11/07/09

Fugir para Marte

Não sou um homem de partido - no que sou acompanhado por 95% dos portugueses! - e quero é que eles (partidos) se danem pelo que nos têm tramado. Pode publicar isto...

Assim diz Manuel Villaverde Cabral ontem em entrevista ao i. Também me sinto assim: pertenço aos 95% que nunca militou, nem tão pouco se filiou num partido político e que se sente constantemente refém de máquinas partidárias que não entende – nem gosta do que vê. No entanto isso não tira nenhum tipo de legitimidade de olhar para a “coisa pública” e para a política, pensando, decidindo, pesando argumentos, analisando comportamentos, detectando padrões, nem tão pouco se está inapto a comentar, emitir juízos e claro, exercer o poder formal que se tem sobre a decisão de quem nos governa, votando.

MVC na sua entrevista detem-se sobre o impasse em que o país vive alternando governos entre o PS e o PSD e vai mais longe considerando que o outro lado da nossa ingovernabilidade são a corrupção e a incompetência sistémicas dos dois partidos - até por causa do rotativismo que lhes permite passarem as culpas um para o outro.

Se ainda nutríssemos algumas ilusões quanto à matéria de que são feitos os principais partidos e o tipo de curriculum de tantos dos nossos políticos e detentores de poder (autárquico, governamental, em comissões, etc), José Pacheco Pereira que, ao contrário de MVC, está nos 5% da população que milita num partido e é por isso conhecedor das chamadas “máquinas partidárias”, acabaria com elas num ápice; o tempo de ler o seu artigo de hoje no Público (Edição Impressa, sem link) que nos chega como um balde de água fria. Nada que não suspeitássemos, nada que não se insinuássemos em “casos” que, com um ritmo constante, chegam ao conhecimento público ou aos tribunais, nada que não víssemos nas investigações feitas e publicadas ou ouvidas nesta notícia, naquela referência, naqueloutro recado. Nada que não desabafássemos em conversas mais ou menos informais, nada que não escrevêssemos em posts. Mas dito assim, preto no branco, por quem conhece tem um impacto e um efeito maior, como se a escala com que se olha o mapa mudasse e víssemos muito mais. O artigo é impiedoso recriando histórias de um nascer, fazer e crescer de influência (e nem se falou muito da influência com a comunicação social) desses políticos, cujo prototipo de biografia é esquematizada de forma crua, uma espécie de condenação à morte da inocência com que se poderia ainda tentar olhar para a vida dentro de um partido.

Uma coisa é certa: o sentimento de emparedamento é grande, e a falta de uma luz verde com o sinal “saída” deixa-nos “assim”, no meio de coisa nenhuma porque nem a seriedade e a dedicação de alguns parece chegar para fazer essa luz. Só apetece mesmo é fugir para Marte.
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