14/12/11

Habemus Papam



Nanni Moretti faz um filme delicioso, cheio de humor e com um olhar terno sobre as personagens e situações inesperadas. Podíamos falar da solidão do poder, do medo, da insegurança face às responsabilidades, e neste aspecto meramente humano a narrativa flui sem sobressaltos numa boa realização, com boa fotografia e com a ajuda de Michel Piccoli. Mas (claro que tinha que vir um ‘mas’) fiquei um pouco desiludida. A esta visão ‘humana’, chamemos assim à dimensão psicológica explorada no filme, falta-lhe a visão institucional, para não falar da dimensão da fé. Um Papa (seja ele qual for) não é apenas um homem só, com inseguranças, medos, etc. Um Papa é um Papa: um homem de fé, que no momento em que aceita a sua eleição pontífica, carrega irremediavelmente consigo uma responsabilidade para com a Igreja (instituição e fieis) à qual nenhum ‘estado de alma’ o faz afastar-se. Como o filme mostra, num dos seus melhores momentos, hoje muitos dos eleitos nunca desejaram o cargo, mas aceitam-no. (É, por exemplo, o que consta ser o caso de Bento XVI) A Igreja, enquanto instituição e sendo o Papa a cabeça dessa instituição, não se permite nem conhece os ‘estados de alma’ que servem de ponto de partida da narrativa. Esta dimensão ‘institucional’ que falta ao filme impede-o de ser um bom filme: assim não é mais do que um simpático mas muito superficial exercício especulativo. 

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