13/02/08

Museus em Madrid 2

Desde que me lembro de saber que existe pintura que me lembro que El Greco existe. O pintor que, era assim que eu o conhecia, fazia as pessoas longas e puxadas para cima. Uns anos mais tarde, e numa visita a Toledo, guiada por um amigo espanhol mais velho, conhecedor e coleccionador, num dia cinzento e muito frio, em frente às pinturas de El Greco fiquei surpreendida com a cor e a luz dos seus quadros e de quão fria eram. O meu amigo também me ensinou a olhar para os olhos das personagens pintadas por El Greco, outro dia falarei sobre isso. Fiquei surpreendida com essa frieza porque se Espanha era fria no inverno, era quente, quente demais, no verão e nós associamos a Espanha mais facilmente a noção de calor do que de frio. A surpresa também era grande porque os pintores flamengos (Flandres e Holanda) do mesmo período (tenho, ao longo do tempo, colocado aqui no blogue alguns exemplos e já escrevi o meu elogio – um - à pintura flamenga) apesar de virem de países mais frios, pintavam quadros mais quentes. Mas Espanha é uma noção moderna e abstracta. Se pensarmos Castela já a noção de frio se desenha de uma forma mais natural no nosso imaginário.

Neste meu mais recente banho de museu em Madrid, e perante uma verdadeiramente magnífica exposição de Velázquez no Prado, em que os seus quadros estavam expostos lado a lado com outros quadros de seus contemporâneos tais como Caravaggio e Rubens, bem como perante os outros na colecção normal do museu, pude confirmar os tons frios das pinturas e da luz na pintura espanhola, e neste caso da de Velázquez: desde as célebres meninas e demais retratos, aos exteriores nomeadamente quando os sujeitos pintados estão a cavalo (um exemplo três posts atrás). No quadro que coloquei no post anterior do deus Marte despojado de todo o seu equipamento bélico, cansado e perplexo vemos na forma como a nudez é exposta e a pele é pintada sinais do Barroco e semelhanças, influências provavelmente, de Rubens no tratamento da pele, na sua textura, nas suas pregas. O que a torna diferente é a cor da tez, a luminosidade. Em Velázquez a pele é mais fria, mais contida, menos sensual.

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