19/04/11

Páscoa 2011

Marc Chagall
Red Pieta

Nada disto é novo, é aliás mais do mesmo, sempre mais do mesmo. Entre visitas coreografadas, inaugurações forçadas, e a campanha eleitoral propriamente dita, teremos a repetição, com pequenas variações, deste tema - que mais parece único - do guião de José Sócrates. Até à náusea.

18/04/11


Este é um interessante diagnóstico do que se passa com as lideranças do PSD. Acrescento também a nota de quão difícil é falar para esse ‘exterior’ quando se vem do ‘interior’. Nem Sá Carneiro, nem Cavaco Silva que “revelavam desprezo pelo aparelho” vieram do ‘interior’, por isso é que sempre souberam falar para fora do partido, isto é falar mais para os eleitores do que para o aparelho.

Interessante é perceber também o quão difícil é falar para o exterior por parte do líder do PS, apesar dessa necessidade não ser tão determinante como para o PSD. José Sócrates, que tal como Passos Coelho, vem do ‘interior’, só fala com guião, para fora, para dentro só fala com guião ensaiado e testado. Não gosta de ser questionado nem interpelado, sobretudo se não está previsto, nem ele está preparado; irrita-se e impacienta-se, e quando fala só o faz usando o seu guião do marketing comunicacional e político. José Sócrates é eficaz a falar para o ‘exterior’ porque reduz todo o seu discurso a dúzia de frases simples que mais parecem slogans, mas reconfortantes e em que os eleitores escolhem acreditar, nomeadamente os sectores que sempre tiveram medo da “liberdade negativa: libertar as pessoas dos sucessivos espartilhos socialistas” de que fala o FNV, e do estado, acrescento eu. O PS é o que resta, pelo menos do ponto de vista teórico, que a prática de anos e anos de governo têm demonstrado o contrário e o oposto, de uma ideologia democrática que explora retoricamente e propagandisticamente a defesa de um estado social.

Neste contexto, em que se apela aos medos enraízados por uma cultura ‘anti-direita’, chega a ser quase indiferente que o líder fale verdade ou não, lamentavelmente. É também motivo de pouca indignação que um cabeça de lista pelos Açores roube gravadores e seja alvo de um processo crime. Estas situações são mais dificeis de acontecer no PSD, onde os "limites são desconhecidos" e onde “não existe agenda colectiva” e onde falar para o exterior de forma clara, séria e verdadeira se impõe.

17/04/11

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 60

Roma séc. II AC


Sentir o calor da tarde.

Assim não!

Leio (ouço) em vários locais (televisões, jornais, blogues), vozes que defendem que a prioridade na política nacional é remover José Sócrates do cargo de Primeiro-ministro. Estou plenamente de acordo e até iria mais longe; assim como quem se deixa levar por um sonho... para nossa sanidade mental, José Sócrates deveria ser removido de qualquer lugar público e deveria ser-lhe imposto um longo período de nojo - mas repito, este desabafo é assim como um ir atrás dum sonho...

Ele, mais do que ninguém, é “o” responsável pelo estado comatoso de Portugal e cujo rosto cá e lá (UE, FMI...) é o descalabro das Finanças Públicas, mas cujas raízes são bem mais profundas. Para nossa humilhação, agora que temos as portas e janelas abertas ao mundo que nos olha pela lente de aumento, não faltam exemplos: o enfraquecimento gradual da classe política com a consequente “falta de credibilidade” dos políticos, a falta de barreiras entre o público e o privado facilitando a falta de transparência e seriedade nos negócios, a falta de sentido de Estado, a falta de sentido de Serviço Público, uma total leviandade quando se trata de dispor dos bens públicos, nomeadamente o dinheiro dos contribuintes, a falta de responsabilidade e responsabilização política (accountability), falta de visão, falta de coragem para prosseguir e negociar reformas importantes, muita ambição pessoal, muito deslumbramento (fracturante e tecnológico), permanente confusão entre o partido e o estado, promiscuidade entre servir e servir-se, muita dúvida, muita inverdade, muita mentira. É por isso imperativo que o PS não ganhe as eleições e que JS deixe de ser Primeiro-ministro.

