Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
30/04/07
Leio aqui que, segundo uma comissão de inquérito governamental, o primeiro-ministro israelita e o ministro da defesa são os principais responsáveis pelas falhas da guerra no Líbano no verão do ano passado que opôs o exército israelita às milícias do movimento Hezbollah. Fico a aguardar as conclusões de um inquérito semelhante sobre o comportamento das suas estruturas conduzido por uma comissão de inquérito a pedido do movimento Hezbollah.
Como se isso fizesse diferença
Anda tanta obsessão com a vida saudável e com a alimentação que até logo à noite o Prós e Contras será dedicado à obesidade. O ser humano parece condenado a ter uma relação nada pacífica com a sua principal fonte de energia e uma das suas fontes de prazer: a alimentação. Esta relação nada pacífica é ancestral e já parece estar inscrita nos nosso genes e vem do tempo em que era preciso fazer stock e comer em abundância para fazer face aos tempos difíceis de penúria, os longos Invernos em que a terra nada dava, as guerras que não permitiam a cultura e a circulação de bens alimentares. As religiões complicaram um pouco esta relação: criaram tabus alimentares, promoveram jejuns, tentaram, como podiam controlar também essa relação tão pessoal entre cada um e o seu prato, incutiram a culpa. Os tempos de abundância dos dias de hoje convivem com espaços de fome e de falta de recursos, o que prova o desequilíbrio do mundo em que estamos e a fragilidade da nossa relação com a comida que também está manchada por alguma culpa. Hoje a classe médica avisa e informa, os psicólogos fazem teses abundantes sobre a estranha relação de pessoa com os alimentos, explicam a obesidade e discorrem sobre as “novas” doenças tais como anorexias e bulimias. Os políticos têm algo a dizer e medidas a propor, como se isso curasse esta estranha relação nossa com a comida, como se isso fizesse diferença.
29/04/07
27/04/07
Porque é que gosto de Pintura Flamenga 2
O meu olhar neste quadro perde-se nos detalhes: no adamascado da toalha branca, e no adamascado da toalha vermelha. Na forma como a luz é reflectida pelos tecidos. Nos vincos impecáveis das toalhas, na renda. Na luz do copo, na casca um pouco seca da maçã, na disposição e na cor dos queijos, nas sombras mais atrás. Fico encantada com o mistério que o quadro guarda. Aliás, a Pintura Flamenga, é exímia em pintar o que não se vê, e também neste quadro todo de equilíbrios, de luzes e sombras, de detalhes e de pose, uma falsa espontaneidade, imaginamos uma refeição simples e requintada. Começamos aqui.
Atravessando a Ponte
Há dias passava a ponte 25 de Abril em direcção a Lisboa. A pessoa que me acompanhava disse aquilo que eu tantas vezes penso. Como é bonita a vista da ponte sobretudo a vista para a cidade de Lisboa. É verdade, o dia estava límpido e da ponte apercebemo-nos de como Lisboa é uma cidade ampla, aberta e luminosa, e não cansamos de olhar e perceber onde está o quê. Neste silêncio a ver Lisboa eu calei outra imagem, outra memória. É difícil, ao ver da ponte a escala e grandeza daquela vista, falar naquela outra vista daquela outra ponte que sempre trago comigo, mesmo quando atravesso a ponte 25 de Abril. Fala dela quem sabe e quem a conhece como eu a conheço. Fala dela quem a tem gravada nos genes, na infância, na memória, no cinzento enevoado dos dias de Inverno ou no dourado brilhando do sol de um fim de dia. E, como diz Rui Veloso, é sempre a primeira vez em cada regresso a casa...
25/04/07
Paulo Portas lembra-me um daqueles filmes do canal Hollywood que está sempre a passar e que já todos conhecemos de cor: os diálogos, o enredo, as personagens e suas reacções, e já prevemos o próximo movimento da câmara de filmar.
Registei o interesse do Presidente da República pela vida saudável, este blogue continuará a manifestar o seu empenho por uma vida mais saudável.
O “véu” chega à classe política turca. Esta notícia, e seus futuros desenvolvimentos, que ilustra ascensão de uma classe média religiosa na secular Turquia, são para ser acompanhados com atenção.
