Olho para um governo que ainda não me surpreendeu; não é que eu o esperasse, note-se, mas vamos ouvindo dizer que sim que vai 'tudo mudar' que 'agora é que 'e', e confesso, às vezes custa o cepticismo e custa ser 'Velho do Restelo'. Até hoje – incluindo a comunicação (‘um flop’) do Ministro das Finanças sobre os cortes na despesa pública que se saldaram num aumento de IVA (aumento das receitas) para a electricidade e gás que será altamente penalizador – revejo, com personagens mais aprazíveis e a merecerem menos desconfiança e repúdio, é certo, o que já conheço: a política do anúncio em ritmo estudado para o povo e do pacote pré-fabricado para a comunicação social (acrítica e a banhos nesta altura) a sobrepor-se ao trabalho duro, exigente e incómodo para tantos de ‘mudar’ (não, não é paradigma): iniciar um árduo processo de pensar e implementar as reformas estruturais de que o pais precisa (justiça, saúde, administração do território, do funcionalismo público...); mudar a mentalidade estatizante (um exemplo: a RTP – VPV no Público de hoje e JJP aqui); saber explicar de forma compreensível as decisões que se tomam (exemplo? A venda do BPN); só para dar alguns exemplos sem me esforçar muito, está calor.
Olho para um mundo e uma Europa que cada dia se torna mais irreconhecível: depois de um massacre (terrorista) na Noruega cujos contornos e intenções ainda estamos para perceber bem, sucedem-se os mutins em Inglaterra, sobretudo em Londres e arredores, que nos deixam absolutamente perplexos. Num outro nível a dívida pública americana vê o seu rating, as dívidas soberanas francesa e italiana são pressionadas com aumento de taxa de juros e temem o pior com os mercados financeiros em agitação constante e fortes quedas. Acalmam-se os mercados de forma artificial tendo alguns países (os de tradições mais liberais opuseram-se como se esperava) proibido o ‘short-selling’. Eu tendo a desconfiar das ‘soluções’ que se encontram usando ‘proibições’, e certamente desconfio desta. Veremos o que se passa quando o efeito do ‘sedativo’ dado a alguns mercados europeus passar.
A sensação de estranheza está cá. Tento reconhecer o que penso conhecer: Portugal, a Europa, o mundo Ocidental, a minha civilização, a minha pertença. Já não sei o que (re)conheço. Sei o que temo. O ‘meu’ mundo assim como está, continuará a ser viável?
Vou fazer as malas.