No entanto, e que fique claro, não é só dessa “remoção” (quase que “higiénica”) que Portugal precisa. Portugal precisa também e sobretudo (por isso – e não por mero capricho – é que José Sócrates tem de ir) de uma nova atitude e de uma nova forma de estar e fazer política assente no Serviço ao país e baseada na seriedade, na verdade e na definição de um rumo nestes tempos de ainda mais escassez que se avizinham. Precisa de políticos sérios, que queiram saber e falem a verdade, e que conheçam o rumo que o país tem de ter para daqui a uns bons anos poder sair da crise em que está. Remover José Sócrates e não ter ganhos em termos de seriedade, de verdade e de rumo, que de novo nos leve ao crescimento e equilíbrio financeiro, é perder o nosso tempo e os nossos recursos, lamento. Assim não!

Custa-me a crer que o PSD (aqui entendido como uma entidade abstracta feita tanto de quem opina, como de quem está na direcção) hoje, e em nome deste desígnio nacional – a remoção de José Sócrates – promova uma renúncia à inteligência, ao espírito crítico, àquela dose de cinismo que nos impede de embarcar no primeiro optimismo de pacotilha que nos vendem e de gostar de comícios unânimes estilo “oh Zé!...” Sobretudo é difícil crer que o PSD abdique de promover a seriedade e a verdade, e o seu rumo para o país, pois já é tempo de perceber (mais vale tarde que nunca) que só promovendo estes valores se distancia do PS de JS. Só assim se constrói para os eleitores, uma opção diferente e minimamente credível ao estado actual da política nacional. Golpadas mediáticas, jogos políticos não interessam o país: já tivemos em abundância (e com os resultados conhecidos) nos últimos anos e é disso que o PS actual se alimenta e nos quer alimentar a nós. Basta.

Se há/houve erros (Fernando Nobre, por exemplo), corrijam-se (retire-se o convite). Em nome do dito “desígnio nacional” não estou preparada para aceitar a manipulação (nomeadamente mediática) da verdade: se houve encontro com PM, porque não assumi-lo, se houve negociações porque não assumi-lo, se houve sms, porque não assumi-lo, nem estou preparada para aceitar uma série de modulações da verdade que irão desaguar mais cedo ou mais tarde na “inverdade” e em terrenos socráticos que tanto abomino.

14/04/11

Esta gente não se enxerga, não aprende, mas pior que tudo, não tem a noção do ridículo.


Se ainda faltava alguma confirmação de que já estamos em campanha eleitoral agora já não falta.

11/04/11

Vai Vir Charters da China (uma versão política)

Numa engraçada metáfora do João Távora no Corta-Fitas a propósito do "erro" Fernando Nobre (*) cometido pela direcção do PSD que julga assim poder ver os “charters de votos a chegar”, continuamos a ver o PSD de golpada em golpada (no sentido mediático da palavra) a perder, cada vez um pouco mais, a sua credibilidade. Fernando Nobre já é “mau” (porque volátil politicamente, porque pomposamente selfrighteous, entre outras coisas), para encabeçar a lista de deputados de qualquer distrito, mas ser anunciado como “candidato” a Presidente da Assembleia da República agora e nestas circunstâncias - ter sido candidato a PR, nunca ter estado no Parlamento, por exemplo e entre outras - roça a insanidade.

Neste momento o PSD, é uma máquina partidária mais do que um partido. Para ser um partido sério de alternativa ao inqualificável desastre “Sócrates” que nos trouxe de anúncio em anúncio, de propaganda em propaganda, onde trouxe, isto é à bancarrota, precisa de sentido de estado, seriedade, maturidade política, sobriedade, organização, propósito e disciplina. Tudo isto tem faltado. E eu, lamentavelmente, começo a sentir que me faltam motivos para, em consciência, votar no PSD como alternativa a José Sócrates.

(*) Numa altura em que todos fazem prognósticos eu arrisco um: ainda ouviremos falar da fábula do sapo e do escorpião...

Em Flor 30

10/04/11

Mulheres 2

Estas heroínas de Made in Degenham nunca mediram inteiramente as consequências dos seus actos ao concordarem em fazer greve e, claro, nunca pensaram que chegariam onde chegaram. Este facto revela alguma uma inocência e frescura ingredientes importantes para a simpatia que o filme gera no espectador. Esta ingenuidade política das grevistas é demonstrada por oposição à mulher do gestor da fábrica, essa sim, uma mulher inteligente, culta (formou-se em Cambridge) e de outra classe social que percebe o que está em causa, a extensão das reivindicações das grevistas, e que lhes mostra o seu apoio à causa da igualdade de salários.

