10/08/07

Licença de Uso & Porte de Crianças

(título roubado aqui)

A ideia é interessante e apelativa, pois qualquer pessoa minimamente atenta elabora, com base na experiência de um mero “andar por aí”, uma longa lista de negligencia parental: crianças tarde nas noites de verão bocejando em locais onde os Pais “tomam um copo”, recém nascidos invariavelmente pouco agasalhados em hipermercados por baixo de excesso de luz de neons e de ar condicionado, pais e crianças aos gritos uns com os outros em pé de igualdade, crianças sujas, crianças no mar a tiritar de frio, são alguns dos exemplos mais notórios. O problema é complexo e não se esgota na questão da negligência. Passa pelos sensíveis conceitos quer de autoridade quer de disciplina que foram tão maltratados, questionados e por fim negligenciados ao longo das últimas décadas, o que acabou por se reflectir também na forma como se é hoje Pai e Mãe. As referências tradicionais desmoronaram-se, a ideia de um Pater Familias desapareceu, mas multiplicaram-se as escolas psicológicas especializadas na vida intra-uterina, na primeira infância, na puberdade, na juventude, abundam os gurus da pediatria, da psicologia da aprendizagem, da pedo-psiquiatria, da terapia psicológica, da pedagogia, da psiquiatria da juventude, da psicologia terapêutica da família, enfim um mundo infinito de abordagens alternativas para “ajudar” a educar. Limitei-me a referir disciplinas aceites do ponto de vista das ciências médicas e humanas, mas há alternativas para todos os gostos, carteiras e para quem queira procurar. Com tanta abordagem diferente à missão de educar os filhos, missão essa que até há pouco (em termos absolutos da história do mundo) parecia simples, não admira que os pais hoje se sintam absolutamente perdidos, e tenham dificuldade em reclamar para si a autoridade o poder de decisão, a liberdade. Muitos deles nem sabem que o podem fazer, ou melhor, que o devem fazer, por isso adoptam uma postura que propicia a negligência.

Claro que a Licença de Uso & Porte de Crianças parece ser uma ideia feliz, resta saber quem é que a atribui. Uma entidade Estatal? Entidades privadas a competir entre si? Comité de Sábios? Sábios de quê? Funcionários Públicos? Psicólogos? Psiquiatras? Pediatras? Pais experientes? Avós? Professores? Padres? Um pouco de tudo? Ah, o mundo que nos espera se formos por aí...

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