Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
24/10/09
Coisas Fedorentas
A boa educação e a cortesia são muitas vezes esquecidas sobretudo quando as circunstâncias aparentam favorecer quem, por um momento no tempo, pensa estar “na mó de cima”. José Alberto Carvalho, o director da informação da RTP, é um desses casos, como ontem verificamos num consensual (e tão sem surpresas, note-se) último episódio dos Gatos Fedorentos em que responsáveis pela informação dos três canais televisivos mostraram como são parecidos e como estão satisfeitos consigo próprios e com a informação que produzem. JAC, o mais reluzente e o mais contente consigo próprio, alheio a qualquer ideia de “asfixia democrática” – uma invenção produzida por gente estranha que ele nomeou (Cintra Torres, Pacheco Pereira), pois a informação por ele promovida na sua televisão é tão límpida e independente - falou de Manuela Moura Guedes nuns termos e num tom em que abundou a falta de consideração e respeito que uma colega de ofício lhe mereceria, já para não falar da pura falta de educação e nível. Todos riram alarvemente, incluindo Júlio Magalhães, cuja nova palavra de ordem é “a TVI tem informação de Segunda a Domingo”.
Não é pedido a JAC ou a ninguém que goste de MMG ou que não a critiquem se acham conveniente fazê-lo, só que um pouco mais de dignidade, contenção e respeito por colegas de profissão impunha-se. Facilmente esquecem que, como diz o ditado, há mais marés que marinheiros.
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Não é pedido a JAC ou a ninguém que goste de MMG ou que não a critiquem se acham conveniente fazê-lo, só que um pouco mais de dignidade, contenção e respeito por colegas de profissão impunha-se. Facilmente esquecem que, como diz o ditado, há mais marés que marinheiros.
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Comunicação Social,
Gatos Fedorentos
21/10/09
19/10/09
Com a Verdade me Enganas
Com o sarcasmo a que já nos habituou, João Miranda põe o dedo na ferida. Imprensa e blogues vivem intensamente o dia de amanhã do PSD e esquecem o país hoje. É um exercício interessante ver na blogosfera o que dizem e escrevem, hoje, alguns dos que no período eleitoral se conotavam com a actual liderança do PSD e faziam campanha política nomeadamente em blogues como o Jamais. Depois dos inevitáveis e normais balanços e análises sobre os resultados eleitorais e sobre o modo como decorreram as campanhas, pararam de fazer oposição a José Sócrates e pararam de denunciar o seu modo de actuação bem como o do seu, ainda em funções, governo, pois estão sobretudo preocupados em encontrarem uma posição no tabuleiro de xadrez que é para eles o PSD numa corrida à nova liderança iniciada pela comunicação social e por eles próprios.
Em tempos de cantos de sereias e de tentações, nada melhor do que alguma estabilidade e solidez para que o tempo (esse grande fazedor) dê, sem precipitações nem ansiedades o sinal de partida. Mas não: esperar, ser perseverante e paciente são conceitos pouco interessantes sobretudo para alimentar uma comunicação social ligeira e feita de casos e intrigas. Manuela Ferreira Leite que parece não se querer (e bem, no meu ponto de vista) recandidatar à liderança em Maio (ou seja quando for), tem toda a legitimidade para dar o tom de oposição que quer que o PSD seja, e que os eleitores escolheram (eu assim escolhi) e quem confiou nela em Setembro, deveria confiar nela agora. Ela não mudou, mesmo que resultados eleitorais não tenham sido aqueles que os militantes e adeptos do PSD esperariam e desejariam. Mas tanto impulso autofágico é assustador para quem olha de fora. Agora é tempo de oposição a José Sócrates. Dias virão para um tempo de maior instabilidade interna no PSD até se encontrar um novo líder.
