Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
31/05/11
The One Less Travelled
The Road Not Taken
(...)
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference
Robert Frost
Com Vocês
Comecei a reparar num novo tique de linguagem, numa nova moda, ou tendência, nem sei bem, até talvez haja quem lhe chame a 'evolução' natural da língua que consiste em dizer “com vocês” em vez de “convosco”. Num diálogo, numa exposição ou noutro contexto surge, para minha surpresa e de onde menos esperava “com vocês” em vez do “connosco”. Se esta expressão que já existia em determinados contextos (rurais, sobretudo), hoje parece ganhar adeptos e entrar em novos contextos sociais e culturais. Que coisa mais feia.
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29/05/11
Ontem ao fim do dia, na televisão os comentadores discutiam o número dez à exaustão. De facto é um tema crucial para uma campanha, tal como tantos outros (aborto, africanismo de Massamá ou não...) que a comunicação social, de forma selectiva e exigente, não se cansa de tratar. Para mim a campanha tem um só tema: queremos mais José Sócrates ou não. Para quem tem problemas com o minimalismo de ideias proponho só mais uma: a bancarrota e a governação dos últimos seis anos. E é quanto baste. Tudo o que vier a mais está a mais.
Como me enfadam estas considerações sobre temas irrelevantes, fiz algo de que não me arrependo: mudei de canal e fiquei absolutamente presa a ver o melhor jogo de futebol que me lembro de algum dia ter visto. Parabéns ao Barcelona.
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E por falar em animação lembrei-me deste pequeno filme de Ryan Woodward que vi pela primeira vez no blogue Imagens com Texto. Um blogue tranquilo que vale sempre a pena visitar.
Valsa com Bashir
Valsa com Bashir (de Ari Folman) foi um filme que perdi quando esteve nas salas de cinema, mas que queria ver mal tivesse oportunidade. Nunca soube nada sobre o filme a não ser o facto de se tratar de um soldado israelita a recordar os massacres de Sabra e Chatila, por isso quando, ao fim dos primeiros minutos, percebi que o filme era animado, mesmo, hesitei e pensei em ficar por aí. Mas a beleza das imagens e o traço depurado mas expressivo do desenho prendeu-me, (bem como a memória despoletada na altura, de tempos em que lia Corto Maltese). A bem da nostalgia vi o filme. E o filme é um filme sobre a memória e, de uma forma mais subtil, sobre a nostalgia que está sempre presente quando se olha para o passado. Neste caso procura-se o passado que a memória terá querido enterrar e esquecer, facto que nunca incomodou a personagem principal. Mas um dia percebe, ao ser interpelado pelos sonhos persistentes de um amigo, que afinal esqueceu algo de fundamental na sua vida e também algo de marcante na História do seu país e região: o seu papel enquanto jovem militar israelita na Guerra do Líbano na altura dos massacres de Sabra e Chatila.
Como o trabalho minucioso e cuidado de detective, a (re)construção da memória é feita metodicamente pela personagem que no fim a reclama como sua. O filma marca pela sensibilidade com que os factos, que são os sonhos ou imaginação, ou até a realidade pessoal e histórica, são narrados (não faltam referências e personagens históricas tratadas, por vezes com subtil ironia); e marca pelo o percurso de (re)memorização da personagem, um percurso importante para a sua plenitude. A beleza, às vezes tão incómoda, das imagens e do que elas sugerem e simbolizam bem como da música fazem deste filme um filme único.
28/05/11
27/05/11
Neurónios
José Sócrates habituou-nos ao longo de seis anos ao pior, e os anos que o antecederam não foram propriamente bons. Foi um péssimo primeiro-ministro que levou o país à bancarrota, negando as evidências, ocultando factos, mentindo. Viu-se, ele e a sua família, envolvidos em casos da justiça, esbanjou milhões em projectos sem nexo nem futuro, foi autoritário, autocrático, puniu a critica à sua pessoa. Agora, em fim de ciclo JS – e o seu governo – são o peso e a medida, são a referencia. Para nosso mal, e perante tal peso e tal medida não é difícil encontrar melhor. Perante o mau, o medíocre até brilha e parece bom, ou dizendo de outra maneira: em terra de cego, quem tem um olho é rei. É neste contexto que se enquadra Pedro Passos Coelho: ele tem o dito olho na terra de cegos. É muito melhor do que José Sócrates, mas é fraco, é um mau líder, é uma pessoa sem o peso que se acredita que homens(mulheres) de estado devem ter.
