27/11/11

Excessos de Pólen

Fiquei surpreendida por não ter visto/lido/ouvido nenhum comentário sobre a forma como foi iniciada a grande manifestação contra o governo egípcio na praça Tarhir. 


Vi na televisão a imagem de toda uma multidão – sem excepções – a participar nas orações. Não vi outros que não muçulmanos: não vi pessoas de pé que não se ajoelhassem em determinadas alturas da oração. A coreografia concertada (e a absoluta unanimidade) da oração numa manifestação política contra um governo militar, pró-democracia, e a favor de um governo civil, é arrepiante. Estranho é também o facto de não ter visto mulheres (ao contrário do que se passou nas manifestações de Maio) a tomarem parte nos protestos, e respectivas oraçães(!). As pretensões democráticas de tais manifestantes (e respectivas reivindicações) deixam muito a desejar, e são exactamente o que nós não gostamos em democracia.  Como não temer o pior? Querem que saia o governo militar para que ceda o lugar a um governo ‘civil’ religioso? 

Foi tão óbvia para mim a leitura desta manifestação, que me admira ela não ter sido objecto de mais discussão comentário e crítica. Pelos vistos a opinião pública ‘ocidental’ continua anestesiada com o excesso de pólen da ‘primavera árabe’. Tenho vontade de perguntar, num exercício meramente especulativo, se aqui em Portugal (por exemplo) alguém estranharia que uma manifestação política de protesto (como no dia da greve geral, por exemplo também) fosse iniciada com uma missa celebrada por um bispo de Lisboa. Eu, católica estranharia. Eu não o quereria. Mas isso digo eu, que para muitos parece ser normal iniciar manifestações políticas com orações.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com