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07/05/19

Ópera e Bicos de Pato

Gravo muitas vezes concertos e óperas do canal Mezzo que depois, a meu tempo, vou vendo. Recentemente vi uma gravação de há meses da ópera Evgene Onegin de Tchaikovsky, baseada na obra homónima de Pushkin. Ao contrário do que se passa com algumas óperas de Verdi em que as histórias são complexas e o enredo se enreda e desenreda, esta é o contrário, é simples, mas nem por isso deixa de ter momentos de grande tensão psicológica e dramática. O herói, Onegin, é frio, frívolo e cheio de ‘ennuit’, a heroína, Tatiana é jovem, romântica e ingénua. Como é óbvio, os cantores de ópera são verdadeiros actores vestindo a pele e encarnando as suas personagens e através da voz, expressões, gestos, postura transmitem toda a emoção e intensidade que é pedida pelo compositor e que o espectador espera. Assim, fica um sabor a pouco quando não experimentamos as emoções prometidas pela peça. Foi o caso desta versão (já vi de que gostei mais) que me pareceu superficial e fria (até pelos cenários e produção), mas foram sobretudo os protagonistas que me desapontaram. 

Não sei o suficiente de canto lírico e ópera para fazer uma crítica, mas fica a impressão que que os protagonistas me causaram. Ele, hirto, formal e frio (até para interpretar uma personagem fria), ela era feia a cantar – os primeiros planos que as filmagens nos dão são responsáveis por tanto impressionismo – pois tinha uma forma estranha de mexer a boca e projectar os lábios e, de perfil, tinha uma boca de pato. Mas não ficou por aí a estranheza pois enquanto cantava – nomeadamente naqueles momentos de maior intensidade dramática - percebi que a sua testa não fazia nenhum tipo de ruga ou vinco, mas ondulava como se tivesse sido enchida com um líquido gelatinoso. As rugas de expressão não existiam, existiam sim, uns volumes estranhos dados pelas ditas ondas. 

Boca de pato, ondas na testa numa cantora que estava longe de ser ‘velha’ (na ópera é comum mulheres de 50 anos interpretarem jovens ingénuas de 16 ou 17, como sabemos) e que tinha uma figura jovem, e que, aparentemente, não teria necessidade de recorrer a certas intervenções estéticas na cara. Tento sempre perceber o que motiva uma mulher ou homem a voluntariamente desfigurarem-se. Vejo apresentadoras na televisão portuguesa com alterações substanciais nos traços do rosto, testas lisas que parecem ter sido engomadas, maçãs do rosto demasiado cheias, lisas e luminosas, lábios exageradamente volumosos (apesar do volume ser variável, aumentando e diminuindo, de acordo com as intervenções feitas), por vezes até com um lado da boca com mobilidade visivelmente reduzida. As expressões da cara são muito alteradas, e facilmente se percebe que o tipo de intervenções feitas. Tantas vezes as bocas são, de perfil, verdadeiros bicos de pato e a dicção é notoriamente alterada. 

A passagem do tempo, ou dizendo-o de uma forma menos poética, o envelhecimento pode não ser fácil, mas é inexorável desde o momento do nascimento. Por muito botox que se ponha na testa, a pele envelhece, as rugas estão lá, as pessoas envelhecem. Por muitos enchimentos que se ponham nas maçãs do rosto ou nos lábios, a cara modifica-se com a idade, e as marcas da passagem do tempo estão lá, por trás dos enchimentos. Custa-me ver essas caras que voluntariamente se desfiguram, mas o que me custa mesmo é perceber que nada disso surpreende, que já é norma, até diria mais, que já se espera e se aceita tranquilamente que as pessoas (mulheres) passem por esses processos de modificação da fisionomia do rosto, na vã luta contra o tempo. A sabedoria, que supostamente vem com a idade, está agora substituída por uma equipa de técnicos e técnicas dermatológicas

21/11/13

Memórias

Depois da apresentação no Porto em que muitos amigos, colaboradores, ex-alunos marcaram presença, será feita a presentação em Lisboa, não sem antes ir a Trás-os-Montes, (Bragança, Vila real, Chaves) como convém.


É um livro que conta uma (pequena parte de) vida, mas ao olhar para trás reflecte-se a vida e na vida. Também se fala de Portugal, da arquitectura portuguesa, do que era Portugal nos meados do séc. XX, em particular, mas não só, nas terras do interior transmontano. Com a leveza e o humor de quem olha para trás com a satisfação de uma vida vivida, e a distância que a idade que já se tem impõe, contam-se histórias e mostram-se desenhos há muito guardados. Ao serviço da memória. E da vida.

Declaração de interesses: sim.

