Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
30/11/07
Trivialidade
De vez em quando, coisas que leio, ouço ou vejo, ficam teimosamente na parte da frente da memória, como se se recusassem a ser devidamente encaixotadas, arquivadas e rumar aos fundos mais escuros e silenciosos. Não falo dos momentos significativos da vida, falo de coisas pequenas, triviais insignificantes, que adquirem, sem me dar conta disso, um valor simbólico qualquer ou representam um padrão qualquer, que me incomoda e que não me deixa esquecer o assunto em causa. Desta vez foi uma frase que Miguel Sousa Tavares proferiu na entrevista que deu à SICN, terça feira à noite. Quando questionava, com toda a legimitidade, a decisão do Público de encomendar a leitura do seu livro a Vasco Pulido Valente e das motivações dessa mesma decisão que resultou em três páginas, com fotografias e tudo, disse em tom à parte, “... porque o Público já não é um jornal de referência há muito tempo...”.
Primeiro: MST decidiu, com base em critérios que não explicou, que o Público já não era um jornal de referência há muito, direito seu, mas, será que deixou de o ser quando ele (MST) deixou de lá escrever a sua crónica às sextas-feiras? Também não disse qual era, segundo os seus critérios não explicados, o jornal de referência agora. Foi pena porque até teve oportunidade de o fazer. Será o Expresso?
Segundo: Fez a afirmação de uma forma que parecia estarmos perante uma verdade universal, um dogma e como se o facto de hoje ser remunerado pelo Expresso em vez de o ser pelo Público em nada pudesse influenciar o seu juízo. E como se nós, seus ouvintes, também nunca pensássemos nessa possibilidade esquecendo convenientemente a origem da sua remuneração no seu juízo sobre “o” jornal de referência nos dias de hoje.
Terceiro: Lembro-me, como tantas outras pessoas que hão-de lembrar ainda melhor do que eu, de quando ele saiu da SIC, depois de fazer alguns programas com sucesso (Flash-back, por exemplo) e do que dizia da SIC (e por extensão do grupo) nessa altura. Também me lembro do último artigo que escreveu no Público antes de ir para o Expresso e nunca lá vi referido como justificação para a sua saída o facto de achar que o jornal perdia qualidade.
Claro que isto é tudo uma trivialidade sem importância alguma. A importância é a memória ser tão curta e de tão fácil esquecimento. Importante é o facto das verdades universais mudarem com a rapidez com que muda o vento. Importante é pensarem que todos pensamos igual, importante é assumirem (e MST é apenas o pretexto hoje) que não temos memória, importante é sistematicamente e em que circunstâncias forem tomarem-nos tão facilmente por parvos. Se calhar somos, ou deixamos que pensem que somos.
29/11/07
Três pequenos instantâneos da “nossa” política internacional.
O sempre diligente, atento e obrigado Primeiro-ministro conseguiu uma proeza: Coube a José Sócrates a declaração explícita exigida pela China. Lembrando a "posição tradicional da União Europeia, que continua a reconhecer a política de uma só China"... Só lembrar que na mesa negocial estava também a exigência feita pela China para que a União Europeia condenasse de forma explícita o referendo em Taiwan sobre a adesão às Nações Unidas, o que acabou por conseguir.
De repente não me lembro da posição da UE em relação ao Kosovo... Terá uma? Dois pesos e duas medidas (o da China e o do Kosovo, I mean).
O discreto Ministro Luis Amado sobre o menos discreto Mugabe: “preferia que não estivesse presente”, mas “tem todo o direito de vir”, “já se sabia há muito tempo. Ele tinha dito que vinha”. Gatos Fedorentos, andam por aí?
Um instantâneo da política internacional:
Uma professora britânica condenada por ter posto o nome de Mohamed a um peluche. A onda de indignação é ainda menor do que a que houve quando Kasparov foi preso.
Moral das histórias: Mugabe é livre de ir e vir. A professora que pôs um nome proibido a um peluche, não está livre. Os líderes Chineses são livres de impor agendas. Os habitantes de Taiwan não são livres de decidir do seu futuro, UE dixit. Quanto ao Kosovo... já nem sei que diga.
