28/07/11

Espuma dos Dias que Foram 36

Bolonha é uma cidade subestimada. Pode não ter a Praça de São Pedro do Vaticano, a Piazza Navona ou a Fontana Trevi de Roma, nem tem a Piazza del Campo de Siena, ou os canais de Veneza, os Uffici ou a Ponte Vecchio de Florença, (etc, etc), mas é uma cidade com um centro histórico magnífico, uma história riquíssima e uma vida interessante apesar de a ter visitado (pela primeira vez) agora em Julho e já findo o ano lectivo. A cor da cidade é aquela cor meia ‘torrada’ que conhecia da Toscana no verão que me encanta. Tirei inúmeras fotografias e arrisco-me a publicar muitas no blogue. Outra coisa boa de Bolonha é que não está inundada de turistas, não há bichas para nada, há lugar nos restaurantes, os museus estão quase às moscas (um pecado, diria) e na rua sentimos o pulsar de uma cidade ‘normal’, com gente simpática e cheia das actividades de cidades médias/pequenas ‘normais’ que fazem nas noites quentes de verão. Na terra do ragù e dos tortellini (al brodo e não só) comi lindamente, e a preços sem excessos. Passeei por ruas e ruelas, avenidas e praças (a pé e de bicicleta) sem enchentes mas com o buliço de uma cidade vibrante: gentes, vespas, carros. Olhei à volta e vi edifícios muito antigos ou menos antigos entre os postes e fios eléctricos de um prédio ao outro, a atravessar a rua, num caos italiano e a atrapalhar a fotógrafa (eu). Mas uma coisa boa na mudança de ares e nos passeios em Bolonha foi a oportunidade de - longe de noticiários e jornais - lembrar outras cidades, outros locais da Europa, e pensar, sentir e perceber essa matéria fabulosa de que a Europa é feita: a sua história. Faz falta voltarmos às raízes, sobretudo em tempos de dúvida.

16/07/11

15/07/11

Em Flor 32

O fim das disciplinas de Área Projecto e de Estudo Acompanhado, é uma excelente notícia. Elas eram símbolos do ‘eduquês’ reinante no nosso ensino. Muita conversa, muita ‘integração’, muitas ‘competências’, mas sobretudo muito tempo perdido: em casa a fazer projectos tantas vezes sem ponta de nexo, tantas vezes absolutamente ridículos, e vazios de qualquer propósito, e na escola ocupando tempo curricular em que poderiam ver reforçadas algumas disciplinas, ou apostar noutras infelizmente nada valorizadas e quase nada presentes nas nossas escolas (música, por exemplo). No afã de melhorar as notas a Português e Matemática, preocupação que partilho desde que não se diminua o grau de exigência, não convém, nomeadamente no 3º ciclo, esquecer as outras disciplinas.

No dia em que se sabe que as notas de Português foram as piores em 14 anos de exames, e que os resultados dos exames do 9ºano são os piores dos últimos anos (Matemática e Português baixaram as médias) convinha pensar sobre o assunto. A revisão curricular da disciplina de Português impõe-se. O que se ensina em Português – pode-se perceber o que é pedido aos alunos consultando os exames no site do GAVE – é coisa do outro mundo, e o que não se ensina é inconcebível. Isto combinado com a cultura de pouca exigência na maioria das escolas (e na maioria das famílias) forma uma mistura que propicía a ignorância. Este assunto levar-nos-ia por longos caminhos que hoje não trilharei. Só um detalhe (mínimo e insignificante face ao descalabro dos programas e cultura escolar) por curiosidade, fiz a consulta dos exames: não vi exame sem a presença de Saramago.