O facto de eu votar nele não diz bem dele, diz mal das alternativas. E diz também que eu acredito que só um resultado bastante favorável ao PSD (e não ao CDS) dá a mínima esperança de um governo credível e estável, e que gostava de acreditar que PPC será melhor primeiro-ministro do que é líder do partido. Somos muitos a pensar assim. Não pertencemos às estruturas de nenhum partido, não somos filiados, mas votamos de acordo com o que, no momento, acreditamos ser o melhor para o país. Se PPC não percebe, não vê, não sente este fenómeno então anda mais alheado da realidade do que seria desejável, e esse alheamento não é bom. Muitos votantes do PSD preferiam claramente outro líder: Paulo Rangel, Rui Rio, mas terão que votar neste. E votam, mas o voto não é certificado de cegueira, surdez, placidez acrítica ou estupidez.
Exultaram quando PPC, com mérito, fez um bom debate com José Sócrates, rejubilaram com o primeiro vislumbre de derrota no semblante, gestos, e argumentos do actual primeiro-ministro, mas todos os dias se sentem frustrados com os sucessivos tiros no pé da liderança do PSD, dos quais destaco o caso Fernando Nobre que custará alguns votos que se desviam para o CDS. Ontem, PPC armado em virgem ofendida, como se nós tivéssemos esquecido a contra-campanha orquestrada por ele (seus conselheiros, sua máquina comunicacional, com o apoio de tantos meios de comunicação) contra Manuela Ferreira Leite na anterior campanha eleitoral, queixa-se de José Pacheco Pereira que, segundo Maria João Marques que escreve este post a merecer leitura na íntegra, tem mais neurónios que os conselheiros de PPC todos juntos, como de resto se vê pelos resultados das sondagens depois de seis anos de Sócrates e da sua tão pessoalíssima bancarrota.
É sintomático este desconforto perante a crítica, José Sócrates sempre o teve (caso Manuela Moura Guedes) e Pedro Santana Lopes também (caso Marcelo Rebelo de Sousa). Ambos (MMG e MRS) tinham um espaço de grande audiência e de qualidade (outro valor normalmente desprezado). Também sintomático é o pouco apreço que os portugueses, através da vozes dos seus líderes políticos, dão à liberdade. Liberdade de pensar, de opinar, de escrever com qualidade, liberdade de querer ou não ser deputado. Liberdade de ‘ser’ fora do controle do aparelho partidário. Preferiam pensadores e opinadores formatados pelo partido (pelo menos para efeitos de intervenção pública), que – à maneira de António Costa, por exemplo, se contorcem tantas vezes para defender o indefensável. Disso já gostam. Disso não se queixam. Outro tiro no pé. Resta saber quantos pés sobram até ao dia 5.
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26/05/11
Ontem li esta notícia e ouvi-a ao fim do dia nas televisões. Pensei em Portugal, e a notícia pareceu-me profética. Comecei a ver o ‘filme’ que passará nos noticiários daqui a um ano, se o PSD ganhar as próximas eleições e governar coligado com o CDS tentando a custo cumprir os objectivos do acordo que salvou o país da bancarrota, uma criação do PS. O filme era claro e nítido: o PS português, agora na oposição, com ou sem Sócrates (a diferença estará sobretudo no tom), alheio ao acordo e compromisso que assinou com os nossos credores (FMI, CE, e BCE), e à necessidade de unidade no esforço para superar a crise, sentir-se-á livre para, com aquela força e fervor únicos – folclore esquerdista - e até nunca vistos nos últimos 6 anos de governação, abraçar o ‘estado social’, defendendo-o de uma direita apostada em destrui-lo (ou não fosse ‘direita’). Irá solidarizar-se com o primeiro ‘geração à rasca’ que acampar no Rossio. Apoiará os sindicatos que declararem greve. Juntar-se-á às manifestações de protesto nas avenidas da Liberdade ou Aliados. Dará voz às reivindicações da primeira comissão de trabalhadores que aparecer. Indignar-se-á contra as medidas do futuro governo e estará, como nunca, ao lado dos médicos, dos professores, dos estudantes, dos magistrados, dos trabalhadores da função pública, dos maquinistas dos comboios e até dos militares.
