Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
31/12/06
30/12/06
Saddam Hussein e a Forca 2
Já aqui escrevi que sou contra a pena de morta sejam quais forem as circunstâncias. E sempre me surpreendeu porque é que em questões de pena de morte os europeus e os americanos, (generalizando e cometendo todas as imprecisões que as generalizações obrigam), têm uma sensibilidade e uma posição tão distinta sobre algo que, a mim, parece ser tão claro e tão simples. Qualquer execução me choca e me entristece, mas hoje o que li aqui o Presidente norte-americano, George W. Bush, já fez saber que a execução do ex-Presidente iraquiano é um "marco importante" para a democracia no país, deixou-me ainda mais perturbada e desconfortável, com a sensação de que o mundo é um local cada vez menos seguro.
28/12/06
Um código
27/12/06
26/12/06
Grandes Portugueses 2
24/12/06
23/12/06
Liberdade Religiosa
22/12/06
78
Leio que o 78 da STCP vai ser descontinuado em Janeiro. Como portuense que sou, embora hoje já lá não viva, poderia contar a história da minha infância e sobretudo da minha juventude a partir do 78: dos pontos de partida, dos destinos, dos trajectos, dos tempos de espera, dos “trincas”. Eram mesmo assim: verdes e de 2 andares.
O tempo
Tenho visto na blogosfera algumas referências ao tempo, nomeadamente à sua passagem (A Lei da Vida) e aos efeitos que essa passagem produz, à contagem e medição e consequências que sentimos na forma como se vivem as 24 horas de cada dia (Perguntas Entre O Espaço e o Ciberespaço, 7) e os sete dias de cada semana. Mas o que eu sei realmente é que é Natal cada vez com mais frequência, que o tempo que medeia o desfazer de uma árvore de Natal e o fazer de outra é cada vez mais curto...
21/12/06
Natal à porta
Pai Natal no supermercado, Pai Natal no centro comercial, Pai Natal na rua, Pai Natal na loja e, claro, os inevitáveis a trepar as janelas ou varandas das casas já com um ar velho e gasto coitados - eles foram novidade há quatro ou cinco anos e agora parecem carregar aquele ar de quem já foi. Ou então aquelas músicas que, desde meados de Novembro, ouvimos em qualquer área comercial. Penso como será trabalhar um dia inteiro, dias seguidos e semanas a fio sempre a ouvir o mesmo... O trânsito está insuportável em ruas enfeitadas cheias de luzes, as pessoas apressadas, os embrulhos, laços e fitas, as luzes e as cores não largam o nosso horizonte visual nas lojas e em casa. A maior árvore de Natal da Europa (oh orgulho nacional...) Não há tréguas. O Natal está à porta e já estamos cansados de tanto Natal...
20/12/06
Já nem se repara
Já aqui escrevi uma vez sobre o facto de considerar que, a par da veia reformista de José Sócrates, ele tem uma vontade de estabelecer uma nova “ordem moral”. Este ímpeto missionário, numa versão moderna e politicamente correcta de uma procura de conversão por parte do povo indígena - enganado e iludido - a essa superior ordem moral está bem latente, quer na forma sua e do seu governo de actuarem, quer nas decisões políticas tomadas quer na forma subtil com que se insinua em áreas que deveriam ser independentes do executivo tentando manipulá-las. Nestes dias, na expressão “nunca, jamais” de António Costa vemos mais uma, neste caso a mais óbvia porque outras haveria, ilustração dessa atitude. Mas andamos todos tão ocupados com o Natal e tantas outras coisas que fazem um quotidiano, que já nem se repara.
18/12/06
O aborto e os precedentes
A decisão das 10 semanas intriga muita gente. O que terá levado os políticos a estabelecerem essa data? Será que não poderíamos ser elucidados do porquê de tal limite? É arbitrário? Tem fundamento científico? Ético? Se é verdade que muitas mulheres sabem desde cedo que estão grávidas, muitas outras, sobretudo as raparigas jovens e inexperientes em questões de gravidez, demorarão por vezes mais do que as 10 semanas para saberem que estão grávidas. E depois? Já não podem abortar livremente como as mais conhecedoras ou experientes? Em nome de quê não poderão abortar legalmente? Qual a diferença entre abortar às 10 semanas ou às 12, por vontade da mulher? Estou a ver que com este referendo se substitui uma hipocrisia por outra e se criam mais do que um precedentes.
Numa aparentemente simples pergunta estamos perante problemas diversos: a primeira é a legalização de um acto que vai terminar uma vida e aqui entram, no meu ponto de vista, todas as questões que referi anteriormente como questões a montante: a questão de princípio que se prende com o valor da vida. Na dúvida (se é que elas existem neste caso) serei sempre a favor da vida. A segunda questão prende-se com a data limite tão previsível e tão politicamente correcta, porque isto de poder abortar livremente às 13, 14 ou 15 semanas já é chato e complicado, já se vêem os bracinhos e as perninhas nas ecografias, já brincam com as mãozinhas, humanizam-se e fica mais difícil justificar o acto em si, só por vontade da mulher. É este o facto que quero realçar por último: para fazer o aborto nada mais é necessário do que a vontade da mulher. Longe de mim tecer julgamentos morais, ou mesmo sentir que eu, ou até outro votante do “Não”, estaria sempre acima de qualquer dilema moral deste calibre e que tomaria a decisão certa (fosse ela qual fosse), mas talvez porque é tão difícil tomar a decisão certa me pareça que poder abortar livremente só por decisão da mulher é demasiado expedito, demasiado simples e demasiado conveniente do ponto de vista da sociedade que se quer cada vez mais asséptica e que prefere não ver, não ouvir, não saber. Ou será que alguém acredita que os abortos clandestinos vão mesmo acabar?
