03/07/12

Não Pode Continuar

Depois de – há duas semanas – termos sido confrontados com a preocupação dos números da execução orçamental referentes ao primeiro trimestre deste ano, lemos hoje a tradução em termos de ‘vida real’ desses números abstractos em páginas de excel, que são as falências de empresas e famílias que atingem proporções que deviam fazer soar sinos e tambores em S. Bento, pois já ninguém deixa de ver que o nosso tecido social e económico se começa a esfarelar e a desfazer. Se pensarmos bem nada disto é surpresa quando vemos que o combate ao deficit do estado se faz, como sempre se fez é bom lembrar, através do aumento da carga fiscal. Mas, quando não há riqueza, não há impostos. E hoje, podem aumentar a carga fiscal que a receita não aumenta; e a pouca economia que consegue respirar, a custo, será mais e mais asfixiada. 

Estes números são dolorosos de ler pois são a ilustração de um país a empobrecer. Olhamos à nossa volta, ouvimos as pessoas e percebemos que eles não mentem. A revolta, desilusão, pobreza, dúvida estão instaladas e fazem parte de um quotidiano cada vez mais doloroso, também porque sem esperança. Hoje ninguém sabe como sair desta situação de profunda crise em que o país mergulhou e a Europa também. As certezas que as pessoas tinham de soluções eficazes e sempre prontas a debater à mesa do almoço em família ou com amigos, no café, nos escritórios, nos táxis, na praia, esvaiu-se. A opinião deu lugar ao desabafo. Até na comunicação social muitos dos comentadores sentem-se incapazes de desenhar uma ideia e impotentes para propor alternativas. Refugiam-se numa análise de erros passados que, não deixando por vezes, de ser pertinente, não apontam caminhos, e assim se adia mais uma vez e outra e mais outra, a esperança de que um dia vejamos luz. 

Eu que, apesar de muito crítica, acredito na boa-fé e boa intenção deste governo, acho que urge que ele pare e olhe para o país que hoje tem que governar, um país real; este das falências de que se fala hoje e não aquele que o governo imagina que existe ao fazer as folhas de excel. Olhar e ver atentamente a realidade que existe fora do eixo Lisboa S. Bento/Lisboa Belém, seria um primeiro passo positivo no repensar de estratégias para atingir as metas que se propõe, pois o que está e como está não pode continuar.

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