27/09/13

Domingo 29 de Setembro

Mais uma vez, num exercício que já se repete em demasia, a falta de uma política sólida bem como a falta de densidade de pensamento (político, mas não só) dos ‘agentes políticos’, atinge mais um ponto alto. O desnorte é total: Passos Coelho – cada vez mais alheado da realidade, discursa de contradição em contradição, de ‘inverdade’ em ‘inverdade’ com a sombra do irrevogável Paulo Portas sempre a pairar; Seguro passeia com estudada e forçada convicção o último chavão, a última ideia avulsa: por este dias ele deve ter lido umas coisas (ou simplesmente sopraram-lhas) sobre mutualização da dívida, e sobra para nós perplexos eleitores. É difícil perceber qual o mais patético deste três. Ao pé deles Jerónimo de Sousa ganha em dignidade e espessura. Mas como vivermos num país governado por gente deste calibre vamos fazendo o que se pode. E uma das coisas que se pode é votar. Mas votar em quem? 

Tropeçamos e esbarramos quotidianamente, seja em que terra (cidade, vila ou aldeia) for, nas pequenas obras que se multiplicaram nestas semanas que antecedem as eleições autárquicas, sem que percebamos sempre para que servem, pois mais parecem intervenções normais de manutenção. Uma calçada em que se repõem pedras, uma rua que se repavimenta, um terreno que se limpa, fazem parecer longínquos os tempos das rotundas embelezadas por esculturas de gosto duvidoso, dos jardins novos de plantas viçosas e com trajectos de manutenção, dos viadutos que se ergueram ou das ruas e estradas que se rasgaram. Os tempos são outros e a falta de recursos obriga à contenção financeira, pena que não obrigue também ao uso compulsivo de bom senso e discernimento. Mas a tentação de mostrar obra – nem que seja à pressa – e de criar confusão e colocar letreiros de ‘Desvio’ vence e faz-se qualquer coisa para mostrar que se faz e que se está perto da população. 

Pena tenho eu de não votar no Porto; aí saberia em quem votar, pois ainda hoje não sei se Domingo opte por ficar em casa ou saia para votar em branco. Voto no concelho de Lisboa, numa casa onde também se vota no concelho de Oeiras, onde as escolhas apontam a um candidato minoritário. 

Para além de uma dificuldade (genética?) de votar ‘Socialista’ ou outra variante de esquerda, não perdoo a António Costa ter destruído o trânsito na cidade, sobretudo na baixa. Desde as pistas para ciclistas mal planeadas que acabaram com segundas faixas de rodagem, até à confusão que é o trânsito na Avenida da Liberdade, não me faltam exemplos. Como eu, muitas mais pessoas ainda hoje não entendem como funciona o trânsito nas laterais da Avenida da Liberdade e simplesmente deixaram de lá ir. É uma boa maneira de afastar os cidadãos do centro da cidade. Não venham depois, por favor, falar na desertificação dos centros das cidades e nem inventar programas para a combater... Não fosse isso talvez vencesse a dificuldade em votar socialista numa eleição local, quem sabe. 

Por outro lado decidi já há muito que não votaria em nenhum candidato ‘repetente’. Sinto que fui enganada (apesar de já não ser muito fácil enganarem-me, ainda o conseguem fazer; um sinal que só abona a meu favor, assim me consolo) pelos partidos do “arco da governação” (as expressões que se inventam...) com a legislação de limitação de mandatos, que fizeram de má fé uma lei mal feita algo que, dizem os entendidos, é já um hábito. Resultado: uma lei dúbia, que não serve para nada a não ser como instrumento demagógico para, então, ‘nos’ enganarem. Vão para o raio que os parta. 

Este governo já tomou posse há mais de dois anos. Prometeu então, ajudado por uma Troika que exigia, uma reforma da Administração do Território reduzindo concelhos e freguesias. Mais uma promessa não cumprida, parece que este governo é incapaz de reformar seja o que for. Não se tocou num único concelho, nem o governo (ou a oposição) querem ouvir falar em tal coisa. Demasiados interesses em jogo, demasiado a perder parece. À laia da dita ‘reforma’, fundiram umas freguesias. Fizeram-no recorrendo à única técnica conhecida e utilizada pelo incompetente governo do incompetente Passos Coelho para implementar seja que medida for: a de “cortar a direito”. Não se estuda, não se planeia, não se pensa a médio e longo prazo. Corta-se a direito ou mais ou menos a olho. Impossível por isso nós percebermos a motivação, a estratégia, as dificuldades, as soluções, e os resultados. Tão pouco percebemos que ganhos financeiros se conseguiriam de uma reforma propriamente dita e que resultados financeiros se conseguem desta pseudo-reforma que só abrange freguesias. A comunicação social que poderia ter nesta matéria um papel de informação sobre a forma como este processo decorre, das dificuldades, dos sucessos, nada tem dito. Nós nada sabemos. O que sabemos é que esta é mais uma reforma adiada. 

Há candidaturas independentes? Ainda bem. Há muitas candidaturas independentes? Há quem se admire?

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