27/03/13

Em Flor 39


Ou seja, Em Flor no ano passado, uma ilustração de saudades de Primavera. Já não se aguenta tanta chuva e tanta cinzentura.

Great Value

Li há uns dias aqui


Indeed, digo eu. De facto, e pensando bem, hoje vejo mais televisão do que via há uns anos. Vejo sobretudo mais séries – e francamente menos debate, análise ou opinião política; normalmente tenho a sensação de que já sei o que vão dizer, de que já ouvi tudo. Os protagonistas da análise/comentário político são tantas vezes fracos, quer a nível de formação ou habilitação de base, quer a nível de inteligência, quer a nível de real independência, quer a nível da preparação para os temas do dia. 

Sigo normalmente duas, três, com sorte quatro, séries semanalmente, no entanto há umas semanas, num período de convalescença, aproveitei para ver compactos de algumas que (inexplicável e injustificadamente) me escaparam e que ainda não tinha visto. Assim vi seguidas duas temporadas de Boardwalk Empire, e também duas de Game of Thrones. Ambas HBO, ambas muito boas, ambas para adultos, ambas violentas. Boardwalk Empire é uma sólida e magnífica realização, a todos os níveis, e com personagens únicas, densas e complexas que nos prendem - especial relevo para Nucky Thompson e Margaret Schroeder, um trabalho de composição e de representação notável. A série é tão cuidada em todos os detalhes que eu me deleito, por exemplo, com o tailoring impecável de Nucky Thompson, sempre cuidadosamente vestido – daquela forma que só os gangsters o sabem ser. Brilhante. Começa hoje a 3ª temporada.

Para além do magnífico Boardwalk Empire, percebi que três ou quatro episódios foram suficientes para compreender a fama de Game of Thrones, e o vício que tantos dizem ser. Uma inesperada e fantasiosa produção de tom medieval, mas muito bem pensada e realizada, que aqui se define como: 


Se me tivessem dito que iria ver com entusiasmo Game of Thrones, teria rido: nem pensar! Mas vi. Fiquei quase viciada. (Segundo o que tenho lido aquiaqui, aqui, aqui, há quem fique mesmo). 

26/03/13

Páscoa 2013

Pieter Bruegel
The Procession to Calvary
(clicar para ver melhor)

No meio da Semana Santa, escolho ilustrar o caminho para o calvário, e este quadro de Bruegel acabou por se impor. O movimento, o buliço, as pessoas (a quem só falta dar nome próprio), os seus afazeres, o quotidiano como tão bem o ilustram os pintores flamengos.  No meio do buliço - no meio da tela - mas praticamente  imperceptível, Cristo que carrega a cruz em direcção ao monte onde vai ser crucificado. Os corvos no céu a pairar sobre o monte destacam-se mais como prenunciadores de uma morte anunciada do que Cristo no seu calvário. Não fosse a figura que imediatamente se reconhece como Nossa Senhora (uma composição mais habitual, mais previsível, e que até 'destoa', nomeadamente nas roupas, tão distintas das roupas das outras personagens femininas) e a sua atitude de sofrimento, num primeiro plano que se estranha, nem teríamos a tentação de procurar, no quadro, Jesus Cristo.

23/03/13

Se Tivermos Sorte, Chegamos a Velhos

Ontem folheava uma revista quando parei na fotografia de Paul Auster que ilustrava a entrevista. Pensei: “está velho”, aquilo que tantas vezes pensámos sempre com uma surpresa que não nos deveria surpreender: nada mais inevitável do que o passar do tempo e o envelhecimento dos outros que de vez em quando vemos na rua ou numa fotografia. Se nos lembramos deles quando eram “novos” é, só por si, um sinal inequívoco e indesmentível de que também nós envelhecemos. Não precisamos sequer de ir ao espelho, pois não há como escapar deste axioma. Como costumo dizer: se tivermos sorte, também nós chegamos a velhos.



Estava eu ainda meia enredada nestes considerandos semi-metafísicos acerca do “ser velho” e do “parecer velho”, quando vejo a fotografia (que presumo relativamente recente), bem como a notícia da morte de Óscar Lopes. Nela, Óscar Lopes tem o cabelo branco e algumas rugas na cara mas, ao contrário de Paul Auster, não parecia tão obviamente “mais velho” do que quando o conheci na Faculdade de Letras da Universidade do Porto onde foi meu professor. Ele nunca teve propriamente (também ao contrário de Paul Auster) um ar ‘jovem’ e/ou "desportivo", como hoje é suposto termos e como tentamos, sempre teve uma constituição delicada e algo frágil. Mas isto foi tudo há alguns anos, há bastantes anos; é melhor nem fazer as contas. 