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Em tempos de cantos de sereias e de tentações, nada melhor do que alguma estabilidade e solidez para que o tempo (esse grande fazedor) dê, sem precipitações nem ansiedades o sinal de partida. Mas não: esperar, ser perseverante e paciente são conceitos pouco interessantes sobretudo para alimentar uma comunicação social ligeira e feita de casos e intrigas. Manuela Ferreira Leite que parece não se querer (e bem, no meu ponto de vista) recandidatar à liderança em Maio (ou seja quando for), tem toda a legitimidade para dar o tom de oposição que quer que o PSD seja, e que os eleitores escolheram (eu assim escolhi) e quem confiou nela em Setembro, deveria confiar nela agora. Ela não mudou, mesmo que resultados eleitorais não tenham sido aqueles que os militantes e adeptos do PSD esperariam e desejariam. Mas tanto impulso autofágico é assustador para quem olha de fora. Agora é tempo de oposição a José Sócrates. Dias virão para um tempo de maior instabilidade interna no PSD até se encontrar um novo líder.
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PSD
Em Três Páginas
He loved her passionately and was passionately loved; but the Countess was self-willed and frivolous. This was not the first time she had loved. Repugnance and loathing could take the place of her heart’s most tender feelings. Ibrahim already foresaw the moment when her love might cool; until then he had not known jealousy, but with horror he now had a presentiment of it; he felt that the anguish of separation would be less tormenting, and he therefore determined to sever the ill-fated association and return to Russia, whither Peter and an obscure feeling of duty had been summoning him for a long time.
Alexandr Sergeyevitch Pushkin, The Complete Prose Tales. The Moor of Peter the Great.
Com uma intensidade notável, Pushkin conta em três páginas o início de uma absorvente e apaixonada história de amor, o seu auge e o seu fim. Nada fica por dizer sobre o caso amoroso, sobre a surpresa da atracção, a intensidade da paixão, sobre a entrega cega, as contradições do amor, sobre o ciúme, o medo e o afastamento. A pequena novela prossegue na Rússia – começou em Paris - e Pushkin (de quem já falei neste blogue a propósito dessa obra-prima que é “A Dama de Espadas”) mais uma vez mostra ser um maestro na criação de personagens, na sua descrição de ambientes de salão, nos detalhes. É um desenhador minucioso e atento das suas personagens e nada lhe escapa nesse fazer, e nessa construção de uma intriga. Não se encontra em Pushkin a forte intensidade dramática de outros seus conterrâneos (que não contemporâneos), mas os contos /novelas têm sempre uma tensão que advém da complexidade das personagens construídas com essa delicadeza e minúcia do subtil. São histórias que se lêem com deleite, mas também com a alguma frustração pois ficam suspensas: Pushkin não terminou muitas delas, como é o caso da história The Moor of Peter The Great. Esta colectânea é feita de novelas, quase todas inacabadas (infelizmente) e de alguns contos. São uma outra face da Literatura Russa que normalmente conhecemos e é mais citada.
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Alexandr Sergeyevitch Pushkin, The Complete Prose Tales. The Moor of Peter the Great.
Com uma intensidade notável, Pushkin conta em três páginas o início de uma absorvente e apaixonada história de amor, o seu auge e o seu fim. Nada fica por dizer sobre o caso amoroso, sobre a surpresa da atracção, a intensidade da paixão, sobre a entrega cega, as contradições do amor, sobre o ciúme, o medo e o afastamento. A pequena novela prossegue na Rússia – começou em Paris - e Pushkin (de quem já falei neste blogue a propósito dessa obra-prima que é “A Dama de Espadas”) mais uma vez mostra ser um maestro na criação de personagens, na sua descrição de ambientes de salão, nos detalhes. É um desenhador minucioso e atento das suas personagens e nada lhe escapa nesse fazer, e nessa construção de uma intriga. Não se encontra em Pushkin a forte intensidade dramática de outros seus conterrâneos (que não contemporâneos), mas os contos /novelas têm sempre uma tensão que advém da complexidade das personagens construídas com essa delicadeza e minúcia do subtil. São histórias que se lêem com deleite, mas também com a alguma frustração pois ficam suspensas: Pushkin não terminou muitas delas, como é o caso da história The Moor of Peter The Great. Esta colectânea é feita de novelas, quase todas inacabadas (infelizmente) e de alguns contos. São uma outra face da Literatura Russa que normalmente conhecemos e é mais citada.