Gostava que alguém me dissesse que este filme que vi, é apenas fruto de uma imaginação febril, e que o que se passa hoje na Grécia (apesar do mapa político distinto) não se passará em Portugal.
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20/05/11
Impressionaram as primeiras reacções de vários dirigentes franceses e europeus à prisão de Strauss-Kahn: indiferentes à hipótese do crime, mas chocadíssimos com as imagens do rei Strauss-Kahn tratado como cidadão comum. Tratou-se de um reflexo condicionado de dirigentes de um país aristocrático em que as leis e a justiça defendem a casta dirigente, como antes de 1789. (...) Por vontade da elite de França, não só as imagens seriam censuradas, como Strauss-Kahn não seria algemado, nem sequer acusado na justiça.
Eduardo Cintra Torres, Público de hoje (sem link directo)
E, já agora não saindo de França, ninguém lá (ou cá) se indigna com este caso? Ninguém se indigna com a indignação do 'puro' e 'virginal' ministro francês da Cultura Frédéric Mitterand? Ninguém defende a liberdade de expressão de Lars von Trier, cineasta provocador, que era ontem um acarinhado herói da cultura cinematográfica? Ninguém nota a duplicidade de tratamento dada a uma "esquerda" politicamente correcta e a uma "direita" nada politicamente correcta? Ninguém se indigna com a tolerância e desprezo perante a possibilidade de crime sexual e a falta de tolerância perante uma opinião?
Estranho mundo este.
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18/05/11
Outra Vez Camilo
A degeneração do Fidalgo de Basto promoveu-a o sistema representativo. O acto eleitoral foi a rampa traiçoeira por onde aqueles partidários do trono absoluto escorregam à democracia. Verdade é que o sufrágio cedido aos seus correligionários era um sincero sufrágio pelos fieis defuntos. Os seus enviados ao Parlamento sentavam-se venerabundos (...). Não pediam estradas nem abadias, nem campanário, nem comendas, estavam ali com os ouvidos atentos à espera do que vinha da Rússia. Afinal o temperamentos sanguíneo dos cavalheiros de Basto borbulhou em comichões de novas ideias, e todos eles se coçaram mais ou menos com a carta constitucional. A liberdade vencera; mas as proeminências congénitas daquela plêiade de Bayards, quase todos capitães-mores, desvaneceram-se nas brumas da epopeia, que nunca mais terá pessoa em que pegue naquela região onde já não há tradição da velha tirania dos patíbulos, excepto o vinho que ainda é de enforcado.
Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho - Volume 2, O Filho Natural
Ao longo das diferentes Novelas do Minho paira uma visão provinciana e conservadora do Portugal político. Uma visão desconfiada e algo cínica da classe política de então (em contraponto com a anterior), mas sobretudo sente-se pouco o apreço pela democracia 'recente' - como vemos nas referências algo irónicas à “liberdade” – um sistema que (tal como o vemos nas obras), mais do que os outros, abre portas e permite a mediocridade, as sinecuras, a ostentação, a criminalidade e a corrupção. O “acto eleitoral” também não colhe grande consideração e respeito, nem tão pouco o que dele resulta: os deputados. Eles são olhados com pouco respeito, consideração ou admiração, como se pode ler nos excertos transcritos.
E, naquele tempo, havia governadores civis, administradores de concelho, regedores, cabos de polícia, etc. Esta corporação de funcionários não prendia ladrões: fazia deputados.
Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho - Volume 1, Gracejos que Matam.
Nas Novelas do Minho, CCB olha para o Portugal político de então e descreve-o com algum desprendimento, um pouco como um ‘outsider’, alguém que não se revê totalmente nesse sistema, e não quis fazer nem faz parte dele. O seu mundo era outro e transparece uma névoa de saudade pelo Rei D. Miguel. Essa distância e desprendimento calculado permitem-lhe o cinismo, a ironia, e um humor franco e frontal, às vezes trocista até; se assim não fosse, teríamos um tom bem diferente, mais apaixonado, mais indignado, mais zangado e mais revoltado (mais uma vez a comparação com Eça e o tom político dos seus romances impôs-se-me). Resta-me dizer o óbvio: tanto do que era nas Novelas do Minho, é hoje. Parece que em matéria política, o quadro em que gerações após gerações se encontram, teima em ter semelhanças.
