26/06/12

Dias de Verão 24

Pierre Bonnard
The Terrace at Vernonnet

Euro 2012


As ‘entrevistas de rua’ são uma das pragas dos nossos noticiários televisivos. A ideia de ir para a rua perguntar a quem passa se concorda com isto ou aquilo, o que pensa desta ou daquela proposto de lei, data, pessoa, acontecimento, ou o que acha que vai acontecer depois disto ou daquilo, é de uma falta de interesse ou relevância ímpar, por mais interessantes ou relevantes as questões em causa. Confunde-me o tempo (e recursos) que se desbaratam a perguntar às pessoas ou que elas não sabem responder, ou que já tem uma resposta previsível, ou o óbvio, normalmente o óbvio, sempre muito óbvio. Mais uma vez confirmei o que acabo de escrever neste fim-de-semana passado quando, por exemplo, vejo a Rosa Veloso (correspondente da RTP em Espanha) a perguntar aos madrilenos adeptos do Real Madrid se querem que Cristiano Ronaldo marque golos no jogo da próxima quarta-feira entre Portugal e Espanha. Ela profissional esforçada, consegue ir a ‘outro nível’: não pergunta ao madrileno comum se quer que a Espanha ganhe a Portugal no jogo, nada disso. Indo ‘mais além’ no que ela pensa poder ser alguma hesitação entre lealdades, faz a rebuscada pergunta introduzindo os obstáculos Real Madrid, Cristiano Ronaldo, Pepe. Uf! Que esforço fez... Mas em vão, cara Rosa Veloso, porque por muitas distracções que imagine e verbalize na sua pergunta, por muito que se esforce a tentar uma hesitação, por muitas pessoas diferentes que entreviste, o essencial não muda. Os espanhóis continuam a querer que a Espanha ganhe, os Portugueses que Portugal ganhe, os Alemães que a Alemanha ganhe e os Italianos que Itália ganhe. Quem diria!

19/06/12

Crónica Feminina 12


Parole, Parole, Parole... 2

Impossível resistir a este pequeno tesouro europeu:

Parole, parole, parole, parole, soltanto parole, parole tra noi.
(Aqui)
(o melhor vem no fim. A paciência será recompensada)

Parole, Parole, Parole...

Admiro a coragem do Mr. Barroso (‘europeês’ para Durão Barroso), ao falar da forma frontal e assertiva com que falou em nome da União Europeia na Cimeira G20. Não por ter sido frontal e assertivo note-se, mas por, numa altura em que sentimos o ranger das fracturas que atravessam a UE, ousar um discurso a uma só voz (a da UE/Eurozona): um atrevimento. Sabe bem por uns minutos pensar que a União Europeia, e sobretudo a Eurozona, consegue ser hoje algo mais do que uma abstracção na cabeça dos seus líderes políticos e cidadãos. Mr Barroso, perante um ‘inimigo comum’ (os restantes G20s) que isolou bem, e a quem desferiu algumas farpas, saiu em defesa das democracias, das estratégias e dos timings europeus, aproveitando o que resta desse sentimento ‘europeísta’ ainda partilhado por muitos. Como ele bem sabe, foi bom enquanto durou; no entanto no fim do dia, ou da cimeira, pouco sobrará desse discurso.

15/06/12

Pescar Salmão



Depois de um filme pesado, (no sentido de indigesto, e não no sentido de profundo), monocromático, e em que os excessos de caracterização das personagens (porque não arranjam actores mais velhos?) se impõem a tudo o resto, soube-me bem ir pescar salmão no Iémen, um filme que se revelou melhor do que previa, em oposição ao J.Edgar, de Clint Eastwood que me aborreceu seriamente. Devem-se contar nos dedos das mãos os filmes de Clint Eastwood de que não gostei, e este é um deles. 

Salmon Fishing in the Yemen está longe de ser um grande filme, nem será sequer a comedia do ano, mas não me decepcionou e gostei da forma como todo ele está pontuado por várias camadas de ironia. Kristin Scott Thomas, uma actriz que nunca desilude, dá corpo a uma assessora de imprensa do primeiro-ministro, muito esforçada, muito eficiente, muito actual - uma verdadeira perita na manipulação dos media: cria os acontecimentos, fabrica imagens e só pensa em termos do que é que o primeiro-ministro precisa para as primeira páginas dos jornais: uns dias que falem dele, outros que não falem dele. Nada que não conheçamos, mas sempre divertido de ver. Deparamo-nos também com a nostalgia de um (o?) império e do colonizador, com o privilégio e a abundância dos recursos que cabe à personagem que, fosse a História um fluir simples, unidimensional e sem desvios e a Política uma ciência binomial, deveria sentir os males do (ex)colonizado. Ewan McGregor (com o seu irresistível sotaque escocês) é a personagem que, tendo bebido da cultura ‘do império’ e tendo uma formação académica superior, não é mais do que o retrato de hoje de uma classe-média desiludida e desinspirada em sem ‘graça’. Ele vive acomodado num presente feito de rotina e em que o cepticismo é refúgio. Ao longo do filme esta personagem desajeitada, nunca deixa de nos cativar. 

Mas há mais: personagens, situações, paisagens, nada muito complicado, nada que exija muito esforço, nada que traumatize. Trata-se de um filme simples, despretensioso e simpático, eficaz a fazer sorrir, e feito para se ver ‘em família’. Ainda bem que o fui ver por causa do título e sem ter tido vontade de procurar mais informação sobre ele; tivesse eu feito isso, e tivesse eu percebido quem era o realizador, (já vi pelo menos duas chachadas realizadas por ele) provavelmente não teria ido pescar salmão no Iemen.