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17/10/09
Fiquei admirada por concordar tão facilmente com esta conclusão do Pedro Correia “José Sócrates não tem nada a temer desta oposição”, num breve texto sobre o PSD no Corta-Fitas, mas depois vi o texto de Tiago Geraldo no 31 da Armada que deu origem a tal conclusão, e percebo que afinal só concordamos na conclusão e que divergimos radicalmente nos pressupostos. É por causa de comportamentos como os de Passos Coelho, que não consegue não se pôr em bicos de pés dia sim dia sim, apesar da actual líder do PSD se manter legitimamente em funções, dos restantes PSDs se manterem entretidos e distraidos a olhar para o seu umbigo, e da comunicação social não fazer outra coisa que não seja também olhar para o PSD de todos os ângulos possíveis salivando e especulando sem peias, que José Sócrates não está a ter a oposição que deveria nesta semana em que o tom do seu próximo estilo de governação foi claramente dado: uma encenada e falsa abertura ao diálogo, chantagismo, demagogia a rodos, e a dose certa (para as alturas certas) de vitimização, pois eu sou tão dialogante e os outros líderes tão pouco operantes. É ele, José Sócrates que tem de procurar e encontrar soluções de estabilidade governativa. Por muito que lhe custe, por muito que o não queira esse ónus é seu, foi-lhe dado pelo voto.
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PSD
13/10/09
Estes timings são imensamente suspeitos. Como é que só se sabe isto depois das eleições legislativas e autárquicas se durante a época pré-eleitoral ouvi algumas vezes falar em possíveis soluções para a Quimonda? O desplante não tem limites e a central de comunicações mantém-se activa. Nada mudará neste domínio.
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A Palavra Mais-valia
Não percebo porque é que as conclusões deste estudo não foram divulgadas antas das eleições... Eles não dão tréguas: a máquina fiscal já começa a querer encontrar novas formas de tributação sob a capa da simplificação, paridade, justiça social etc. Temos que esperar para ver. No entanto o capítulo em que se refere à tributação das mais-valias em bolsa chamou-me a atenção. O investimento privado em Portugal já é tão pouco significativo que este agravamento proposto é certamente uma maneira de evitar a sua expansão e de diminuir a liquidez de um mercado de capitais pequeno. Depois há que notar este parágrafo,
“A generosidade fiscal que, entre nós, existe relativamente às mais-valias obtidas na alienação de valores mobiliários – em particular das acções – é frequentemente considerada fonte de manifesta injustiça fiscal”, refere o relatório. “A nosso ver (...), a perda de receita e a redução da equidade parecem-nos bem mais importantes do que um suposto factor de apoio ao mercado de capitais. Em países como a Espanha ou o Reino Unido, para citar apenas dois exemplos, tributam-se estes ganhos e não é por isso que o seu mercado de capitais se ressente”,
para ver a estupidez do estudo, e até onde vai o proselitismo socialista de boas intenções e de preocupações sociais. Quando e como é que é possível comparar o nosso mercado de capitais com o do Reino Unido (o maior da Europa e um dos maiores do mundo) ou mesmo o espanhol? Tributar ainda mais as mais valias obtidas no nosso mercado de capitais é penalizar e sufocar o investimento e a iniciativa privada essenciais para a criação de riqueza e desenvolvimento do país. A esquerda sempre se deu mal com a palavra “mais-valia”, e esse é um problema de fundo que, entre outros claro, impede que países como o nosso tenha uma economia desenvolvida.