Para terminar, lembro esta deliciosa referência de CCB ao socialismo. Só lembraria que nos dias de hoje os “caixeiros” chegam longe, e já agora, onde se escreve “óleo de amêndoas doces”, poder-se-ia escrever hoje “fatos Armani”.
Foi toda a vida mercador, sempre ao balcão, ou encostado à ombreira da porta como hoje o não faria um caixeiro com a cabeça cheia de socialismo e óleo de amêndoas doces.
Novelas do Minho- Volume 1, Morgada de Romariz
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17/05/11
A Indignação Francesa
Já me fartei de rir com esta notícia. Perdoem-me a generalização, (e o plebeísmo que na era “pós Catroga” há que ter cuidados), mas os franceses não se enxergam mesmo.
E se fosse Berlusconi, o que diriam eles e todas as vozes do politicamente correcto sempre prontas a desculpar socialistas e predadores sexuais que não sejam padres, ou de direita? Será que se esqueceram as fotos de Hugh Grant preso, (após um acto consentido, e pago, segundo constou na altura), ou as fotos de Mel Gibson a ser preso e interrogado após queixas de violência doméstica? Ou as inúmeras fotos que circulam de celebridades presas por condução sob efeito do álcool, etc? Se for Lindsay Lohan algemada, não há problema nem indignação francesa, mas Dominique Strauus-Khan já merece tratamento diferente? Porquê? Goste-se ou não, concorde-se ou não, alguém ainda tem dúvidas da forma como se é preso nos EUA? De como a justiça lá funciona? O senhor DSK não viveu tempo suficiente nos EUA para saber isso e para saber que as acusações de violência sexual são tratadas a sério e com pouca brandura? Será que a palavra da empregada do hotel deve valer menos do que a de DSK, para sossego dos franceses e dos que com eles se indignam? Não teve já DSK sarilhos suficientes nesse campo (assédio sexual, favorecimentos a amantes...) para perceber que era melhor trancar a porta do quarto do hotel e tomar o seu duche mais à vontade? Porque se colocou na situação em que se colocou? Nos EUA?
Confesso que a “indignação francesa” é risível, e que não entendo a “onda” de simpatia por DSK, que ao que parece de predador passa a vítima, nomeadamente a que leio em blogues que visito com regularidade. A ver se eu entendo: DSK, está a ser vítima de quê exactamente? Uma cabala? Bem mais provável que seja vítima de si próprio, que é o que tantas vezes acontece, nomeadamente aos melhores.
A minha tolerância pela vida privada de cada um e pelo que se passa entre quatro paredes é enorme quando há maioridade e consentimento de ambas as partes. Simplesmente não me interessa e já agora, bom proveito para todos. No entanto a tolerância por predadores sexuais ou por quem comete qualquer tipo de violação ou violência sexual (casos em que não há consentimento ou em que há menoridade) é inversamente proporcional ao primeiro caso: é nula! Seja socialista, deputado, padre, capitalista, psiquiatra ou celebridade de Hollywood: predador sexual é sempre predador sexual.
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12/05/11
Da Desenvoltura
No ano passado e nesta altura do ano a palavra ‘nova’ era vuvuzela. Explicavam-nos o que era, como era importante no evento que mobilizava o mundo e Portugal em particular. Hoje a palavra ‘nova’ é troika. Também tivemos as explicações todas sobre a importância da dita (que vai, segundo tantos, "governar" Portugal) no ultrapassar da crise e nos destinos do país. O país, esse, bem mandado e com a confiança de quem, entre telemóveis, facebooks e desabafos sobre o preço dos combustíveis (a 'economia' que todos dominam), rapidamente apreende a novidade e logo começou a usar as palavras. E se no ano passado se compravam vuvuzelas, hoje discute-se e fala-se a ‘troika’ com a desenvoltura e a naturalidade própria dos iniciados. Lindo de ver.
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08/05/11
O Cetim das Pestanas
Nesta novela-biografia ou biografia-enovelada, não a quis fazer chorar, minha senhora. Vossa Excelência já sabe que eu – o derradeiro cultor do romance plangente neste país onde a literatura se está refazendo com fermentações de cores várias e jogralidades vasconças, - premindo com o dedo umas certas molas do mecanismo da sentimentalidade, faço tremeluzir no cetim de suas pestanas umas camarinhas de preciosas lágrimas. Também não quis que vossa excelência se risse. Este livrinho tem intuitos graves, e encerra uma ideia encoberta, porque ideias descobertas já raramente aparece uma. Tenho o desvanecimento de conjecturar que a filosofia deste opúsculo há-de dar de si (...).
Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho – Volume 3, O Degredado.
Li curiosa e divertida as Novelas do Minho. Confesso que – não sei porquê, e ao contrário do que se passa com outros autores portugueses do mesmo século - pouco li até agora de Camilo Castelo Branco. Já há muito que tinha vontade de o ler, mas por isto e por aquilo ia sempre adiando... até agora. E em boa hora o fiz, porque o prazer de ler rico e um genuíno português (língua e não pessoa) não tem preço. Se a minha recente releitura de Eça de Queirós foi um reencontro feliz, a leitura de Camilo revelou-se uma surpresa (o facto de já saber como é o autor, em nada diminui a surpresa que uma leitura sempre trás) e um prazer imensos. A sua linguagem, o seu humor e ironia, o à-vontade com que retrata cada indivíduo seja qual for o extracto social a que pertença, o seu olhar peculiar sobre a sociedade, o país, e sobre si mesmo são únicos. O país retratado nas Novelas do Minho é um país vasto e muito mais rural do que urbano (ao contrario de Eça, por exemplo), tal como a sua linguagem, muito genuína, muito portuguesa e desprovida de estrangeirismos tão na moda nessa época. Uma coisa é certa: hoje sei apreciar Camilo muito mais do que antes teria sabido.
Este pequeno excerto é, nas suas referências, um concentrado camiliano: a novela plangente, o amor, o cavalheirismo na alusão privilegiada às leitoras (eu e as minhas camarinhas de preciosas lágrimas tremeluzindo no cetim das minhas pestanas, incluídas!) e aos efeitos das suas novelas na sensibilidade das ditas leitoras, a ironia, a literatura e o realismo, a banalidade de tantas ideias descobertas, a filosofia e erudição. Faltam alguns ingredientes como a política, a crítica social, a prisão, alguns retratos. De uns e de outros tenciono, a pouco e pouco, dar conta.
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03/05/11
Sem um pingo de vergonha na cara José Sócrates tenta iludir e brinda-nos com pura e descarada propaganda eleitoral e discursos baratos auto-justificativos sobre o “que não é”, o que não se vai "cortar", como o estado social se vai manter, como não vai ser necessária uma revisão constitucional, etc. Pura manobra de desinformação em que sempre evitou “o que é”. Afinal nem era muito o que queríamos saber: “quanto” e “como”.
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Em Flor 31
Rosas de Chá
A floração deste ano está a deixar-me confusa. Passei uns dias no Minho onde a abundância de flores atordoava. Há muito que não via nada assim. Azáleas em todos os tons de rosa, lilás e cereja, roseiras de várias espécies, de todos os tamanhos, feitios e cores, as rosas de chá belíssimas, rododendros também em várias cores, malmequeres nos campos, enfim uma feira de vaidades a distrair-nos. As japoneiras, para meu espanto, ainda estavam floridas, e de que forma: imensas camélias enormes, tão perfeitas que era impossível parar de as olhar. Toda esta mostra de cor e forma (perfeitas) se oferecia num fundo de verdes fortes, brilhantes e férteis como só o Minho sabe ser, e este ano se aprimorou.
Ao regressar, demorando o olhar nas flores, consolava-me pensando no que me esperava em Lisboa: dentro de duas semanas os jacarandás começam a florir. Engano meu. Mal chego, noto logo as flores dos jacarandás que este ano parecem ter chegado um pouco mais cedo. Que sejam abundantes e duradouras é o meu desejo.
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Minho
O tempo passa e continuamos sem saber o que é feito de Teixeira dos Santos. Alguém o viu ultimamente, ou será que continua sem tempo para aparições mediaticas?
Adenda às 20h 55m: final apareceu hoje hirto, e com ar de quem faz um último frete, ao lado do Primeiro-ministro. Nunca olhou para José Sócrates, aliás não desviou o olhar do chão nem sequer quando JS o elogiou. A imagem perfeita de uma colaborante parceria e comunhão de ideias.
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