13/07/11

Dando Excessivamente Sobre o Mar 59

George Bellows
Rock Reek, Maine

12/07/11

Quase Quatro Horas

Porque precisei de pedir um cartão europeu de seguro de saúde, fui há uns dias à Segurança Social na Loja do Cidadão das Laranjeiras. Ouvi sempre histórias de longas esperas, e da necessidade de chegar cedo, para ser atendido nesse mesmo dia na Segurança Social, por isso fui cedo e preparada: isto é, tinha um plano. Às 8h 40m tirei um papelinho com o número 75. Saí para tomar o pequeno almoço e regressei para tentar perceber se o atendimento era ou não rápido. O serviço de sms que supostamente nos informa do número que está a ser atendido estava bloqueado segundo a informação do 'papelinho'. Perdi as ilusões de rapidez e eficiência e percebi que dificilmente seria atendida antes do meio-dia. Tirei outro número de chegada, just in case: desta vez o 127. Voltei a sair e regressei às 12h – tinham chamado o número 71 - e fui atendida vinte minutos depois, e quase quatro horas depois de lá ter chegado. O assunto a tratar foi simplicíssimo e não demorou mais de três minutos para as quase quatro horas de espera. Eram oito os guichets disponíveis, mas apenas três os funcionários a fazer o atendimento a um público sentado, com ar de horas de espera, resignação e calor estampado no rosto.

Eu não percebo porque é que estes números não intrigam nem assustam os responsáveis por estes serviços do Estado. Num país em que há excedentes de funcionários públicos, parece inadmissível que haja serviços que têm claramente funcionários a menos, para não mencionar o excesso de burocracia que nenhum “simplex” conseguiu combater: simplificou alguns procedimentos, mas não reduziu a burocracia.

Estes números de ineficiência, burocracia, e desrespeito pelo tempo dos cidadãos é um sinal de subdesenvolvimento. E nestes momentos percebe-se de forma muito óbvia que a dívida soberana, ou o rating de ‘lixo’ da Moody’s (que tanto alarido causou como se tivessem agido surrealisticamente (*)) não são os únicos problemas. Há um problema cultural de raiz, de periferia, de ‘deixar andar’, que faz com que se considere e aceite como natural situações como a que relatei. Sabemos que os exemplos são aos milhares em diferentes serviços estatais, (por exemplo os consulados). O nosso padrão de normalidade é simplesmente inaceitável. O nosso ‘lixo’ vem também dessa cultura da mediocridade e da falta de exigência. Não é só porque a Moody’s assim decide. Como conta a lenda, é mais fácil atacar o mensageiro...

(*) Hoje foi o ratink da Irlanda que a Moody’s baixou. Resta saber se fica por aqui.

07/07/11

Crónica Feminina 9

Ontem

06/07/11

Um Pretexto para Falar de Livros

A Teresa Ribeiro do Delito de Opinião convida-me a responder a estas questões. Um bom pretexto para falar sobre livros.

1 - Existe um livro que relerias várias vezes?
Releio cada vez mais. E de todos os livros que leio, releria certamente uns 30%.

2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e não conseguiste ler até ao fim?
Ulisses, James Joyce. Também só li os dois primeiros volumes de À la Recherche du Temps Perdu, Proust. Senti que se lesse mais, quem andaria 'à la recherche du temps perdu' seria eu. Muito bonito, muito longo, muito chato.

3 - Se escolhesses um livro para ler no resto da vida, qual seria?
Provavelmente a Biblia. Quanto mais não seja porque é enorme e porque, como se costuma dizer, está lá tudo.

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, não leste?
Ulisses, James Joyce. D. Quixote, Cervantes. Também nunca li na íntegra a Ilíada e a Odisseia de Homero. Espero ainda lê-los.

5 - Que livro leste, cuja cena final jamais conseguiste esquecer?
Associo cenas finais a filmes e, por muito que tenha tentado não consegui lembrar uma em livros. Só me lembro em filmes.

6 - Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Não muito. O pouco que lia eram versões do Gato da Botas e outros contos infantis. Nunca li literatura juvenil, salvo umas coisas ‘para meninas’. Quando comecei, por volta dos 12/13 anos comecei ‘a sério’ e a colecção Livros do Brasil era central. Muita Pearl Buck, O Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley; O Fio da Navalha e Servidão Humana de Somerset Maugham, (li quase todos os seus contos nessa altura); algum Graham Green nomeadamente O Poder e a Glória; A Condição Humana, André Malraux. Entretanto comecei também a ler policiais e banda desenhada. A partir daí nunca mais parei. Ainda hoje não gosto especialmente de literatura juvenil e menos ainda de literatura infantil - sobretudo da que se dá nas escolas, tão certinha, tão direitinha, tão irritante.

