14/07/09

Do Rigor 2

As notas do exame de Português do 9º ano foram más, não porque o exame fosse difícil, que não foi, mas porque os critérios de avaliação são uma aberração e as indicações e contra-indicações de ME sobre eles parecem saídos de uma sitcom. Pretende-se avaliar o Português como quem avalia a Matemática, mas sem o seu rigor e o seu inequívoco "errado". É totalmente desencorajada a leitura pessoal dos textos, a criatividade perante um objecto (num exame com três textos, só dois eram literários e só um um clássico da língua) bem como a interpretação individual (a “recriação” do objecto) que não siga os rigorosos e (pseudo) objectivos critérios estabelecidos para as respostas. Foi por isso que os bons alunos não brilharam, os maus se safaram e todos ficaram num caldo de notas medianas muito igualitário. Mas ninguém se importa muito: como estes exames só contam 30% para a nota final, raros são os casos em que os resultados realmente fazem diferença. As férias estão à porta e é preciso virar a página inscrevendo os alunos no secundário, quem quer por isso e nesta altura chatear-se com uma nota que “vale” pouco? No fundo, no fundo, no ensino básico é tudo a feijões.

O ensino em Portugal tem sido ao longo do tempo uma verdadeira comédia de costumes. Estes últimos anos esmeraram-se. Pena que os estudantes sejam cobaias de experimentalismos, estatísticas, buscas de consensos culturais e mediáticos, critérios medianos e de finca-pés políticos. Parece que nunca se consegue estabelecer uma rotina em que se conhece a política educacional, em que é previsível o estilo, o rigor e o bom-senso.

(Quem gostar da língua Portuguesa, quem achar, como eu, que o ensino da nossa língua é vilipendiado nos programas escolares, e sobretudo quem quiser “perder” algum tempo pode verificar o exame e os ditos critérios de avaliação aqui).
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