31/12/11

Um Grão de Sal

Henry Matisse
Still Life after Jan Davidsz. de Heem's "La Desserte"



Desejo a todos os que visitam e /ou lêem este blogue um Bom Ano de 2012

23/12/11

Museu Municipal - Bologna


UM SANTO NATAL

18/12/11

Horae Subsicivae 3

Caravaggio
The Lute Player

Miguel Relvas, uma espécie de Doppelgänger de Passos Coelho assegura-nos que o governo prepara fórmulas (o fumo a sair dos tanques pensantes) quer para o crescimento da economia quer para combater o desemprego. Passos Coelho dá logo uma ajuda repetindo o que já outros membros do governo tinham sugerido: emigrar. Parece uma boa solução: não sei se ajuda o crescimento, mas ajuda muito o desemprego e sobretudo ajuda muito os governantes incompetentes. Com um eleitorado menos insatisfeito e com o desemprego reduzido, a necessidade de fazer política séria e justa, de ter uma visão do futuro e de fazer as tão necessárias, tão anunciadas, tão prometidas mas tão temidas (pelos políticos, claro) reformas, é menos notória e quaisquer medidas periodicamente anunciadas em telejornais iludem eleitores e até passam por ‘reformas’. 

Realmente mal se percebe a ideia de um governo que reitera a sugestão da emigração e pergunto-me se nunca terá passado pela cabeça de alguns dos membros deste governo que os portugueses, mesmo desempregados e insatisfeitos, nascidos e criados em Portugal queiram, melhor ou pior, continuar a sua vida em Portugal? Que há de errado nisso? Presumo que a emigração não passe a ser obrigatória nem para os desempregados nem tão pouco para os insatisfeitos. Quanto mais não seja (é só fazer contas) alguém tem que ficar para pagar os impostos.

17/12/11

Finalmente em Paz

Li há já alguns anos uma entrevista que Cesária Évora deu a à revista ELLE (edição francesa) em que ela dizia de Portugal e dos portugueses o que Deus não diz do demónio nem do inferno. Fiquei chocada pois em Portugal todos gostavam dela. Essa foi a primeira vez, depois em mais e mais entrevistas a publicações francesas, e não só, pude confirmar de cada vez o mesmo tom de rancor, desprezo e ódio a Portugal. Nunca percebi porque é que ela vinha cá e cantava cá. Nas entrevistas, e intervenções públicas aos meio de comunicação social portuguesas ela era mais comedida nesse rancor, desprezo e ódio e tentava fazê-lo passar por ódio ao país de antes do 25 de Abril. A mim não me enganou. Também nunca percebi porque é que nós fazíamos de conta que não sabíamos o que ela dizia do país, e continuávamos abrir-lhe as e encher as salas de espectáculos. Apesar de lhe reconhecer mérito enquanto cantora nunca mais quis saber de Cesária Évora que julgava ter idade suficiente para saber não nutrir tantos ódios. Para mim ela já morreu há muito. Agora que descanse finalmente em paz.

Ir ao Cinema


A Dívida, revelou-se uma excelente ida ao cinema. Um thriller de espionagem feito com inteligência e imaginação suficientes, um plot com suspense e acção na boa dose, mas sem complicadas teses a provar ou defender, nem ‘statements’ estéticos e simbólicos ‘out of the box’ a obrigar a uma ‘leitura’ ou a um maior envolvimento do espectador. Boa realização, muita acção, mas sem efeitos especiais nem explosões a cada 5 minutos, coisas que me agradam. No entanto os críticos não valorizaram muito um bom filme de entretenimento. Para mim é cinema puro e duro, sem ‘nuances’, sem ‘leituras’, sem ‘paradigmas’.



Outra igualmente boa ida ao cinema foi com Os Idos de Março. Este drama político conta com excelentes representações mesmo (ou até sobretudo) nos papeis secundários, e pude pela primeira vez perceber quem era Ryan Goslyn. É um filme mais subtil que o anterior e vale pelas relações/ligações entre personagens, a teia que se vai tecendo entre sondagens, política de comunicação e a imagem do político. Realização enxuta. Um bom filme também e os críticos gostaram mais do que do anterior. (Eu nunca os percebo).

