31/05/12

Dois Filmes


Percebi na primeira cena que iria gostar do filme. Foi emocionante, e esperava que assim continuasse, acelerado, um pouco duro e violento até. Mas não, o filme acalma e atinge um período confortável. Nós é que não estamos assim confortáveis. Nós desconfiamos, mantemo-nos na expectativa do que virá a seguir. E vem mesmo. Duro, violento, inesperado. Bem construído e bem realizado. Bons actores – aliás o ano de 2011 foi de Michael Fassbender e de Ryan Gosling, que neste filme é tão ‘cool’ quanto se pode ser ‘cool’. O filme tem qualquer coisa que o coloca bem acima do que seria sem essa qualquer coisa. Ainda bem para quem vê Drive.


Ver um filme simples e descomplicado pontuado de algum humor e humanidade, recheado de bons actores que não é feito para mentes básicas, nem para imbecis, é um prazer. Ver um vasto leque de actores maduros (que já passaram a idade da reforma) com provas mais do que dadas, a tomar conta do filme é inédito e um regalo. Sair do cinema com boa disposição é o prémio. The Best Exotic Marigold Hotel é assim.


Bem-vindo À Europa, caro Senhor Obama

Ser bem aparecido, bem falante, e já agora como noutros tempos reparava Berlusconi, bronzeado, é bom, mas não basta para merecer cega admiração ou devoção. No entanto eu não consigo impedir-me de sentir alguma simpatia por si, recentemente ‘apanhado’ em mais uma gaffe na e sobre a Europa. Os campos de concentração só são polacos por estarem na Polónia, nada mais, claro. Mas toda a História presente nos campos de concentração na (e não ‘da’ Polónia) é demasiado densa e complexa para qualquer americano que da costa do Pacífico à costa do Atlântico só conhece um país, uma língua, um hino, por muito Harvard que tenha frequentado. Aliás a História da Europa é demasiado complexa até para os europeus que do Atlântico aos montes Urais partilham um território mais pequeno do que os EUA, mas têm um número que nunca é ‘definitivo’ de países, fronteiras pouco estáveis, um número incontável de línguas e dialectos e tradições cada uma mais antiga e importante do que a outra. 

A chamada crise grega - que não é um exclusivo da Grécia, nem começou na Grécia (mas sobre isso falaremos outro dia), e que todos os dias se revela em novos episódios - tem servido para perceber a desconfiança e sobretudo a ignorância que ainda temos uns sobre os outros e que nenhum Erasmo, com todo o seu inegável mérito, tem conseguido erradicar. Em momentos difíceis percebe-se o pulsar de antigas mágoas, feridas e a conflituosidade que habita a Europa por baixo das capas, dos discursos e das intenções, e do recente verniz europeísta feito de CEE, feito de UE, feito de Euros e dos ditos alegres e tão populares Erasmos. Bem-vindo à Europa, caro Senhor Obama.

29/05/12

Em Flor 37



Depois de um breve olhar pelos blogues

1 - A ler: 'O Estado Ideal' ou as propriedades dos ‘mortos-vivos’, no Córtex-Frontal.

2 – Só uma curiosidade: com tanta conversa sobre futebol, será que foi Jorge Mendes – recentemente agraciado pelo ministro pelo governa na pessoa de Miguel Relvas, e objecto de tantas justas homenagens, certamente – que intermediou a recente contratação de Filipe Nunes Vicente para o Corta-Fitas?

Em Flor 36


Já Os Vejo

Eles já aí andam a cobrir a cidade de magia. Mas este ano não vou falar sobre isso, nem dizer que cada ano me espanto e os admiro como se fosse a primeira vez que os vejo. Prometo.

20/05/12

Coisas Que Se Podem Fazer ao Domingo 70

Gaston Lachaise



Humm... Bikini? ... Fato de banho? ...