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“A generosidade fiscal que, entre nós, existe relativamente às mais-valias obtidas na alienação de valores mobiliários – em particular das acções – é frequentemente considerada fonte de manifesta injustiça fiscal”, refere o relatório. “A nosso ver (...), a perda de receita e a redução da equidade parecem-nos bem mais importantes do que um suposto factor de apoio ao mercado de capitais. Em países como a Espanha ou o Reino Unido, para citar apenas dois exemplos, tributam-se estes ganhos e não é por isso que o seu mercado de capitais se ressente”,
para ver a estupidez do estudo, e até onde vai o proselitismo socialista de boas intenções e de preocupações sociais. Quando e como é que é possível comparar o nosso mercado de capitais com o do Reino Unido (o maior da Europa e um dos maiores do mundo) ou mesmo o espanhol? Tributar ainda mais as mais valias obtidas no nosso mercado de capitais é penalizar e sufocar o investimento e a iniciativa privada essenciais para a criação de riqueza e desenvolvimento do país. A esquerda sempre se deu mal com a palavra “mais-valia”, e esse é um problema de fundo que, entre outros claro, impede que países como o nosso tenha uma economia desenvolvida.
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12/10/09
A Nova Persona
É-me penoso ligar a televisão e ver nos telejornais José Sócrates naquela sua nova e mansa persona pós-europeias e pós-perda-de-maioria-absoluta, falar insistentemente em diálogo. Duas notas:
Primeiro, não sei se o “diálogo” depois dos excessos do Guterrismo estará já devidamente reabilitado do ponto de vista político, nem sei se nós – eleitores (ou povo, conforme se queira), já estamos disponíveis para que essa palavra se torne num novo mantra destes próximos tempos. Mas reconheço que propor-se ao diálogo com a oposição assim sem preconceito, (cito JS) e de peito aberto é uma forma de colocar o ónus de eventuais falhas na governabilidade (que palavra feia!) na oposição. JS começa a encontrar formas de tentar sair ileso de futuros impasses.
Segundo, interrogo-me sobre a verosimilhança e boa-fé de tanta vontade de diálogo por parte de um homem, o nosso Primeiro-ministro José Sócrates, que nunca usou tal palavra , nem parecia sequer conhecer o conceito, quando era detentor de uma maioria absoluta, punha e dispunha do poder que o voto lhe proporcionou, e nunca foi tímido ou se inibiu de mostrar – mesmo perante o seu governo - que ele era sempre , e sem diálogo, o decisor. Eu sei que a necessidade apura o engenho, e que José Sócrates está numa situação diferente, mas uma tão ágil e fácil mudança de persona incomoda-me e desconfio da bondade das suas intenções tal como ele as proclama.
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Primeiro, não sei se o “diálogo” depois dos excessos do Guterrismo estará já devidamente reabilitado do ponto de vista político, nem sei se nós – eleitores (ou povo, conforme se queira), já estamos disponíveis para que essa palavra se torne num novo mantra destes próximos tempos. Mas reconheço que propor-se ao diálogo com a oposição assim sem preconceito, (cito JS) e de peito aberto é uma forma de colocar o ónus de eventuais falhas na governabilidade (que palavra feia!) na oposição. JS começa a encontrar formas de tentar sair ileso de futuros impasses.
Segundo, interrogo-me sobre a verosimilhança e boa-fé de tanta vontade de diálogo por parte de um homem, o nosso Primeiro-ministro José Sócrates, que nunca usou tal palavra , nem parecia sequer conhecer o conceito, quando era detentor de uma maioria absoluta, punha e dispunha do poder que o voto lhe proporcionou, e nunca foi tímido ou se inibiu de mostrar – mesmo perante o seu governo - que ele era sempre , e sem diálogo, o decisor. Eu sei que a necessidade apura o engenho, e que José Sócrates está numa situação diferente, mas uma tão ágil e fácil mudança de persona incomoda-me e desconfio da bondade das suas intenções tal como ele as proclama.