14/12/11

Recomeçar 2


Hoje, depois da poeira de ontem assentar, é dia de mais um recomeço. Como Sísifo, condenado a recomeçar de cada vez que o fim se aproxima. Ele está condenado a nunca contemplar um ‘trabalho’ feito e é assim que por vezes me sinto. Quando parece que a vida está como é suposta estar e as ideias parecem organizadas: três ou quatro certezas que apesar de qualquer vento as abanar vão resistindo e um mundo de incertezas do qual conseguimos arrumar direitinhas por categorias, algumas delas, lemos a notícia de um homem que sobe para um telhado e começa a disparar e atirar granadas sobre as pessoas que passam para depois se matar. Posteriormente um corpo de mulher é encontrado em sua casa. Como é que se pode perceber este gesto? O que é que passa pela cabeça de uma pessoa para que ela decida desta forma intencional atacar desconhecidos? O que é que a motiva? 

03/10/11

Recomeçar

No fim de semana foi a fotografia de Duarte Lima que ocupou as páginas mediáticas, hoje é a fotografia da americana (e sempre angelical) Amanda Knox a ter destaque mediático por causa do mediatizado crime de que foi acusada. Confesso quer uma quer a outra notícia me deixam um pouco desnorteada. Nós vamos arrumando o nosso mundo conforme podemos, por uma questão de equilíbrio e de sobrevivência. Catalogamos, arquivamos, analisamos, ajuizamos, adaptamo-nos. Vamos (digo eu, e pressuponho eu) aprendendo a custo e estabelecendo, num processo que dura o tempo da nossa vida e que se mede em alegrias e sofrimentos, os nossos valores, a nossa noção de bem e de mal e aquilo que mais ou menos toscamente chamamos justiça. Melhor ou pior tentamos perceber, mas de repente, umas notícias de assassinatos levam todo este labor à estaca zero e recomeçamos de novo. É esta a história da vida, Sísifo sabe.

E começam as perguntas: uma menina com cara de anjo e bonitinha como as meninas ajuizadas americanas tentam ser, juntamente com um traficante de droga e o namorado da amiga, degola a amiga inglesa e companheira de quarto enquanto se encontram a estudar em Peruggia? Degola, repito. Não é dar um tiro, é degolar mesmo. Um conhecido advogado português de vida recheada de conhecimentos, favores, alguns até questionáveis como convém às vidas portuguesas recheadas, amigos, e também algumas vicissitudes, vai ao Brasil matar numa estrada no meio do nada, uma ‘velhota’ que já lhe teria transferido muito dinheiro por mais dinheiro ainda? As perguntas não são nem jurídicas, nem tão pouco irradiam alguma curiosidade quanto ao desfecho jurídico destes casos: os desfechos jurídicos nem sempre satisfazem: a dúvida, sempre ela, pairará seja ele qual for. As minhas perguntas têm a ver comigo e com esse labor de entender o mundo, de entender os seres humanos que o habitam, de me entender. Hoje recomeço, outra vez.

10/02/11

Esta história tem contornos de arrepiar: da solidão e da falta de apoio familiar, comunitário ou outro, às pessoas mais velhas, mas sobretudo da inércia. Deixar estar, não fazer ondas. A senhora de idade e sem família desaparece, a pouca família e alguns vizinhos dão disso conta à polícia, mas nada, rigorosamente nada é feito. Os animais de estimação morrem, a casa é leiloada, a pensão fica por receber, mas nada é averiguado, nada é investigado. Que o estado se está a borrifar para os cidadãos, já sabemos, que não cuide deles, sobretudo dos mais carenciados (entre eles os idosos) através de redes competentes de serviços sociais ou outros, já suspeitávamos, mas que negligencie em absoluto aqueles sem voz - os mais velhos, repito, que não são tão “queridinhos”, ou o futuro, ou promissores como as crianças - aqueles que são fracos e que não têm ninguém que os acompanhe, ninguém que reclame, ninguém que se indigne, ninguém que vá, ninguém que exija, e ninguém que fale por eles, é absolutamente assustador.

11/01/11

Dos Demónios

Ao dizer que pretendeu libertar Carlos Castro dos “demónios homossexuais”, Renato Seabra esqueceu que esses demónios em nada são piores do que os outros, os “heterossexuais”, ou os da ira, da inveja, os demónios da ambição, do poder, da mentira, da corrupção. O que não falta por aí são “demónios”. Renato Seabra vai aprender isso da maneira mais dura.

11/10/10

Crónicas duma Constipação

Uma forte constipação atirou-me, no fim-de-semana, para um sofá de onde poucas vezes me levantei. Em frente, uma televisão; ao meu lado um comando. Quando o mundo se reduz assim porque não apetece nem se consegue fazer nada, quando o ecrã do computador brilha demais e os livros exigem a disponibilidade mental que a constante respiração apenas pela boca impede, resta-nos a televisão. Fiquei, no entanto, a conhecer a extensão da pobreza da programação televisiva que temos, sobretudo ao fim-de-semana durante o dia.

