30/07/07

Ingmar Bergman



Nunca me interessei muito pelo existencialismo, aquele existencialismo típico das décadas de 50, 60 e 70, vivido entre dois cigarros, uns papeis e livros, e um café num bistrot emblemático de Paris. Não falo nos movimentos filosóficos que estiveram na origem dessas correntes e que, infelizmente, conheço mal. Li com enfado alguns dos autores que tive que ler; Sartre, por exemplo era-me insuportável. Digo era, no passado, porque já morreu, porque nunca gostei do homem que era nem do que ele representava, e sobretudo porque nunca mais o li. No entanto guardo boas memórias de algumas obras literárias como L’Etranger de Albert Camus ou La Condition Humaine de André Malraux que foram obras que li avidamente, sobretudo esta última. Ingmar Bergaman, um homem que deixou uma vastíssima e rica filmografia, foi sempre tido como um produto do existencialismo nórdico, mais cinzento, que não do fumo do cigarro note-se, e menos folclórico do que o francês, e alguns dos seus filmes, por exemplo Persona ou a série Cenas da Vida Conjugal demonstram-no bem: a existência, a mortalidade, a liberdade, a sociedade enquanto condicionadora dessa liberdade, a solidão, a expressão da sexualidade. Nem sempre gostei de ver os seus filmes: alguns acabavam por se revelar lentos, um pouco parados e até deprimentes, mas sempre reconheci quer o seu talento, quer a profundidade das suas reflexões e temas que trazia para a sua obra. Eu, é que nem sempre estava (nem estarei, presumo) disponível para o apreciar devidamente.

Mas há duas obras dele que me marcaram bastante. A série Fanny e Alexandre pela beleza, pela nostalgia de um passado e de uma família que se pensa e sonha e O Ovo da Serpente, talvez o mais “americano” dos seus filmes e por isso talvez também o menos bergmaniano. Este último é passado em Berlim entre as duas guerras mundiais, e eu sempre gostei de filmes passados em Berlim nessa época - Cabaret de Bob Fosse, Berlim Alexanderplatz de Fassbinder, uns dos mais conhecidos. Foi um filme que transmitiu muito bem a insegurança que se vivia então, com dois actores notáveis (Liv Ullman e David Carradine), e que me me assustou e perturbou do início ao fim quando o vi pela primeira vez tal o ambiente de medo, de desconfiança e de terror que ele descreve com os primeiros passos das bizarras e terríveis experiências médicas nazis feitas, neste caso e nesta altura, ainda à população em geral e não exclusivamente orientadas para determinados grupos, por exemplo os judeus, são o tema do filme.

A morte hoje de Ingmar Bergman acaba por ser um pretexto para lembrar a sua obra, o que dela conheço e desconheço bem como o que mais gostei e mais me tocou.

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