21/12/07

Mais Pobres

O absurdo em que tantas vezes se converte o quotidiano atinge o seu auge nos dias que antecedem o Natal. O Espírito Natalício nunca o foi, e ao percebê-lo o Natal começa a perder o sentido que sonhamos numa inocência perdida da infância e a ser triturado na espiral de violência urbana em que assenta a nossa vida e no delírio consumista que toma conta do nosso mundo. Este ano, este build up natalício parece-me pior e mais falso ainda do que nos anos anteriores.

Assim lembro: o caos do tráfico, a multiplicação desmesurada de tarefas, solicitações e afazeres, as músicas natalícias que enchem qualquer espaço comercial (este ano também elas me parecem piores, como se isso fosse possível), as intermináveis listas que elaboramos a propósito de tudo o que se possa imaginar, os supermercados absurdamente cheios de coisas que durante o ano nem víamos, o cansaço estampado na cara das pessoas, as luzes que enfeitam as zonas comerciais e a cidade que ou são inexistentes ou são azuis, frias e pindéricas, pateticamente (ver Av. Da Liberdade) patrocinadas por um banco. Mas o que me impressiona mais este ano são as lojas. As lojas que, depois de meses e meses vazias, de repente, encheram e borbulham numa excitação artificial. O facto de o tempo ter estado quente até meados de Novembro também não ajudou, mas que não restem ilusões: os portugueses estão a perder poder de compra, e a empobrecer a olhos vistos, e as lojas que andaram durante meses literalmente vazias, estão agora numa agitação que às vezes lembro um último fôlego, um último suspiro.

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