Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
30/11/06
Está tudo louco?
Referendo
Agora que já todos conhecemos a pergunta em questão e a data para a realização do referendo ao aborto, gostaria que os partidários do “Sim” e os partidários do “Não” debatessem também o problema da utilização dos (escassos) recursos do estado e gostaria também que de forma clara o governo nos dissesse o que muda e como tenciona dar forma às mudanças resultantes de uma vitória do “sim”. Já agora que o faça com exemplos tipo: uma mulher que descobre que está grávida às cinco semanas e que decide abortar, faz o quê, dirige-se onde, de que papeis precisa? Uma mulher que descobre que está grávida às nove semanas e meia e que decide abortar faz o quê, dirige-se onde, de que papeis precisa? O saber como o Estado pretende dar resposta a esta questão, confrontado com a experiência que cada cidadão tem da forma como o Estado dá resposta às suas questões, nomeadamente aquelas que ainda hoje se levantam com a actual lei do aborto, pode ajudar algumas pessoas na hora de decidir se votam ou não, e se votam “sim” ou se votam “não”.
29/11/06
Conhecimento, respeito e minorias
Tento seguir com alguma atenção a viagem do Papa à Turquia, e do dia de ontem retive do breve discurso (ouvido na íntegra na Sky news) que fez no seu encontro com o director dos assuntos religiosos, Ali Bardakoglu dois tópicos. Falou da necessidade do conhecimento para se dialogar e da necessidade de respeito para se construir a paz. Num país que Bento XVI considera como ponte de culturas e local de diálogo, a tónica que ele dá ao conhecimento é, no mínimo interessante. Para se dialogar, para se debater há que investir um mínimo no conhecimento daquilo que são as nossas posições, a tradição e história e naquilo que são as posições, tradição e história do lado oposto ao nosso. Só com conhecimento se consegue uma abertura de espírito que obriga a sair do preconceito útil e dos chavões fáceis para consumo da rua. Bento XVI o intelectual e académico realça e dá prioridade ao conhecimento como força de sedimentação de um diálogo profícuo em terras de pontes culturais e civilizacionais.
Com conhecimento torna-se mais facil aprender a respeitar o outro e coexistir num ambiente multicultural de forma pacífica. Mas eu também creio que um estado laico, cuja constituição respeite em absoluto as opções religiosas dos indivíduos, muito contribui para um ambiente pacífico entre diferentes religiões. Tal vivência é difícil, ou mesmo impossível em estados teocráticos em que a liberdade religiosa não existe, pois só a liberdade de professar a religião do estado é considerada e permitida. A Turquia é um estado laico no sentido europeu da palavra, e essa dimensão de laicidade é algo que a aproxima sem sombra de dúvida da Europa (e da Comunidade Europeia).
No dia de hoje o Papa transmitiu toda a sua solidariedade para com as minorias católicas do mundo, simbolizadas pela minoria turca ali presente, que tantas vezes se encontram em situações adversas e perigosas. Eu lembraria a minoria católica no Paquistão, cada vez mais pressionada e também na China, só dois exemplos para não me alongar muito. Creio que também é um exercício interessante comparar como vivem as minorias muçulmanas nos países maioritariamente cristãos com a forma como vivem as minorias cristãs nos países maioritariamente muçulmanos.
28/11/06
Para além da meteorologia
27/11/06
Útil, como sempre
A absolutamente lamentável morte do ex-espião russo Litvinenko tem, para além dos significados políticos que a imprensa tem lido, uns mais óbvios do que os outros, contornos de tragédia. À maneira de Dostoievski e até de Shakespeare vemos o veneno sempre associado a uma complexa trama de acontecimentos, a enredos de paixões, de interesses e ambientes de conspiração e de traição. Mesmo recuando mais e mais ao princípio dos tempos, não faltam exemplos de envenenamentos que, quer a História, quer a literatura, nos dão. A teia do enredo é muito semelhante, os ambientes conspirativos também, até os venenos muitas vezes são idênticos - apesar de neste caso se tratar de um veneno “moderno” sofisticado e difícil de preparar artesanalmente - as personagens comportam-se como sempre se comportaram. Com democracia ou sem democracia, com revolução industrial ou sem revolução industrial, com queda do Muro de Berlim ou sem queda do Muro de Berlim com choque tecnológico ou sem choque tecnológico, a natureza humana mantém-se fiel a si própria e os venenos mantêm-se úteis, como sempre foram.