17/12/06
16/12/06
O género e o aborto
14/12/06
Falar e escrever
Adenda: 2º Ciclo, diz o professor de Educação Física: “gajos de um lado, gajas do outro”. Esta oralidade está dentro dos padrões do bom Português falado desejado pelo Ministério?
13/12/06
Qual é o Deus do Mediterrâneo 3 (e último)
Esta reflexão vem de alguém que assume como um não religioso. Mas para alguém de fé estas reflexões devem causar alguma perplexidade ou mesmo discordância. Creio que o que está em causa é a questão da liberdade e do livre arbítrio quando alguém de fé está inserido num sistema doutrinal. Vou dar um exemplo: no caso do voto ao referendo sobre o aborto quem, vivendo a fé católica e conhecendo a doutrina da Igreja, vota em plena liberdade ou vota por causa dessa fé que professa e doutrina que tenta seguir? E se o faz de acordo com o seu sistema de fé é menos livre por isso? Só é livre, maduro e integralmente responsável (num sentido não legal, claro) quem não tem fé? (É claro que estas questões que coloco acontecem numa sociedade ocidental em que existe separação entre o poder político e religioso, pois outras existem em que não há referendos, nem discussão pública e as questões sobre a liberdade ou o questionar a religião e seus ensinamentos são sussurradas por uma minoria.)
Para mim a liberdade e responsabilidade, aquilo que no início do texto se chamou “o distanciamento de deus” vem sim de algum distanciamento, não só em relação a deus, mas sobretudo em relação a nós próprios e ao que damos por adquirido, vem da capacidade de auto questionamento e reflexão da, ultimamente tão falada, relação entre a Fé e a Razão.
12/12/06
Arrependida
11/12/06
Qual é o Deus do Mediterrâneo 2
A liberdade individual também foi objecto de breve comentário pois é vista e vivida de forma diferente em ambas as costas mediterrânicas. Na costa norte as escolhas individuais são privilegiadas mesmo em detrimento ou contra o interesse da comunidade enquanto que na costa sul as opções e escolhas individuais nunca são privilegiadas se são contra o melhor interesse da comunidade. Em termos gerais estou de acordo com esta asserção que é mais válida para o mundo da academia ou da discussão intelectual do que da vivência de um quotidiano demasiado, para minha sensibilidade, regulado, explícita ou implicitamente, mas isso é uma outra questão e sobretudo não se pode comparar com a vivência do mesmo quotidiano na costa sul do mediterrâneo, onde o islamismo regula ao pormenor a totalidade da vida, todos os aspectos de um quotidiano: lavar, comer, procriar, dinheiro, rezar...
10/12/06
A saia da Carolina tem um lagarto pintado... (ou seria um dragão?)
So what? Porque é que eu tenho que a ouvir na televisão, ver e ler nos títulos dos jornais e nas páginas dos mesmos, ver nas revistas, suplementos destacáveis, coleccionáveis e demais ofertas e publicidades? Preferia saber se as bombásticas e tão surpreendentes revelações já deram origem a alguma investigação por parte da institucionalizada Brigada anti-Corrupção. Para além de uns textos tímidos e pequenos de intenções ainda não percebi qual a relevância do que ela conta e se há algo de novo que não constasse já de processos judiciais iniciados. No fundo, isso é que importa, não?
08/12/06
Um mundo pequeno
Gostei de ler os comentários ao meu post sobre o Aborto no Quase em Português, mesmo com o equívoco.
Bom Dia Santo!
Hoje é dia de todos os equívocos. O dia da Imaculada Conceição é o dia em que, exceptuando uma minoria de curiosos e informados, se confunde concepção de Maria com a concepção de Jesus e se aproveita para, a reboque, dizer umas patacoadas, contestar, e mostrar desacordo perante o que pensam ser o conceito de Virgindade de Nossa Senhora – dogma bem antigo e que data do séc.VII. Imaculada Conceição quer dizer tão simplesmente concebida sem mácula. Este foi o dogma proclamado em 1854 pelo papa Pio IX que diz que por privilégio e Graça de Deus, Maria foi concebida sem pecado original. Esta festa tem a ver com Maria e a sua concepção e não com Jesus nem com a sua concepção. É este facto que a Igreja Católica celebra hoje, e com ela todos os restantes cidadãos que aproveitando o Dia Santo cujo conceito desconhecem e desaprovam mas que nem querem ouvir falar em abolir, vão para os centros comerciais fazer compras de Natal!
