30/06/07

Plataforma contra a Obesidade 11

Willem Claesz Heda
Still Life with a Lobster (1650-9)

Instantâneos da Vida Portuguesa tal como ela é, e tal como apresentada nos jornais televisivos.

Diz Joe Berardo quando interpelado sobre a alegada intenção de Jardim Gonçalves de afastar Paulo Teixeira Pinto da Presidência do BCP: “Ele (Jardim Gonçalves) já tem setenta e muitos anos, que fique em casa para casa tratar das galinhas, o tempo dele já passou...”

Diz também Berardo a propósito de Mega Ferreira (cito de cor): Ele tem que trabalhar a tempo inteiro, marcar reuniões é coisa complicada, é preciso ver agenda e marcar com15 dias de antecedência. Não falta quem queira trabalhar. Mega Ferreira é muito intelectual e faz falta alguém que perceba mais de gestão.

29/06/07

Hoje há luar 2

Dando excessivamente sobre o mar

La mer à Pourville (1882)
Claude Monet
(Clicar para ver melhor)

Meu coração é um pórtico partido

Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido...

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando...

Fernando Pessoa

27/06/07

Antes da Eutanásia

Estava impaciente, mostrava-se caprichosa estranhamente exigente. Tudo a perturbava, tudo parecia confuso. À sua volta os mais próximos sentiam-se perdidos e atordoados. Estava tudo invertido, ela é que sempre controlou tudo, punha e dispunha, mandava, exigia e sobretudo decidia, e tomava as rédeas na sua mão firme. Agora não decide mais, sente-se frágil, sem forças, doente e abandonada. Tem incertezas e medos, muito medo desta etapa final, muito medo do que a vida já não lhe vai dar. Medo de ter dores, medo de ir para um lar, medo de não ter os seus perto dela. E os seus têm medo que ela tenha dores, medo de não conseguirem mantê-la em sua casa, medo de não saberem tratar dela, medo que ela telefone de noite com medo. Não sabem a quem pedir ajuda, não sabem o que perguntar aos médicos.

É muito estimulante discutir a eutanásia, é um desses temas que implica opções morais, implica a vida e a morte, o livre arbítrio, a lucidez para decidir, o respeito pela decisão do outro, e às vezes até mesmo a necessidade de vagar camas nos hospitais ou clínicas para pacientes mais rentáveis. Discutir a eutanásia também não tem grandes custos, e pode-se sempre pairar por cima de todos os retratos possíveis do que é a caminhada para a morte. Essa caminhada é solitária e individual e todos a fazem, quem morre e mesmo quem vê morrer, morrendo um pouco nesse processo. Há uma compulsão na sociedade para grandes e teóricas discussões de temas “fracturantes” e sobra por vezes pouco ânimo para assuntos menos etéreos que de uma forma concreta podem condicionar a vida daqueles que estão mais perto da morte. A discussão da eutanásia deveria começar por uma muito séria abordagem de uma política de saúde virada para a dignidade do doente, uma política generalizada, séria e multidisciplinar de cuidados paliativos em todo o território nacional.

26/06/07

Combate ao Sedentarismo 27

25/06/07

Le temps des Cerises 7

Instantâneos da vida Portuguesa, tal como ela é, e tal como apresentada no Jornal da Noite da SIC:

Disse o Primeiro-ministro na inauguração da Colecção Berardo no museu do CCB, que “Lisboa já está no mapa da arte contemporânea”, e que “os roteiros da arte contemporânea da Europa paravam em Madrid, agora começam aqui”.

“A minha mulher diz que eu estou muito exposto aos media”, disse Joe Berardo.

24/06/07

Coisas que se podem fazer ao Domingo 2

Adriaen de VRIES
Mercure enlevant Psyché, 1593
(Clicar para ver melhor)

Deixar-se levar nos braços de Mercúrio.

