27/11/06

Útil, como sempre

A absolutamente lamentável morte do ex-espião russo Litvinenko tem, para além dos significados políticos que a imprensa tem lido, uns mais óbvios do que os outros, contornos de tragédia. À maneira de Dostoievski e até de Shakespeare vemos o veneno sempre associado a uma complexa trama de acontecimentos, a enredos de paixões, de interesses e ambientes de conspiração e de traição. Mesmo recuando mais e mais ao princípio dos tempos, não faltam exemplos de envenenamentos que, quer a História, quer a literatura, nos dão. A teia do enredo é muito semelhante, os ambientes conspirativos também, até os venenos muitas vezes são idênticos - apesar de neste caso se tratar de um veneno “moderno” sofisticado e difícil de preparar artesanalmente - as personagens comportam-se como sempre se comportaram. Com democracia ou sem democracia, com revolução industrial ou sem revolução industrial, com queda do Muro de Berlim ou sem queda do Muro de Berlim com choque tecnológico ou sem choque tecnológico, a natureza humana mantém-se fiel a si própria e os venenos mantêm-se úteis, como sempre foram.

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