Entre um Tony Blair, (uma entrevista na SICN da qual vi apenas uma parte) que não entusiasma, um Paulo Bento que ganhou com tranquilidade e um Passos Coelho que, se não se põe a pau, ainda aparece mais vezes na televisão do que Sócrates, sobra pouco. Filmes que apeteça ver (ou rever), nem sinal; a informação e o debate, praticamente reduzidos a futebol; e séries, as do costume com muitas repetições. Vi, estupefacta, umas cenas (que outra palavra poderei usar?) inenarráveis no canal Q (meo) com trintões – senão já quarentões - a fazer de conta que são adolescentes, nuns gags sem nexo nem humor ou numas conversas de humor (?) sem ponta do dito, mas com ar sisudo e muito intelectual, de literalmente fazer adormecer qualquer um (quem paga programação desta deveria fazer psicoterapia, ou muito sexo, ou ambos de preferência). Bem mais empolgante são os programas do Dr. Oz (SIC Mulher) que até atordoam com tanto grito histérico de senhoras pré-obesas, de revelações surpreendentes, de horror de recentes descobertas, e finalmente - qual cavaleiro em cavalo branco, de tantos “life saving” conselhos e práticas a adoptar “já”.

Há algo de perverso nestes programas do Dr. Oz. Nunca neles se equaciona a nossa condição de seres mortais e partem do princípio de que estamos todos dispostos a vender a alma ao diabo, qual Dr. Faust, por mais um pouco de vida. Vendêmo-nos por qualquer preço: x gramas de fibra diária ou 10.000 passos diários, também, medidos no pedómetro - um gadget indispensável para a filosofia de vida Oziana. Deve ser esta omissão da mortalidade enquanto única certeza da vida, e parte dela, a responsável pelas enormes audiências audiências: esta pequena mentira, esta ilusão. Como iludir a ideia da morte. Como não morrer. Nunca em momento algum daqueles programas a certeza da nossa mortalidade é reconhecida, a certeza de que um dia morreremos todos: Dr. Oz incluido. Pelo contrário, todo o pressuposto do programa está em adiar a morte, um mês, um ano, uma década, de preferência até ao infinito. Igualmente perverso são as absolutamente imperdíveis e essenciais “life saving” recomendações que temos que aprender para salvar a nossa vida e a dos outros. Se não a salvarmos, culpa nossa que não seguimos as recomendações: não bebemos sumos de vegetais, não comemos peito de galinha a todas as refeições, não fizemos a dança do ventre, não tomamos vitamina C, não soubemos fazer a respiração boca-a-boca, esquecemos os abdominais, e não desinfectamos as mãos devidamente. Hoje, tal como ontem, (só a forma difere um pouco) todos os caminhos vão dar à culpa. O programa do Dr. Oz está cheio dela. Sucesso garantido.
(continua)

13/12/09

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 3

O entusiasmo consumista foi contaminando o mundo. O glamour era a palavra de ordem, e todos queriam marcas: vestir marcas, calçar marcas, usar marcas e logótipos bem visíveis. Esta corrida aos produtos de luxo conhece um crescimento sem precedentes no Japão, pois os japoneses que têm muito dinheiro revelam-se fervorosos consumistas de produtos de luxo. Note-se que o Japão se torna, nos anos 80, numa importante potência económica impondo os seus produtos (carros, electrónica), atordoando os produtores tradicionais do mundo ocidental, e Tóquio é uma das maiores praças financeira do mundo. A cultura empresarial do Japão fascina o ocidente, nomeadamente a América. Mas o Extremo Oriente não é só japonês, todo ele fervilha e os seus mercados financeiros têm um peso cada vez maior no panorama mundial.

A China, esse pais fechado e comunista dá, com facilidade, os primeiros passos capitalistas começando a criar uma economia de mercado com a liberalização do comércio e a promoção da iniciativa individual. No entanto essa abertura económica não se fez acompanhar de abertura e liberdade política. Enquanto o império Soviético estremecia acabando por ruir com a Queda do Muro de Berlim, Pequim manteve-se inexorável no controle das liberdades individuais. O Massacre de Tiananmen foi o momento dramático em que os chineses percebem que nada mudou no tocante às liberdades individuais.

Também Singapura se torna num importante centro financeiro e económico do mundo e a Malásia, por exemplo, conhece grande crescimento económico. No entanto nenhuma cidade tinha “glitter” como a Hong-Kong cheia de neons dos anos 80. Tive a sorte, porque vivi num curto período de tempo em Macau, de conhecer bem Hong-Kong que conheceu um ambiente e energia únicos (visitei a cidade posteriormente no final da década de 90 já sob a administração chinesa e, apesar de próspera, o ar que se respirava era totalmente diferente). Na minha memória Hong-Kong é a cidade que melhor simboliza os anos 80, pela sua “vibração”, entusiasmo, prosperidade económica, gosto de viver, uma esperança apressada que acreditava que o futuro iria passar por lá melhor e mais depressa do que no resto do mundo. Tudo parecia possível naquela cidade que acreditava estar no centro do mundo.