28/11/07
A corrente da 5ª frase da página 161 do livro que estiver mais à mão, bate outra vez à porta deste blogue. Desta vez a simpática lembrança vem daqui.
Como todos os outros, adivinhei imediatamente quem eras!
Orhan Pamuk, Os Jardins da Memória.
27/11/07
Rio das Flores 2
Não me pronuncio sobre o rigor histórico, que para mim em última análise é irrelevante, e as quase quinze páginas de bibliografia não impressionam. O que não é irrelevante é o tom com que essa História nos é dada ao longo do romance. Longas e demasiadas explicações num tom por vezes doutrinal que não escondem um um propósito pedagógico qualquer e que trata o leitor de uma forma paternalista como se fossemos uns ignorantes a precisar de ser ensinados, o que torna enfadonhos esses longos momentos e resultam numa dispersão da atenção do leitor que não consegue deixar de pensar que está numa série de múltiplas sessões de esclarecimento. Há uma sensação que ultrapassa a familiaridade e é mesmo de déjà vu nas conversas políticas entre personagens, com um sabor demasiado actual (em sentido histórico), o sabor que está ancorado nos anos 70 - um exemplo é o diálogo sobre pintura e comunistas que começa na página 235, e que soa estranho saindo da boca das personagens nas primeiras décadas do século passado. Grande parte das passagens históricas maçaram-me, considerei-as pouco esclarecedoras do ponto de vista histórico e excessivas do ponto de vista literário, e dei por mim a saltar parágrafos, nomeadamente nas intermináveis páginas sobre política brasileira dos anos 20 e 30.
Creio que este exagero em mostrar trabalho histórico esconde alguma falta de esforço e exigência literários nomeadamente ao nível das personagens que são poucas e pobres e que por isso dão pouca vida ao ambiente social em que se mexem. O romance, é pouco romance, tem pouca consistência, e é pouco abrangente. No fundo, e em termos literários, estamos perante uma novela com grandes explicações históricas pelo meio, que um objecto bem diferente de um romance histórico. Este é talvez o ponto mais fraco do romance e o equívoco do autor.
As personagens, como já referi, são poucas, pobres e bidimensionais, sem profundidade nem densidade suficiente para carregarem aos seus ombros o “fardo” de uma saga familiar e social. Valmonte, como personagem, parece mais forte do que quem a habita. Diogo é uma fraca personagem principal de quem se aprende a não gostar e que, com o desenrolar do enredo, vai desencantando. Rapidamente desenvolvemos alguma indiferença em relação a ela, ao seu tédio, aos seus anseios de liberdade, à sua inconstância. Nunca nos marca, nunca nos apercebemos nem vivemos a intensidade dos seus dilemas, do peso das suas opções. Há hiatos temporais em momentos decisivos da narrativa e da evolução das personagens, sobretudo nas três personagens principais: a decisão final, ou a inevitabilidade do Brasil para Diogo, o sofrimento de Pedro, quer depois de Angelina quer quando fica ferido, a solidão de Amparo, e a sua opção pelo local e não pela pessoa. Pedro, talvez porque mais simples, menos exposto e menos dado a inconstâncias e insatisfações, é um pouco mais trabalhado e parece ter outra profundidade que Diogo não tem, bem como parece, desde cedo, ter a marca da inevitabilidade do seu destino: a terra, Valmonte e Portugal. Amparo e Maria da Glória são dois bons projectos de personagens, duas promessas mas ficam por aí. MST parece ter um problema com as personagens femininas (tal como em Equador) e nunca lhes faz justiça: começa com um bom esboço, mas acaba num estereótipo. Amparo, pelo menos merecia melhor. As personagens, e muito especialmente as femininas, são outro dos pontos fracos do romance. A história da família evolui de uma forma que vai sendo previsível.