23/04/07
Notas de viagem 7
O Diário de Anne Frank deve ter sido um dos primeiros livros “adultos” que li no início da minha adolescência. Já conhecia, nomeadamente dos filmes americanos que devorava e do que se falava em casa, os factos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial e sabia o que era o Holocausto. A leitura do Diário marcou-me imenso e anos mais tarde ao relê-lo senti também uma cadeia de emoções. Das vezes anteriores em que estive em Amesterdão, nunca consegui ver a Casa de Anne Frank, por isso desta vez decidi que teria de o fazer, apesar de saber que pouco havia para “ver” (a visão é um dos sentidos que mais é estimulado numa ida a um museu: no museu vê-se). Não me enganei: havia pouco para ver. Uma estante que escondia umas escadas, e um aperto no coração ao subi-las. Uns espaços pequenos, um quartinho com fotografias de actores e actrizes coladas na parede a lembrar-nos que a adolescência é sempre a adolescência, uma cozinha/sala/quarto, um sótão e a dificuldade em perceber como oito pessoas ali viviam e conviviam. Mas o detalhe que mais me impressionou e ao qual maior valor simbólico atribuí, foi um caderno manuscrito de Margot, a irmã de Anne, com os seus trabalhos e deveres de Latim. A familiaridade desse objecto, o facto de mesmo em guerra, mesmo em privação, se manter a vontade de aprender de estudar, de se valorizar, o facto de se impor uma disciplina e uma normalidade, numa altura em que qualquer um “compreenderia” a “falta de motivação”, as “dificuldades” os “desajustes” as “dissonâncias” as “frustrações” as "depressões” ou outras desculpas com aval dos psicólogos de serviço é verdadeiramente comovente. Ali estava uma rapariga nova de uma família abastada a quem nada faltava e a quem o futuro sorria, perseguida, escondida, humilhada, privada da vida normal e de tantos bens materiais a que sempre teve acesso e sem saber o que o futuro lhe traria, a fazer trabalhos de Latim. De facto a casa tem pouco que “ver”, mas aquele caderno é um completíssimo tratado sobre a vida: é só querer ver.
21/04/07
O Verbo
Esta mania de mudar o nome das coisas (que se mantêm iguais) só porque muda uma administração, um director geral, ou mesmo um ministro, intriga-me e irrita-me. Será que através do “nomear” o nomeador pretende deixar uma marca que eternize a sua passagem? Se não, o que é que justifica esta ânsia de nomeação? Mudar para que tudo fique na mesma...
20/04/07
A propósito de Jan Steen.
É Jan Steen mais um mestre do Barroco Flamengo. A propósito de Barroco, tive muita pena de não ter visto a exposição promovida no ano passado pelo Rijksmuseum e pelo Van Gogh Museum sobre Rembrandt e Caravaggio onde se puderam comparar os dois grandes mestres do barroco: o Flamengo e o Italiano. Pode-se, no entanto visitar o site da exposição que é interessantíssimo.
19/04/07
Eu, o blogue e a blogosfera.
Ao fim de algum tempo a postar, o HH começou a ter visitantes que tiveram a simpatia de o incluírem nas suas listas de links. Quase em Português, Espumadamente, foram os primeiros. CAA do Blasfémias provocou dois pequenos terramotos de audiências com simpáticas referências a este blogue, e outros blogues que visitaram o HH incluíram-no também em listas de links. Correndo o risco de não ter reparado em algum refiro o Do Portugal Profundo, Ktreta, Portugal dos Pequeninos. É um lugar comum, eu sei, mas realmente ficamos espantados com o facto de haver quem nos leia, por isso espero que quem visita o Hole Horror desde o início se sinta sempre bem-vindo neste espaço, e se sinta livre de usar o endereço de e-mail que está por baixo do título do blogue. Confesso também o meu mais puro espanto perante as consistentes subidas de audiências (audiências modestas, diga-se) graças às visitas de fora de Portugal. Este gráfico acima, copiado do sitemeter, referente às últimas 24 horas ilustra um dia típico deste blogue: muitas visitas do Brasil, que juntamente com Portugal fazem 60% do total e depois é uma verdadeira Babilónia de visitantes que me espanta cada dia. Também eles que vêm e vão, ou vêm e demoram-se um pouco, são bem-vindos e mostram todos os dias uma das faces da chamada globalização.