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José Sócrates,
Política
Ouvir ontem à noite nas televisões, em directo, um jornalista perguntar a Santana Lopes o que é que ele ia "ali fazer", e se ia "à casa de banho", (ver aqui por exemplo) é mais um gesto revelador do baixo nível de profissionalismo do jornalismo português. É uma pergunta impertinente porque gratuitamente agressiva, irrelevante pois é uma matéria que está longe de ser do interesse público, mal-educada, porque sim e não preciso sequer de explicar, e ilustradora do servilismo jornalístico português que, quando se trata do poder, nomeadamente do PS e sobretudo de José Sócrates é todo mesuras e respeitinho. Ou alguém imagina o “espertinho “ a fazer essa pergunta ao Primeiro-ministro? Claro que Santana Lopes muitas vezes se “põe a jeito”, mas nada justifica essa falta de educação e a ausência de qualquer tipo de profissionalismo.
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Comunicação Social,
Eleições
10/10/09
09/10/09
Olha outro (e da grande família socialista) que se diz vítima de uma campanha de maledicência, da calúnia e do remoque. Parece que a moda pegou.
He also turned the tables on his attackers - accusing them of conflating homosexuality with paedophilia. From now on, anyone who reopens the attack on Mr Mitterrand risks the stigma of intolerance. Questions are bound to remain about how truthful he was being.
(sublinhados meus)
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He also turned the tables on his attackers - accusing them of conflating homosexuality with paedophilia. From now on, anyone who reopens the attack on Mr Mitterrand risks the stigma of intolerance. Questions are bound to remain about how truthful he was being.
(sublinhados meus)
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Política Internacional,
Socialismo
08/10/09
A frase admite ponderar candidatar-se diz tudo. O único problema de Marcelo Rebelo de Sousa é ser Marcelo Rebelo de Sousa. Não fosse isso...
Azares. Isto de deixar o povo decidir e ter que descer à terra é uma chatice.
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Azares. Isto de deixar o povo decidir e ter que descer à terra é uma chatice.
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Marcelo Rebelo de Sousa,
PSD
07/10/09
Ver Portugal
Há muito que tento não olhar para tentar conseguir nada ver. Este retrato (que refere FJV aqui), é o retrato de um Portugal desleixado, inculto, incapaz de preservar o seu património físico e da memória histórica. O Alentejo tem a sorte de uma paisagem limpa, onde se vê o horizonte. Que retrato faríamos se caminhássemos mais para norte? Por exemplo para o litoral norte, o Alto Minho, que conheço bem, os olhos já não se perdem na paisagem; esbarram sempre num ou noutro mamarracho que o excesso de construção e o gosto discutível impuseram paulatinamente e de forma inexorável impuseram. Na ânsia de modernização e de melhoria de nível de vida das populações, deitou-se fora o menino com a água do banho. As casas de azulejos por fora, ou de tectos múltiplos e sobrepostos, construídas em qualquer local e as churrascarias à beira da estrada surgiram na altura mascaradas de sucesso mostrando quão depressa o dinheiro tinha sido ganho, não são hoje mais do que uma evidência desse Portugal em desleixo, da falta de cultura, de brio e da óbvia decadência dessa ilusão da riqueza. As cidades e as grandes vilas da província prolongam-se hoje ao longo das estradas nacionais sem que nos apercebamos onde começa uma e acaba a outra e sem nunca termos um pedaço limpo de horizonte para respirar, para ver Portugal.
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Portugal
06/10/09
Só agora reparo que nos cartazes do PS para o Município de Oeiras se escreve Marcos Perestrello com dois “l”. A imagem de uma esquerda que quer parecer cada vez mais frequentável. Estes agências de comunicação são umas brincalhonas.
