Il (Fabrice) a surtout cet air naïf et tendre et cet oeil souriant qui promettent tant de bonheur! Et ces yeux-là la duchesse ne doit pas être accoutumée à les trouver à notre cour!... Ils sont remplacés par le regard morne ou sardonique. Moi-même, poursuivi par les affaires, ne régnant que par mon influence sur un homme qui voudrait me tourner en ridicule, quels regards dois-je avoir souvent? Ah! Quelques soins que je prenne, c’est surtout mon regard qui doit être vieux en moi! Ma gaieté n’est-elle pas toujours voisine de l’ironie?...
Stendhal, La Chartreuse de Parme
O prazer de ler romances como este. O prazer de voltar a ler francês – há muito que não o fazia – mas um francês elegante e bonito, cheio de “passé simple” e conjuntivos difíceis de conjugar, daqueles que já ninguém ousa usar e que hoje não se ouvem nunca.
Voltando ao romance. A juventude versus a maturidade, a corte e o poder versus as relações sinceras e informais entre os seres humanos, e o amor que na obra funciona quase como uma subcategoria da juventude (versus maturidade) são uma constante do romance de mais de seiscentas páginas. Poderia tentar ser ainda mais sintética dizendo que a inocência é a grande personagem do romance, é ela ou a sua ausência que constantemente vemos através das inúmeras personagens e circunstâncias por elas criadas. O espanto, grande companheiro da inocência, tem também uma função retórica, porque através dele é tecida ardilosamente a cumplicidade com o leitor.
(continua)