Claro que nada dura sempre e em finais de 1987, Black Monday foi uma chamada à realidade, não só de Hong-Kong e do Extremo Oriente próspero, nomeadamente dos EUA, país que inventou os Yuppies. A embriaguez provocada pelo crescimento económico e por tantas fortunas que vimos fazerem-se dá lugar à ressaca no mundo financeiro.

No entanto a década não acaba com a crise financeira, no final do ano de 1989 a Queda do Muro de Berlim trás entusiasmo e um sopro de esperança com o fim do mapa político que a Guerra Fria desenhou e abrindo um novo capítulo geo-político. Nessa altura cantava (mal) isto e dançava ao som o disto e disto.

(Ver pequena adenda "musical" no post A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 2.)
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06/12/09

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão) 2

Lembro no chamado mundo do "ocidente" duas personalidades fortes de “direita” que dividiam as atenções: Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Nenhum dos países que governaram ficou na mesma, e com Ronald Reagan o mundo ficou diferente: levou a guerra fria a um outro nível com o seu programa ambicioso e ambíguo (ofensivo disfarçado de defensivo) Star Wars cuja intenção era desestabilizar o equilíbrio de forças – bélicas - entre o mundo ocidental e o leste – note-se que estes conceitos "ocidente" e "leste" na altura não tinham o carácter global que hoje têm: o mundo era “mais pequeno”, e o “leste” não era mais do que a União Soviética e os países, europeus ou não, sob influência soviética. Este programa foi amplamente contestado pela “esquerda” e liberais bem pensantes da época que sempre se recusaram e ver em Ronald Reagan algo mais do que um actor de talento duvidoso de filmes série B, que o viam incompetente para liderar o mais poderoso país do mundo e que este desequilíbrio pretendido resultaria numa escalada de agressão a nível mundial. Creio que a História não lhes dará razão, apesar de na altura, e do alto da minha omnisciência, eu também achar que Ronald Reagan era “básico” demais.

Margaret Thatcher reformou e/ou privatizou uma boa parte das instituições do Reino Unido (NHS, e BT por exemplo) para escândalo de muitos tradicionalistas (nomeadamente dentro do seu partido) mudando e modernizando o país. Ninguém gostava dela, mas tal como Reagan, sabia ganhar eleições. Lembro bem, porque vivia então em Inglaterra, de como ganhou um duro, longo e penoso braço de ferro com os sindicatos, nomeadamente o sindicato dos mineiros que, liderado pelo então célebre Arthur Scargill, fez uma das mais difíceis greves da história do Reino Unido com grande sofrimento de muitas famílias de mineiros. Essa vitória ajudou ao enfraquecimento do poder dos sindicatos no Reino Unido, nomeadamente enfraquecendo a sua, então grande, influência no Partido Trabalhista. No plano internacional Mrs Thatcher ficou conhecida pela sempre enfatizada “empatia” pessoal com Gorbatchev, o homem que sentiu a decadência de um regime, que se mostrou, e que pôs as palavras perestroika e glasnost na nossa boca.

Uma outra greve ficou célebre nos anos 80: a greve nos estaleiros de Gdansk na Polónia com dois protagonistas Lech Walesa e o sindicato Solidariedade. Esta luta pelos direitos e liberdades numa Polónia asfixiada contou com o apoio de um outro polaco, Karol Wojtyla, que em 1978 ascendeu ao lugar de S. Pedro e se tornandou o Papa João Paulo II. A Polónia e os polacos que no fim da década atravessam fronteiras para chegar ao "ocidente" foram uma das faces visíveis do desmoronar da influência soviética e da caducidade e inviabilidade do projecto “comunista” que culmina na simbólica destruição do Muro de Berlim e no desfazer de fronteiras.

Adenda: Nessa altura "Top Gun" fazia êxito (quem não viu o filme que atire a primeira pedra) e canções como esta ou esta estavam no top do Reino Unido.

(Continua)
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26/11/09

A Queda do Muro de Berlim e os Anos 80 (uma visão)

A propósito da comemoração dos vinte anos da Queda do Muro de Berlim, relembrei a década de oitenta, agora que a distância o permite fazer melhor, e imagens sucederam-se com aquela boldness e brilho tão típicos desses anos. A Queda do Muro de Berlim foi o mais entusiasmante, eufórico e simbólico momento político que vivi. Nesse período, em que vivia fora de Portugal, a sensação de “não retorno” era de tal forma poderosa que sabíamos que o mundo, tal como o conhecíamos, tinha acabado, abrindo o caminho para um outro, aquele que hoje conhecemos. Se a década de setenta passou por mim, a década de oitenta foi já vivida e com a intensidade própria de quem agora tem “uma vida” para viver.