26/11/07
Rio das Flores 1
Apesar da receita mágica – já tão glosada pelos críticos - de exotismo e sexo, infalível a seduzir os leitores no seu anterior romance, Equador, creio que este (Equador) tem uma certa frescura e alguma inocência (por ser um primeiro romance?), lê-se de um fôlego só, e de ficamos presos ao desenrolar do enredo ou ao ambiente húmido de S. Tomé, esquecendo alguma banalidade estilística e previsibilidade, entretidos que estamos na espiral da narrativa. Isto é um mérito em Portugal onde normalmente - porque há excepções, se contam mal histórias. Rio das Flores é mais ambicioso, mais elaborado, mais presumido, mais premeditado, mais intencional, elevando a fasquia. Nas primeiras páginas nota-se logo esta característica, o que mais facilmente expõe o livro ao desapontamento de um leitor um pouco mais exigente.
Fica-me a sensação de um romance híbrido que não é nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário. Não é suficientemente leve nem tem um enredo simples e básico para se ler como um romance “light”, nem é suficientemente estruturado e sério para ser um romance histórico, nem tão pouco é cuidado, sólido e elaborado, nomeadamente a nível das personagens e consequentemente no retrato da sociedade para ser considerado um bom romance familiar na boa tradição literária. MST foi demasiado ambicioso: apostou em todas as frentes, levou-se demasiado a sério enquanto romancista histórico, e o resultado não é tão brilhante como gostaria, diria até que mais baço do que o seu romance anterior.
Operação Natal em Segurança antecipada devido a acidentes recentes. Gostaria de acreditar na bondade desta decisão e no facto de que a perspectiva do aumento de multas/verbas em nada terá influenciado o decisor.
25/11/07
Eu e a Blogosfera
24/11/07
Eu e o Blogue
Já faço este blogue há 14 meses, percebi isso recentemente. Têm sido meses interessantes e gosto muito de o fazer, mesmo quando o percebo diferente do que pensava que poderia ser ou do que sonhei que seria, mas cada dia, cada texto, cada imagem vão-se fazendo e construindo assim o blogue. Quando o decidi fazer, gostei da ideia de ter uma página virtual em branco e nas possibilidades de a encher componho assim uma espécie de recolha/diário em que registo desabafos, ideias, livros que leio, filmes que vejo, locais que visito, pinturas e imagens de que gosto e que muitas vezes mais não são do que evocações ou nostalgias. Nada é obrigatório, mas é uma teia que se vai tecendo e uma das coisas que mais gosto no blogue é o facto de ser meu e de depender unicamente da minha vontade e inspiração. A agenda, a escolha de imagens, os temas, as reflexões e desabafos sou eu que os decido e determino. Claro que muitas vezes me apetece opinar sobre um ou outro tema mais actual, mas não o faço porque já alguém, nomeadamente na blogosfera, já o fez muito melhor do que eu, ou com mais sapiência do que eu. Por isso eu posso afirmar que faço o blogue sobretudo para mim, ou pelo menos para meu prazer e minha satisfação de uma forma discreta e tranquila e que fico verdadeiramente admirada por saber que há quem me leia e sinto-me honrada por isso. Não deixo, no entanto, que algum tipo de receio de “desiludir” seja que leitor for, me impeça de trilhar o meu caminho ao fazer o blogue. Parece-me que este é o encanto, ou desencanto, dos blogues individuais.
Uns meses mais do que outros, umas semanas mais do que as outras, mas há quem visite o blogue atrás de uma imagem, de um tema, ou mesmo porque quer ler e ver o que aqui se faz. Agradeço a todos os que por aqui passam e espero que se sintam bem vindos, nomeadamente os visitantes do Brasil que são uma parte importante das visitas. E para além da maioria de leitores anónimos que visita o blogue não posso, nem quero, deixar de mencionar os blogues que desde o primeiro momento fizeram referência ao HH e que se mantêm visitantes: Quase em Português e Espumandamente que, nem sei como, descobriram este blogue mesmo no início e fizeram de mim leitora dos seus blogues. Posteriormente, Do Portugal Profundo, Blasfémias, O Andarilho, Holocausto-Shoa, Portugal dos Pequeninos, Origem das Espécies, Corta-Fitas e 31 Da Armada, também se referiram ou linkaram o HH. Não sei se mais algum blogue o fez, se sim, as minhas desculpas pelo esquecimento ou por não ter reparado. Mais uma vez: sinto-me honrada pela atenção. O Hole Horror continuará a ser feito, um dia atrás do outro.