16/12/11

Cores de Outono 13


Uma Questão de Educação


Só ontem vi e ouvi na televisão as declarações do deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Pedro Nuno Santos. Fiquei siderada. Não me restam dúvidas de que estamos a ser invadidos pelos bárbaros, (agora eles não vêm necessariamente do norte) e de que a decadência da nossa civilização é um dado adquirido. O tipo de linguagem e de imagens usadas pelo deputado está abaixo do nível da conversa de portaria e roça a grunhisse de quem apenas conhece três mil palavras e só usa mil, mas o que se sugere é a mais viva imagem da decadência civilizacional pois já nem é meramente uma questão política, é sobretudo uma questão de educação e de valores. Lamento que na devida altura (bem cedo na infância) ninguém tenha ensinado ao deputado que as dívidas são para ser pagas. Ponto. Que tudo se deve fazer, sem descanso, para as pagar. Ponto. Mas pelos vistos agora, como dizia há umas semanas o seu mentor José Sócrates, quando se estuda economia (na universidade? em qual?) estuda-se que as dívidas dos estados nunca se pagam... Eu não tenho dúvidas: prefiro o que me ensinaram na infância.

Pedro Nuno Santos ameaça os ‘banqueiros alemães’, mas engana-se no alvo. Deveria ameaçar quem, em nosso nome e em meu nome, recusando encarar a realidade e refugiando-se na pura demagogia populista, se endividou indevidamente (perdoe-se aliteração). Ou, ao limite, aqueles que permitiram que em nome de Portugal o então governo contraísse as dívidas que hoje temos. Os eleitores de então (2009) preferiram a conversa oca, demagógica e irrealista bem como o marketing político e comunicacional de um incompetente (e estou a ser contida nos adjectivos), à linguagem realista e dura de uma ‘velha’ (que me perdoe a Dr. Manuela Ferreira Leite) que não acredita nem contrata agências de marketing político ou comunicacional.

O deputado Pedro Nuno Santos é a imagem de tudo o que me causa desprezo: irresponsabilidade, leviandade, a falta de educação, a linguagem rasca, o desconhecimento de valores como a honra, o peso da palavra dada, a dignidade, a educação. A bancada do PS em vez de minimizar e desculpar as declarações deste deputado, deveria, por uma questão de higiene, demarcar-se frontalmente e fazê-lo desaparecer. Seria desejável enterrar de vez a ‘era Sócrates’.

15/12/11

Cores de Outono 12



Parece ser sina da condição de Presidente da França deixar atrás de si, ao sair do Eliseu uma névoa de corrupção ou um rasto de suspeita que se estende por vários membros da família e amigos. Histórias não faltam, investigações também não. Hoje Chirac é condenado pelo tribunal por actos praticados enquanto Maire de Paris (entre 1977 e 1995). O processo demorou, mas houve sentença e houve condenação. Sei de países onde os processos demoram, demoram, demoram mais, agitam-se provas, debatem-se detalhes processuais, demoram mais ainda e prescrevem, ou arquivam-se. Raramente é lida uma sentença e menos vezes ainda o tribunal condena seja quem for pelos actos ilícitos provados. 

14/12/11

Habemus Papam



Nanni Moretti faz um filme delicioso, cheio de humor e com um olhar terno sobre as personagens e situações inesperadas. Podíamos falar da solidão do poder, do medo, da insegurança face às responsabilidades, e neste aspecto meramente humano a narrativa flui sem sobressaltos numa boa realização, com boa fotografia e com a ajuda de Michel Piccoli. Mas (claro que tinha que vir um ‘mas’) fiquei um pouco desiludida. A esta visão ‘humana’, chamemos assim à dimensão psicológica explorada no filme, falta-lhe a visão institucional, para não falar da dimensão da fé. Um Papa (seja ele qual for) não é apenas um homem só, com inseguranças, medos, etc. Um Papa é um Papa: um homem de fé, que no momento em que aceita a sua eleição pontífica, carrega irremediavelmente consigo uma responsabilidade para com a Igreja (instituição e fieis) à qual nenhum ‘estado de alma’ o faz afastar-se. Como o filme mostra, num dos seus melhores momentos, hoje muitos dos eleitos nunca desejaram o cargo, mas aceitam-no. (É, por exemplo, o que consta ser o caso de Bento XVI) A Igreja, enquanto instituição e sendo o Papa a cabeça dessa instituição, não se permite nem conhece os ‘estados de alma’ que servem de ponto de partida da narrativa. Esta dimensão ‘institucional’ que falta ao filme impede-o de ser um bom filme: assim não é mais do que um simpático mas muito superficial exercício especulativo. 