Viciante


Depois de ter visto o trailer do filme The Girl with the Dragon Tattoo, decidi adiar a ideia de ver o filme para ter tempo de ler os três romances de Stieg Larsson e finalmente vislumbrar esse tão popular universo dos ‘novos’ romancistas policiais nórdicos. Não faço ideia se esta trilogia é uma boa primeira abordagem a esse universo, mas presumo que sim pois foi e tem sido um enorme sucesso e um fenómeno de vendas. Comprei o primeiro livro (uma edição de bolso) e a meio do primeiro livro comprei logo o segundo e o terceiro, pois a primeira reacção ao romance foi ter percebido que enquanto não lesse tudo não teria descanso. Se uma coisa percebi durante a leitura foi que Stieg Larsson encontrou uma fórmula mágica de nos ‘viciar’ nos seus romances. Uma fórmula química ou alquímica literária em que os ingredientes fazem magia, neste caso fazem o 'vício', se misturados de forma certa e nas doses devidas. Este é o grande mérito dos romances que recomendo vivamente a quem queira ou precise de se alienar por algum tempo. 

Lembro. Uma intriga complexa e cheia de sub-intrigas, laboriosamente e inteligentemente tecidas de forma a criar a quantidade certa de suspense, ou de suspenses - policial, psicológico, de espionagem, político, humano. Um vastíssimo leque de personagens de importância variada e perfis bem diversos cujos nomes nórdicos, que à partida seriam difíceis de memorizar, não confundi tal o ritmo e a atenção que o livro nos obriga sem que disso demos conta, um feito que merece relevo. Um ritmo de acção que se mantém sempre intenso com várias coisas a acontecer em paralelo e o narrador a dar-nos conta disso para que o leitor fique com a sensação de estar sempre ‘em directo’. Construção de tensão que culmina em duras e cruas, mas bem escritas, cenas de violência que afectam as personagens principais, deixando-as a sistematicamente a um sopro de... Ao contrário da violência o sexo (que não a violência sexual) é maltratado nesta trilogia, muito banal e sem inspiração apesar das tentativas nórdica e politicamente correctas de ser ‘alternativo’. Uma personagem principal feminina (a famosa Lisbeth Salander), em torno da qual a intriga acaba por se desenvolver, que é rica, densa, complexa, inteligente e bem construída. Já não posso dizer o mesmo da personagem principal masculina (o também famoso Mikael Blomkvist) que empalidece à medida que se avança nos romances e que revela menos espessura e vai despertando cada vez menos interesse. As outras personagens (com meia dúzia de excepções sobretudo no primeiro romance), são pobres e existem sobretudo para servir a intriga e este caso é especialmente válido para as restantes personagens femininas que nunca 'descolam' do óbvio. 

Os romances não são obras primas literárias, nem deixam na memória aquela sensação de nostalgia e plenitude que os bons romances deixam quando os acabamos de ler. Têm o mérito de serem bem construídos, e parece que conseguem deixar alguns leitores com síndrome de abstinência. Fica a dúvida se isso será bom ou não.

16/05/12

Dando Excessivamente Sobre o Mar 63

Paul Signac
Evening Calm

Acreditar

Miguel Relvas é o espertalhão e vivaço (como eu detesto estes adjectivos) de serviço no governo, basta ver os serviços que ele tutela para perceber a sua influência e peso político. Passos Coelho não tem uma ideia sólida, que mereça ser apelidada de ideia e de sólida, na cabeça: segue um guião que lhe fazem, mas por vezes nem com guião o seu discurso funciona, e assim o vemos a passear displicentemente as suas ideias políticas, que mais parecerem ter sido encontradas em livros de auto-ajuda política, a que chama ‘liberais’, mas que são, isso sim, de um rigor intolerante para tudo o que não cabe no seu esquema mental de sucesso - porque a realidade para ele mantém-se terreno desconhecido e do qual ele está totalmente alheado e sem dar sinais de o querer conhecer - como o caso recente das suas declarações sobre o desemprego o demonstram. O chamado ‘factor Sócrates’ (o facto de nos termos visto livres do pior primeiro-ministro de sempre) cada vez menos permite que se feche os olhos e se tolere as lacunas cada vez mais evidentes deste governo. 