23/11/07
21/11/07
Os Livros Errados
Seja para onde for que eu vá levo sempre um livro comigo. A ideia de ter que esperar e ficar a olhar para o nada, ou ter que ler revistas já demasiado lidas, remexidas e desactualizadas, ou de ter que fazer de conta que não olho para ninguém, mesmo depois de ter contado os botões do casaco da senhora do lado esquerdo e de ter fixado o padrão da gravata do senhor em frente, é demasiado incómoda, muito mais do que carregar com um livro. Como não tenho paciência para os forrar (e para quê, se não os sujo?) quem estiver perto de mim pode sempre saber o que leio. Nunca ninguém se impressionou com o que leio, nunca fui abordada por causa do livro em mãos e nunca ele foi ponto de partida para inesperadas, interessantes e profundas conversas, nem para descobertas de almas gémeas que de outra forma andariam perdidas, ou de grandes e inevitáveis amores, nem tão pouco de mais prosaicas e sólidas amizades. Ler e ter um livro na mão tem sido ao longo dos anos algo de solitário e mesmo privado e que nunca despertou a curiosidade de ninguém. Lembro-me apenas de uma vez, numa consulta médica ter sido simpaticamente interpelada pelo médico que viu o livro e autor, lembro a ocasião, mas não lembro nem o autor nem o título da obra. Seria cortesia seria genuino não sei. Também me lembro de, por duas vezes creio, ao verem um livro nas minhas mãos me perguntarem se tinha lido o Código da Vinci. Não, esse não li, dizia eu terminando assim de forma demasiado abrupta a conversa como se fosse pecado não o ter lido, como se, pelo mero facto de ter um livro na mão, se pudesse inferir que teria lido o Código da Vinci.
20/11/07
18/11/07
Slow Man 4
When did you last go for a walk under the starry sky? You have lost a leg, I know, and ambulating is no fun; but after a certain age we have all lost a leg, more or less. Your missing leg is just a sign or symbol or symptom, I can never remember which is which, of growing old, old and uninteresting. So what is the point of complaining? Hark!
J. M. Coetzee, Slow Man
17/11/07
Concretizar
O Frio
Gosto das estações do ano: gosto do calor do verão e do frio do inverno. Gosto da natureza que muda com as estações, por isso é com alegria que digo: o tempo mudou, entramos finalmente no tempo frio. Posso largar a roupa de verão que já tinha utilizado em abundância, com todas as cambiantes possíveis e que a minha imaginação permitisse, e posso enfim pôr de lado aquelas a que se chamam meia-estação e que nunca sei muito bem o que fazer com elas porque nunca estão na medida certa: com elas acabamos sempre ou com calor ou com frio; nunca se acerta. Também já sentia falta de nuvens que dessem textura ao céu, ao rio e ao mar e que renovasse a paleta de cores que teimosamente não nos largava desde Julho. O excesso de luz, sol, e céu azul por muito que deslumbrasse já me cansava. E quero chuva para limpar o ar, para o humedecer um pouco.
15/11/07
Slow Man 3
Perhaps it is not requital of love that you are after. Or perhaps your request for love disguises a quest for something quite different. How much love does someone like you need (…) objectively speaking? (…) None. None at all. We do not need love, old people like us. What we need is care: someone to hold our hand now and then when we get trembly (…). Care is not love. Care is a service that any nurse worth her salt can provide, as long as we don’t ask her for more.’
The years go by as quickly as a wink. So enjoy yourself while you are still in the pink. It’s always later than you think.