25/11/06
Percursos
Tenho lido, nestes tempos recentes na imprensa e nos blogues, os nomes de Cavaco Silva e de José Sócrates constantemente associados, numa urdidura que parece querer exaltar as suas semelhanças, realçar projectos comuns, enfatizar percursos que tentam fazer parecer coincidentes. Tenho dificuldade em ver assim. Há, pelo menos no meu ponto de vista, algo que os distancia. Se Cavaco Silva estava imbuído do chamado economicismo e o desenvolvimento económico era o fio condutor da sua política, José Sócrates tem a par da sua tendência reformista uma vontade subtil, mas constante, de estabelecer uma nova “ordem moral”, vontade essa que pauta muitas das políticas do seu executivo, e coisa que me deixa desconfiada e desconfortável. Um exemplo é a notícia veiculada pelo Expresso de que o Governo quer introduzir novos “limites à liberdade de programação” podendo a ERC interromper emissões. Não gosto.
O véu 4
Salman Rushdie, in Shalimar the Clown.
23/11/06
O Véu 3
22/11/06
21/11/06
"Grande Superfície"
Eu tenho pena que a Festa da Música do CCB acabe. Gostava daquele ar vagamente “grande superfície” da música clássica, gostava dos enormes programas desdobráveis em que tentávamos descobrir o que nos apetecia e podíamos ouvir, gostava do som ou de música ou da afinação de instrumentos que se ouvia a qualquer hora que por lá passássemos. Gostava de poder ir a concertos de manhã, gostava da confusão de gentes e famílias que por lá passavam e dos conhecidos que sempre acabávamos por encontrar. Gostava de poder ir a concertos que duravam menos de uma hora - nem podiam durar mais, tal o desconforto das cadeiras. Ouvi vários concertos ao longo destes anos e é verdade que a qualidade era muito irregular e o público nem sempre tranquilo como deveria, mas era um clima de “festa” que pairava, e disso eu gostava.
Agora o clima de festa, o ar vagamente “grande superfície”, a multidão e o público nem sempre tranquilo, ficam ainda mais exclusivos do futebol e de algumas, poucas, manifestações musicais: Madonna no seu world tour ou Tony Carreira.
20/11/06
Uma dose de mainstream
18/11/06
Ségolène, la belle
Há uns tempos atrás (já nem sei bem precisar) Sílvio Berlusconi desapareceu por uns tempos porque, segundo parece, fez uma intervenção estética na cara que o terá rejuvenescido uns belos anos coisa que as fotografias confirmavam. A comunicação social falou, escreveu, inventou anedotas, gozou, os puritanos politicamente correctos abanaram a cabeça de espanto e reprovação por mais uma ousadia de Berlusconi. Hoje eu vejo as fotografias de uma belíssima Ségolène Royal, jovem, fresca, elegante... Parece a filha de uma outra Ségolène Royal que foi Ministra do Ambiente algures no início dos anos 90. Vamos ver se a comunicação social também fala, escreve, inventa anedotas, goza, e se os puritanos politicamente correctos abanam a cabeça de espanto e reprovação pela inesperada ousadia de Ségolène.
17/11/06
Morangada
Ouvi que as audiências televisivas de ontem deram vitória a Santana Lopes sobre Cavaco Silva. Nada que surpreenda. Já todos conhecemos o gosto dos portugueses por telenovelas, sobretudo as nacionais. Santana Lopes, tal como os Morangos com Açúcar, vem em várias séries: a Série 1, a Série 2, Série Verão, etc. A última série com que Santana Lopes nos brindou foi um Compacto em S. Bento. Aguardamos os próximos capítulos.
16/11/06
Grandes Portugueses
Saramago faz hoje 84 anos. Saramago vem festejá-los à sua terra. Saramago vem também lançar mais um livro. Os telejornais seguem tudo, dizem tudo, não nos querem privar de nada. Exultemos.
Talvez esteja em campanha para ganhar o concurso Os Grandes Portugueses.
14/11/06
Uma linha de horizonte
O meu catolicismo é algo do domínio do ontológico. Está lá, esteve sempre e tão parte daquilo que sou como um qualquer traço de carácter. Teria sempre enormes dificuldades em defini-lo, ou em precisar as doses de fé ou de cultura de que o meu catolicismo é feito. Por vezes reconheço-o na rejeição ou crítica que alguns dogmas, doutrinas ou práticas me provocam, tanto quanto me identifico com a sua essência humanista e tradição de universalidade, regozijo-me com a sua tradição teológica ou mesmo artística, e os tantos exemplos de santos (canonizados ou anónimos) que se destacaram pela forma como viveram a sua fé nunca deixam de me tocar profundamente, sinto o divino numa música ou ao contemplar uma linha de horizonte. Nunca sei muito bem se sou mais “Ratzinger” ou “Almodôvar”, “Hans Küng”ou “Santa Teresa de Ávila”, “Madre Teresa de Calcutá” ou “S. Francisco de Assis”. No entanto, e apesar dessa minha constante incapacidade de uma exacta definição vou sempre seguindo com alguma atenção o que o Vaticano nos vai dando a saber. Hoje é o anúncio de uma reunião na próxima quinta-feira para debater as questões relacionadas com a ordenação de homens casados e do celibato dos padres.