Taxas Moderadoras e Educação Sexual

A Presidência da Comunidade Europeia, a Ota e suas múltiplas variantes, o caso DREN, o caso Licenciatura, a implementação da lei sobre o aborto, assim como o verão e as férias, ocuparão o interesse dos portugueses nos próximos meses, por isso creio que não será de temer uma onda de debate em torno de uma “nova” causa fracturante para distrair o eleitor. Mas o tema eutanásia foi lançado para cima da mesa e é natural que seja repescado daqui a uns meses tanta é a ânsia que existe neste governo - e que não é só “reformista”, de estabelecer o que eu tenho chamado de “nova ordem moral”. Um exemplo flagrante desta “nova ordem moral” é a isenção das taxas moderadoras para quem quer fazer um aborto (será que esta medida vai durar?). Que o aborto livre e “a pedido” seja feito em hospitais públicos e pago pelos contribuintes é discutível, tanto assim, que muitos partidários do “sim” no último referendo mostraram preocupação e desconfiança quanto à forma como a lei poderia ser implementada na sua vertente prática, mas que seja isento de taxa moderadora parece ser uma decisão de inigualável demagogia e até uma forma politicamente correcta de paternalismo estatal. Abortar porque sim é uma decisão, é uma opção livre, não é uma inevitabilidade médica. Todas as decisões e todas as livres opções têm inevitavelmente um custo financeiro, custo esse que é uma das faces visíveis da responsabilidade de quem decide e opta.

Agora que o referendo foi feito com o resultado esperado, e que a lei do aborto foi aprovada, nunca mais se ouviu falar da importância da educação sexual nas escolas, e pouco se tem falado sobre a desejável rede de planeamento familiar. Os partidários do “não” no referendo poderiam ter nesta área uma oportunidade de, através de alguma intervenção cívica, tentarem conter o número de abortos. Mas os partidários do “não” têm demonstrado ao longo dos tempos uma enorme intolerância face aos programas de educação sexual que têm vindo a ser propostos. Nunca me detive em pormenor sobre eles, mas acredito que tenham incongruências e falhas (os outros têm, porque não estes?), mas boicotar sistematicamente a educação sexual na escolas, e sentir arrepios na sua vertente informativa, e desejar uma vertente formativa marcada por uma determinada posição, parece-me uma forma de fugir ao problema. Sou partidária de que a escola ensine, informe e esclareça de forma objectiva, sem rodeios, e num contexto de responsabilização, de exercício de liberdade individual e de respeito mútuo. Só. Tenho sempre medo do interesse da escola (do estado) em “formar”, em dar uma capa moral ao tema, por isso reivindico essa componente para a família. Mas fugir de informar e de ensinar é um bom caminho para mais abortos com os custos inteiramente suportados por nós.

21/06/07

Plataforma contra a Obesidade 10

Renoir
Nature Morte
(clicar para ver melhor)

20/06/07

Quando no Reino Unido se dá um título honorífico a um escritor que, apesar de ser muçulmano, mostrou a sua discórdia perante uma forma de ser e de viver essa religião, países como o Irão e o Paquistão erguem-se em protestos diplomáticos fortes. Não estamos só a falar de gente na rua a queimar bandeiras, falamos também das estruturas de poder. Como se o Reino Unido não fosse um país livre de dar títulos honoríficos a quem acha que os merece e como se o critério de atribuição desses títulos tivesse que passar pelo escrutínio do poder político de Teerão ou de Islamabad. Dizem que a Rainha é responsável por este acto de provocação. Provocação? Salman Rushdie nunca apelou ao ódio, nunca teve um papel político de relevo contra nenhum país islâmico, nunca foi intolerante, limitou-se a mostrar através da sua obra marcante e fascinante - para quem como eu gosta de o ler - quer ficcional quer ensaística desagrado e pouca compreensão perante a intolerância do Islão. Salman Rushdie é um cidadão do mundo, do tamanho de todas as civilizações, com uma obra que reflecte sempre esse mosaico que é a essência humana, cultural e civilizacional que hoje está, mais do que nunca, ao alcance dos homens de boa vontade que a queiram ver. Long live Sir Salman Rushdie.


Começamos agora a ver as primeiras fotografias retratando o drama humano dos conflitos na Palestina entre o Hamas e Fatah. Este é um exemplo, mas mostra refugiados, não mostra crianças mortas nos braços dos pais. As fotografias tardaram se tivermos em consideração a rapidez com que elas nos são impostas quando são os soldados israelitas os directos responsáveis pelas mortes ou exílios. Um pequeno exercício de memória, não foi assim há tanto tempo, lembra-nos todas as fotografias de pais a fugirem com filhos nos braços, ou crianças a morrerem nos braços dos pais. Não faço ironia com a morte e a tragédia que é perder uma vida. Mas não gosto que me manipulem fazendo crer que as mortes veiculadas pelos media, que apontam Israel como responsável, e que enchem as páginas dos jornais e as televisões são mais trágicas do que estas mortes que ninguém filma com a pungência que talvez também merecessem

