O OE foi finalmente aprovado pelo Parlamento, para tranquilidade da maioria dos portugueses, (sim eles querem o OE aprovado) e depois do que considero ser um dos mais lamentáveis episódios (que durou dois meses e meio) políticos que o país já viveu. Ao Primeiro-ministro já não lhe sobra credibilidade nem política nem pessoal e ficou ainda mais à deriva quando lhe tiraram a propaganda de que ele e o seu governo sempre se alimentaram. Não poder anunciar TGV, Magalhães para todos, mais um hospital ou mais subsídios e ajudas, é porem em causa a sua essência política feita de plástico e néons. José Sócrates existe porque anuncia, porque vive da propaganda, da imagem. Hoje creio que sobram poucas dúvidas e poucos iludidos. José Sócrates é incapaz de um pensamento político a médio prazo (já nem falo a longo) coerente e que sirva a realidade do país e não a fantasia virtual em que ele escolhe acreditar para prejuízo de todos nós.
Passos Coelho, infinitamente melhor do que José Sócrates, note-se, não é também, e infelizmente, um líder partidário com solidez (e estofo) necessária para os desafios que o país tem pela sua frente hoje. Vive, como parece que agora se vive, da imagem, dos comunicados, das afirmações e ameaças, dos avanços e dos recuos. Também ele, criado num viveiro partidário, e relacionando-se com dois ou três pessoas iguais a ele, está um pouco distanciado do país real. Não fosse isso já teria percebido, ou já lhe teriam dito e feito perceber, que os portugueses estão fartos da política, dos políticos, dos movimentos, posicionamentos e jogadas políticas, que decididamente não servem os seus interesses nem os do país. Nunca a credibilidade dos políticos foi tão baixa, e nunca os políticos nos deram tão poucas razões para serem respeitados como agora.
Não sabem o que é a contenção, e nem a usam, preferindo as declarações à porta de seja onde for que estejam, ao ponto de nos saturarem e de não os querermos ouvir mais. Confundem perder uma troca de palavras com o uso da moderação. Enrolados em imagem e retórica (às vezes mais simples, outras mais subtil) esquecem a rectidão e o respeito pela palavra dada e pelo acordo livremente celebrado. É impossível não pensar em como Manuela Ferreira Leite tinha (
e tem) razão: o PSD tinha anunciado o seu desacordo em ralação ao OE, mas também a sua viabilização por motivos de interesse nacional. Imagine-se o que isso não nos teria poupado de psicodrama político, de casos feitos de nada, de constantes medições de força, de propaganda. Mas os deuses assim não quiseram e, para nosso prejuízo, quem do exterior olha para Portugal não está impressionado com o que vê. Bem pelo contrário como
hoje ficou demonstrado em mais uma emissão da dívida. Que não haja ilusões, ainda não se descobriu melhor mecanismo do que o mercado em funcionamento para avaliação de risco. De pouco adianta aprovar o orçamento se os sinais (as omnipresentes e abundantes declarações), nomeadamente os discurso no Parlamento revelam algo de esquizofrenia
(ver o de Aguiar Branco ontem). Ainda o OE está quente a ser votado no Parlamento e a propaganda já começa. Como se não bastassem os maus dias de esforço e maior pobreza que nos esperam, maus tempos políticos se avizinham também. Populismo, demagogia, propaganda a rodos. Ninguém será contido, e tudo se espera de José Sócrates. Haja muita paciência e capacidade para manter a cabeça bem fria e sempre no lugar. Amén.