27/10/11

Para Que Serve um Telefone Fixo Hoje

Hoje ouvia na rua um senhor dizer que agora todos querem vender, mas ninguém quer comprar. Não me lembro de sentir tanto isso como agora, e o meu telefone fixo é a prova dessa ânsia de venda. Todos os dias recebo emails promocionais de fabulosas ofertas, ou sms publicitando uns descontos imperdíveis de dois dia para os melhores e mais fieis clientes (!). De repente percebi que, para alem das lojas onde vou habitualmente, sou também fiel e boa cliente de lojas onde não vou há quatro ou cinco anos, ou onde há sete ou oito terei deixado um contacto numa ida esporádica. Recuperam-se fichas, farejam-se os registos, tudo para a custos mínimos aliciar possíveis clientes. Mas emails e sms não são o pior.

O pior mesmo são os telefonemas para o telefone fixo, que parece hoje ver cada vez mais esvaziada a sua função de meio de comunicação. Hoje é quase só um veículo promoção usado “contra” mim. Para alem de algumas pessoas de família mais velhas quase ninguém usa o telefone fixo para ‘falar’ ou ‘conversar’. No entanto não passa um dia sem que eu receba um ou mais telefonemas, a venderem seja o que for. Vendem férias, segurança, serviços de limpeza, cartões de crédito, crédito pré-aprovado (sim, há quem venda crédito), seguros, novas e fabulosas tarifas telefónicas, tarifas combinadas para tv, telefone fixo, telefone móvel e internet, sessões de maquilhagem com oferta de um produto por cada dois que se comprem, etc. Considero uma invasão e falta de respeito que empresas com que nunca lidei telefonem para casa ao final do dia a venderem os seus produtos ou serviços. Dantes, depois das “apresentações” e depois de ouvir o(a) interlocutor tratar-me por senhora seguido do meu primeiro nome, (os mais sofisticados tratavam-me por senhora seguido do primeiro e último nome) explicava que considerava esse telefonema abusivo, perguntava como tinham encontrado o meu número, acabando por demorar algum tempo neste dialogo. Isso acabou rápido, agora sou mais radical: mal ouço “boa noite, está a falar com ... da empresa...” corto logo a conversa, agradeço, digo que não tenho tempo e que não preciso de nada, não quero conhecer nada, e sobretudo não quero comprar nada. E no mesmo sopro desejo uma boa noite e desligo. Muito eficaz.

Há finalmente outro tipo de telefonemas que, no entanto, se vêm fazendo mais raros: os estudos de mercado ou os de opinião. Para esses tento encontrar paciência e tempo para responder, porque às vezes são longos e chatos, sobretudo aqueles em que, marca a marca (de detergente, de espaço comercial, de meio de comunicação social, etc) nos perguntam o nosso grau de conhecimento da dita. Tenho sorte quando não caibo na categoria etária (ou de género): querem um homem dos 18 aos 25, por exemplo. Às vezes tenho azar, e o telefonema prolonga-se, como quando me telefonou uma senhora solícita de sotaque brasileiro que, feliz e encantada da vida, me diz estar naquele momento a começar a trabalhar nessa função e que eu sou o seu primeiro telefonema. A solícita senhora achou por bem comentar cada resposta minha, partilhando a sua experiência também. Foi algo surreal, mas diverti-me tal era o seu entusiasmo e nem tive coragem de lhe dizer que não se comenta e muito menos se conversa: a sua função é registar, passar rapidamente à pergunta seguinte para fazer o máximo de chamadas, mas ao fim de três ou quatro telefonemas ela vai perceber isso.

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