19/06/07

Combate ao Sedentarismo 27

18/06/07

Le temps des Cerises 6

Osias Beert
Still Life with Cherries and Strawberries in China Bowls (1608)
(clicar para ver melhor, vale a pena)

As naturezas mortas são às vezes olhadas de soslaio como uma forma menor e menos nobre da pintura, mas há quadros surpreendentemente belos e que, apesar de carregados de simbolismo - sobretudo os barrocos, e apesar de compostos de uma forma artificial e quase provocadora, são de uma beleza e contenção comoventes. Este quadro é um exemplo de delicadeza e aparente austeridade e contenção. Numa composição gráfica equilibrada surge uma orgia de detalhes: os caules das cerejas num movimento frenético, a libelinha, os desenhos finíssimos das taças de porcelana fina (Companhia das Índias, a julgar quer pela forma quer pela qualidade), os morangos que são mais pequenos que as cerejas, algo de raro para quem hoje come todo o ano morangos de estufa, o trabalho delicado das taças, a forma como a luz se reflecte nas frutas e nos vidros. São quadros como este que me fazem gostar tanto da pintura flamenga e nunca me cansar de os olhar.


17/06/07

Sorriso audível das folhas

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa
27-11-1930

Pergunta

Perguntaram-me se conhecia bem Pessoa. Que pessoa? Foi a minha reacção primeira, só um momento depois percebi que se referiam ao poeta. Hesitei um segundo sem saber o que deveria responder. Sim conheço muito bem, é uma afirmação que soa forçada quando nenhum dos seus livros sai da estante, quando nunca se pegou num dos seus livros para abrir e ver, lembrar, procurar, descobrir. Também não poderia responder não, não conheço, porque realmente conheço bem se nos detivermos exclusivamente em critérios objectivos, só que eu gosto de ler e reler. Reli grande parte das obras que mais me marcaram, e periodicamente mexo nos livros, assim como quem os tenta arrumar para que caibam melhor e se crie mais espaço, dando prioridade a tamanhos e volume e esquecendo qualquer outra lógica para os ter arrumados. São prioritariamente de ficção, romances, contos, novelas que me acompanham ao longo da vida. A poesia parece que parou no tempo e tem sido pouco arrumada. Tropeço num poema de que gosto e por vezes pego num livro para o verificar e reler, mas com Fernando Pessoa creio que há muito não me acontecia.

Vi-me assim, de repente e desprevenida, a mexer nas Poesias de Fernando Pessoa. Não foi incolumemente que o fiz: enredei-me nos versos, li-os, lembrei, comovi-me com memórias, viajei e no fim percebi que o tempo não conta, por isso eu conheço bem Fernando Pessoa.

Coisas que se podem fazer ao Domingo

Étienne-Maurice FALCONET (1716-1791)
Milon de Crotone
(clicar para ver melhor)

Lutar com um leão.

15/06/07

Do you mind not to smoke?

Even after a hard and long week.

Ordene-se

aqui e aqui escrevi sobre a hostilidade de alguns sectores do politicamente correcto para com a liberdade dos médicos que recusam fazer abortos. Hoje, ao ler este artigo do DN escrito pela jornalista Fernanda Câncio, volto ao assunto. No debate que precedeu o referendo várias foram as vozes a perguntarem umas, e a terem sérias dúvidas outras, sobre a forma como o SNS poderia digerir a nova lei do aborto. Nada do que se passa hoje é muito surpreendente e basta conhecer um pouco os nossos hospitais públicos, onde hoje se assiste a uma enorme vaga de corte de custos - nuns casos muito bem, noutros já nem tanto, para perceber que poucos recursos sobrariam para os abortos a pedido. Não me parece mal que assim seja. A lei que permite o aborto “a pedido” abriu a porta a clínicas privadas que o podem fazer legalmente, e em total competência e segurança. Parece-me que são a boa solução. Pagar é sempre uma forma adequada de responsabilizar as pessoas pelos seus actos e pelas suas escolhas. Não se trata de as penalizar ou de castigar, somente de responsabilizar, uma noção que deveria andar sempre de mãos dadas com a noção de optar livremente. Pagar um aborto “a pedido” não me parece nada de extravagante, e essas clínicas terão com certeza formas de pagamento adequadas a todos os bolsos. Hoje a flexibilidade da forma de pagar é prática corrente ao contratar um qualquer serviço ou comprar um qualquer bem.

