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16/01/13

Dois Filmes


Passam os primeiros quinze vinte minutos e pergunto o que faço ali sentada a ver um filme frio, de gestos calculados quase de imobilidade. Não há acção, intriga, suspense (os primeiros minutos do filme dizem-nos o fim), diálogos inteligentes, gente gira, paisagens ou casas deslumbrantes. Só dois velhos, uma vida passada que desconhecemos, e um presente que lhes escapa tão depressa se converte em futuro. Amour é um casal em fim de linha, no fim de uma história que começa com um “casaram e foram felizes para sempre”. Há coragem nessa procura do fim, dos casais que chegam ao fim, mas...

Passam mais uns minutos e já nem percebemos que estamos a ver um filme. Haneke consegue transformar essa frieza, esse imobilismo em emoção pura (longe de sentimentalismos e afectos de vária ordem) que comove e prende a cada instante. Deciframos cada palavra e cada gesto das personagens, adivinhamos-lhe as intenções e os desejos; somos voyeurs dessa intimidade do casal que nos é oferecida, enquanto a filha do casal é mantida à uma distância que a incomoda. Se Haneke é muito bom, Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant excedem-se na absoluta entrega e abandono às suas personagens, e na cumplicidade e emoção que nos oferecem.

O fim, isto é, a doença, a crescente falta de autonomia e finalmente a morte são pouco glamorosos, mas o que falta em ‘glamour’ é ampla e magnificamente compensado em dignidade. Um dos melhores filmes que vi ultimamente.



Se se procura Tolstoi, desiludimo-nos. Se se procura apenas um filme bonito, leve e exuberante, vê-se Anna Karenina. Temos Joe Wright e não Tolstoi. Temos claustrofobia, ambientes estanques e cheios de gente, ambientes que não fluem e personagens cuja maturação e desenvolvimento mal percebemos. Quem leu o romance lamenta os espaços e os tempos que fazem o romance e que estão ausentes do filme. Dos actores retive Matthey Macfayden e Jude Law. Do resto retive vestidos e jóias, para além de um forçado ritmo acelerado e demasiadas vezes festivo. É pouco.

19/01/08

Expiação

Li Atonement de Ian McEwan há uns anos quando o romance saiu. Foi um romance de que gostei bastante (muito mais do que de Amsterdam que lhe valeu o Booker) tal como gostei de On Chesil Beach. Não posso agora, e porque não o reli recentemente, fazer uma análise mais completa do romance mas lembro que uma das ideias mais marcantes que a obra me deixou foi, para além do facto de ter uma escrita muito cuidada, a forma como desde o início, com uma espécie de aquecimento dos motores ou de preparação do terreno, se dá conta de um percurso individual de expiação. Não é arrependimento, é mesmo expiação, no sentido cristão de expiar um pecado, uma culpa; carregá-lo toda a vida como quem carrega um fardo. Toda a vida da personagem é moldada por essa expiação.

Foi com curiosidade – cautelosa - que fui ver o filme “Expiação” de Joe Wright. O filme começa bem, mas creio que a segunda parte perde um pouco em termos de densidade. A primeira parte é muito bem feita do ponto de vista formal com leituras diferentes dos pedaços que constituem os acontecimentos, conforme estejam a ser os olhos de uns ou de outros que os “vêem”. Nesta diferença de olhares começa o terreno a ser preparado para a possibilidade e a concretização do pecado ou culpa que marcará e mudará a vida de todas as personagens. O espectador está perturbado, mas entende o porquê. A partir daqui o filme perde-se querendo ser mais do que deveria querer, porque parece perder o seu objectivo central que circula à volta da culpa. De repente sentimos que estamos perante uma conturbada história de amor em cenário de guerra (excessivo), por muito legítima ou interessante que essa história seja. O romance, da mesma forma que na primeira parte preparou o terreno para o pecado, na segunda centra-se no percurso pós pecado, no efeito da culpa focando o arrependimento, as tentativas de reparação, mas não a redenção, o que deixa a personagem “pecadora” em situação de expiação até ao fim dos seus dias. É esta densidade que falta ao filme na segunda parte e que não é tão bem traduzida nem sequer a nível formal. Apesar dos cenários de guerra e dos feridos em enfermarias cai-se em alguma banalidade tornando o fim menos interessante do que princípio e deixando-nos, espectadores, um pouco insatisfeitos. Dos actores, saliento o trabalho de Keira Knightley que se afirma enquanto actriz madura.

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