Ao considerar que, por defeito, o doente no hospital tem direito a assistência espiritual, há que saber como providenciá-la. Admito que esta questão hoje, devido a uma maior multi-culturalidade da nossa sociedade, se coloque de forma diferente daquela que se colocava há vinte ou trinta anos atrás. Se, parece ainda fazer sentido a manutenção de um capelão Católico (porque o catolicismo é maioritário) de acordo com as necessidades e tamanho (número de camas) e tipo de hospital, percebo a necessidade de haver uma ligação a outros assistentes espirituais de outras religiões, e porque não a assistentes espirituais sem ligação a nenhuma estrutura religiosa (existem e são úteis nomeadamente para cépticos que no entanto “se questionam”). Terá que haver sensibilidade suficiente de quem coordena tal apoio para que, mesmo em situações de carência de um ou outro representante da religião professada pelo doente, quem lá esteja saiba despojar-se e abrir-se às necessidades do doente. O argumento de que há padres que abusam da sua situação, que tentam impor sacramentos ou tentar conversões (a sério? Ainda há disso hoje?) é igual ao argumento de que o médico foi insensível ou fez um mau diagnóstico, ou de que o enfermeiro é desatento e descuidado, e não é por isso que se prescinde dos benefícios nem da medicina nem dos cuidados dos enfermeiros. As reclamações terão ser feitas a quem de direito, sobre médicos, enfermeiros, auxiliares, recepcionistas ou capelães. Nem mais nem menos.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
02/10/07
Hospitais, Capelanias e Anti-Clericais 3
Como frisei antes, cada vez se passa menos tempo no hospital, mas há muitas pessoas que passam lá tempo demais, e é lá também que muitos se confrontam pela primeira vez com a morte. A morte de alguém pode ser notícia, mas a inexorabilidade da morte, o seu aproximar, ou as condições em que se morre hoje em Portugal nunca deu notícia nem sequer dá votos. É um dos assuntos de que não se fala. Um dos últimos tabus, e por isso nem sequer faz parte do discurso dos políticos ou entra nas intenções das campanhas eleitorais. Imagine-se um político em campanha a anunciar que as necessidades espirituais do doente (cuja importância na cura, na qualidade de vida, ou na tranquilidade perante a morte, me dispenso de referir, pois parece ser assunto de consenso) como uma prioridade de governação, ou anunciar como paixão os Cuidados Paliativos. No entanto...
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