A primeira imagem que me surge quando penso nos anos 80 é a de cor, muita cor. Os anos 80 foram coloridos. Para nós em Portugal esse “colorir” tem ainda mais significado pois coincide com a abertura do mercado nacional a produtos e lojas estrangeiras e com o nível de vida dos portugueses a melhorar de forma visível. Um dos exemplos desse “colorir” foi a chegada das lojas Benetton às nossas cidades e das suas camisolas a inundarem as nossas ruas. Até então elas só enfeitavam as cidades estrangeiras que visitávamos, tanto que ter uma camisolas Benetton era (quase um objectivo de viajem) um sinal de modernidade e de cosmopolitismo. A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, foi um passo decisivo na abertura do país à Europa, ao mundo, e claro ao consumismo. Outra face dessa “cor” foi o despontar dos "shoppings" e do universo dos hipermercados (a abertura do primeiro Continente foi em 1985). A escolha, a abundância e o consumismo são agora realidades e depressa se tornam hábitos, num país que viveu a aforrar e fechado sobre si durante décadas. Tudo isto acontece ao som de Rui Veloso que revoluciona a música portuguesa, trazendo à ribalta novos talentos que aprendemos a não ter vergonha de gostar.

Portugal na CEE era um desejo nacional, um objectivo político que ao realizar-se a 1 de Janeiro de 1986 se torna motivo de orgulho de todos os portugueses que, finalmente, passam a ter a sensação de que Portugal afinal conta. Cavaco Silva é eleito Primeiro-ministro e o país transforma-se de forma nunca vista.
(Continua)
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03/03/09

Cafriela

Esperámos um pouco cá em baixo no grande salão da entrada cuja dignidade se adivinhava – quantas sessões de cumprimentos não teriam já lá acontecido - entre cadeiras, cadeirões e sofás, uns bons e antigos outros que mais pareciam ter vindo de um barato armazém de mobília, misturados e empilhados sem nexo aparente junto às paredes. Estava muito quente lá fora e a sombra e o fresco do rés-do chão eram bem-vindos. Quando nos pediram para subir fomos directamente para a grande varanda que dava para a praça e de onde partilhámos de novo o calor e o pulsar enigmático da cidade das mangueiras. Os empregados põem toalhas de quadrados de todos os dias nas mesas de plástico tipo AKI, juntam algumas cadeiras que mais parecia estarem lá por acaso e começam a servir os aperitivos: bebidas geladas, croquetes e rissóis acabados de fritar. Entre uma coisa e outra observa-se a noite e cumprimentam-se os convidados que continuam a chegar. Algumas senhoras com vestidos berrantes e típicos, turbantes na cabeça e muito ouro. O aniversariante, alto, imponente e de túnica branca, foi o último a chegar animando o ambiente.

Os salões de pé-direito alto e de tectos trabalhados perderam a grandeza de outros tempos, algumas janelas já sem cortinados têm as sanefas caídas e os cortinados de veludo ainda pendurados, hirtos, tristes e sem sinal de movimento parecem estar esquecidos na mesma posição há décadas. Há algum estuque estragado, pintura esfolada, portas empenadas. A boa disposição e alegria da festa destoa com o ar decadente e desleixado do salão principal. Passámos à mesa numa sala de jantar perto dos salões: uma grande mesa de toalha branca cheia de travessas de comida com ar caseiro e saboroso, e o vai-vem entre a sala e a copa dava o tom da informalidade que imperava. Os aparadores grandes e altos, de boas madeiras e antigos tinham restos do que adivinhei serem bonitos serviços de copos de cristal e restos de boa porcelana misturados com picadoras 1,2,3, latas de comida de bébés, guardanapos de papel e tuperwares. O ambiente era descontraído e simpático com o anfitrião e aniversariante de boa disposição a querer que todos estivessem bem. No fim de uma longa refeição cantaram-se os parabéns, brindou-se com champagne e trocaram-se discursos sempre com as portas da varanda abertas a deixar a noite, o seu calor, os seus sons, e o seu cheiro e mistérios entrar. O serão não tardou muito a terminar. Dessa refeição lembro um frango “cafriela” servido com um cuscuz manteiga de um grão pouco fino: absolutamente delicioso. Nunca mais comi nem um frango nem um cuscuz como aquele apesar de simpaticamente me terem dito o nome do prato e explicado como se preparava.
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13/02/09