13/11/06
In the days before telecommunications
In the days before telecommunications, true love itself was enough. A woman left at home would close her eyes and the power of her need would enable her to see her man on his ocean ship battling pirates with cutlass and pistol, her man in the battle’s fray with his sword and shield, standing victorious among the corpses on some foreign field, her man crossing a distant desert whose sands were on fire, her man amid mountain peaks, drinking the driven snow. So long as he lived she would follow his journey, she would know the day-by-day of it, the hour -by-hour, would feel his elation and his grief, would fight temptation with him and with him rejoice in the beauty of the world; and if he died a spear of love would fly back across the world to pierce her waiting, omniscient heart. It would be the same for him. In the midst of the desert’s fire he would feel her cool hand on his cheek and in the heat of battle she would murmur words of love into his ear: live, live. And more: he would know her dailiness too, her moods, her illnesses, her labours, her loneliness, her thoughts. The bond of their communion would never break. That was what the stories said about love. That was what human beings knew love to be.
Salman Rushdie, in Shalimar the Clown.
12/11/06
09/11/06
Vazio
Ouvi há pouco nas notícias que o número de obesos no mundo já ultrapassou o número de subnutridos. Estas notícias são daquelas que nos deixam um pouco perplexos naquele primeiro instante em que as ouvimos, sem sabermos se nos devemos regozijar... Claro que depois percebemos que provavelmente não é o número de subnutridos que diminui, mas sim o de obesos que não para de aumentar. Creio que se impõe um sério estudo antropológico sobre o fenómeno da obesidade, com trabalho de campo sério, para ver se saímos apenas do discurso saudável, e sempre um pouco orientado, de que só devemos comer as calorias que vamos gastar, de que a obesidade provoca doenças enfim, todo esse discurso sensato que está por detrás de tantas campanhas da promoção da saúde e que conhecemos já tão bem. È preciso saber mais e perceber melhor o fenómeno da obesidade.
A minha impressão é a de que, se por um lado temos o vazio do estômago, do outro sobrepõe-se uma abundância que esconde outro tipo de vazios.
08/11/06
07/11/06
Porta-aviões em Lisboa
06/11/06
Saddam Hussein e a Forca
A pena de morte é algo que recuso de uma forma tão intuitiva e natural que nunca perderia muito tempo num debate de ideias sobre este assunto sentindo-me sempre num mundo oposto quando confrontada com pessoas que a defendem. Mas a morte por enforcamento trás consigo algo de medieval ou de barbárie que me custa ainda mais visualizar e reconhecer como actualidade, do que as formas assépticas de fazer morrer em tantos estados dos EUA. Depois pergunto-me se tudo isto é relevante; se, para alguém que, como eu, é contrária à pena de morte, a forma de morrer importa. Se há diferença entre decapitação, enforcamento, apedrejamento, degolação, tiro de revolver ou de pelotão de espingardas, cadeira eléctrica ou injecção letal, para falar de alguns dos métodos de execução que lemos nos jornais e vemos nas televisões nos dias de hoje. A tentação é dizer que não, que não há diferença, que em todas elas se morre, e que morrer nestas circunstâncias é igualmente condenável, mas eu creio que há diferenças, se não para quem morre, pelo menos para quem cá fica e sabe.
As diferenças que eu noto têm a ver com conceitos como dignidade, privacidade e humilhação. Tudo na preparação de um condenado à sua morte arrepia, quer seja feito num respeito integral das leis de países democráticos, com que dificilmente nos identificamos, quer no cumprimento de leis de países não democráticos, com justiças sumárias e sem isenção, quer quando feitas à margem da lei, quer quando levadas a cabo por bandos terroristas. Mas neste cenário lúgubre, pergunto-me qual o método em que melhor se respeita a dignidade da vida, mesmo que isso não signifique respeito pelo ser humano em causa, em que método se humilha menos o ser humano em questão e qual o método mais privado. Ao tentar fazer este pequeno exercício mental esbarrei com muitos absurdos, contra-sensos, e com o tão óbvio resultado, para mim, de que se todos estes parâmetros fossem respeitados não haveria pena de morte, que fiquei sem saber responder. Não posso, no entanto deixar pensar: a forca, não!
Dificuldade em Perceber 2
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