14/04/10

Filipe Nunes Vicente escreveu hoje este post de leitura obrigatória. É, no entanto um texto escrito “de fora” e não “de dentro” (da Igeja Católica, claro). Nota-se, entre outras coisas que decorrem da leitura, num aspecto mais formal: o modo como FNV nomeia o Papa (uma escolha nada inocente): Ratzinger e não Bento XVI. Nota-se também em duas ou três afirmações que, apesar de fazerem sentido no contexto de uma leitura mais atenta do texto, podem ser consideradas imprecisas ou polémicas. A mais óbvia é o facto de afirmar que João Paulo II foi “Papa inofensivo”, afirmação sobre a qual não me detenho, mas a principal para mim, porque pode ser geradora de um “mal-entendido” numa leitura mais rápida do texto, é a de que Ratzinger tem desprezo “pela liberdade como valor universal”. FNV teve o cuidado de não dizer só “liberdade”, mas sim "liberdade como valor universal".

S. Paulo, por exemplo, fala muito na liberdade na Epístola aos Gálatas “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gal. 5, 1), ou “Irmãos, de facto foi apara a liberdade que fostes chamados” (Gal. 5, 13) e enfatiza a importância da liberdade no cristianismo. De acordo com o Catecismo da Igreja, Cristo ressuscitado libertou-nos do pecado para que sejamos livres. Deus quer-nos livres, e porque somos livres podemos escolher entre o bem e o mal. Faria algum sentido o perdão de Deus (expresso através do sacramento da confissão) sem liberdade? A liberdade é-nos dada por Deus e ela torna-nos responsáveis. O Papa não despreza a liberdade.

Parece-me por isso importante não confundir a liberdade que nos é dada por Deus, da “liberdade universal” que o Papa despreza, de acordo com FNV. Quando era nova lembro-me de me explicarem que a liberdade andava sempre de mãos dadas com a responsabilidade, coisa que impedia um alívio mais imediato que vem associado à ideia de uma liberdade como uma mera possibilidade de escolher e optar. Ora escolhe-se e opta-se em função dos valores sociais dominantes que, esses sim, serão objecto de desprezo por parte do Papa Bento XVI. Presumo que seja a este desprezo que FNV se refere.


Resumindo os ditos valores: a cultura da experimentação, a tentação equalizadora, o politicamente aceitável, a soberba intelectual (o dito aparelho universitário), as ideias estreitas, banais e fáceis, o folclore e o excesso de ruído comunicacional (o aparelho mediático). Eu acrescentaria o imediatismo, o facilitismo, a aparência, o sucesso.

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