Apelidar esta situação de excesso de objectores de consciência nos serviços de obstetrícia, de caricatural, é mostrar um profundo desconhecimento do que é a realidade do nosso país, dos recursos do SNS, e da mentalidade portuguesa, no que tem de mau e de bom, e é continuar a recusar ver e perceber a diferença ética e moral que existe entre fazer um aborto “a pedido”, ou fazê-lo por “razões médicas” ou outras razões de excepção anteriormente previstas na lei. Mesmo que se ordenem os serviços de obstetrícia dos hospitais públicos a organizarem-se de modo a que haja médicos não objectores nos seus quadros, será sempre difícil garantir a 100% a aplicabilidade de tal ordem. A não ser que se criem quotas nos serviços de obstetrícia para médicos não objectores de consciência, ou que ao admitir médicos para os seus quadros, os hospitais façam “discriminação positiva” perguntando ao admiti-los se eles serão ou não objectores. Também se poderia tentar a chantagem: se fores objector não tens emprego.

Uma ideia da Europa 16

Marx e Engels. O Manifesto Comunista. A Revolução Industrial e o proletariado. A luta de classes. O Marxismo. O Comunismo.

13/06/07

Plataforma contra a Obesidade 9

PaulCezanne
Still Life

Outra vez José Saramago

Saramago, há uns anos atrás, quando lançava Ensaio sobre a Lucidez, incitava publicamente, num exercício de destemida ousadia (pensava ele), os eleitores a votarem em branco. Leio hoje aqui no Público que numa conferência no Norte de Espanha, noutro exercício de destemida ousadia (continua ele a pensar), apela à insubmissão da população contra as “democracias contemporâneas, que na sua opinião não passam de plutocracias”. Eu sei que ser escritor e escrever ficção abre todas as portas do possível e a maioria das portas do impossível, mas em conferências em que se pretende ser lúcido e crítico em relação à realidade e se afirmam inusitadas pérolas de sapiência do género já não há governos socialistas, ainda que tenham esse nome os partidos que estão no poder, ou ainda antes gostávamos de dizer que a direita era estúpida, mas hoje em dia não conheço nada mais estúpido que a esquerda, fica-se com vontade de lhe pedir que, por favor, quede-se em Lanzarote a escrever livros, que esses só lê quem quer e só compra quem quer, pois de cada vez que sai de lá e vai a conferências para mais uma mostra da sua habitual e afectada pomposidade nós somos bombardeados com as suas palavras sem nos podermos defender.

12/06/07

Combate ao Sedentarismo 26

Neste caso com verificação de frequência cardíaca.

11/06/07

Le temps des Cerises 5

Louise Moillon
Coupe de cerises, prûnes et melon

Porque será que esta notícia (via Insurgente) não só não me surpreende como até me parece que tardou. O grande argumento utilizado para a liberalização do aborto tal como foi referendado e legislado, era acabar com o “vão de escada”. Como vemos pela notícia, só no Hospital de Santa Maria, 80% dos médicos invocaram objecção de consciência e os outros têm outras prioridades, o que se traduz no facto de muito poucos abortos serem de facto feitos em hospitais públicos. Também já sabemos, e já aqui escrevi sobre o assunto, que a opção de não praticar abortos por parte dos médicos tem custos (o hospital terá que pagar a intervenção numa clínica ou noutro hospital), mas que a opção de abortar não tem, fazendo jus à frase “aborto a pedido”, podendo haver número ilimitado de “a pedido” sem qualquer custo para quem pede, mas sempre com custo para quem invoca o direito de não o fazer. Como previsto, chegou um novo e próspero negócio: as clínicas que fazem abortos e que serão subsidiadas por todos nós. Pelas facturas que o estado, através de anúncios de televisão, nos lembra simpaticamente que temos que pedir. Nunca perceberam que o “vão de escada” é uma mentalidade, e não uma realidade sociológica, e que o “vão de escada” será sempre mais discreto, mais prático e mais rápido.

