Não havia nenhuma razão para que não resistisse (...), Eu sei dessas coisas, foi para isso que estudei. As ondas e as correntes eram as mesmas que incidiam no primeiro. A linha de fuga, idêntica, assim como a profundidade das fundações submarinas. Os operários insistiram comigo para que desse ouvidos ao Arquimedes, mas eu achei que era um capricho de velho bêbedo para justificar o ordenado. E construí-o onde me pareceu. Em má hora amigo Ricardo! Meti-lhe o dobro das pedras e da argamassa do primeiro, e o maldito desfazia-se-me uma e outra vez. Provocava remoinhos que alteravam toda a zona envolvente e criavam correntes e marés que tornaram a praia um perigo para os banhistas. Em menos de seis meses, o mar fez-me o endemoninhado esporão em pedaços e deixou-o transformado na ruína que viste. Cada vez que por lá passo fico com a cara a arder. Um monumento à minha vergonha! A Câmara multou-me e fiquei a perder dinheiro. (...) As explicações que ele dá não são explicações (...). São patetices. Como “O mar ali não aceita”, “Ali não encaixa”, “Ali vai mexer, e se mexer, a água rebenta com ele”. Parvoíces assim sem pés nem cabeça. Bruxarias, (...) ou o que quer que seja. Mas, depois do que me aconteceu na Costa Verde, eu calo-me muito caladinho, e é o que o velho disser. Em matéria de esporões não há engenharia que valha: ele sabe mais.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
05/01/07
Engenharia e Bruxarias
Todas as notícias que tenho ouvido sobre a destruição do reforço das dunas na Costa da Caparica, bem como o facto da reposição de areia nas praias não ter sido suficiente para travar o avanço do mar, lembraram-me um capítulo do livro de Mário Vargas Lhosa que li recentemente, e que já aqui referi Travessuras da Menina Má que fala do mistério que envolve a construção de esporões. São ilustrações da luta entre o homem e as forças da natureza, ou o querer desvendar todos os seus segredos. Deixo aqui um breve excerto:
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