17/07/09

Portugal dos Pequeninos, Uma Leitura


Apesar de leitora fiel do blogue Portugal dos Pequeninos de João Gonçalves, quase desde o seu início, decidi ler o livro do blogue. O contacto físico com o livro parece que estabelece um contracto mais tangível e relacional entre ele, ou melhor, entre o que lá está escrito, e o leitor. O livro é sempre um blogue editado onde se procura maximizar um estilo, uma lógica, uma coerência. Esse contracto é coisa muito mais ligeira e volátil na leitura, mesmo regular de um blogue: porque se lê aos pedaços, no meio dos pedaços que se lêem dos outros blogues, hoje uns, amanhã outros, uns dias sem ler para depois recomeçar e assim sucessivamente. É verdade que, com o tempo, se vai percebendo um estilo, um fio condutor, mas no livro essa lógica individual revela-se com mais clareza e mais facilidade. Por isso foi com prazer, algumas gargalhadas, umas indignações, meia dúzia de repulsas, bastantes concordâncias – algumas delas, confesso, que a contra-gosto -, e sorrisos cúmplices que li o livro Portugal dos Pequeninos. JG, estabelece, na sua “maldade”, uma cumplicidade e um trato com qualquer leitor que não se consiga impedir de concordar com ele e por isso participar da sua “maldade”. Essa cumplicidade torna-se mais fácil porque JG nunca é ligeiro, leviano ou superficial. Pelo contrário, é um fino observador, culto e de boas leituras apesar de não as exibir, nem delas precisar para “embelezar” os posts que escreve. O seu gosto pela cultura, leitura e música (como se vê no blogue) está a montante dos posts concretos, da coisa escrita; molda a pessoa, mais do que faz o post. Sente-se e percebe-se sobretudo quando não se vê. Privilégio de poucos.
(Continua)
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