Sobre Terrorismo

Depois de Ocean’s 13, vi Munique de Steven Spielberg que não tinha visto quando passou no cinema. É este o registo de Steven Spielberg de que gosto, colocando este filme ao nível de A Lista de Schindler e de O Regresso do Soldado Ryan. O filme, que não pretende ser uma reflexão sobre as origens ou a história do conflito Israelo-Palestiniano é, no entanto uma reflexão sobre o terrorismo. Sobre o jogo minado que o terrorismo trouxe nas relações formais entre os estados e entre os estados e os seus próprios cidadãos, numa altura em que o fenómeno era ainda pouco comum e pouco estudado. O filme deixa um rasto de mau estar talvez porque a sua acção centrada na resposta aos actos terroristas é ainda incerta e oscila entre uma vingança apadrinhada, mas não assumida pelo Estado de Israel, um ajuste de contas e um instinto de sobrevivência, com o excessivo peso moral dos actos de violência a cair sobre o “herói” patriótico. Nós sentimos o que o herói sente e vivemos o seu drama - Eric Bana tem um bom desempenho. Creio que nos dias de hoje o combate ao terrorismo começa a institucionalizar-se, apesar das vozes que tentam sempre compreender e justificar o fenómeno, ultrapassando assim o domínio da vingança, para se tornar uma questão de sobrevivência das nações, da civilização tal como a conhecemos.

10/06/07

Um Jantar de Domingo 2

Floris Van Schooten
Nature morte au jambon

Ocean's 13

Há sempre quem goste dos hambúrgueres do McDonald’s, das diversões da Disneyworld, das pizzas da Pizza Hut, de ler Margarida Rebelo Pinto, de fazer excursões a Londres, de comprar time-sharing no Nordeste Brasileiro, e eu percebo o desejo e vontade de escolher pré-cozinhados, pré-embalados, pré-fabricados, pré-preparados, enfim coisas que de certa maneira têm o conforto de não nos surpreenderem muito, e de não exigirem muito de nós.

Recentemente desfrutei de um destes “pré-qualquer-coisa” na forma Ocean’s 13 de Steven Soderbergh: o conforto de o filme correr exactamente como esperado, a tranquilidade do argumento ser o que gostaríamos que fosse, a familiaridade dos actores consigo próprios na pele que já vestem e despem sem esforço, os gags que são como gostamos que sejam, os diálogos como imaginamos que vão ser, os ambientes como queremos ver, até as surpresas são as que surpreendem só na medida em que queremos ser surpreendidos, tudo tranquilo, sem exigir demasiado de ninguém, nem de um lado nem do outro. Não é um filme para emoções fortes, ou para marcar a história do cinema, muito menos para teses ou para militantes tomadas de posição sobre a arte ou sobre a existência humana. Só para ver e divertir, coisa simples. Eu gostei.

08/06/07

Combate ao Sedentarismo 26

Lugar comum

(Clicar para ver melhor)

Falar de jacarandás em Lisboa nesta altura do ano. Mas por outro lado, como é que não se fala deles? Quando se sobe a Rua D. Carlos e se vê ao fundo uma nuvem roxa, quando se desce a Avenida da Torre de Belém e passamos dentro do roxo, ou quando olhamos os passeios cheios de pétalas roxas ainda frescas e por pisar. Para mim, depois dos dias de sol de Novembro é neste período que Lisboa está mais deslumbrante. Aproveitemos, faltam poucos dias.

Plano Nacional de Leitura

Ontem na Feira do Livro num pavilhão com livros para jovens - como se eles não pudessem ler livros sem ser para “jovens”, vi uns com títulos de uma pseudo-banalidade que dão logo vontade de não comprar. Mas para meu espanto vinham com um auto-colante que dizia algo do género (cito de cor) “recomendado pelo Plano Nacional de Leitura”. Fiquei ainda mais desconfiada.

06/06/07

Uma ideia da Europa 15

Alice no País das Maravilhas, O Gato das Botas, A Gata Borralheira, A Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, o Polegarzinho, Capuchinho Vermelho. Era uma vez... Perrault, Irmãos Grimm, Hans Christian Anderson. A literatura infantil. As princesas belas e de bom coração e os príncipes encantados que as salvam. Os lobos maus. Mitologias, lendas, sonhos e psicanálise.

