9 de Junho. Mais informação aqui.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
12/07/13
Então É Assim 2
Um. Cavaco Silva, aquele cuja anunciada morte política foi manifestamente exagerada, num dos momentos políticos que mais gozo me deu nos últimos tempos – e bem precisávamos, conseguiu:
A) Reforçar o descrédito político de Paulo Portas e remetê-lo à sua real (in)significância que é inversamente proporcional à sua estridência gestual e verbal e – dizem – inteligência. Chamá-lo de volta ao mundo real e obrigá-lo a arrumar de novo o seu gabinete.
B) Esvaziar o secreto sorriso de Paulo Portas que o inchado semblante sério traía. Esvaziou também aquele porte e aquele ar de 'agora é que é!' que Pires de Lima já não conseguia disfarçar.
C) Reforçar o processo já iniciado no CDS de questionar a sua liderança.
D) Demonstrar a crescente irrelevância política de Passos Coelho, o vazio e a leviandade que o habitam: enquanto Primeiro-ministro e enquanto líder do principal partido.
E) Deixar atordoados os ministros – nomeadamente o da Economia que, mesmo sem crise política sempre pareceu um pouco perdido, qual peixe fora de água.
F) Obrigar o PSD a pensar a sua liderança.
Dois. António José Seguro mostra o melhor de si: corre atrás do primeiro lugar comum político que ‘cheira a esquerda’ ou mantém-se na sua senda de dizer coisas que não querer dizer nada, não vão as pessoas esquecer-se que ele existe, ou não perceber quem ele é e o que faz. Exemplos: o seu desejo de dialogo “com todos”, embora não consigamos perceber o que é que o PCP e o BE fazem no dialogo proposto pelo PR que visa sobretudo compromissos de médio prazo no que respeita o Memorando de Entendimento. Outro exemplo é a frase – que mais parece saída de reallity shows – em que ele critica Passos Coelho por não “pedir desculpa pela crise”. Não explicita, no entanto, o que critica a Sócrates pela sua postura face à crise que ele, Sócrates, criou.
Três. Cavaco Silva conseguiu também fazer eco do sentimento de tantos portugueses que progressivamente se revêem menos nos partidos políticos e que os sentem cada vez mais afastados da realidade dos seus eleitores e do país. A distância entre eles aumenta, e o eleitor do PSD, PS ou CDS (embora menos neste último partido) está totalmente alheado do partido em que vota, muita vezes não percebe nem respeita o líder que os militantes escolhem, e em última análise não vota sequer, aumentando a abstenção nos actos eleitorais. Nada de novo, mas é sempre bom relembrar este desfasamento.
Quatro. Cavaco Silva, na sua ânsia de cumprimento do memorando de entendimento, criou uma embrulhada tal que – com os partidos e lideranças que temos - não percebemos bem nem o que se poderá passar nem como. Haja fé... porque gozo houve certamente.
08/07/13
Então É Assim,
Um. Aquele em quem os recentes fazedores de epístolas e figuras chave do governo não confiam, e cuja falta de liderança e projecto político confessaram nas ditas epístolas, ao ponto de apresentarem a demissão, vai continuar a liderar o governo e aceitar ‘partilhar’ mais poder com aquele que despreza.
Dois. Aquele que, num genuíno momento de génio (mau génio) mais uma vez se revelou apresentando a sua demissão de forma “irrevogável” , não fôssemos nós ter dúvidas, por não confiar no líder nem lhe reconhecer nada de meritório, decide irrevogavelmente também, presume-se, voltar atrás com a sua decisão “irrevogável”. Certamente que justificará estas mudanças de direcção com belas palavras e inflamados sentimentos patrióticos que só não me farão náuseas porque já há tempos que ando vacinada contra as ditas, a bem da minha qualidade de vida e manutenção de uns mínimos de sanidade intelectual. Para que não pensemos que perdeu a face ou se submeteu – como se não bastasse olhar para a sua cara para perceber o entusiasmo e fé neste novo projecto governamental - irá ter um cargo ministerial com mais atribuições e responsabilidades, e mais ministros do seu partido no elenco governamental.
Três. A Ministra das Finanças cuja nomeação motivou a ruptura do governo, demissão (e respectiva carta) do líder do segundo partido da coligação, e cuja tomada de posse merece lugar nos momentos mais confrangedores da nossa vida política, mantém-se - surpresa das surpresas - no governo. Parece que mesmo depois de ter percebido que o número dois do governo não a quer lá, mesmo depois das suspeitas da sua participação no caso SWAP ainda não totalmente esclarecidas, bem como o que se diz do cargo do seu marido na EDP, não lhe passa pela cabeça demitir-se; pois removendo-se remove um obstáculo ao entendimento e fluidez governamentais.