J. M. Coetzee, Slow Man
14/11/07
PSD Profundo: uma dúvida
Na recente disputa da liderança do PSD alguns dos vocábulos mais usados eram populismo, elitismo, bases do partido e “PSD Profundo”. Dividiu-se o partido em dois campos: o campo que ganhou de Luis Filipe Menezes, populista e do "PSD Profundo", e o campo perdedor de Marques Mendes, que entretanto saiu de cena (e bem) deixando o campo opositor, elitista (e sulista) com outros rostos que nós já conhecemos, entre os quais destaco Rui Rio por ser um clássico opositor de Menezes. Desde que o conceito de “PSD Profundo” faz parte do discurso partidário actual que eu me pergunto exactamente o que é que isso quer dizer. Excluo o PSD “não profundo”, isto é, aquele que é visível aos não PSDs. Hoje segui aqui e aqui uma troca de ideias que originou esta reflexão. Não sou militante de nenhum partido, e se a vida política e o governo do país me interessam, a vida partidária deixa-me razoavelmente indiferente, por isso desde já confesso a minha ignorância sobre ela. Mas como eu, haverá muitos portugueses que na hora de votar, no partido A ou B, não hesitam e que no entanto nunca atravessaram qualquer sede de partido, nunca foram a nenhum comício, nem a qualquer sessão de esclarecimento. Talvez parte da minha ignorância seja decorrente de uma natural desconfiança por “estruturas”, que se formam e que se mantêm para exercício do poder e influência de forma pouco visível e escrutinada. (Este tema poderia ser objecto de um outro texto, quem sabe um dia?).
Assim, eu pergunto-me qual é esse rosto do "PSD Profundo" de que tanto se fala? (poderia ser o PS Profundo, mas como a actualidade aponta na direcção do PSD tomo-o como exemplo). São os cidadãos anónimos e eleitores que nas eleições nacionais dão maiorias governativas – a Cavaco Silva e agora a José Sócrates, e que elegem os Presidentes de Câmaras? São gentes absolutamente desconhecidas desses mesmos eleitores sem partido, que com inicial entusiasmo se dedicaram ao trabalho partidário e à luta política, que sem se darem conta investiram nisso a sua vida e que passados anos trabalham e se esgrimem com afã para manterem a sua influência, ou o que resta dela, e o seu poder no único mundo que conhecem? Presumo que naquilo a que se chama influência e poder local e autárquico. Ou será o “PSD Profundo” uma imagem de um Portugal Profundo? Daquele feito de consumismo, reality shows, fins de semana e pontes de chinelo no pé, marisqueiras, peregrinações e debates sobre Madeleine McCann, que raramente está satisfeito com o que quer que seja, mas que raramente questiona e se questiona, ou é verdadeiramente subversivo (piercings, palavrões são normalidade). Qualquer uma das hipóteses (que por serem por mim colocadas – e por isso susceptíveis de padecerem de preconceito) me parece má, mas eu tento perceber melhor o que poderá ser esse “PSD Profundo” que parece ser tão decisivo e importante para Portugal por determinar os destinos do principal partido da oposição, e não consigo. Por falha e ignorância minha, admito, mas haverá uma outra imagem do “PSD Profundo” que nós, cidadãos e eleitores sem filiação partidária nem participação política activa, desconheçamos?
13/11/07
Slow Man 2
J. M. Coetzee, Slow Man
Slow Man
He is not the first person in the world to suffer an unpleasant accident, not the first old man to find himself in hospital with well-intentioned but ultimately indifferent young people going through the motions of caring for him. A leg gone: what is losing a leg, in the larger perspective? In the larger perspective, losing a leg is no more than a rehearsal for losing everything. Whom is he going to shout at when that day arrives? Whom is he going to blame?
