se vale a pena.

14/09/10

Plataforma Contra a Obesidade 60

Le Corbusier (1887-1965)
Still Life Filled with Space

13/09/10

A inauguração, há dois dias, das instalações da Escola Secundária Pedro Nunes, depois das obras de requalificação, fez-me lembrar um outro caso de umas outras obras de requalificação, noutros cantos do país e com outros alunos menos “notáveis”. Trata-se da Escola Primária de Azevedo (concelho de Caminha) que, tendo sido objecto de obras de requalificação que a modernizaram e a dotaram até de aquecimento central, é este ano encerrada. Os alunos de Azevedo aproveitaram essas obras durante um ano apenas, pois este ano, juntamente com os alunos da freguesia de Argela, serão transferidos para a Escola Primária da freguesia de Venade. Partindo do princípio de que esta é uma decisão acertada, (e acredito que seja) e partindo do principio que o montante em causa necessário às obras de requalificação da – agora inexistente – Escola Primária de Azevedo não são decisivas nem para o deficit, nem para o endividamento externo (não o são seguramente) fica no entanto a perplexidade com a leviandade e a falta de responsabilidade com que se usam os dinheiros públicos. Fazem-se obras que um ano depois se revelam desnecessárias, e está tudo bem. Ninguém pede responsabilidade por uma má decisão, pela falta de planeamento, pelo esbanjamento dos dinheiros públicos. Esta é só uma pequena imagem da falta de respeito pelos contribuintes todos os dias demonstrada pelo executivo. Mas também ninguém se importa muito...

11/09/10

9/11

Também eu já tive vontade de queimar o Corão, quando me dei ao trabalho de o ler, coisa que não consegui fazer na íntegra. Foi, no entanto, antes do 11 de Setembro, e claro, valeu essa marca cultural de absoluto respeito pelos livros: qualquer livro. So what?

Dar tanto tempo de antena, tanta importância, e exportar comunicacionalmente os ímpetos primários de um indivíduo, não é nem sério nem responsável. Nós juntamos a lenha e depois admiramo-nos que venha alguém de fora pegar-lhe fogo. Não aprendemos.

Entardecer 17

Ontem
Uma luz rosada inundou o céu, o rio, os edifícios. Abençoado Outono.

Não Sobra Mais Ninguém

Os incêndios mais ou menos dramáticos e intervenções avulsas (e erráticas) e mais ou menos pertinentes dos principais políticos de serviço: o sempre previsível José Sócrates e o banal Passos Coelho que, de comício em comício, festa em festa, ou em inaugurações dessas que só José Sócrates sabe como se fazem, não conseguiram ofuscar as duas figuras que, neste fim de verão a comunicação social nos tem imposto e forçado olhos dentro numa quase histeria impossível de evitar. São eles Carlos Queirós e Carlos Cruz.

O caso Carlos Queirós, apesar de eu ter feito questão em não tentar sequer entender o dito caso, acabou por se me impor e revelou-se em esplendor uma manobra pouco limpa para despedirem o treinador (nem quero perceber se haveria motivos legítimos – e desportivos de preferência - para o fazer). O caso e seus protagonistas, revelam uma pequenez, uma mesquinhice e uma falta de lisura total, e fica a sensação de que a FPF precisa de ser implodida. Aliás diria mais, (do alto da minha razoável ignorância futebolística), essa implosão não deveria ter já acontecido há muito tempo? Mais precisamente depois do mundial do Japão e da Coreia? Mas não, as múmias estão vivas e patéticas, agarradas ao seu lugar e, a mostrar vitalidade, até já prometem anunciar o novo treinador. Coitado! Que imagem do Portugal de hoje, esta é.

O caso Carlos Cruz. Surpreende-me (enfim, como se me surpreendesse mesmo, mas melhor acreditar que sim) a sua presença constantemente na televisão. Já nem o consigo ver. Tenho náuseas. É incompreensível a cobertura mediática que as estações televisivas lhe dão, o tempo de antena de que dispõe para advogar o seu caso, usando os seus conhecidos dotes comunicacionais. Nunca vi outro caso em que um condenado em 1ª instância tivesse acesso às televisões e dispusesse de tanto tempo para promover o seu caso e proclamar a sua inocência. Porque é que Carlos Silvino, a quem a comunicação social, sem consideração nem respeito, (ele não pertence ao "poderosos", não tem amigos influentes, nem fotografa bem para a Caras) teima em chamar com uma familiaridade que incomoda Bibi, não pode ir também ao programa Prós e Contras explicar o seu caso e justificar-se? Talvez esse conseguisse fazer correr alguma lágrima mais genuína. Porque é que os Chicos, os Necas, os Quims (será Kims?) e os Manos condenados em 1ª instância por abuso sexual, homicídio, assalto, violência doméstica, pedofilia ou tráfego de pessoas, nunca são entrevistados pela Judite de Sousa? Outro retrato do nosso Portugal patético e manipulável.

Carlos Queirós e Carlos Cruz. Parece que já não sobra mais ninguém.

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