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05/10/09
Cheri
Ao ver Chéri, mais um bom filme de Stephen Frears (baseado num romance de Collette) que nos mostra uma das melhores interpretações de Michelle Pfeiffer no papel ambíguo de uma mulher que envelhece e se “reforma” da sua profissão de cortesã saboreando finalmente a riqueza e as noites dormidas sozinha na cama, mas que - ao tomar conta de um jovem filho de uma “companheira” de profissão - se apaixona por uma vez, e por quem não devia (se é que alguma vez se deve seja o que for, sobretudo no domínio da paixão), lutando para que essa paixão não se mostre nem aos outros nem a ela e não a “derrube”, lembrei as semelhanças entre a personagem masculina do filme e uma outra personagem masculina de uma série que vi recentemente: The Line of Beauty, também ela baseada numa obra literária, neste caso num romance de Alan Hollinghurst. O mesmo tédio e abandono de si próprios e dos seus percursos e opções, o primeiro nas mãos de Léa, o segundo, Nick, nas mãos, rotinas e hábitos da família Fedden. Ao contrário de Nick que se deslumbra com a abundância dos Fedden e do meio em que se movem (com algumas pouco subtis reminiscências de Brideshead Revisited onde se inclui a homossexualidade plenamente assumida no caso de The Line of Beauty), Chéri nasce na abundância, mas numa família disfuncional, se é que se pode sequer falar em família. Ambos no seu estado de permanente langor (propício ao consumo de drogas) cultivam o esteticismo e a beleza como um fim em si, como uma forma de estarem na vida e em sociedade, como expressão daquilo que são e do que querem. De formas distintas, ambos são “abandonados” no fim: um pela família que o acolhe, outro pelas suas inevitáveis opções como se se tratasse de um destino já escrito.
The Line of Beauty é uma série irregular, bem feita - tem a chancela BBC e todo o rigor no retratar de uma época e com todas as subtilezas necessárias que marcam a persistente estratificação da sociedade inglesa, mas que nunca cativa plenamente tal a superficialidade e automatismo das personagens e da banalidade narrativa.
Chéri, ao contrário, e apesar do rigor do retrato da “Belle Époque” e do deslumbre (nosso) perante o guarda-roupa, interiores e exteriores (o jardim de Inverno de Mme Peloux é de antologia), é todo feito de modulações psicológicas das várias facetas do abandono ao amor, da idade e do tempo quer passa, da inevitável e esperada separação, e das tentativas de superar e não mostrar a dor provocada pelo afastamento do ser amoroso. Como pano de fundo o afundar da forma de vida de Léa e das suas companheiras e a decadência da própria sociedade com o mundo a mudar em vésperas de guerra.
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Chéri, ao contrário, e apesar do rigor do retrato da “Belle Époque” e do deslumbre (nosso) perante o guarda-roupa, interiores e exteriores (o jardim de Inverno de Mme Peloux é de antologia), é todo feito de modulações psicológicas das várias facetas do abandono ao amor, da idade e do tempo quer passa, da inevitável e esperada separação, e das tentativas de superar e não mostrar a dor provocada pelo afastamento do ser amoroso. Como pano de fundo o afundar da forma de vida de Léa e das suas companheiras e a decadência da própria sociedade com o mundo a mudar em vésperas de guerra.
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01/10/09
Os Gadgets Autárquicos
No Concelho de Oeiras, na parte que conheço, ultimam-se furiosamente rotundas e jardins. Rotundas com jactos de água, com relva e esculturais canteiros de flores (coisa moderna, note-se, nada de canteiros à moda antiga), com estátuas ou blocos abstractos de matéria. As oliveiras dos jardins há muito que foram plantadas, mas agora acabam-se os caminhos, os degraus, enfeitam-se os espaços. Nada que aborreça o olhar ou o gosto, que nisso Isaltino de Morais sabe como fazer, e já há muito que o faz.
