20/05/07

Mais Pobre

“Quero deixar-vos também uma palavra de confiança, confiança em vós, nas vossas famílias e a certeza que cada um de vós dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre... perdão,...”

José Sócrates, hoje na cerimónia de entrega do certificado de nacionalidade portuguesa.

Foi um lapso, eu sei. José Sócrates corrigiu-o, mas a ironia é que por uma fracção de segundo e inconscientemente, José Sócrates foi honesto. Todos nós, cidadãos, damos para um país que está cada vez mais pobre. Pobre porque a criação de riqueza está longe dos parâmetros desejáveis. Pobre porque a produtividade nacional é baixíssima (comparada com os restantes países da EU). Pobre porque o nosso poder de compra é cada vez menor. Pobre porque o nosso endividamento é cada vez maior. Pobre porque cada cidadão tem uma carga fiscal que não tem retribuição em termos de qualidade de serviço oferecido pelo Estado. Pobre porque o Estado é cada vez maior e consome cada vez mais recursos. Pobre porque é tão difícil, tão complicado, tão exigente e tão pouco aliciante investir, ter ideias, criar, fazer empresas.

Mas também é pobre de espírito, porque o espaço para que o espírito livre cresça, floresça e se desenvolva é cada vez mais pequeno. Pobre de espírito porque os zelosos se multiplicam para impedir que o espírito se solte, e apontar com o dedo espíritos livres, porque os reguladores se entretêm a controlar e atribuir quotas percentuais de quanto e de quem se deve falar e onde. Pobre de espírito porque tantos concordam com tanto, porque quem estava do outro lado depressa passa para este hipotecando a liberdade quando acenado com o poder ou a ilusão dele. Pobre de espírito porque se questiona tão pouco, se ilude tanto, se leva tão a sério, e vê tão pouco à volta.

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