Recomeçar 2


Hoje, depois da poeira de ontem assentar, é dia de mais um recomeço. Como Sísifo, condenado a recomeçar de cada vez que o fim se aproxima. Ele está condenado a nunca contemplar um ‘trabalho’ feito e é assim que por vezes me sinto. Quando parece que a vida está como é suposta estar e as ideias parecem organizadas: três ou quatro certezas que apesar de qualquer vento as abanar vão resistindo e um mundo de incertezas do qual conseguimos arrumar direitinhas por categorias, algumas delas, lemos a notícia de um homem que sobe para um telhado e começa a disparar e atirar granadas sobre as pessoas que passam para depois se matar. Posteriormente um corpo de mulher é encontrado em sua casa. Como é que se pode perceber este gesto? O que é que passa pela cabeça de uma pessoa para que ela decida desta forma intencional atacar desconhecidos? O que é que a motiva? 

11/12/11

Coisas Que se Podem Fazer ao Domingo 66

René Saint-Marceaux
Sketch of a Man Reclining



Evitar cair no abismo

A Europa (e Vasco Pulido Valente)

Acho que nunca citei com muita frequência Vasco Pulido Valente. Há algo no seu cepticismo sistémico e nada metódico e na sua constante falta de entusiasmo (alguém se lembra de ele algum dia ter louvado algo, ou alguém?) que por vezes me cansa o que me afasta um pouco do seu ‘pathos’. No entanto ele conhece a nossa história recente, escreve muito bem e é dono de um sentido de humor que aprecio o que me obriga a olhar para as suas crónicas, e ao fim da segunda linha já sei se a leio até ao fim ou não. Ontem e hoje não só as li como concordei com o que ele diz, e reproduzo aqui dois excertos: 

VPV Público de ontem. 

VPV Público de hoje. 

Hoje olho para a Europa política e mal reconheço. Em tempos de dúvida, incertezas, ou de guerra (com outras armas que não as bélicas), como há já quem o afirme, eu também sei de que lado estou e é do mesmo lado que VPV. Merkel e Sarkozy não me convencem com o proposta de tratado intergovernamental escrito nos escritórios de Bruxelas (ou Berlim?). A pouco e pouco, e de preferência sem notarmos (nós os europeus não alemães) nem protestarmos, a Alemanha afirma-se como ‘a’ potência europeia, impõe a sua vontade, ganha tempo e engana-se a si e aos parceiros europeus com medidas que são pouco mais do que cosméticas e de efeito a curto prazo, notando-se a total ausência (recusa) de visão sobre os problemas de fundo que a Europa enfrenta, (perda de competitividade, envelhecimento da população, insustentabilidade do estado social...) e que começam já a assombrar-nos, Alemanha incluida.

06/12/11


Se por acaso alguém andava já com saudades das vítimas de cabalas que abundavam antes de Junho, não precisa de procurar longe: está aqui uma. O tipo de linguagem usado (os bonbons, bolo de mel, tapete vermelho) está mais próxima do paradigma ‘reality show’ do que da linguagem usada em política. mas talvez seja isso que Alberto João Jardim procura. AJJ vai espaçando cada vez mais aqueles breves momentos de lucidez visionária que permitiam que não o desconsiderássemos totalmente. Não me lembro de quando foi o último desses momentos, mas foi seguramente há muito. Agora é, por escolha sua, praticamente uma caricatura daquilo que os seus adversários sempre disseram dele.

Cores de Outono 11

Mark Rothko
No 16 (Red, Brown, and Black)

O artista geralmente acha que é muito amado...” Muito refrescante este vídeo encontrado no sempre inesperado fworld de Fátima Rolo Duarte. Chico Buarque é obrigado a olhar para si de outra forma e é impossível não rir. A ler também o pequeno texto que acompanha o vídeo. E, claro, "se morrer, morreu; e já vai tarde demais..."

05/12/11


Ainda bem que a patetice não mata ninguém. Frases como esta “Não entendo porque não se fala em sanções para quem tem excedentes e não os coloca ao serviço da economia” ilustram bem a ligeireza irresponsável de António José Seguro, e um sentido de timing perfeito.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com