Em Lisboa a coisa é diferente: António Costa começou de mansinho a guerra aos automóveis feita pelo município que hoje já parece não ter tréguas, para gáudio dos taxistas que se queixam de pouco negócio e “muitos carros”. Tudo começou com o desastre – pela forma leviana como a obra foi feita sem se perceber se houvera discussão e até uma decisão – no Terreiro do Paço em que, depois de uns meses de puro caos, as faixas de circulação se reduziram a duas na zona do terreiro do Paço, uma em cada direcção. Hoje atravessar de carro a cidade de poente a nascente (ou vice-versa) pela beira rio é um acto que o município desencorajou, e não percebo porquê, nem faz sentido que assim seja. Eu que sempre gostei desse trajecto, hoje penso duas vezes antes de o fazer, mas confesso que as alternativas nem sempre são melhores. A mesma coisa aconteceu à Lisboa Pombalina onde se acabou com a circulação automóvel ou se reduziram as faixas de circulação, não criando percursos alternativos. A redução das faixas de circulação parece ser uma política fétiche desta gestão camarária. Fazem-no um pouco por todo o lado e em ruas onde antes se circulava bem, nomeadamente no Bairro Azul e em Telheiras, tendo como consequências atrasos e incómodos a todos os que delas se servem. O resultado é uma já notória pioria significativa da circulação, com bichas e demoras a qualquer hora, mesmo quando antes não as havia.
Os automóveis não vão desaparecer, por muito que o discurso politicamente correcto o repita, e o deseje, enquanto não houver alternativas reais: a rede do metropolitano é muito pequena e limitada, sem soluções para a cidade nomeadamente para a parte ocidental,e os restantes transportes colectivos não são fiáveis, nem oferecem muitas vezes, soluções de rapidez e conforto. O automóvel continua a ser o rei dos transportes para quem não tenha uma paragem de metro à porta de casa e outra à porta do trabalho. Nesse grupo está essa grande maioria de cidadãos que usa automóvel na cidade de Lisboa.
Os automóveis não vão desaparecer, por muito que o discurso politicamente correcto o repita, e o deseje, enquanto não houver alternativas reais: a rede do metropolitano é muito pequena e limitada, sem soluções para a cidade nomeadamente para a parte ocidental,e os restantes transportes colectivos não são fiáveis, nem oferecem muitas vezes, soluções de rapidez e conforto. O automóvel continua a ser o rei dos transportes para quem não tenha uma paragem de metro à porta de casa e outra à porta do trabalho. Nesse grupo está essa grande maioria de cidadãos que usa automóvel na cidade de Lisboa.
O pior é que não percebo o porquê desta política hostil de circulação, nem a razão de acabar com faixas de rodagem. A única explicação que tenho é o surgimento quase espontâneo de pistas de circulação para bicicletas: entre Campolide e a Radial de Benfica, em Telheiras, entre o Estádio da Luz e o Colombo, etc. Vejo carros em bichas, mas até hoje não vi uma única bicicleta. António Costa, que não é burro, não deve, nem nos seus sonhos mais loucos, pensar que vamos deixar de nos deslocar de carro para o fazermos de bicicleta, logo em Lisboa cuja topografia não poderia ser mais díspare da de Amsterdão, ou Londres, ou até Paris. Ninguém em Lisboa vai trabalhar, ou à Loja do Cidadão, ou às compras, ou ao médico de bicicleta. E ao fim de semana, quem quer passear ou fazer exercício escolhe outros locais: a beira rio ou Monsanto. Por isso não se vê uma alminha que seja a utilizar essas pistas para bicicletas, que mais não são do que esbanjamento de recursos. Tudo não passa de demagogia politico-ecologicamente correcta para poder dizer que fez e quer fazer muito pelo ambiente e pela cidade. Tretas, o que faz é redobrar os problemas de trânsito e encher a cidade de elefantes brancos de côr salmão (a côr das pistas para bicicletas).
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