Cinco Mil Euros

José Sócrates considera-se rico com 5 mil euros, e eu acho que ele é um homem de sorte e fico feliz por ele. Como cada um tem o direito de fazer ao dinheiro o que bem lhe apetece, não me cabe perguntar-lhe como é que faz para ser assim tão rico. É que eu pensei nas muitas famílias portuguesas com esse rendimento mensal que, apesar de terem uma vida própria da classe média, estão longe de se considerarem ricas. Repito que falamos de classe média (ou média alta, se preferirem), que vive num apartamento na cidade, que tem dois filhos, dois carros , usa o sistema de saúde privado e escolas privadas, tem empregada doméstica, mas que leva uma vida “normal” de classe média. Deixo aqui um exemplo (há outras situações de casas que não se pagam porque os pais ofereceram, de pensões alimentares a pagar, de colégios para dois ou três, ou não, haveria outros exemplos mas escolhi este) de despesas possíveis para ver como se vive com 5 mil euros e quão rico se é:

Prestação da Casa (t3 em Lisboa/Porto,...) 800
Prestação carros (2) 400
Colégio (1 filho, o outro fica ainda com a avó) 500
Despesas da casa (luz, gás, água) 300
Telefones, telemóveis, TVs; internets 300
Alimentação 400
Almoços e restaurantes 350
Gasolina 150
Empregada Doméstica (tempo parcial ) 400
Seguros (saúde, vida, carros...) 200
Despesas saúde (médicos, farmácias) 100
Roupas e calçado crianças 100

Para este exemplo de despesas o total já são 4000 euros mensais. Sobram 1000 euros. Se me explicarem como é que mil euros dão para o fato Armani, os sapatos Prada, as férias seja lá onde forem, aquele sofá que tanto precisamos, a Bimby, o cabeleireiro, o ginásio, a roupa interior, os saldos da Zara, a carteira Vuitton, as calças de ganga, as férias de ski, já para não falar nos livros, DVD, nos concertos, no cinema, uns pneus do carro, na playstation, nos presentes para aniversários, etc, etc... ficaria muito satisfeita.
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02/01/09

2008

2008 revelou-se um ano muito igual ao que já eram os anteriores. Neste país, onde não existe uma verdadeira cultura democrática, nem um gosto individual pela democracia e liberdade, nem tão pouco uma rigorosa separação entre os diversos poderes que são os pilares da democracia e que permitem que se evitem excessos de autoritarismo ou mesmo de “ilusões”, continuamos a afundar-nos suavemente (se a crise o permitir, senão será fortemente) em caldinhos, paninhos quentes e palmadas nas costas (como o gesto supremo de virilidade de uma nação). Estes gestos têm por objectivo a salvaguarda dos interesses do “regime” por oposição à salvaguarda dos interesses nacionais e dos cidadãos. Portugal é um país pequeno, e como todas as comunidades pequenas há uma forte tendência para um pouco salutar “in-breathing” onde os interesses de alguns se sobrepõem aos interesses de outros, e de outros com outros, e por aí fora num círculo fechado acabando sempre nos mesmos. Salvaguardar os interesses de todos esses grupos com alguma dimensão passa a ser um desígnio nacional mais do que a salvaguarda da democracia e dos interesses dos cidadãos. Aliás os interesses dos cidadãos (e contribuintes), individualmente falando, raramente coincide com o interesse dos grandes grupos económicos e financeiros que se protegem uns aos outros com a bênção dos políticos, que também eles, de uma forma directa ou indirecta, acabam reféns voluntários desses interesses. Um verdadeiro “caldinho” feito de uma carga fiscal absurda num país como o nosso, que é, infelizmente, nada propício a rupturas, desafios, e ao desenvolvimento da liberdade de expressão não só na sua forma verbal e linguística, mas também na forma de investimento e criatividade económica geradora de postos de trabalho e de riqueza e essencial para o progresso e desenvolvimento do país.
(Continua)
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26/12/08


A DREN classifica de “brincadeira de mau gosto” o incidente em que alunos ameaçam a professora com uma arma de plástico e filmam o sucedido. Para além dos desajustes da leitura da realidade entre a DREN e o Conselho Executivo da escola, bem como o espanto da Direcção Regional pelo facto de o incidente ter chegado primeiro ao conhecimento da comunicação social do que da Direcção Regional, este é mais um incidente que demonstra o desnorte em termos de responsabilidade e de valores com a DREN a personalizá-lo impecavelmente. Tudo normal num mundo em que se glorifica quem atira sapatos ao Presidente Norte Americano numa conferência de imprensa no Iraque, ou em que se concorda com quem atira ovos e tomates a uma ministra. Não se pára um segundo para exercer algum tipo de actividade crítica sobre as intenções, sobre os meios e o mérito dos actos praticados. Discordar e saber escolher os suportes que exteriorizem essa discórdia, protestar sabendo argumentar o protesto, ou brincar e saber respeitar a integridade e dignidade do outro dá muito mais trabalho do que atirar sapatos, ovos e ameaçar com armas de plástico filmando. Para além disso um atirar de sapatos ou de ovos bem como ameaças com armas de plástico a professores dão uns óptimos vídeos que poderão eternizar esse grandiloquente momento no youtube. E, claro, dar oportunidades únicas à comunicação social que repetirá à exaustão os vídeos que farão a delícia de quem vê e correrão em horas o mundo nas páginas da internet...