No entanto, e por hoje, já decidi. Vou tentar acreditar que Miguel Relvas achou natural receber os famosos ‘clippings’ informativos, bem como indicações de nomes para uma reestruturação dos serviços das ‘secretas’. Vou tentar acreditar que – tal como Miguel Relvas acredita - o acto era tão irrelevante e/ou rotineiro e banal que nunca lhe passou pela cabeça indignar-se e procurar perceber o porquê dos sms que admitiu ter recebido e contactar Silva Carvalho dizendo-lhe que era descabido, intolerável provavelmente ilegal receber tais informações. Vou tentar acreditar que nunca pensou ser relevante informar Passos Coelho sobre o esses sms bizarros e não solicitados que continuadamente recebia. Vou tentar acreditar que Miguel Relvas nunca se interessou pelas ‘secretas’, nem pela tutela das ‘secretas’. E finalmente vou tentar acreditar que Passos Coelho desconhecia a ligação entre Miguel Relvas e Silva Carvalho. Quem sabe, se eu tentar com muita força, um dia não acredito mesmo? 

08/05/12

Hoje há Luar 4

Sábado

Allons Enfants... 2

Ninguém terá reparado na cor do cabelo dos candidatos presidenciais franceses da segunda volta? 

Confesso algum preconceito em relação a este tipo de opção masculina que é mais forte em relação a quem exerce cargos públicos. Que a verdadeira cor do cabelo das mulheres seja um dos mais sólidos tabus das sociedades modernas, já estou habituada. Que a partir de uma certa idade (cada vez menor) nenhuma mulher se lembre exactamente da cor original do seu cabelo, já estou habituada. Mas ver os dois candidatos a presidentes da França, de cabelo repentinamente escuro, escondendo os brancos que já todos vimos, parece-me uma opção sem nexo. É provavelmente o fruto de uma estudada (não são sempre ‘estudadas’?) manobra de marketing político que, mais uma vez, privilegia a imagem e detrimento do conteúdo (fraco, muito fraco) e que impõe uns códigos sempre no sentido de forçar a nota ‘jovem’, num caso em que a nota ‘sabedoria’ e/ou ‘experiência’ deveriam ser predominantes. Para mim, as cabeças que de repente, e no tempo de uma campanha política, se vêem sem uma branca tornam-se demasiado ‘leves’, perdem em credibilidade. Até senti a falta da normalidade capilar de François Bayrou ou de Jean-Luc Mélonchon, para não ir mais longe no tempo e lembrar a exuberância de Dominique de Villepin.

02/05/12



Ainda não sei bem que parte da frase citada me incomoda mais: se “ASAE analisa”, se “promoção que gerou”, se “corrida louca”. Neste caso não há inocentes. O incidente “Pingo Doce” a revelar, em toda a sua complexidade e simbolismo, facetas pouco dignas e pouco invejáveis dos diferentes quadrantes do Portugal de hoje.

Em Flor 35


01/05/12

Let There Be No Noise Made, My Gentle Friends; (*)


Etude in D sharp minor, Op. 8 No. 12 by Vladimir Horowitz on Grooveshark 

Scriabin, Étude Op.8 No. 12. Também pode ser visto aqui.

(*) Shakespeare, Henry IV

Léxico

Mais uma sigla a entrar para o nosso léxico quotidiano. Desta feita é o DEO (Documento de Estratégia Orçamental) que vai proporcionar uma base de legitimação a todos os próximos aumentos de taxas fiscais a incidir na classe média (directa ou indirectamente), aos cortes de benefícios, cortes nas deduções fiscais e a todas as próximas medidas de austeridade que o governo julgue necessárias aplicar que possam ajudar (assim pensam – esperam - eles) a contrariar uma pobre execução orçamental que, ironicamente o governo não adivinhava, não correspondeu ao seu empenho, boa vontade e demais louváveis intenções traduzidas em decisões políticas muitas nem sempre devidamente ponderadas. 

O desconforto dos sucessivos planos de austeridade que se sucedem em diferentes países, o aumento do desemprego, e as recorrentes recessões começam a gerar desconforto um pouco por toda a Europa. A nova palavra de ordem (já validada pela Senhora Merkel) parece ser ‘crescimento’. De sigla em sigla, de palavra de ordem em palavra de ordem vamo-nos adaptando e orientando para perceber de que lado sopra o vento.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com