18/07/07

A Geração Harry Potter



Com algum preconceito e desconfiança abri o primeiro romance de J.K. Rowling da saga Harry Potter e fui surpreendida pela razoável qualidade do romance para além de rendida à teia mágica do enredo. Li assim num ápice os quatro primeiros romances pois o quinto ainda não tinha saído. Não faço ideia se ainda lerei o quinto, o sexto e o sétimo algum dia; logo se verá pois o ritmo foi perdido e não sei se o interesse é suficiente para compensar a falta dele. Os livros têm características que poderão fazer com que perdurem no tempo e, quem sabe, venham ao lado dos de Verne e de Tolkien um dia a ser considerados “clássicos” da literatura juvenil. Há uma história habilmente contada da vida de um jovem que aos dez anos descobre que é bruxo em que várias dimensões convergem: o seu passado, a origem e pertença, as relações com os outros, os colegas, os professores, a noção de bem e de mal, a força desse bem e desse mal, as hierarquias, o crescer, a adolescência e a passagem de criança para o mundo adulto, etc. Todas estas dimensões são devidamente exploradas e trabalhadas nos livros o que os torna ricos e suficientemente interessantes.

Já os filmes baseados nos romances, e sempre um filme por cada romance publicado, fazem apelo a outros factores. Tenho-os visto também e vi recentemente este último “Harry Potter e a Ordem da Fénix”, no meu caso, o primeiro filme que vejo sem ter lido o romance previamente. A produção é boa e os efeitos especiais também me pareceram muito surpreendentes, mas eu interesso-me pouco por “efeitos especiais” por isso acredito na provavel fragilidade do meu julgamento. Os actores estão cada vez melhores e é interessante vê-los crescer no ecrã, aliás reparei que a plateia na altura em que vi o filme era sobretudo composta por gente da idade dos actores, gente que tem crescido com Harry Potter e tem crescido tendo Harry Potter como a principal referência de leitura (há piores referências, mas não é sobre isso que escrevo) o que me leva a falar na Geração Harry Potter. No entanto ao ver o filme senti várias lacunas e graves falhas na narrativa para que se pudesse perceber o porquê bem como a interligação entre os diferentes momentos e episódios deste romance, ou mesmo desta história. Senti a falta da leitura do romance para apreender as ligações entre episódios tão marcantes como o afastamento de Dumbledore, a promiscuidade entre o o ensino de Hogwarts e o Ministério, as relações de poder dentro do próprio Ministério, a origem, a identidade e missão da Ordem de Fénix (o que dá o título ao livro e é quase irrelevante no filme), os pesadelos de Potter, o tão falado primeiro beijo de Harry Potter que parece surgir do nada, as relações entre os amigos, a memória e o peso do passado. O ambiente e rotina colegial de Potter e seus amigos desfaz-se um pouco também neste filme. Uma grande produção, com bons actores, mas francamente pobre em conteúdo para que possa satisfazer aqueles que encontram nos romances a essência e a compreensão do fenómeno Harry Potter.

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