29/10/07

Trabalho de Grupo

O sistema de ensino e o quotidiano das escolas hoje são matéria para numerosas e longas reflexões mesmo por parte daqueles que não sendo profissionais da educação, são atentos e críticos. É este o meu caso e é nesta qualidade que escrevo. Um dos hábitos da escola de hoje é a valorização excessiva e a banalização do “Trabalho de Grupo”, que remete para segundo plano uma pesquisa individual, ou outra forma de avaliação mais rigorosa. Tudo começa muito cedo com uma disciplina cujos objectivos me parecem bizarros e muito questionáveis quer na sua pertinência quer pelo tempo que ocupa, e cujo nome é “Área Projecto”. Não me quero demorar a analisar este nome, coisa que se revelaria rica tenho a certeza, mas com esta disciplina obrigatória nasce uma imposição e uma normalização de uma forma de trabalhar que eu questiono. A vontade - politicamente correcta e imbuída de “eduquês – de que com o trabalho em grupo se desenvolvam as aptidões para um trabalho colectivo em que exista entre-ajuda, camaradagem, negociação, colaboração, cedência liderança natural e aceite, etc é, no mínimo, um mito, e no máximo nocivo para o crescimento e autonomia e mesmo a tão valorizada auto-estima das crianças e jovens.

Tudo começa com a constituição dos grupos - um processo que raramente é pacífico e que espelha o caos hierárquico, inter-relacional e de “afectos” que se encontra na escola - seja porque o professor escolheu - e dada a escassa referência de autoridade do professor o aluno hoje crê-se senhor de todas as decisões, seja porque se tirou à sorte e o azar bateu à porta e não se quer aceitar o azar, ou seja porque os alunos livremente decidiram, e há sempre alguns descontentes ou porque foram os últimos a serem escolhidos pelos colegas, ou porque ficaram num grupo com colegas com quem não se dão mas era o único que tinha vaga. Este passo, sobretudo se envolve algum conflito aberto no seio duma turma, numa altura em que as crianças e adolescentes estão a crescer e a descobrirem-se e conhecerem-se a si próprios, parece trazer algum desnecessário atrito e insegurança. Como se fazem trabalhos de grupo com uma frequência atordoante este processo repete-se com a mesma frequência. Os alunos, pelo menos até ao fim da puberdade, não têm ainda capacidade para tomarem certas decisões que poderão potenciar crises e conflitos, pelo menos de forma sistemática, e deveriam ser aliviados de as tomarem. Colocá-los perante factos consumados lembra-lhes que existe uma autoridade na escola e alivia-os para a principal tarefa que é aprenderem o que lhes é ensinado. O que me espanta é que com tanto psicólogo(a) nas escolas, se permita que existam conflitos verdadeiramente desnecessários em coisas simples como esta: devolver alguma autoridade ao professor e aliviar o aluno de escolhas que eles não sabem ainda fazer de uma forma natural e sã, para que ele se focalize na aprendizagem. Claro que talvez os psicólogos(as) existam por causa de situações como esta. Já nem sei. A lembrar também que a disciplina de “Educação Cívica” (outro nome de bradar aos céus) serve tantas vezes para “conversas” e para a resolução de conflitos como estes dentro das turmas. (Continua)

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