01/05/08

Ismos e Istas, Socratismo e PSD - 2

Socratismo e PSD

Neste momento é o socratismo que nos governa tendo-se assumido, através do executivo, como uma política reformista de rupturas, de exigência orçamental, de modernidade, e com uma ambiciosa componente tecnológica. Tenho, por vezes, neste blogue manifestado as minhas reservas em relação a algumas destas políticas, ou em relação à forma como elas são conduzidas, e poderia tê-lo feito em relação a mais. Parece que muito pouco foi feito do tanto que há a fazer, muito pouco foi reformado do que há a reformar, mas é inegável que o deficit foi controlado, que muitas “corporações” foram beliscadas e que o movimento criado, pouco e muitíssimo discreto, tem sido no sentido da modernização e competitividade e um sinal disso é o facto do Socratismo não agradar à esquerda clássica, PCP e BE. Mas para muitos outros o pior do Socratismo é José Sócrates himself, o homem político, o seu vazio, a sua opacidade, o seu estilo, as suas prioridades, os seus anúncios constantes disto e daquilo sem consistência, sem reflexão, a sua imagem cuidadosamente preparada pelos conselheiros de comunicação política, o seus discurso, o seu percurso, o seu curso, os seus projectos de engenharia e os seus sapatos Prada, o seu tom de voz moldado e trabalhado para aparentar espontaneidade, as suas frases slogan, os joggings de cada vez que vai em visita oficial ao estrangeiro, os “porreiro pá!”, as distribuições de computador. Um dos elos mais fracos do Socratismo é a credibilidade de José Sócrates.

Outros “ismos” que quiserem ocupar maior espaço político terão que, com toda a honestidade, dizer o que fariam realmente neste país que é o Portugal de hoje, dependente de cada pequena oscilação do preço do petróleo, da “conjuntura” internacional, com quatro ou cinco grandes grupos económicos que vivem em promiscuidade com o Estado, onde a excelência não é premiada e a criatividade altamente asfixiada com impostos, onde a classe média se torce ao fim do mês e onde todos reclamam os seus especiais e excepcionais direitos adquiridos, onde nenhum estudante até ao secundário pode chumbar por muito que isso custe à turma, aos professores e aos contribuintes, onde se ensinam competências e não matéria, onde uma exposição mal amanhada do Hermitage no Palácio da Ajuda é elevada ao nirvana cultural, onde se constrói demais e onde se planeia de menos. Poderia continuar mas não vale a pena. A questão é, sem demagogias e discursos ocos e inflamados de mudança e reforma (há quem já não possa ouvir falar em liberalismo, eu já tenho dificuldade em ouvir falar de reforma, de tal forma se banalizou ultimamente o termo ao ponto de qualquer medida avulso se fazer passar por uma reforma) saber exactamente o que é que outro “ismo” faria de diferente. Que capacidade de manobra teria neste Portugal de hoje, outro “ismo” para grandes medidas e rupturas sem desgastes sociais e sem o povo em protestos na rua. Eu sei que a credibilidade não entusiasma ninguém, não move, não é excitante, mas há um deficit dela no Socratismo, e os discursos irrealistas, bem intencionados cheios de teoria disto e daquilo também já não são novidade.

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