Outro dos ingredientes interessantes no filme é o da determinação da luta. Contra os sindicatos, bastiões retrógrados e machistas, contra os homens e colegas trabalhadores que se vêm prejudicados e que as querem a trabalhar, e contra alguns maridos pouco habituados a manifestações de força e de determinação da parte das suas “esposas”. Elas mantém-se firmes e fieis à lógica do seu argumento: igualdade de pagamento, e não vacilam no momento de ir ao congresso dos sindicatos pedir apoios.

Essa firmeza e fidelidade à luta tem na base sua base a solidariedade feminina, um conceito fonte de inúmeros lugares comuns e especulações e que constantemente se questiona. Essa solidariedade, e ao contrario da masculina que é mais “espontânea” faz-se na intimidade partilhada, não surge do nada. Tece-se com soutiens (é muito interessante o facto de, no verão e por causa do calor, as trabalhadoras da fábrica se despirem e trabalharem em soutien), fraldas, lágrimas, celulite e vestidos (o vestido, um Biba anos 60, que a líder das grevistas leva quando vai falar com a Ministra é emprestado pela mulher do gestor).

No final, o que tem de ser tem muita força. Assim será sempre.

08/04/11

Mulheres (*)

Made in Dagenham (Igualdade de Sexos) pode não ser uma obra-prima, pode não arrastar multidões, nem sequer será um filme indispensável, mas é um filme inteligente e divertido. É uma mistura interessante de comédia light, com acontecimentos reais e com mensagem política. As personagens, apesar da ligeireza, são muito verosímeis, e é impossível não simpatizarmos com estas mulheres que fazem uma greve porque pedem igualdade salarial: para trabalho igual remuneração igual. A equação é simples, a mentalidade é que não. Em 1968, em Inglaterra, elas foram pioneiras e abriram caminha para transformações na legislação.

Pensando bem, grande parte do trabalho feminista – a quem todas nós mulheres tanto devemos – mais marcante e determinante para a valorização do papel da mulher, fundamentou-se sobretudo na força da evidência, da lógica da racionalidade. Acesso ao voto, pagamento igual para trabalho igual, igualdade no acesso à educação, fim da discriminação, foram imposições mais ou menos demoradas e sofridas, da lógica e da racionalidade, e sempre servidas pela coragem e luta de tantas mulheres. Quando a luta feminista sai destes parâmetros, torna-se mais pantanosa pois normalmente está ao serviço de uma determinada ideologia, de uma moda, ou de uma mera fantasia (pseudo-científica, pseudo- psicológica, etc).

As mulheres do filme confrontadas com a evidência que era a desigualdade salarial para trabalho igual, uniram-se numa luta laboral. No fim do filme em clima ligeiro e festivo (e com música dos anos 60) são apresentados testemunhos dessas mulheres reais que ainda hoje vivem e que fizeram essa greve na fábrica da Ford de Dagenham; uma diz aquilo que o filme consegue transmitir: elas não se tinham apercebido da força que tinham, nem da força do argumento naquela época.
(Continua)
(*) Título "roubado" ao FNV.

Afinal

Ao fim de mais de três horas em que o cérebro não pára de me mandar estranhas mensagens em forma de música

You know I know how
, to make em stop and stare as I zone out

sobrepondo-as a qualquer outro tipo de actividade, pergunto-me: afinal o que é que terei andado a fazer ontem à noite?

06/04/11

As Armas

A atitude é de uma vítima injustiçada e revoltada contra a conspiração de que foi alvo quando tudo, afinal, corria tão bem. Diz que põe os interesses do país acima de tudo. Ele fez o que pôde, os outros não deixaram. Clama justiça. A retórica é simples, eficaz e segura ajudada pelo tom determinado. A alienação parece que continua, não vi sinais de regresso à realidade (se é que alguma vez esteve nela) o “estado a que isto chegou” deve-se a inoportuna oposição, nunca aos seis anos da sua governação. Especialista no manejamento dessas modulações que vão da “inverdade”(*) à mentira, e ajudado por um PS albanizado que vota 93,3% no último congresso, José Sócrates mantém-se imbatível nesta área. O PS é co-responsável, mas mantém-se imperturbável salvo raríssimas excepções: umas mais papistas que o papa, outras ousando questionar o líder. Ele fala, discursa, diz agora, desdiz logo, inventa, cria, mente. Quem (PSD) tentar vencê-lo aqui perderá.

Os opositores terão que escolher outras armas, outras formas. Uma delas é falar com determinação sempre a verdade, simples e clara. Evitar discursos pomposos, formais, bons para adormecer. A tentação das promessas, esperanças vãs, das luzes ao fundo do túnel terá que ser combatida e resistida, sem piedade.

(*) Que conceito!

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