7 - Qual o livro que achaste chato, mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Les Misérables, Victor Hugo, mas devo ter lido mais. Raramente deixo um livro a meio e dantes nunca deixava, porque só considero um livro lido quando o é da primeira à última palavra.

8 - Indica alguns dos teus livros preferidos.
São muitos e muitos. Dos mais antigos começo com um preferido de sempre Decameron, Boccaccio. Também The Tales of Canterbury, Geoffrey Chaucer; Romeo and Juliet, Shakespeare. Do séc. XIX há uma lista infindável. Destaco Os Maias, O Primo Basílio e A Cidade e as Serras de Eça de Queirós, As Novelas do Minho de Camilo Castelo Branco. Todos de Jane Austen, quase todos das irmãs Brontë (Wuthering Heights e Jane Eyre sobretudo), Middlemarch, Geoge Elliot. Russos: todos os que li com destaque para Guerra e Paz, Lev Tolstói e Os Irmãos Karamazov, Dostoievsky. Franceses: L’Éducation Sentimentale, Flaubert. La Chartreuse de Parme, Stendhal. Também há muitos do séc XX, o português Mau Tempo no Canal de Vitorino Nemésio. Outros mais recentes, correndo o risco de esquecer muitos, Disgrace, Coetzee, Midnight's Children, Salman Rushdie, On Chesil Beach e Atonement de Ian McEwan, Everyman, Philip Roth. Séc XXI, Freedom, Jonathan Franzen.

9 - Que livro estás a ler?
Palimpsest, Gore Vidal. Collected Stories, John Cheever. E O Livro de Cesário Verde.

Já li as respostas de tantos bloggers que não lembro mais nenhum.

Dias de Verão 23

Maurice Prendergast
New England Village

05/07/11

No fim de semana li no blogue Da Literatura esta notícia. Esperei uns dias para ver se lia algum desmentido, mas para além de uns comentários em blogues ‘mais à esquerda’ o silêncio ‘mais à direita’ foi grande: daqueles que se geram quando está um elefante na sala.

Enquanto leitora assídua do Portugal dos Pequeninos (PP), vou ficar a perder. Não encontrarei lá o escrutínio (às vezes implacável, quase sempre pertinente) à governação a que este blogue nos habituou – com José Sócrates, e até com Durão Barroso e Santana Lopes. Não lerei aqueles posts sarcásticos, irónicos e também eles implacáveis, às vezes no 'limite', que o PP dedicava a figuras como Silva Pereira, Santos Silva, Arnault e até a Miguel Relvas e Passos Coelho de outros tempos, claro, e que punham a nu a matéria de que são feitos tantos políticos hoje. Não verei o expor e o desmembrar de tantos tiques políticos e modos de fazer política, reveladores dos ‘sinais dos nossos tempos’: por exemplo da política do anúncio. Não lerei as suas críticas à 'acefalia' da comunicação social que bebe directamente e sem distância crítica, da fonte da central de informações governamental.

Enquanto leitora assídua do Portugal dos Pequeninos, e relembrando tanto do que lá se criticou e aclamou, confesso um espanto para além do previsível. Não consigo impedir-me de perguntar: porquê? Para quê? Em nome do quê? O blogue que citava Céline, Luiz Pacheco, Jean Genet, Jorge de Sena e se construía na herança de um certo tipo de ‘desajuste’, ‘revolta’, distância e liberdade patente nestes escritores, vai – ao que consta e sem nenhum desmentido por parte do João Gonçalves, a voz do blogue - ‘ajustar-se’. Uns posts mais ou menos literários e cheios de citações, que já são hoje o PP, farão de mim uma leitora menos assídua do blogue. Uns ganharão mais. Eu, lamentavelmente, ficarei a perder.

Entardecer 21

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