Uma das pragas dos tempos que correm é ouvir logo de manhã, mal se liga o carro, o anúncio do Pingo Doce. Deve ser o jingle mais horroroso que conheço (se houve/há pior dou graças por não me lembrar), mas acredito que seja um sucesso do ponto de vista publicitário, pois é fácil de decorar e não sai da cabeça facilmente. Um dos meus piores pesadelos é entrar num Pingo Doce e ouvir a música, não só pelo sistema de som mas também pela boca das criancinhas, normalmente meninas espertinhas e vivaças, que passeando ao lado dos progenitores entre corredores de bolachas ou de limpa-vidros, nos presenteiam com orgulhosas interpretações do “Pingo Doce, venha cá!”, olhando para as mães/pais ansiosas pelo esperado sinal de aprovação, (e não é que o recebem? havia de ser comigo...). Ao fim de dez minutos - é-me impossível estar lá muito mais tempo - saio a precisar com urgência de um antídoto. Isto é, ouvir uma música que conheça, que fique facilmente no ouvido e de que eu goste, de modo a desalojar do meu cérebro já ferido o “Pingo Doce, venha cá!” Garanto que não é tarefa fácil.
Como tenho bom ouvido, os sons teimam em se fazer presentes, e preciso de substituto. Há uns dias, nesse exercício de substituição que já vem quase automaticamente, qual mecanismo de defesa, dei comigo no fim de semana passado a trautear as partes fáceis e que toda a gente conhece, claro, das Polovtsian Dances de Alexandre Borodin, 2º acto da ópera “Príncipe Igor". Para meu contentamento no Domingo ao espreitar o canal Mezzo para ver o que dava, vi que dali a momentos, e entre duas peças maiores, as iriam transmitir dançadas pelo Kremlin Ballet. Um regalo.
Fica aqui o link para uma outra interpretação (mais operática e menos “balética”, se assim se pode dizer), num vídeo de boa qualidade do Kirov Opera and Ballet Theatre, que encontrei no Youtube.