14/06/12

Horae Subsicivae 5

Paul Gauguin
The Siesta

A Vida Real

Acorda-se na sala de recobro do que parece ser uma viagem ao fundo do fundo da anestesia, estranham-se as luzes (ai, se o ambiente médico fosse minimamente ‘user friendly’ as salas de recobro tinham luzes suaves), só depois se tenta perceber quem se é e não é; lembrar porque se está ali - a memória preguiçosa; mas a enfermeira solicita, eficiente, e doce diz contente: “ganhámos 3-2!” Num instante ‘ser ou não ser’ já não importa, e a vida faz-se real.

10/06/12

Velas 42

Fim de Festa


Velas 41

Partida









09/06/12



Tal como se previa, e enquanto a Europa vê futebol, e os que não vêem comem tapas ou jantam, a Espanha formaliza o seu (já anunciado) pedido de ajuda financeiro explicando que não se trata de um resgate. Trocadilhos semânticos…


Assim é que é: eu também acredito na fada-madrinha.

Próximo... !

Velas 40

A Celebração


Velas 39

A Regata



Velas 38

A Espera



Da Paciência

Não têm faltado na comunicação social tratados sobre a paciência (segundo Passos Coelho a vê) em debates, crónicas e opiniões. Aliás Passos Coelho e a sua já conhecida attitude complacente (pieguice, desemprego como oportunidade, emigrar, etc) traduzida em frases tão banais que nem os mais elementares manuais de auto-ajuda se atreveriam a inclui-las, parece insistir em proferi-las, coisa que começa a espantar e a interrogar-me sobre o papel de tantos assessores e especialistas. Será que não aprende nada com os erros? Aparentemente não consegue e o nível do discurso político em Portugal, por parte dos detentores de cargos de responsabilidade governativa ou partidária é cada vez mais confrangedor. Lembro outro o contributo do líder da oposição para este cenário uma vez que consegue a proeza de falar e nunca dizer nada – aliás continuo a interrogar-me sobre se ele pensa algo… 

Voltando à ‘paciência’: recomendo o artigo do Público de hoje de José Pacheco Pereira que insiste, e bem, em ler a dita paciência de uma forma política e não ‘psicológica’, e deixo aqui o parágrafo final: 

Respeitar os portugueses não consiste em falar-lhes com uma mistura de complacência e paternalismo, mas estar ao lado deles com simpatia activa nas suas tribulações. Há poucas coisas mais comunicáveis do que a empatia, seja simpatia seja antipatia. Para ser entendida por todos não precisa de assessores, nem de agências de comunicação. Precisa apenas de existir. E o problema maior de "comunicação" deste governo é que preso nas suas ideias gerais e vagas sobre o país, preso nas suas ilusões sobre meia dúzia de receitas económicas, preso num profetismo adolescente, entre a fraca convicção e os lugares-comuns, que soçobrará a qualquer momento na parede dos factos, não consegue mostrar um grama de empatia sobre o sofrimento que assim se torna "dos outros". 

É por isso que chamar "paciente" ao povo português parece mais um insulto do que um elogio.

08/06/12

Velas 37







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Nota: NÂO prometo contenção ‘fotográfica’ nos próximos dois dias.

Let There Be No Noise Made, My Gentle Friends 2

Dixit Dominus - 1 - Dixit Dominus by Georg Friedrich Händel on Grooveshark

Händel, Dixit Dominus 1. Também aqui.


Jubileu


07/06/12

Velas 36


Sons and Lovers

Afterwards she said she had been silly, that the boy’s hair would have had to be cut, sooner or later. In the end, she even brought herself to say to her husband, it was just as well he had played the barber when he did. But she knew, and Morel knew, that that act had caused something momentous to take place in her soul. She remembered the scene all har life, as one in which she had suffered the most intensely. 

This act of masculine clumsiness was the spear through the side of her love for Morel. Before, while she had striven against him bitterly, she had fretted at him, as if he had gone astray from her. Now she ceased to fret for his love: he was an outsider to her. This made life much more bearable. 
D. H. Lawrence, Sons and Lovers

O tom do livro, publicado em 1913, está dado. Estamos num universo intimista, em que se fala da alma, das expectativas, das desilusões, de procura da felicidade, e onde se lê a ambição na realização pessoal. As personagens investem na relação afectiva entre elas (ultrapassando toda a formalidade) e vivem num quadro de teias afectivas complexas e contraditórias. O último parágrafo transcrito é uma ilustração dessa complexidade e espelha também uma visão sem pudor da alma. É um Parágrafo intenso e duro e nele já sentimos pairar a presença de um universo freudiano que abre novos caminhos na ficção literária, e que nos mostra que este romance está bem ancorados no séc. XX. 

O título não engana: ‘Sons and Lovers’. Quem mais íntimo do que os filhos e os, neste caso as, ‘lovers’? ‘Lover’ é muito mais do que ‘namorada’ que é uma palavra demasiado formal e social, deveria ser ‘amante’, mas a palavra hoje, lamentavelmente soa pejorativa e vem com toneladas de julgamento moral.

01/06/12

Velas 35


Chegada, ontem à noite, do vencedor da sétima etapa da Volvo Ocean Race. Foi um espectáculo bonito ver, de noite, tantas luzes no Tejo a acompanhar o barco vencedor quando entrou na barra do Tejo e cruzou a linha de chegada, altura em que começou o fogo de artifício. Com alguma boa vontade e muita imaginação consegue-se ver o barco a cruzar a linha de chegada.

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