Quatro. Teremos (presumindo que o PR aceita este entendimento) um governo bicéfalo: por um lado “determinado” (eufemismo para teimoso) e por outro “inteligentíssimo” (eufemismo para ‘a não confiar’) mas frágil, ainda mais frágil do que o anterior, apesar dos falados nomes sonantes e dos propósitos entusiasmados. Qual casa de fraca construção com uns acabamentos que se querem vistosos... Tentam, mas não enganam. Não confiam, e espreitarão por cima do ombro a cada instante. Azeite e água não misturam. Passos Coelho penitente e Paulo Portas com a rédea curta (o CDS-PP disso se encarregará), são um mau presságio. Se restarem dúvidas nada como pegar num lápis e num pedaço de papel: colocar os nomes dos ministros no papel a alguma distância uns dos outros, mencionando as suas atribuições e responsabilidades. Fazer os fluxos entre eles tendo em consideração quem depende de quem, quem trata do quê, quem decide o quê. Fácil perceber.
Cinco. O medo de perder eleições e deixar o poder é o motor que os move. Por que o povo é imprevisível e ainda se deixa tentar pelo inexistente Seguro.
Seis. O povo? O povo (hoje chamamo-nos eleitores, é muito melhor) não está na mente de PPC nem de PP neste momento (nem noutros), não está mesa das negociações nem no xadrez dos nomes para o governo. Está calor, há praia, há febras, entremeada e cerveja gelada a bom preço, disso se encarregam os pingos doces, euromarchés e continentes. Até Setembro. Depois logo se vê.
Sete. E para evitar equívocos na interpretação das minhas palavras: não, não tenho saudades de Sócrates.
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03/07/13
Zangam-se as Comadres, Sabem-se as Verdades
Ao contrário do que nos querem fazer crer, a crise política desencadeada com a saída de Victor Gaspar e posterior pedido de demissão de Paulo Portas, não é propriamente a responsável pela subida dos juros, é só o pretexto. José Sócrates foi. Mas hoje as desastrosas opções políticas deste governo de Pedro Passos Coelho, o Primeiro-ministro, patentes nas suas discutíveis medidas de controle financeiro e o respectivo resultado é que são. Não é porque Victor Gaspar e Paulo Portas saem do governo que os juros sobem. Os juros sobem porque o país nada ganhou com eles. Nada ganhou com Pedro Passos Coelho. Voltamos à estaca zero.
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Ontem à noite na maratona de comentário político das televisões retive dois momentos:
O nosso fado: inevitavelmente António José Seguro. A banalidade do seu discurso, os lugares comuns que já não querem dizer nada, a vacuidade total dele, do seu estilo, são impossíveis de esconder. Ele não existe, essa é neste momento a grande tragédia; nós, gente comum que vota e quer ver o país governado com um mínimo de decência, seriedade e responsabilidade, não temos realmente alternativa.
Uma ironia: no CMtv Ângelo Correia debatia com José Medeiros Ferreira os eventos do dia. A pedido do moderador e porque amigo de ambos, caracterizou Pedro e Paulo. Entre outras coisas diz que Paulo Portas é “inteligentíssimo” e que Pedro Passos Coelho é “granítico e determinado” e, numa espécie de momento ‘tarot a-posteriori’, afirma que a relação entre ambos (não lembro as palavras exactas mas a atmosfera foi esta) estava condenada a fazer faísca.
02/07/13
Agora Respira-se
A confrangedora tomada de posse da nova Ministra das Finanças é um acto que demonstra bem quão grande pode ser a teimosia da cegueira, do Primeiro-ministro e do Presidente, e a total falta de responsabilidade e sentido de Estado dos intervenientes. Afinal – e julgando pela carta que li - parece que Victor Gaspar, pelo menos e nesta ocasião, teve sentido de estado ao assumir a sua responsabilidade política.
Como é possível continuar e querer que continuemos a fazer de conta que está tudo bem? Como se não bastasse ler a carta de demissão de Victor Gaspar e perceber a demissão de Paulo Portas para vermos que aquilo que era há muito nada mais do que um castelo de cartas ruiu finalmente. Infelizmente é com alívio que vejo o governo ruir. Pelo menos agora sabemos onde estamos. Agora respiramos. Não sei o que trás o futuro, nada de muito bom provavelmente, mas não se conseguia continuar a fazer de conta. Já não havia política (houve sempre pouca), já não se percebia que direcção tomava o governo, já não se percebia o que o governo queria. Assistíamos a uma fractura profunda entre membros do governo que já há muito que não se limitava ao lado PSD e CDS. Vivíamos num caos engravatado que não enganava ninguém. Ontem, ao ouvir o Secretário de Estado Adjunto explicar os briefings diários à imprensa em ‘on’ ou em ‘off’, e para além do ridículo ‘da coisa’, só pensava na orquestra do Titanic a tocar enquanto o barco se afundava. Penoso, muito penoso. Tal como dar posse a uma Ministra das Finanças, afinal de que governo?
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