J. M. Coetzee, Slow Man
12/11/07
Puxão de Orelhas
Noto que há uma estranha unanimidade apoiando e concordando com o Papa Bento XVI no seu “puxão de orelhas” aos Bispos Portugueses em Roma na visita Ad Limina. Televisões, jornais, todos noticiam com gáudio mal disfarçado o dito “puxão de orelhas”. De repente parece que o país acorda para a excessiva clericalização da Igreja Portuguesa e depressa se aponta o dedo à hierarquia. Não sou excepção e também o aponto, e aponto em várias outras matérias igualmente relevantes que são sistematicamente esquecidas, mas aponto o dedo sobretudo aos tantos católicos portugueses de todas as faixas da sociedade e de todas as idades, que contribuem para essa excessiva clericalização da Igreja quer pela passividade, quer pela falta de exigência consigo próprios e com o clero. Não dispensam o “Sr. Padre A” ou o “Sr. Padre B” para abençoar qualquer decisão moral que tomem, qualquer evento em que participem, qualquer opção significativa para a vida. A figura do “Sr, Padre”, sem nenhum desmerecimento para os Senhores Padres, é ainda hoje no meio católico (mas não só) excessivamente reverencial, algo distante e tantas vezes incontestada. Dou um exemplo que pode parecer irrelevante, mas que ilustra essa distância entre o “clero” e os leigos: por essa europa fora os católicos tratam os padres com que trabalham e/ou convivem pelos nomes próprios; aqui em Portugal – e creio que não me engano – essa é uma situação raríssima. O Padre trata quer pelo nome próprio quer por tu o católico com quem tem maior proximidade, o caso inverso rarisssimamente se aplica. Só o “Sr Doutor” (o médico especialista note-se) ainda tem em Portugal igual grau de reverencialidade, de autoridade e infalibilidade. Se a Igreja em Portugal tem de ser menos clerical cabe também aos leigos portugueses fazê-la mais “sua” e menos “dos padres”. Cabe também aos leigos exigir mais e melhor qualidade nomeadamente do clero. Provavelmente voltarei a este assunto.
11/11/07
Witness
10/11/07
Apeteceu-me
Depois encontrei esta maravilha que vale a pena espreitar: Arturo Toscanini no youtube.
“Porque não te calas?” (diz o Rei de Espanha a Hugo Chavez) é uma frase que veria de bom grado aplicar-se a um vasto número de personalidades, entre elas políticos, mas não só. Não é um convite a que a pessoa se cale, é uma forma de dizer que já não há pachorra para a ouvir, que nada do que diz é interessante, honesto, íntegro ou de boa fé, faz sentido, ou de alguma forma nos estimula, nos ensina e é útil para a sociedade. As horas que se perdem com palavras inúteis, ocas, ofensivas, políticamente correctas e em discursos redondos em que o orador fala para se ouvir a si próprio e que por fim são inevitavelmente aplaudidas é um dos paradoxos (flagelos) actuais. Cimeiras, Forums, Reuniões, Assembleias em que todos falam muito e muito. Uns nada dizem, outros era melhor que nada dissessem, e só uma minoria é digna de ser ouvida com atenção.
08/11/07
07/11/07
Don't cry for me...
06/11/07
04/11/07
Tríade
Percebi pela silhueta frágil de leggings, túnica azul berrante e sapatos altos que não era uma mulher nova e pareceu-me que teria idade mais do que suficiente para exercer algum discernimento estético, coisa que não parecia fazer. Quando se virou, vi-lhe a cara e confirmei a minha suspeita. E notei algo estranho: um pormenor, coisa pouca mas suficiente para desequilibrar a harmonia de um rosto. Olhei com atenção e com o que tentei que fosse educada descrição, e percebi do que se tratava. O espaço que medeia a base do nariz e o lábio superior estava inchado, perdendo-se aquele desenho de uma covinha mesmo a meio e por cima do lábio superior. Tudo estava cheio e gordo, era uma protuberância que projectava o lábio superior, também ele um pouco inchado, de forma a lembrar um bico de pato. Dois dias mais tarde, ao abrir o Ípsilon, suplemento do Público vi na página 2 e 3, a propósito do lançamento de uma biografia não autorizada, uma fotografia da cara de Catherine Deneuve e notei que também ela tinha a parte superior do lábio de cima anormalmente inchado e também a lembrar um bico de pato. Não é a primeira vez que em fotografias de revistas cor-de-rosa se vêem protuberâncias a lembrar possíveis bicos de pato ou lábios anormalmente inchados, mas desta vez fiquei deveras intrigada a tentar perceber porque é que, segundo alguma norma estética que me escapa, um projecto de bico de pato é mais belo e desejável do que um lábio fino, mas com contornos definidos e expressão. Lábios como os da Angelina Jolie ou Scarlett Johansson não são muito vulgares e tê-los como modelo de referência torna a vida complicada a quem não os têm, e dificilmente algum dia terá, e a quem teve, mas já não tanto.