17/12/08


“Passos Coelho alerta…”, lê-se aqui. Não é aquilo para que ele alerta que surpreende, é o facto de alertar. Passos Coelho já deixou de “parece-me que...”, “creio que”, “na minha opinião...” para uma posição de grande autoridade partidártia (e nacional porque lhe dão cobertura) “alertando”. Pois ele pode alertar quem quiser sobre o que quiser que eu, pelo menos para já, não lhe reconheço autoridade, nem curriculum, nem obra suficientes para me sentir alertada por muito que se dê ares de “reserva política e moral” do PSD e que já se sinta capaz de “alertar”. Já agora gostava de saber se não há, também no PSD, mais candidatos a “alertar” e porque é que só é dado espaço mediático a este "alerta".

18/11/08

Os Alunos em Amarante

Ontem vi no Jornal da Noite da SIC a cobertura que a estação fez à manifestação de estudantes do Secundário ( e também do Básico?) em Amarante. Confesso que fiquei chocada com a dita manifestação e o tempo de antena que a televisão deu àqueles alunos que não pensaram um segundo sequer em alinhavar duas ou três ideias simples, mas credíveis e sensatas que justificassem aquele aparato e aquele tumulto. Se alguma dúvida tínhamos sobre o nível da escola em Portugal, aquela manifestação tirou-a. Aqueles alunos trogloditas cujos argumentos fariam corar de vergonha qualquer ser com um mínimo de exigência intelectual são mais um dos retratos de uma escola que hoje parece ter perdido o pé e a cabeça. Nada como ser “chico esperto” e aproveitar os tempos conturbados de tensão professores/governo e sair à rua para criar ainda mais agitação. Porquê não se sabe bem, mas o que conta é a confusão.

Alunos que reivindicam o direito a faltar às aulas porque são “jovens” e os jovens faltam e que reclamam porque têm aulas de substituição em vez de irem para o recreio, são um ex-libris da sociedade complacente em que estamos. Estes jovens sofrem de excessos e de abundância: tudo lhes é dado tudo lhes é devido. Na escola nas últimas décadas o ensino é organizado de modo a não traumatizar os meninos e as meninas, de modo a acomodar os ritmos de aprendizagem de cada aluno sem ferir eventuais “diferenças”, nem premiar a diferença pela positiva, a deixar desenvolver as suas competências à medida que passam os dias, meses e anos com programas escolares que pouco ensinam, a dar espaço à criatividade, a compreender as falhas, e a não exigir qualidade, a não valorizar as faltas. A infantilização completa é mostrada quando alunos que deveriam querer aproveitar tudo, cada aula, cada tempo para se prepararem para exames e para o mundo competitivo da entrada para as universidades ou para a chegada ao mercado de trabalho, se passeiam em grandes números e dizerem querer faltar porque “são jovens” e querer mais recreio num nível próprio dos primeiros anos do ensino básico. Não se vislumbra a ponta de responsabilidade, de maturidade, de querer atingir metas de ter objectivos. Nada, bem pelo contrário, a imagem que é dada é de que se pensa que a vida é um grande carrossel: cores vivas, música, muitos telemóveis e alguém que nunca se sabe, nem quer saber quem, sempre a dar à manivela, e isso é alarmante. Claro que não é só responsabilidade da escola, é a imagem de uma mentalidade de um Portugal no seu pior.

03/10/08

Lixo Televisivo e Honra

Há alturas em que me sinto desfocada deste mundo. Pareço vinda de umas longas viagens que nos fazem demorar a reconhecer a casa onde moramos. Anda por aí, este “aí” num sentido verdadeiramente lato e indefinido, que tanto pode ser pelas ruas que percorremos, lugares em que pousamos, textos que lemos ou gentes cá da terra com quem falamos, uma certa indignação com um programa da televisão que passa na SIC e parece que se chama “Momento da Verdade”. Ao que parece perguntam coisas que, para sossego dos próximos e do mundo em geral, nunca se deveriam perguntar, e muito menos querer saber. Mas os concorrentes acham que não, e lá contam a vidinha toda, entre poses mais ou menos indignadas e ar compungido dos familiares, e vão respondendo a essas ditas perguntas para ganhar um prémio final. Pelo menos isto foi o que consegui detectar nos breves segundos que vi o dito programa, enquanto zapava. Breves segundos mesmo, porque tenho real incapacidade de ver estes programas, Big Brothers e afins. Irritam-me, incomodam-me questionam demasiado as minhas crenças sobre o género humano , fazem mal à alma e poluem, porque todo o lixo polui, incluindo o lixo televisivo.