05/06/07

Le temps des Cerises 4

Ontem, outro debate na televisão sobre a Ota. Confesso que já há muito que perdi o interesse em tanto debate, tanta análise de conclusões de estudos, tanta opinião. Continuo perdida nesta polémica sem saber bem o que pensar. Uma coisa parece-me certa: não gostaria, que o Aeroporto da Portela fosse desactivado, e temo o pior caso o(s) governo(s) actual e futuros o decidam fazer. O Aeroporto da Portela é uma activo valiosíssimo, que tem a enorme vantagem de estar perto da cidade e torná-la competitiva em termos quer de negócios, quer turísticos, nomeadamente em viagens de curta duração. Os candidatos à Presidência da Câmara de Lisboa deveriam ser claros quanto às intenções relativamente à desactivação do Aeroporto da Portela. A defesa da manutenção do aeroporto, num esquema Portela + 1 é um argumento interessante em tempo de campanha que poderá clarificar posições e ganhar votos. Mais do que debater a Ota é interessante pensar no futuro da Portela. Sim à Portela poderia ser um slogan a adoptar.

No fim-de-semana passado, António Costa fez, de bicicleta, um percurso do Príncipe Real à Torre de Belém. Gostaria de lhe deixar a seguinte sugestão: fazer, igualmente de bicicleta, num dia de semana o percurso inverso, da Torre de Belém ao Príncipe Real. Será que mantém o mesmo entusiasmo por esse meio de transporte que tão bem se adapta a Lisboa? Se a campanha para a Câmara de Lisboa se mantiver a estes níveis banalmente confrangedores, tipo descidas de bicicleta, frases “O Zé faz falta” e outdoors deprimentes, fico sem saber se no dia 15 devo ou não ir para à praia.

04/06/07

Plataforma contra a Obesidade 8

(Clicar para ver melhor)

03/06/07

Combate ao Sedentarismo 25



Computadores e EMEL

Há duas noites, para meu azar, tive o carro rebocado pela EMEL. É verdade que não lembrei, (não quis lembrar) que estacionara em local de parquímetro, e a diligente EMEL penalizou a minha distracção. Na altura fiquei aliviada quando percebi que o carro não teria sido roubado sentindo, por um brevíssimo momento, a alegria que é ter o carro rebocado! Apressei-me a ir ao Parque de Estacionamento de Rebocados em Sete Rios para reaver o carro e pagar as inevitáveis multas e custos. Num escritório pequeníssimo, lotado - parece que as quintas feiras são dias de recolha intensa de veículos indevidamente estacionados - e em tudo hostil, também por causa das luzes brancas e agressivas, dois homens debatiam-se numa secretária cheia de papeis, formulários, telefones, calculadoras, fotocopiadoras e outros gadgets, perante os olhares impacientes daqueles que tinham pressa em levantar o carro. Mas pressa é inútil, e a paciência é um imperativo. Tudo naquele cubículo respirava o ar de burocracia, falta de modernidade e falta de tecnologia que este governo tanto quer combater. Os funcionários preenchiam (este é o único momento moderno: não sermos nós a preencher) vários formulários munidos de todos os documentos que se lembraram de nos pedir, nossos e do carro. Formulários únicos, em duplicado com folhas de cores diferentes, formulários curtos e outros longos. Fotocopiaram documentos, formulários, agrafaram para eles e para nós, e no fim tivemos que pagar. Sim, tinham Multibanco, mas surpresa: a parte que se refere à coima, €30, tinha que ser paga ou em dinheiro, ou em cheque, não podendo sê-lo através do Multibanco por um qualquer motivo simples de explicar para os funcionários, mas terrivelmente difícil de entender para nós. Bafejada pela sorte tinha esse dinheiro na carteira, mas quem o não tinha saiu, aposto que praguejando baixinho, em direcção ao Multibanco mais próximo, no Jardim Zoológico talvez.

Por favor Senhor Primeiro-ministro: quando distribuir os computadores lembre-se que não é só nas escolas que eles fazem falta, ao pessoal da EMEL e aos autuados também lhes dava jeito. Veja também se é possível que o Simplex lá chegue e que os procedimentos sejam simplificados reduzindo o papel utilizado como convém a um bom ecologista, e reduzindo significativamente o tempo lá gasto evitando perdas na produtividade nacional. Por último, será que uma palavrinha a alguém conhecido da PSP Trânsito e a alguém da CGD não poderia resolver o problema da incompatibilidade das coimas e do Multibanco?

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