Do NarizOntem, enquanto zapava em frente à televisão vi um programa na SIC Mulher que se chamava Swan: uma coisa kitsch em que se transformavam em “cisnes” (haja bom gosto) mulheres que se consideravam feias. Parece que se tratava de um concurso – não percebi se era um reality show ou não – e tinha um ar mais pastoso e xaroposo do que outros semelhantes como o Extreme Makeover, por exemplo. A curiosidade venceu e vi durante uns minutos o dito programa: uma rapariga com excesso de peso e que nunca se sentiu bonita é transformada numa “bomba” sexy num espaço de três meses: fez dieta (excelente), exercício (melhor ainda), e pelo menos uma operação plástica. Trocou um nariz grande e que poderia parecer feio, mas que estava longe de ser um desastre, por um nariz de desenho animado, verdadeiramente artificial e ridículo na sua perfeição que parecia tirado de um mau catálogo de princesas Disney. O outro nariz, o original, não sendo de uma beleza evidente era o nariz dela: tinha carácter era diferente dos outros e sobretudo não era ridículo. A concorrente parecia emocionada e excitada com a sua transformação, mas nunca pareceu feliz, e eu pergunto-me como é que uma pessoa que sempre se sentiu feia e pouco feliz consigo, que se vestia de forma casual e sem gosto, de repente vive vendo-se na pele de uma bomba sexy, com curvas, com extensões no cabelo, nariz novo, mas com o “velho” namorado obeso e a “velha” família obesa que não foi concorrente do “Swan”. O que é que no futuro prevalecerá: a rapariga de mal consigo, sem graça mas igual a si própria, ou a nova bomba sexy banal e igual a tantas outras?
Da Perplexidade
Não sou puritana em questões estéticas e acredito que cada um pode e/ou deve fazer o que realmente o(a) faz sentir-se bem e bonito(a) seja recorrendo à cosmética, à dermatologia, à cirurgia estética ou plástica. Não faltam recursos para nos sentimos melhor e mais belos(as). O que não entendo realmente são os critérios e as normas que regem as intervenções que as pessoas fazem, o que não entendo são os padrões que definem o que é a beleza e porque é que deve ser aceite e procurada: bicos de pato em vez de lábios finos, narizes confrangedoramente direitos em vez de um nariz com carácter. Banalidade em vez de personalidade e individualidade. O que não entendo é a forma como surgem esses critérios, normas, padrões e com base em que valores e parâmetros estéticos é que se definem, ou será uma questão de facilidade e optimização de retorno financeiro para os prestadores desses serviços (esteticistas, médicos dermatologistas ou cirurgiões)? O que é que se insinua no tecido social? Estaremos todos condenados, num futuro cada vez menos longínquo, a ter bicos de pato e narizes banais?
03/11/07
01/11/07
Trabalho de Grupo 3
Finalmente o trabalho é apresentado e chaga a hora de avaliar. Todos os trabalhos são bons, claro que há sempre uns melhores do que outros, mas tanto quanto sei, nunca vi nenhum ser excluído por não ter sido feito em grupo, por ter deficiente pesquisa, por não ser mais do que um copy/paste desconexo de páginas da internet de origem duvidosa. Há sempre uns professores que alertam para o facto de na internet se encontrar de tudo e da necessidade de verificarem as fontes e e a autoridade de quem escreve, mas a informação está demasiado acessível e fácil para que se perca tempo a pensar e analisar. E, como não me canso de regerir, pensar e apurar o sentido crítico é algo que a escola não promove (uma rápida vista de olhos nos manuais de Ciências ou de Geografia esclarece os que tenham dúvidas).
A seguir este e este posts de Pedro Correia, ou como o “Porreiro, pá!” parece tomar conta de Lisboa: primeiro o seu Tratado, e agora uma “histórica” Cimeira UE- África. Não sei nada sobre História Diplomática, mas sei o suficiente sobre direitos humanos, vergonha na cara, “Porreiro, pá !”, ambição e honradez para dizer que estes senhores não são bem vindos a minha casa.
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