Uma ideia da Europa 9
18/04/07
Notas de Viagem 6
O Rijksmuseum é um dos museus de que mais gosto coisa que não é difícil pois gosto muito de pintura flamenga. Há uma atmosfera especial nesta pintura, que terá a ver com a luz ou a cor, e os objectos pintados que propiciam a pintura do que não se vê. Como não é imenso e tem um tamanho “confortável” podemos visitá-lo sem grandes cansaços, apesar de ter bastante gente, e apreciar com tempo as obras-primas que nele abundam. Rembrant tem lugar de honra e as suas grandes pinturas oferecem-nos momentos de grande intensidade estética. Vermeer é um poeta de tela e tintas e se repousamos da dimensão de Rembrant, mantemos o mesmo nível de gozo contemplativo. Descobri Jan van der Heyden, a sua pintura, sobretudo paisagens urbanas, e os seus outros ofícios numa exposição até ao final do mês, ri-me com Jan Steen e Avercamp e deleitei-me com tantos outros: sem cansar, sem saturar.
17/04/07
Diplomas, Certidões e outros papeis 4
16/04/07
Notas de Viagem 5
As palavras dos outros
Pensei, e tinha vontade de escrever hoje sobre o Papa Bento XVI, no dia do seu 80º aniversário. Sobre o facto de eu o considerar um dos homens de maior relevo nos nossos dias, pela sua ousadia, clarividência, rigor e capacidade quer intelectual, quer política, quer espiritual. Pela profunda admiração que tenho pela sua visão e compreensão do mundo, sobretudo do nosso mundo ocidental, com as suas incongruências, inflexões e hesitações. Dizia eu que queria ter pensado e escrito um texto, mas ao olhar para o que se escreveu hoje nalguns blogues que visito regularmente e depois de ler este texto aqui escrito ao melhor estilo e inspiração do João Gonçalves, senti que nada poderia dizer mais. Tirou-me as palavras que gostaria de ter usado, só me resta assinar por baixo.
15/04/07
Notas de Viagem 4
Turismo cultural, se é que algum dos nossos governantes se interessar em aprofundar este conceito que propõem dinamizar (priorizar, ou seja lá que verbo for) para o nosso país, é o que não falta nas cidades que visitei. Em Paris abundam monumentos, grandiosidade e dimensão imperial, marcos históricos, obras de arte que atraem gentes de todos os feitios e os turistas têm só o embaraço da escolha e das multidões que se acotovelam para entrar, comprar bilhete, ver ou passear: Notre Dame, Vénus de Milo, a Sainte Chappelle, ou mesmo deambular no Quartier Latin ou em Montmartre é só escolher e nem é preciso pagar muito. Existe património, respira-se história e os franceses orgulham-se do que têm, do que foram e do que pensam que ainda são. Tratam o património, preservam-no, criam, mostram-no, exibem-no e tornam-no acessível.
Amesterdão, uma cidade onde sempre me senti em casa, é diferente. Sem a exuberância de Paris valoriza a sua especificidade física e protege o seu património com políticas cuidadas de planeamento, urbanismo e ordenamento. No país de maior densidade populacional da Europa temos dificuldade em ver prédios e arranha-céus. As cidades têm uma agradável escala humana que as torna simpáticas. E se não é uma casa em especial que é bonita são o conjunto das casas, antigas, bem conservadas e vividas, que fazem as ruas que fazem as cidades e que o turista gosta de ver. Não se deitam casas abaixo para construir prédios de escritórios com os três primeiros pisos de “centro comercial”. Os centros comerciais podem fazer turismo comercial igual, porque as lojas são as mesmas, a todo o turismo comercial médio, mas não fazem turismo cultural. O centro de Amesterdão fervilha dia e noite de vida. Hotéis, restaurantes, bares, habitações, escritórios, habitantes e turistas animam e fazem a cidade.
14/04/07
Diplomas, Certidões e outros papeis 3
Parece que este caso é um terreno minado. Cada papel que aparece, cada incoerência que se descobre. Difícil mesmo é acreditar no percurso académico exemplar de José Sócrates que voltou aos bancos da escola em horário pós-laboral. Difícil mesmo é acreditar que José Sócrates seja totalmente alheio à vasta produção de documentos sobre a sua exemplar carreira académica cuja veracidade é tão claramente questionável. Que opacidade!
Começo a não querer perceber a imagem que hoje temos do nosso Primeiro-ministro, do governo, da oposição. É demasiado triste.
