11/11/09


Não é a questão jurídica de se se devem ou não deve considerar nulas as escutas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara que me interessa. A questão politicamente relevante é ter um Primeiro-ministro a quem passa pela cabeça falar e considerar interferir numa questão que é estritamente do âmbito do mundo das empresas privadas. Esta conversa vinda a lume, e fazendo fé no que a comunicação social nos diz, só confirma a já conhecida tendência dos nossos actuais detentores de cargos públicos, em particular de José Sócrates, para usar a sua influência e o seu poder interferindo de forma pouco legítima, e de acordo com as suas conveniências circunstanciais, na esfera das empresas privadas condicionando-as. Uma sociedade só é politicamente saudável e economicamente viável quando o mundo privado está impermeável às pressões politicas. Independentemente do resultado jurídico ou processual do caso das escutas no âmbito do processo “Face Oculta” (que tanto se tem debatido na comunicação social), a questão política mantém-se e dela pouco se fala apesar de estar (devida ou indevidamente, não sei, nem me interessa) a nu na comunicação social. A contenção e a não-interferência dos órgãos de soberania perante matérias do foro privado deveria ser uma segunda natureza para qualquer pessoa que ocupe um desses cargos. E não é. Como se vê este caso do conteúdo dos telefonemas escutados, esta é também uma forma de asfixia democrática, uma expressão ultimamente vetada pela onda comunicacional, às más lembranças e à má fama apesar de se manter actual, infelizmente.
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