Sentia-me um ser extra terrestre por não ter querido ver Inglourious Basterds quando esteve nos cinemas. O desejo de voltar a ser “normal” e a insistência de alguns levaram a melhor e por isso vi o filme recentemente (DVD) e já depois de toda a gente o ter visto e de saber todas as opiniões possíveis, que eram, por acaso quase unânimes: fabuloso, um hino (homenagem) ao cinema, inteligente, etc, etc. Quem sou eu para contradizer tanta unanimidade e sapiência? No entanto, confesso humildemente que o filme não me entusiasmou nem me tocou especialmente. Muito menos me deixou em êxtase ou deslumbrada.
Não apreciei o tema: um pelotão criado à margem da legalidade e da prática bélica aceitável constituído por marginais (ou quase) que se “vinga de nazis” de forma vândala, cruel e inaceitável. É demasiado próximo de uma má realidade para ser boa ficção. O tirar de escalpes ou o “tatuar” de testas não só vem na linha desta lei da selva que serve de pretexto para o filme, como é uma opção estética importante para Quentin Tarantino. O cineasta, mais uma vez aposta na provocação e em chocar o espectador com o seu rigor formal, que é, impossível negar, impecável. Só não é do meu agrado. Não gosto nem da ideia de tirar escalpes nem de ver escalpes, e muito menos do seu “trademark” que é o sangue a esguichar de cada vez que há uma agressão que envolta o mínimo contacto físico. Cenários totalmente salpicados de sangue ao menor pretexto, por muito válida que seja a opção de chocar, simplesmente não me interessam e confesso ver neles uma infantilidade que me faz tédio. O que diria Freud desta obsessão de Tarantino? A perversidade que poderia existir no filme fica em segundo plano, tal o impacto dos efeitos especiais que me lembram desenhos animados e que contrasta, por exemplo, com a intensa e desconfortável perversidade num muito bom filme que vi há meses, Laço Branco de Michael Haneke e que é de uma crueldade surda e de um rigor estético deslumbrante.
Os diálogos de Inglourious Basterds são interessantes, as piscadelas de olho a outros filmes que fizeram história são divertidas apesar de por vezes demasiado óbvias (a tal infantilidade), mas esses aspectos não “fazem” um filme. Não vislumbrei um humor digno de nota entre sangue a esguichar (com Tarantino o sangue nunca pinga, nem escorre, nem jorra; esguicha sempre), linguagem de séc.XXI, coisas várias que explodem e diálogos espertos. Aliás, se pensar em humor ainda me rio com A Serious Man (que já vi há algum tempo) dos irmãos Cohen, que do primeiro ao último minuto desafia o espectador pelo exasperante e incómodo humor do filme.
Sobra em Inglourious Basterds o cuidado e rigor formal e uma interpretação de Christoph Waltz merecedora do Óscar que ganhou. A partir de Pulp Fiction, Quentin Tarantino passou a cineasta sobrevalorizado.