Muitas vezes me tenho perguntado para que serviram os meus anos passados na faculdade num curso marcadamente teórico. Para além da pertinência e importância inegável ‘do canudo’ (que o diga Miguel Relvas), consolidei na Faculdade umas bases culturais que hoje considero terem sido sólidas. No entanto constato que sobretudo aprendi a pensar. E aprendi-o em várias vertentes. Primeiro, e numa época em que o Google não respondia de imediato às dúvidas, nem resolvia lacunas do saber, havia uma importante questão de organização, estrutura e prioridade: era preciso decidir o que queríamos saber, como o queríamos saber, onde ir buscar esse saber. Depois, num segundo momento, tínhamos que aproveitar ao máximo e rentabilizar cada gota de saber adquirido para o fazer render, se possível para outras cadeiras e outras matérias afins. Começávamos assim a relacionar os conhecimentos adquiridos e a flexibilizá-los. Finalmente, e quando não tínhamos os ditos conhecimentos – falhas nos apontamentos, bibliografia não consultada - tínhamos que pensar duas vezes mais ‘forte’ para chegarmos a algum lado a nível de estruturar uma resposta, para tirarmos alguma conclusão. Assim desenvolvíamos alguma criatividade e uma atitude crítica. 

Para além de ‘aprender a pensar’ aprendi também ‘algumas coisas’: a gostar ainda mais de literatura, e de arte em geral, e a conhecer melhor a nossa língua e a nossa literatura. Óscar Lopes foi um professor fundamental nessas aprendizagens. Numa altura em que não se tinha medo de ensinar literatura no secundário (liceu), todos estudávamos na sua (e de António José Saraiva) História da Literatura Portuguesa, sem que isso tenha traumatizado especialmente a minha e tantas outras gerações. Ainda hoje consulto essa obra sempre que preciso ou me apetece. Foi no entanto na faculdade, quando o tive como professor, que percebi a dimensão do seu amor à língua e à literatura e a sua vastíssima erudição. Era um professor (um Professor Catedrático) tranquilo mas apaixonado pela matéria que dava, e a sua cadeira de História da Língua Portuguesa foi uma das que mais me ensinou e das que mais gostei. Tinha uma visão muito larga, um conhecimento vastíssimo, mas aliado à humildade própria de quem sabe muito e sabe sobretudo que nada sabe - uma atitude que num meio académico, em que tantos passeiam a sua vaidade intelectual que às vezes não passa mesmo disso, nos corredores das faculdades, é bem mais rara do que seria desejável. Estava sempre disponível para o aluno o que, aliado a um trato afável, o tornavam surpreendentemente acessível. Nunca se falou de política nas suas aulas, nunca houve nenhum tipo de proselitismo e era quase unânime a simpatia que os alunos sentiam por ele. Deixou-me ‘saber’ e boas memórias.

Quais considerações sobre liberdade de expressão, quais considerações sobre as escolhas editoriais da RTP, ou o seu processos de privatização, ou o seu financiamento. Quais considerações de índole táctico-política sobre a oportunidade e desejabilidade da aparição da ‘criatura’. Para que não haja dúvida, para mim o caso é simples e resume-se a isto que está aqui


Ler mais aqui (creio que não está online) aqui (creio que não está online) e aqui.

14/03/13

Francisco


10/03/13

Coisas que se Podem fazer ao Domingo 73

Amedeo Modigliani


Celebrar Ser Mulher

Assim se Passou uma Semana

Esta semana já não se podia olhar para a televisão, ou seguir de perto outros meios de comunicação. A morte de Hugo Chavez – prontamente canonizado nesses já habituais processos populares e mediáticos de canonizações laicas – dominou o espaço comunicacional ao exagero. Seguiram-se os fait-divers do Vaticano e por extensão os da Igreja Católica: os sapatos papais, as chaminés na Capela Sistina, os cardeais “papáveis”, o Vatileaks, as especulações sobre o dossier secreto pedido por Bento XVI a três Cardeais sobre a Curia, os Cardeais com acção duvidosa (encobrimento) em casos de pedofilia, e, imagine-se, até vejo noticiado aqui esse facto de indiscutível pertinência que é a posição da Igreja católica Croata sobre a educação sexual nas escolas croatas. Como se estas lavagens cerebrais não bastassem, cá dentro (em Portugal) discutia-se o salário mínimo – um pindérico ersatz do debate que o governo (e oposição, e sociedade civil...) não sabe nem quer fazer sobre as opções políticas para uma reforma do estado – e não faltou sequer o Dr. António Borges a dar o seu parecer com aquele sentido de oportunidade a que já nos habitou. 

Sobrou o Dia Internacional da Mulher, um dia muito celebrado nos países muçulmanos e nos países de leste da ex-esfera da ex-União Soviética. Por algum motivo que ainda não percebi, este ano o folclore e os clichés lamechas mantiveram-se distantes de mim, tendo sido a minha atenção canalizada para as inúmeras estatísticas sobre a condição/situação da mulher em diferentes partes do mundo que, a pretexto do Dia da Mulher, foram publicadas em diferentes meios de comunicação. Não fui confrontada com nada que não se soubesse ou adivinhasse, mas o impacto de ler tantas estatísticas em tão pouco tempo deu – de repente uma outra dimensão e significado a um “Dia de” que preferia não existisse. Há muito a fazer para garantir a segurança das mulheres e seus filhos, e garantir a igualdade de tratamento e de oportunidade para as mulheres do mundo todo. Maria João Marques lembra algumas das mais importantes questões neste post ‘levezinho’.

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