Tenho, no entanto, seguido na RTP Memória uma série inglesa da LWT (a mesma que fez a Família Bellamy ou Upstairs Downstairs) passada na Ilha de Guernsey durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Nesta época de Dr. House, Perdidos, Donas de Casa Desesperadas, Anatomia de Grey ou Prison Break, é com curiosidade que revemos estas séries doutras épocas. Toda a narrativa é diferente, o ritmo, os enredos, as filmagens, a composição das personagens, os episódios parecem mais decalcados de uma sólida tradição teatral do que da vontade de exploração da televisão ou apostas em complicadas produções. Tudo prima pela sobriedade e ritmo adagio incluindo as paixões que movem as personagens, se é que adagio e paixão são conceitos compatíveis. Num complexo mundo em guerra, conseguem arrumar direitinho as pessoas por categorias: cavalheiros, oficiais, soldados, gente comum, políticos, militares de carreira, militares dos serviços secretos, espiões, etc. O mais interessante na série é ver estas divisões no lado alemão onde a tendência é serem catalogados na gaveta dos “maus”. Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é. Talvez se soubessem não fossem ao “Momento da Verdade”.

26/09/08

Caça às Bruxas



Se há algo que considero sinistro é qualquer espécie de caça às bruxas, sejam as bruxas quem forem: bruxas propriamente ditas, pessoas com deficiências que desequilibrem a “normalidade”, pessoas de outras etnias ou raças que tentem trazer o desconhecido para perto de nós, de outras opiniões, etc, etc. A discriminação é uma ideia, é algo do domínio da racionalidade (ou da falta dela) e parece algo que se discute, que se critica. Já a caça às bruxas, apesar dos pretextos sempre “justos” e explicáveis toma dimensões sobretudo viscerais. Caçaram-se ao longo dos tempos as seguintes bruxas: católicos, judeus, protestantes, mulheres de sensibilidade “diferente”, pretos, índios, comunistas, fascistas, colaboracionistas, muçulmanos e tantos mais... Hoje, a caça às bruxas é mais sofisticada, mais metonímica, por exemplo, tomando-se os produtos pelas pessoas, mas faz sempre apelo às vísceras.

Só assim se pode explicar uma capa como a de hoje do jornal Público: de um produto chinês, uma bebida de leite a fazer “la une”. Só assim se pode explicar que hoje de manhã na rádio a notícia sensação tenham sido os caramelos chineses nas lojas chineses que escapam ao controle da AESE, essa grande ameaça à saúde pública europeia. Alguém, no seu perfeito juízo acredita em tal coisa? Hoje os caramelos chineses, iogurtes e bebidas lácteas – eufemismo para “os chineses”, são alvo de caça às bruxas. Ich bin ein Chinesisch Karamell!

06/09/08

A Espuma dos Dias que foram 9

Continuação do post Espuma dos Dias que Foram 7, ainda uma breve colectânea de ideias, frases, cabeçalhos de jornais, declarações, comentários, ecos ouvidos e/ou com distracção e entre coisas dessas que se fazem em férias, mas que vão ficando à espera de serem organizadas à medida que a vida vai retomando as suas rotinas e os seus hábitos.

Sarah Palin foi Miss Alasca, mas parece saber falar o que aparentemente incomoda alguns.

Angola tem eleições mas não deixa que jornalistas portugueses ligados a certos grupos de imprensa possam lá ir e fazer a cobertura das ditas eleições.

A China deu por encerrada a maior e mais eficiente encenação de sempre: os melhores Jogos Olímpicos de sempre. Dizem.

Os silêncios de Manuela Ferreira Leite continuam a incomodar e passam a ser devidamente dissecados, analisados interpretados...

Luis Filipe Menezes comopara-se a um Ferrari para gaúdio e gozo de alguns comentadores.

Os fogos de verão, tal como as palavras de Manuela Ferreira Leite, foram os grandes ausentes este verão dos noticiários televisivos e dos seus emotivos e uteis directos.

Putin mexe-se com segurança felina e o à vontade de uma raposa enquanto os galos batem as asas e cacarejam na capoeira.

Paulo Pedroso e o cada vez mais estranho caso Casa Pia: onde se ganham causas sobretudo processuais, pois as investigações, ao que o tempo que passa indica, mais uma vez falharam (no alvo, no método, nos objectivos, eu sei lá) continuando a não encontrar os culpados que todos acreditam existirem - até ao dia em que são nomeados (isto é: pôr um nome, dar uma cara) suspeitos que no segundo a seguir invariavelmente são inocentes e vítimas de conspirações que ninguém sabe se existem - pois as vítimas essas, todos são unânimes em assegurar e lamentar, existem mesmo e que necessitam que se faça justiça.

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