13/04/07
Odete Santos
Se é que algum dia estive de acordo com Odete Santos, hoje não me lembro. Mas isso hoje não importa, pois com a saída dela do Parlamento é também um pouco o fim de algo que conheço e a que me habituei; mais um sinal do tempo que passa, para todos. E depois Odete Santos é irresistível, pela convicção, pela militância, pela dedicação, pelo trabalho, pela fé que não gostamos nem entendemos e sobretudo pela ousadia de ser diferente num mundo tão cheio de banalidade e de uma fina camada de verniz a tentar dar algum brilho ao oco. Ela esquece sempre o verniz.
12/04/07
Notas de Viagem 3
A Língua Portuguesa vai ganhando presença e espaço ano após ano na Europa. Torna-se comum ver folhetos turísticos ou informativos nos mais diferentes locais em Português, algo que há duas décadas seria quase impensável. Teremos que atribuir o mérito desta visibilidade não só à nova onda de emigração Portuguesa e claro, à Adesão de Portugal à Comunidade Europeia, mas também em grande medida à enorme presença de brasileiros a trabalhar e a residir na Europa. Encontram-se brasileiros em todo o lado e atravessam transversalmente a sociedade dos países em que se instalam.
Diplomas, Certidões e outros papeis 2
Depois da entrevista de José Sócrates. Continuo com a maioria das dúvidas que tinha, e foi penoso ver o Primeiro-ministro do meu país com as pastas na mesa cheias de diplomas, certidões e outros papeis escritos, preenchidos, rasurados, assinados ao domingo, etc. Papeis a mais, explicações a mais, e com excepção da questão da conclusão da licenciatura, as principais questões levantadas: uso indevido de um título académico (por omissão, aceita-se), pressão sobre os meios de comunicação e questões algo pantanosas sobre questões administrativas com a Universidade Independente, continuam por esclarecer e dúvidas legítimas mantêm-se.
Da segunda parte só uma pequena referência a um motivo de regozijo e orgulho especial do Primeiro-ministro, pois quer que seja um marco do seu governo: aquilo a que ele chamou as “Leis Civilizacionais” (uma bela e sentida expressão cheia de tudo quanto é causa politicamente correcto lá dentro), que são respectivamente a Lei da Paridade, a Lei da Reprodução Medicamente Assistida e a Lei do Aborto. Para quem não notou ainda, os paradigmas civilizacionais foram alterados com este governo: Portugal deu o seu grande salto em frente.
11/04/07
Diplomas, Certidões e outros papeis
No meio desta trapalhada de não haver diplomas, certidões, papeis, provas, eu pergunto o que me teria sucedido a mim se, em complemento do meu curriculum vitae, eu não anexasse cópias dos diplomas ou certidões de cada vez que me era solicitado? Apresentei muitas vezes provas da minha formação académica, nunca me senti diminuída por isso (era suposto sentir-me?) e sempre pensei que isso era prática corrente. Para ser deputado pelos vistos não é!
Não quero deter-me nas questões de fundo sobre a academia e a política, ou sobre a qualidade do ensino e da administração das universidades privadas, mas há uma questão de fundo que gostaria de salientar. Costumo chamar-lhe “ter vergonha na cara”. Este caso parece um caso típico de falta de vergonha. Desde o primeiro momento em que se deixa instalar a dúvida, depois se deixa correr a mentira, (já nem falo em que deliberadamente se mente) até aos telefonemas aos meios de comunicação social e acabando no silêncio “a ver se isto passa” há neste caso muita falta de vergonha. Tão simples quanto isso.
10/04/07
Notas de Viagem 2
No Quai Voltaire, não muito longe da livraria Shakespeare & Company, estava um artista a vender os seus desenhos e aguarelas. Muito mais cuidados e interessantes do que o que vi em Montmartre.
09/04/07
Depois de umas férias em que mal vi televisão, quase não ouvi notícias, nem do mundo e menos ainda de Portugal chego e deparo-me com o anúncio nos jornais televisivos, de que quarta-feira, numa entrevista à televisão pública, o Primeiro-ministro dará explicações ao país e aos seus eleitores em particular, presumo, sobre o(s) seu(s) diploma(s) académico(s). Lembrei-me do que se passou há anos com Bill Clinton quanto teve de ir à televisão dar explicações à nação sobre a natureza da sua relação com Mónica Lewinsky. Mau presságio... o ter que dar explicações de algo que nunca deveria ter que ser explicado.
05/04/07
Notas de viagem
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