07/12/06
A montante e a jusante
Na discussão sobre o aborto muitos argumentos foram já sobejamente enumerados, analisados, dissecados e atirados para o outro lado do campo como arma de arremesso. Restam os argumentos tabus. Para os partidários do “Sim” o grande tabu é a questão de princípio, a questão a montante, aquele pressuposto que deveria ser primeiro considerado: o da vida. Não o de tentar ser deus e adivinhar o momento do sopro da anima - será o momento da concepção, ou o momento da nidação, ou o momento do início da actividade cerebral, todos estes momentos catalogados em dias e em semanas, mas o aceitar que é da vida que se trata quando se fala em aborto. E a assunção de que abortar é acabar com essa forma de vida. Isso um partidário do “sim” não dirá, eu acho que é pena primeiro porque fica tudo mais claro e depois porque ao não o admitir perpetuam-se diálogos de surdos com os partidários do “não”. Os partidários do “sim” detêm-se nas questões sociais, e nas questões da liberdade individual. Essas, as questões a jusante, são o tabu dos partidários do “não”. Muitas vezes fixam-se só na questão de princípio e nunca admitem que, mesmo com informação, mesmo com educação sexual, mesmo com toda a contracepção do mundo ao dispor, mesmo com todas as “ajudas” de que tanto falam, existirão sempre mulheres que quererão abortar. Por vontade própria, empurradas pelos parceiros ou pais do feto que têm na barriga, por pressão dos seus próprios pais quando são ainda adolescentes, seja por que motivo for, elas abortarão independentemente da classe social, da situação financeira em que se encontram. Este é o facto que os partidários do “não” evitam, pois eles acreditam que “com ajuda” as mulheres não abortarão.
Eu votarei “não”. Limitação minha, certamente, mas nesta complexa questão que é o aborto, enquanto não conseguir resolver o problema a montante, por muito que reconheça os problemas a jusante, será “não” a minha resposta. Não estou de acordo, por uma questão de princípio inabalável minha que é a do direito à vida, que a Lei permita que uma mulher possa em circunstâncias normais (as circunstâncias não-normais estão contempladas hoje na Lei) e por vontade dela ou por vontade de outrem, por fim a uma vida mesmo que não tenha mais do que dez semanas.
06/12/06
Está tudo louco? 2
04/12/06
O Deus do Mediterrâneo
Dizia Salman Rushdie que uma das grandes diferenças entre o Islamismo e as outras religiões do Deus de Abraão prende-se com a relação entre Deus e o Homem. No Judaísmo e Cristianismo há uma relação de semelhança entre Deus e o Homem uma vez que Deus o fez à sua semelhança, para os cristãos, se fez um deles. Esta relação de semelhança permite uma maior proximidade e intimidade com Deus e é diferente da relação Deus Homem no Islão que assenta sobretudo na noção de submissão à sua vontade e não questionamento. O Islamismo não atribui a Deus qualquer característica humana e é um Deus transcendente. Representá-lo ou descrevê-lo é, desde logo, dar a Deus uma dimensão humana que ele não tem. (A polémica dos cartoons começa aqui nesta noção de transcendência). Falou-se também do paradoxo de Averróis ao perguntar-se como é que Deus teria falado ao profeta se o uso da linguagem é um atributo humano...
Mas estou a começar quase pelo fim, porque importante e surpreendente para Salman Rushdie é o facto de se poder livremente falar de religião. Poder dizer que se é ateu, que os homens é que inventaram Deus, que a história do homem começa antes do conceito de Deus. Poder dizer, como disse Anselmo Borges, que Deus não faz ditados, que o ridículo é sempre ridículo e em religião ainda o é mais, que nenhuma religião, nem todas elas juntas detêm em absoluto o fundamento. Em muitos países do mundo tal seria impossível dizer sem se ser condenado. Importante mesmo é a possibilidade de argumentar, de discutir e esse é o método da democracia.
Estive, no fim-de-semana, no simpósio do Festival Sete Sóis Sete Luas, em Santa Maria da Feira. O tema era “Qual é o Deus do Mediterrâneo” e participavam Cláudio Torres, Anselmo Borges e Salman Rushdie. Ao longo dos próximos dias explorarei alguns aspectos lá debatidos que me mereceram atenção, serão notas avulsas sem preocupação nem de fidelidade em relação ao contexto, nem de nenhuma ordem cronológica, ideológica ou outra.
03/12/06
Vi que estava escuro, pensei no Reno, nas suas escarpas rochosas e escuras das margens, nos castelos altos que se confundem com a rocha; pensei Sturm und Drang, pensei Goethe e Schiller; pensei cinzento metalizado, cinzento chumbo, cinzento antracite. Respirei o ar húmido e vi o casario antigo e sólido por baixo dos meus pés a descer para o rio, o halo de luz em cada candeeiro, o velho muro da outra margem que segura o declive do terreno agora iluminado. Mais acima os neons coloridos. O Romantismo estava lá: a pedra, a noite escura, os halos de luz, a neblina.
O Porto.
01/12/06
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